Isaquias Queiroz, o primeiro brasileiro com 3 medalhas em uma Olimpíada

As três medalhas olímpicas de Isaquias Queiroz no Rio, em 2016. Crédito: Rio 2016/twitter (@Rio2016) e Sportv/reprodução

O histórico brasileiro de multimedalhistas olímpicos é escasso. Ainda que tenha começado bem, com os atiradores Guilherme Paraense e Afrânio da Costa ganhando duas medalhas, cada, no idos de 1920, em Antuérpia. Depois, o país esperou 76 anos até que um representante repetisse o feito nos Jogos Olímpicos, com o nadador Gustavo Borges. Cielo, também da natação, fez o mesmo em Beijing. Sempre com duas medalhas. Parecia cabalístico. Até surgir Isaquias Queiroz, em 2016, numa modalidade sem resultados até então.

Na canoagem, o baiano de Ubaiataba foi ao pódio nas três provas que disputou na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio de Janeiro. Começou com a prata no C1 1.000m. Seguiu com um bronze emocionante no C1 200m, quando “empurrou” a canoa a centímetros da linha de chegada. Por fim, em parceria com Erlon de Souza, remou na C2 1.000m e ganhou mais uma prata. Recorde.

Além de se tornar o primeiro atleta brasileiro com três medalhas em uma mesma Olimpíada, logo como estreante, Isaquias já é um dos 15 maiores medalhistas do país somando todas as participações. Até então, apenas nomes da vela, vôlei, natação e hipismo. Tendo iniciado a prática da modalidade em 2005, o canoísta tem apenas 22 anos, com a perspectiva de evolução técnica e física para até dois ciclos olímpicos, em 2020 e 2024. Caminho aberto para ser o maior medalhista do país em todos os tempos? Parece bem plausível…

Eis os maiores multimedalhistas olímpicos do Brasil:

Em uma Olimpíada
3 – Isaquias Queiroz (2016, canoagem), 2 pratas e 1 bronze
2 – Guilherme Paraense (1920, tiro), 1 ouro e 1 bronze
2 – César Cielo (2008, natação), 1 ouro e 1 bronze
2 – Afrânio da Costa (1920, tiro), 1 prata e 1 bronze
2 – Gustavo Borges (1996, natação), 1 prata e 1 bronze

Somando todas Olimpíadas*
5 – Robert Scheidt (vela), 2 ouros, 2 pratas e 1 bronze
5 – Torben Grael (vela), 2 ouros, 1 prata e 2 bronzes
4 – Serginho (vôlei), 2 ouros e 2 pratas
4 – Gustavo Borges (natação), 2 pratas e 2 bronzes

3 – Marcelo Ferreira (vela), 2 ouros e 1 bronze
3 – Dante (vôlei), 1 ouro e 2 pratas
3 – Giba (vôlei), 1 ouro e 2 pratas
3 – Rodrigão (vôlei), 1 ouro e 2 pratas
3 – Bruno (vôlei), 1 ouro e 2 pratas

3 – Ricardo (vôlei de praia), 1 ouro, 1 prata e 1 bronze
3 – Emanuel (vôlei de praia), 1 ouro, 1 prata e 1 bronze

3 – Rodrigo Pessoa (hipismo), 1 ouro e 2 bronzes
3 – Fofão (vôlei feminino), 1 ouro e 2 bronzes
3 – César Cielo (natação), 1 ouro e 2 bronzes
3 – Isaquias Queiroz (canoagem), 2 pratas e 1 bronze
* Atualizado após a edição do Rio

Isaquias Queiroz na Olimpíada de 2016. Foto: Rio 2016/twitter (@Rio2016)

Commander in chief

César Cielo, Lula e Sarah MenezesRio de Janeiro – Na noite que consagrou o nadador César Cielo e a judoca Sarah Menezes como os melhores atletas brasileiros do ano (veja AQUI), quem roubou a cena no Prêmio Brasil Olímpico foi o presidente da República.

Após 42 atletas e inúmeras personalidades, chegou a vez do presidente Luís Inácio Lula da Silva receber a sua premiação no palco do Maracanãzinho. Seria a última pessoa a pisar lá.

Nada menos que o título de “Personalidade Olímpica de 2009”.

O presidente Lula voltou a usar a gravata com as cores do Brasil. Um modelo idêntico àquele utilizado no dia em que o Rio de Janeiro foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, em Copenhague, na Dinamarca. Lula, aliás, diz ter 18 gravatas como aquela, as “gravatas da sorte”.

Como um verdadeiro showman, Lula revelou todos os bastidores possíveis dos momentos que antecederam aquele histórico 2 de outubro, quando Rio se tornou a primeira cidade da América da Sul a virar sede das Olimpíadas.

Foram 28 minutos de um verdadeiro stand-up comedy, surreal para a figura de um chefe de estado, mas possível para alguém que sempre quebrou protocolos formais.

No hotel na Dinamarca, o presidente chegou a chamar o seu médico particular para atender o governador do Rio, Sérgio Cabral. Segundo o presidente, Cabral ia “explodir”. A receita do doutor foi simples: “chore, governador”.

O objetivo era apenas aliviar a tensão. Marca maior do anúncio oficial.

O presidente comentou sobre a estrutura do hotel. Simples, segundo ele (“Não tinha nada de suíte presidencial ou governamental”). E a TV só tinha canais dinarmaqueses (“Era bom que eu não entendia nada que estava passando”).

Durante as reuniões no hotel, ficou decidido o script da entrada da comitiva brasileira na sessão do Comitê Olímpico Internacional. A tática: todos sorrindo, acenando, mostrando alegria. Mas não foi bem assim… 😯

“Ninguém abanou a mão. O nervosismo era demais. Entramos como se fosse uma guerra. A coisa estava tensa”.

E a descrição das candidatas adversárias? Com direito a um desdém hilário dos críticos.

“O pessoal (do contra) dizia: Imagine se o Brasil vai ganhar. Madri é uma cidade mais bonita. Madri é uma cidade fantástica. Tem não sei quantos mil anos… Tóquio! O imperador está lá em Tóquio. Essa sabedoria milenar… O Brasil não se enxerga? Vai disputar com Chicago? Não sabe que é a terra do HOMEM? Fui ficando nervoso”.

Ao se referir a Barack Obama, presidente dos EUA, Lula arrancou ainda mais gargalhadas dos mais de 4 mil presentes no Maracanãzinho.

“Pra piorar, o homem veio. No Força Área um. Mostraram mais o avião do Obama do que eu quando cheguei. E olha que era só o avião, ele nem tinha saído ainda! E a MULHER do homem já estava em Copenhague, e eu sozinho”.

Ao falar da vitória – e dizer que se não sofreu um ataque cardíaco naquele momento da vitória, não sofrerá nunca mais -, o presidente arrumou tempo para um tom sério, de cobrança. Consciente de que não só Rio de Janeiro como o Brasil ainda têm muito o que fazer nos próximos anos.

No fim, Lula mostrou a sua já conhecida autoconfiança com a seguinte frase:

“O Brasil não é o país do ‘cara’. O Brasil é o país dos caras”.

Você pode assistir ao vídeo completo com o discurso do presidente AQUI.

Os melhores e a gravata

COBO Maracanãzinho será o palco da grande celebração do esporte brasileiro na noite desta segunda, com a entrega do Prêmio Brasil Olímpico. Diga-se de passagem que o nadador César Cielo tem 99,9% de chance de vencer, com todos os méritos possíveis de um campeão e recordista mundial nos 50m e 100m nado livre (saiba mais AQUI).

Além dos prêmios principais, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) também vai entregar os troféus para os destaques de 42 modalidas esportivas.

Uma ressalva: ‘mandaram’ o blogueiro para essa parada no Rio de Janeiro, com direito a terno e gravata. Como nó de gravata (exigência da cerimônia) nunca foi o meu forte, peguei umas dicas com o vídeo abaixo.

Falo sério. 😯

Pela quantidade de visualizações (mais de 120 mil), fica claro que muita gente fez o mesmo para aprender a dar um “simples” nó…

A nova lenda das águas

Tubarão

Ouro nos 100m livres.

Ouro nos 50m livres.

Com a vitória nas duas provas mais rápidas da natação, o brasileiro César Cielo repetiu neste sábado, no Mundial de Natação em Roma, o feito do russo Alexander Popov, que ganhou as 2 medalhas na edição de 1994.

Curiosamente, na mesma piscina do Foro Itálico!

O russo foi o dono do recorde nos 50m durante 8 anos (veja o vídeo abaixo). Nos 100 metros, ele teve a melhor marca por outros 6. Um mito. E que foi bicampeão olímpico nas duas provas (1992 e 1996). 😯

Por pouco, Cielo também não igualou esse feito, pois conseguiu o recorde mundial nos 100m (46s91), mas nos 50m fez “apenas” a melhor marca do mundial (21s08)

Parabéns ao César Cielo, o melhor nadador da América do Sul em todos os tempos.

E olhe que o brasileiro tem apenas 22 anos! Com pelo menos 2 Olimpíadas pela frente… Estamos acompanhando apenas os primeiros capítulos da construção de um novo mito.

Obs. O recorde mundial nos 50m continua com o francês Frédérick Bousquet , com 20s94, estabelecido em 26 de abril deste ano, em Montpellier/FRA.

Do Tarzan ao Cesão

César Cielo, campeão mundial nos 100m, em 2009Eu estava devendo um post sobre César Cielo, campeão mundial e recordista dos 100 metros livres no Mundial de Natação, em Roma. Atraso injusto! Aqui vai, então…

O tempo de Cielo foi o primeiro na história abaixo dos 47 segundos.

Esse tempo mostra a evolução na prova mais nobre da natação desde os primeiros tempos registrados (leia sobre os 100m AQUI). Abaixo, algumas marcas históricas.

03/12/1905 – 1min05s8 (Zoltán Halmay, Hungria)
10/07/1922 – 58s6 (Johnny Weissmuller, EUA)
11/02/1936 – 56s4 (Peter Flick, EUA)
20/09/1961 – 53s6 (Manoel dos Santos, Brasil)
23/10/1970 – 51s94 (Mark Spitz, EUA)
27/07/1976 – 49s99 (Jim Montgomery, EUA)
18/06/1994 – 48s21 (Alexander Popov, Rússia)
13/08/2008 – 47s05 (Eamon Sullivan, Austrália)
30/07/2009 – 46s91 (César Cielo, Brasil)

Apesar do recorde mundial nas piscinas no início do século XX, o norte-americano Johnny Weissmuller ficou famoso mesmo por interpretar o Tarzan nos cinemas. Confira o vídeo com o grito do personagem.

Cubo D’Água e Ninho de Pássaro dominados

Antes dos Jogos, os chineses fizeram questão de falar sobre o avanço tecnológico da piscina do Cubo D’Água e da arena do atletimo no Ninho de Pássaro. Alguns centésimos a menos na água e 1% de melhora no desempenho nas pistas. Isso tudo deve ser verdade mesmo, porque as Olimpíadas de 2008 ficarão marcadas para o Brasil com duas das medalhas douradas mais importantes que o país já conquistou. Ambas nos dois maiores palcos dos Jogos.

A primeira medalha veio com César Cielo, nos 50 metros nado livres. Vitória triunfal na prova mais rápida da natação, com direito a recorde olímpico (21s30). Foi simplesmente a 1ª medalha verde e amarela em toda história olímpica nas piscinas. E na manhã desta sexta-feira, outro ouro inesquecível, histórico. O primeiro em 24 anos no atletismo. O primeiro pódio feminino em provas individuais (que demorou 76 anos, desde a nadadora Maria Lenk, em Los Angeles, em 1932). Um ouro que encerra um drama iniciado em 2003, quando a saltadora Maurren Higa Maggi foi flagrada no exame antidoping.

Mas a paulista de São Carlos não desistiu e retornou em 2006, em grande forma. Ela foi ouro no salto em distância no Pan do Rio no ano seguinte e agora escreve de vez o seu nome no esporte nacional, por causa do salto de 7m04, que rendeu a única medalha brasileira no atletismo até agora. O nome de Maurren – campeã olímpica aos 32 anos – agora entrará no mesmo capítulo do triplista Adhemar Ferreira e do corredor Joaquim Cruz. O capítulo que mostra que o importante até pode ser competir, mas que também é sim possível vencer.

Ouros brasileiros no Atletismo

1952 – Adhemar Ferreira (salto triplo)
1956 – Adhemar Ferreira (salto triplo)
1984 – Joaquim Cruz (800 metros rasos)
2008 – Maurren Maggi (salto em distância)

Olimpíada bipolar

BipolarApós uma semana de disputas regulares nos Jogos Olímpicos de Pequim, o blog irá postar aqui uma pequena lista dos melhores e piores desempenhos deste período, num daqueles inúmeros rankings 105% contestáveis, mas que as pessoas acabam lendo, nem que seja para falar mal. É provável que eu mesmo discorde, lendo depois…

MELHORES

Ouro
– Michael Phelps (EUA). Mais fácil que acertar esse nome é saber que você não vai ganhar nunca na mega-sena. Até ontem à noite, o CARA já tinha conseguido sete medalhas de ouro. Falta uma para se tornar o maior em uma única Olimpíada.

Prata
César Cielo. Na verdade, eu deveria ter colocado outro metal para Phelps, porque o ouro perdeu a graça. Para Cesão não. O nadador paulista garimpou bem o minério em solo chinês. Phelps pode ser chamado de tudo na natação, menos de “o mais rápido“, porque essa alcunha pertence ao brasileiro, primeiro campeão olímpico de natação do país, e logo na categoria mais rápida do esporte, os 50 metros nado livre. O tempo de 21s30 também é o novo recorde olímpico (o dele nos Jogos de Pequim), que só poderá ser superado em 2012, em Londres. See ya, César!

Bronze
– Primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha em provas individuais, Ketleyn Quadros foi bronze no judô superando todos os obstáculos possíveis para uma atleta no Brasil. De família humilde e de poucos recursos, é um fenômeno Ketleyn ter conseguido esse feito. Ela tocou o terror nos tatames.

PIORES

Ouro – O sueco que jogou fora a medalha de bronze na luta greco-romana foi patético. Tudo bem que Ara Abrahamian “pegou ar” com a decisão dos juízes na semifinal, mas essa atitude fere qualquer princípio olímpico. O Barão de Coubertin deve estar se revirando todo em Lausanne, sede do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Prata
– Brasileiros campeões mundias de judô. João Derly, Luciano Corrêa e até mesmo Tiago Camilo (que pelo menos foi bronze) chegaram com o favoritismo absoluto em Pequim, mas pegaram em bomba. E, claro, o torcedor brasileiro também, porque as provas de judô tiraram a madrugada de qualquer telespectador (eu mesmo dormi 2 noites seguidas no sofá da sala, com a coluna fazendo um “S“).

Bronze
– Michael Phelps, ouro nos 100 metros borboleta. O norte-americano até venceu a disputa, mas quebrou apenas o recorde olímpico, ao contrário das suas outras seis medalhas, acompanhadas de recordes mundiais. Que vexame, Phelps…

CITIUS, ALTIUS, FORTIUS!

Só relógio atômico salva

Relógio AtômicoFoi sofrido. Conquistado de maneira incomum. Mas não menos espetacular. O nadador César Cielo conquistou a medalha de bronze nos 100 metros livres – na noite de quarta-feira – com um empate. O tempo de 47s67 foi o mesmo do norte-americano Jason Lezak. E, acompanhando a final pela TV, deu para perceber que não é mesmo todo dia que isso acontece. Tanto que o nome de Lezak apareceu primeiro na transmissão, deixando alguns segundos (talvez um, na verdade) de frustração entre o torcedores brasileiros. Mas esse não foi o primeiro caso nessa Olimpíada. Na madrugada de terça-feira, ocorreu o mesmo nos 100 metros (mas de costas).

Na prova – que obviamente também foi disputada no Cubo D’Água – Arkady Vyatchanin (Rússia) e Hayden Stoeckel (Austrália) fizeram rigorosamente o mesmo tempo: 53s18, e também dividiram o bronze. Fico pensando se isso tivesse acontecido com o ouro… Esse empate só foi possível por causa do “relógio olímpico”, que conta até os centésimos de segundo. No entanto, alguns esportes já marcam os seus tempos até o milésimo de segundo, como a Fórmula 1. Mas mesmo lá, o cronômetro já traiu a modalidade. Em 1997, no Grande Prêmio da Europa, três pilotos conseguiram dar uma volta com o mesmíssimo tempo, no treino classificatório. O tempo de 1min21s072 foi dividido por Jaques Villeneuve, Michael Schumacher e Heinz-Harald Frentzen.

Mas ali não houve empate, pois o grid de largada foi definido por quem fez primeiro o tempo (no caso, o canadense Villeneuve, que foi campeão mundial daquele ano, justamente neste GP). Outra categoria de automobilismo, a Fórmula Indy, já utiliza até mesmo uma 4ª quarta casa decimal. Uma “solução” definitiva para acabar com empates assim pode ser a utilização de um relógio atômico (foto) nas provas. No Rio de Janeiro existem os dois únicos relógios atômicos do Brasil, ambos no Observatório Nacional. Esse tipo de relógio utiliza o Césio 133 para dar o máximo de exatidão na marcação de tempo, numa precisão de até 10-9 segundo por dia (0,000 000 001 = um bilionésimo de segundo). Um relógio desse tipo atrasa 1 segundo a cada 65 mil anos (metade da ‘idade’ do Homo Sapiens).

Obs. O blogueiro aqui acredita, de verdade e com 99,9999999982% de certeza, que com esse relógio não haveria empates na natação. Quiçá na Fórmula 1…

Mais sobre o tal relógio atômico nacional pode ser visto AQUI.

Dúvida desvendada: a colaboradora Ana Braga não conhece Borá.