A contratação do argentino Mancuso pelo Santa Cruz, em 1999, sacudiu o futebol pernambucano. O meia, que esteve na Copa do Mundo de 1994, turbinou o programa de sócios coral, que chegou a 27 mil associados em dia (pagando mensalidade de R$ 5). Processo semelhante pode ocorrer com Grafite, também com um Mundial na carreira, presente em 2010. O badalado reforço impulsionou o quadro de sócios de 4.332 para 8.162 em apenas dois meses.
Voltando ao passado, Mancuso (cujo primeiro clássico no Arruda teve 78.391 espectadores) gravou um vídeo convocando o povão para a estreia do novo atacante, em 8 de agosto. Mais de 40 mil?
O mercado estrangeiro ainda não decolou no futebol pernambucano. Contratações oriundas dos países vizinhos são escassas. Quando não é o salário, até baixo para padrão nacional, é o valor do passe, uma arcaica regra ainda presente na maioria dos países sul-americanos.
O boom visto no Recife em 2013, com cinco atletas do exterior nos grandes clubes, reativou o interesse no desempenho dos gringos nos gramados. A última vez em que os três maiores times do estado contaram com pelo menos um estrangeiro no elenco havia sido em 2007, mas sem grande destaque.
O futebol local já teve nomes como o apoiador uruguaio Raul Betancour, apontado por muitos como o melhor jogador do Sport, na década de 1960, e o folclórico centroavante jamaicano Alan Cole, no Alvirrubro, nos anos 70. Na lista abaixo, os gringos nos Aflitos, Arruda e Ilha do Retiro nos últimos quinze anos. A lista inclui nomes que não chegaram a disputar partidas oficiais.
A contratação mais cara no período foi a de Mancuso, que assinou por R$ 38,5 mil mensais em 1999, na época o maior salário já pago pelo Santa Cruz. Em 2007 o uruguaio Beto Acosta foi vice-artilheiro da Série A pelo Náutico.
Outros mais obscuros passaram nos testes e disputaram apenas jogos treinos, como o camaronês Nouga, de 19 anos, no Sport.
Qual foi o melhor estrangeiro do seu time? E o pior…?
Era o primeiro clássico do argentino Mancuso com a camisa do Santa Cruz.
O seu rival seria o atacante Leonardo, em grande fase no Sport.
O palco? O gigante de concreto da Avenida Beberibe, sob enorme expectativa.
Nada de Todos com a Nota ou Futebol Solidário.
Ingresso à disposição na bilheteria para todos os setores. Arquibancada a R$ 6 e geral a R$ 3. Hoje em dia, os valores corrigidos seriam de R$ 28 e R$ 14, respectivamente.
Sem surpresa, uma multidão tomou conta do Arruda. Tricolores em grande maioria, mas com os rubro-negros apinhados na arquibancada do lado da Rua das Moças.
O jogo começaria às 16h. Desde as 14h já havia empurra-empurra na entrada.
Resultado de uma desorganização histórica, quase mortal.
A Polícia Militar chegou atrasada, acredite. Paralelamente a isso, o clube tricolor não conseguiu conter a avalanche de bilhetes “iô-iô”.
Torcedor sufocado, passando aperto nas catracas. Muita gente pulou as catracas…
Cálculo da PM com o público fora do estádio com a partida em andamento: 15 mil.
Dentro, um recorde infeliz. O maior número de pessoas atendidas nas ambulâncias dentro de um estádio em Pernambuco. Foram 93 torcedores socorridos…
Se você não lembra deste episódio, o jogo ocorreu em 21 de fevereiro de 1999, 1 x 1.
No borderô oficial, 71.197 pagantes. Público total: 78.391. Mais fotos aqui e aqui.
No papel, a capacidade do estádio na época era de 85 mil pessoas. Cabia mais alguém?
Esta pergunta pautou a imprensa durante uma semana após a partida. O Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) foi acionado pela FPF para reavaliar a capacidade do Arruda.
Em vez da medida antiga, de 30 centímetros por pessoa, a projeção utilizou o novo dado da Fifa, de 50 centímetros. A capacidade, portanto, caiu para 60.044 pessoas.
O blog mergulhou no acervo do Diario de Pernambuco para trazer à tona fatos sobre aquela multidão. Em 28 de fevereiro de 1999, um off jornalístico intrigante…
“Há quem ache, inclusive dirigentes corais, que havia mais de 90 mil espectadores no clássico.”
Há quem ainda ache, na verdade. Esse Clássico das Multidões acabou relegado pelos números, não por quem viveu aquela tarde de domingo…
O recorde entre clubes seria o da final do Supercampeonato de 1983, entre tricolores e alvirrubros, com 76.636 pagantes e relatos de até 83 mil presentes. Naquele dia, 60 pessoas foram socorridas. Nos pênaltis, os corais ficaram com a taça.
Considerando o público através do borderô oficial, Náutico 0 x 2 Sport, em 1998, fica à frente, com 80.203 pessoas, todas elas inseridas na campanha Todos com a Nota.
Se até hoje não existe um recorde definitivo para o Mundão, a culpa disso é da quase eterna falta de organização dos jogos no Recife. Estamos falando de 13 anos atrás…
Foi a maior contratação do Santa Cruz em 1999. O cabeça de área, então apontado pela revista Placar como o jogador mais violento em atividade no país, havia sido ídolo no Palmeiras e no Flamengo.
Chegou no Tricolor com 30 anos, numa transação que mexeu com o povão, que lotou o Aeroporto Internacional dos Guararapes na sua chegada.
Abaixo, um vídeo histórico de Mancuso com jornalistas argentinos.
Nele, o jogador comenta como foi chegar no Santa, um time “chico” (pequeno), desconhecido. Ao desembarcar no Recife e encontrar o Arruda, um gigante de concreto com capacidade para 90 mil pessoas na época, ele mudou de opinião na hora.
“Quando cheguei, encontrei uma hinchada (torcida) louca. Jogamos o primeiro clássico (contra o Sport) com 85 mil pessoas. Uma coisa incrível! Me surpreende todos os dia o que é o futebol brasileiro. Você não tem dimensão. Você vai ao Norte e encontra um clube, uma estrutura e uma torcida assim.”
Na Copa do Mundo de 2010, ele foi o assistente-técnico de Maradona na Argentina.
Como informou o repórter José Gustavo na edição do Diario desta terça-feira, o Santa Cruz poderá contratar até 4 jogadores argentinos para a próxima temporada.
Os reforços serão articulados pelo ex-goleiro argentino Goycochea, amigo pessoal do técnico tricolor, Márcio Bittencourt, que indicou os nomes.
No capítulo III (da condição de jogo dos atletas), o artigo 31 deixa claro que só podem ser inscritos 3 estrangeiros por partida. Ou seja, vem gringo passar férias no Recife.
Brincadeira à parte, o Santa faz bem em buscar reforços no exterior. E de quatro jogadores (que podem estar atuando na 1ª e 2ª divisões do país vizinho), pelo menos um deverá se encaixar bem para a temporada toda.
A medida da atual direção não inédita. Em 1999, o então presidente Jonas Alvarenga sacudiu o marasmo tricolor e anunciou a contratação dos argentinos Mancuso (volante) e Almandóz (zagueiro), ambos com passagens na seleção nacional. Também veio o apagado meia hondureho Mario Reyes.
Mancuso, com 30 anos na época, havia feito sucesso no Palmeiras (também atuou no Flamengo), enquanto o defensor, de 29, havia sido campeão mundial pelo Vélez Sarsfield, em 1994.
A torcida recebeu a dupla com muita festa no Aeroporto dos Guararapes. Mancuso (dando mais uma botinada em um clássico contra o Sport, na foto acima) ainda mostrou alguma técnica e liderança no Recife, ajudando o Tricolor a disputar a final do Estadual. No segundo semestre, a dupla argentina acabou dispensada, durante a Série B, na qual o Santa conseguiu o acesso à elite nacional.
Será que está começando mais uma corrida para reforços estrangeiros, como em 1999?
Naquele ano, o Sport trouxe o lateral-direito Cheppo e o atacante Velásquez, ambos de Honduras, enquanto o Náutico contratou o centroavante uruguaio Cláudio Milar.
Vale a pena investir nessa idéia. Mas é claro que nem sempre dá certo… 😎