A cultura do voto na Ilha do Retiro

Eleição presidencial do Sport. Fotos: Diario de Pernambuco (DP/D.A Press)

Houve um tempo em que o consenso político era a palavra chave na Ilha do Retiro. A cada dois anos, o presidente era escolhido em reuniões com os caciques rubro-negros, muitas no próprio Varanda, o restaurante dentro do clube. Posteriormente, um voto simbólico bastava para referendar o novo mandato. Foi assim até o histórico embate entre Luciano Bivar e Wanderson Laceda, em 2000, na sequência da última grande campanha no Brasileirão (5º lugar). E o clube ruiu. Ainda assim, hoje é raro não ter um bate-chapa.

A votação desta terça entre João Humberto Martorelli e Bruno Reis foi a 7ª desde então. Novamente num bom momento, fato ocorrido também em dezembro de 2008, quando o clube conquistou a Copa do Brasil. As três situações comprovam que a oposição no Leão existe independentemente do contexto positivo no futebol – tanto que em 2002, afundado, reuniu três nomes na disputa.

Para 2015 e 2016, o Sport deverá ter um faturamento acumulado de R$ 140 milhões, paralelamente às ações de amortização das dívidas (fiscais e trabalhistas) e de novos patrocínios. O cenário já se mostrava mais sereno, até mesmo pelo favoritismo (confirmado) da situação. Para bem do Sport, que essa eleição seja realmente só mais um dado estatístico nos pleitos do clube. O palanque precisa ser desarmado. O passado (recente) ensina.

Confira o retrospecto de votos válidos nos bate-chapas do Rubro-negro.

2000 – 2.816 votos
Luciano Bivar (Rumo ao Hepta) – 1.805 votos (64,09%)
Wanderson Lacerda (Verdade Rubro-negra) – 1.011 votos (35,90%)
* Ainda foram registrados mais 719 votos impugnados e 13 nulos

2002 – 1.696 votos
Severino Otávio (Sport é Paz) – 1.478 votos (87,14%)
Alfredo Bertini (Renovação) – 147 votos (8,67%)
Geraldo Carvalho (Recuperação) – 71 votos (4,18%)

2006 – 1.817 votos
Milton Bivar (Lealdade e Tradição) – 1.560 votos (85,85%)
Alfredo Bertini (Por Amor ao Sport) – 257 votos (14,14%)

2008 – 3.456 votos
Silvio Guimarães (Continuidade e Trabalho) – 2.614 votos (75,63%)
Homero Lacerda (União e Pelo Sport Tudo) – 842 votos (24,36%)

2010 – 1.957 votos
Gustavo Dubeux (Sport Unido) – 1.922 votos (98,21%)
Oposição, sem nome definido (Transparência Sport) – 35 votos (1,78%)

2012 – 3.441 votos
Luciano Bivar (Sport de Verdade) – 1.971 (57,27%)
Homero Lacerda (Sport Vencedor) – 1.470 (42,72%)

2014 – 1.818 votos
João Humberto Martorelli (União e Vitória) – 1.542 (84,81%)
Bruno Reis (Sport Pode Mais) – 276 (15,18%)

Bandeira branca a meio mastro após quebra da primeira diretriz do Futebol de Paz

Futebol de Paz. Crédito: facebook.com/fpfpe

No início de 2014, o presidente do Sport, João Humberto Martorelli, teve a boa e necessária ideia de estimular uma campanha para a paz no futebol local.

O projeto Futebol de Paz foi lançado em 22 de janeiro, na sede da FPF, com a presença do dirigente e dos mandatários de Náutico, Glauber Vasconcelos, e Santa Cruz, Antônio Luiz Neto. O discurso, enfim, parecia afinado.

A ideia foi composta por seis diretrizes, todas elas com o objetivo de evitar o aumento do clima hostil no futebol pernambucano, com material de divulgação nos clubes, nos jogos e nas redes sociais. A primeira delas é a seguinte:

“As entrevistas dos três presidentes e dos diretores dos três clubes serão sempre exaltando a paz, nunca de uma rivalidade que gere promoção da rivalidade e da violência.”

Menos de um mês após a bandeira branca tremulada, logo o próprio Martorelli feriu o primeiro ponto do acordo, destinado aos gestores do esporte.

No calor da confusão sobre a tabela do Estadual, que foi parar no STJD e resultou no adiamento do clássico entre Náutico e Sport na primeira rodada – a uma data a ser definida -, o presidente rubro-negro declarou o seguinte à Rádio Jornal.

“É evidente que o Náutico está com medo de enfrentar o Sport. Isso é o que me parece mais óbvio.”

O dirigente é um advogado conceituadíssimo na região, mas à frente do futebol do clube parece ter faltado um pouco de traquejo nesta confusão.

A bandeira branca a meio mastro no Recife, mais uma vez.

Das flâmulas aos voluntários pela paz no futebol pernambucano

Reunião com os presidentes do Santa Cruz (Antônio Luiz Neto), Sport (João Humberto Martorelli), FPF (Evandro Carvalho) e Náutico (Glauber Vasconcelos). Foto: FPF/assessoria

Os presidentes de Santa Cruz, Sport e Náutico voltaram a se encontrar.

Antônio Luiz Neto, João Humberto Martorelli e Glauber Vasconcelos.

Como em quase todas oportunidades nas quais os mandatários dos maiores clubes do estado se reuniram, o palco escolhido foi a sede da Federação Pernambucana de Futebol, no bairro da Boa Vista (veja aqui).

Independentemente do local ou do grau de formalidade, o objetivo teórico foi alcançado no encontro.

No projeto Futebol de Paz, também com a participação de Evandro Carvalho, presidente da FPF, a ideia é implantar uma cultura de paz.

Trata-se de algo pra lá de trivial, mas que de forma incrível está ausente do contexto atual no Recife. Algumas medidas foram tomadas, como a utilização das redes sociais oficiais na web promovendo a desportividade, a troca de flâmulas entre as equipes exaltando a paz, som interno dos estádios estimulando a cordialidade, convocação de voluntários… Tudo pelo simbolismo.

Portanto, foi mais uma chance pra uma condução do futebol sem violência.

Até porque a necessidade é cada vez maior…

Café da manhã com os presidentes. No cardápio, o futuro do futebol recifense

Café da manhã. Crédito: http://entremaeefilha.blogspot.com.br

Apesar da proximidade entre as agremiações, um encontro entre os presidentes dos grandes clubes do Recife é algo bastante raro.

Salvo exceções em reuniões na FPF, como na votação de um conselho arbitral – isso quando não mandam apenas os representantes -, os encontros ocorrem nos clássicos, e olhe lá. Mesmo com um camarote cedido à diretoria rival, nem sempre há uma troca de palavras.

Por isso, por mais simplória que a ideia seja, é um alento a informação sobre a costura de uma reunião entre os mandatários de Náutico, Glauber Vasconcelos, Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, e Sport, João Humberto Martorelli.

Não há uma data definida ou mesmo o “sim” dos dirigentes, após a ideia lançada pelo gestor leonino. Sabe-se que seria um café da manhã na capital, informal.

No cardápio, uma variedade de assuntos pendentes sobre o futebol local, incluindo a crescente violência, negociações em bloco, calendário, infraestrutura, parcerias etc. Para o entendimento, é preciso mesmo conversar.

Esse diálogo, há muito em falta, pode se estender até o jantar…