Em sua 7ª apresentação, o Santa vence a primeira em 2018. Goleada sobre o Treze

Nordestão 2018, 2ª rodada: Santa Cruz 3 x 0 Treze. Foto: Roberto Ramos/DP

Em sua 7ª apresentação oficial em 2018, o Santa Cruz finalmente saiu vencedor. Ao superar o Treze, num Arruda deserto, o tricolor evitou uma marca indigesta – um novo tropeço teria igualado a pior largada do clube numa temporada, com 7 jogos, em 1985.  Para a alegria da torcida, acompanhando pela tevê, a história não se repediu. Com o resultado positivo, o time pernambucano chegou à 2ª colocação do grupo A do Nordestão.

O vazio na arquibancada se explica. A partida ocorreu de portões fechados, cumprindo a punição imposta pelo STJD devido aos objetos arremessados por torcedores na semifinal regional de 2017. No pré-jogo, o cenário neutro até animou o visitante, mas com a bola rolando os corais abriram o placar logo aos 5 minutos, numa boa trama iniciada pelo lateral Vítor, que tabelou e recebeu para finalizar – foi apenas a 3ª vez que o time ficou em vantagem no ano. A partir disso, a equipe de Júnior Rocha retraiu. Não abriu mão da posse de bola (teve 51% no 1T), mas pouco atacou, esperando o erro do adversário.

Nordestão 2018, 2ª rodada: Santa Cruz x Treze. Foto: Roberto Ramos/DP

O Treze até pressionou, com duas boas defesas de Machowski, mas tomou um contragolpe mortal aos 22. Os tricolores avançaram num 3 contra 1, com Jeremias (um dos melhores) chegando livre para tocar a bola entre as pernas do goleiro Saulo. Foram as duas únicas finalizações do Santa na primeira etapa. Portanto, foi eficiente. No 2T, o Treze voltou sem Marcelinho Paraíba – desgaste natural de um atleta de 42 anos. O visitante se lançou ao ataque e deu vários contragolpes ao campeão nordestino de 2016, com Arthur Rezende aproveitando um para definir a primeira vitória (e goleada) no ano, 3 x 0.

Histórico de Santa Cruz x Treze (todos os mandos)
87 jogos
41 vitórias tricolores (47,1%)
22 empates (25,2%)
24 vitórias paraibanas (27,5%)

Nordestão 2018, 2ª rodada: Santa Cruz 3 x 0 Treze. Foto: Roberto Ramos/DP

A declaração de Paulo Câmara sobre a violência no futebol. Cobrou… os clubes

Paulo Câmara, governador de Pernambuco. Foto: DP

A recorrente violência praticada por integrantes de torcidas organizadas, entre elas Torcida Jovem, Inferno Coral e Fanáutico, há tempos traz uma sensação de insegurança nos jogos de futebol no Recife, potencializada nos clássicos. A cada episódio de repercussão, inclusive nacional, o governo do estado volta a ser questionado sobre a situação, na visão do blog, de segurança pública.

Três dias após a tentativa de linchamento do presidente da Inferno Coral durante uma briga na Avenida Caxangá, horas antes do Clássico das Multidões e a 5 km da Ilha do Retiro, o governador Paulo Câmara comentou o seguinte:

“Acho que falta uma decisão muito clara das pessoas que fazem futebol em Pernambuco. A polícia se desdobra demais. Botar 400 homens num jogo chega a ser irracional em tempos de hoje. Não devia ter isso. Em outros locais do mundo a segurança dos estádios é feita pelos próprios organizadores do futebol.”

“Essas organizadas já mostraram danos em outros episódios. Então, a gente tem que coibir isso. E precisamos da decisão realmente de quem faz futebol em Pernambuco, em termos de posições claras para evitar que fatos como esse não aconteçam. Não se pode olhar apenas a renda, mas a torcida, o entorno dos estádios. É muito importante.”

“O estado tem se colocado à disposição, não tem se omitido da segurança dos estádios, dos jogos. Agora, é importante que quem faz futebol em Pernambuco tenha precaução e cuidado.”

O texto acima é a íntegra da declaração dada no Palácio do Campo das Princesas, durante uma coletiva após o anúncio de uma fábrica no estado.

Assusta ver o governador, já com dois anos de mandato, ter uma visão tão rasa sobre o assunto, relacionando uma briga a quilômetros do estádio ao futebol propriamente dito. Talvez, realmente ache que a possibilidade de clássicos com torcida única, a partir de 2017, seja suficiente – por mais que não tenha resolvido em São Paulo e Belo Horizonte. Ignora os crimes em dias sem jogos e as ramificações com outras facções, com o mesmo repertório de violência.

É sempre bom lembrar, caso o governador tenha esquecido, o levantamento do Ministério Público de Pernambuco, de 2012, com 800 crimes registrados em cinco anos, somente entre integrantes das supracitadas uniformizadas. Furto, roubo, lesão corporal e formação de quadrilha. De lá pra cá, até homicídios. Em vez cobrar investigação e estrutura na região metropolitana, o governo acabou cobrando os clubes e a FPF, que, até onde se sabe, não têm poder de polícia.

Confira a opinião dos dirigentes locais sobre esta declaração aqui.

Torcida visitante nos clássicos no Recife: 50%, 20%, 10% e possivelmente 0%

Sport 1 x 1 Santa Cruz na final do Pernambucano de 1996. Crédito: youtube/reprodução

“Eu não quero essa história de torcida única nos estádios no Pernambuco, não. Isso acontece no Campeonato Brasileiro”
Carlos Alberto Oliveira, presidente da FPF, em janeiro de 2009.

“Já estamos cogitando torcida única, embora não acredite que vá funcionar”
Evandro Carvalho, presidente da FPF, em setembro de 2016.

Nos mais de sete anos entre as duas declarações, o futebol local viveu um período de turbulência, com seguidos arrastões e brigas entre facções uniformizadas na cidade, detenções sem efeito, tentativas de homicídio (tiro e agressão) e dois assassinatos. Paulo Ricardo Gomes da Silva, de 26 anos, atingido por um vaso sanitário em 2015, e Márcio Roberto Cavalcante da Silva, de 36 anos, espancado em 2016. Mortos na saída de jogos de futebol no Recife.

A cada manchete violenta, repercutida no país, os organizadores tentaram impor ações, que posteriormente se mostraram paliativas. Foi assim até hoje, com o governo do estado pecando de forma absurda na questão, cristalina em relação à segurança pública. Agora, por mais que a violência tenha sido sensivelmente reduzida dentro dos estádios, o isolamento em clássicos segue como ‘solução’. Para 2017, já no Campeonato Pernambucano, há a possibilidade real de clássicos com torcida única, nos quatro principais palcos da região metropolitana. Como já ocorre nas cidades de São Paulo e Belo Horizonte.

Como exemplo, dois Clássicos das Multidões, ambos na Ilha do Retiro e separados por vinte anos, 1996 e 2016. Mostram uma redução impressionante do espaço à torcida coral. Nacionalmente, hoje, o Regulamento Geral de Competições da CBF determina uma carga de 10% dos ingressos à torcida visitante. No cenário local, em 2009, o então mandatário da federação elevou o dado para 20%, válido apenas entre os confrontos envolvendo o Trio de Ferro, justamente para evitar a perda da identidade. Formada por clássicos divididos meio a meio nas arquibancadas e gerais, num passado cada vez mais remoto.

Com o cenário, a divisão nos clássicos (abaixo) perderia qualquer sentido…

Arruda*
Capacidade: 50.582 lugares
Visitante/Campeonato Brasileiro – 10% (5.058 ingressos)
Visitante/Campeonato Estadual – 20% (10.116 ingressos)

Ilha do Retiro*
Capacidade: 27.435 lugares
Visitante/Campeonato Brasileiro – 10% (2.743 ingressos)
Visitante/Campeonato Estadual – 20% (5.487 ingressos)

Aflitos** 
Capacidade: 15.000 lugares
Visitante/Campeonato Brasileiro – 10% (1.500 ingressos)
Visitante (Campeonato Estadual – 20% (3.000 ingressos)

Arena Pernambuco*
Capacidade: 45.845 lugares
Visitante/Campeonato Brasileiro – 10% (4.584 ingressos)
Visitante/Campeonato Estadual – 20% (9.169 ingressos)

* Os limites autorizados pelo Corpo de Bombeiros, por questão de segurança
** A capacidade atual é de 22.856, mas será reduzida na reforma

Sport 5 x 3 Santa Cruz, na 24ª rodada do Brasileirão de 2016. Crédito: Rede Globo/reprodução

Cada vez mais presentes, torcedoras pernambucanas lutam contra o machismo

Torcedoras de Náutico, Santa e Sport comentam o machismo no futebol. Crédito: Flores do Estádio?/documentário (youtube/reprodução)

A presença feminina nas torcidas de futebol é cada vez maior, mais atuante. No Recife, são 622 mil torcedoras, segundo o estudo mais recente, o que corresponde basicamente à metade dos aficionados pelo Trio Ferro. Ainda assim, a sua participação ainda é tratada, em partes, como casualidade. Um machismo velado, analisado frontalmente pelo minidocumentário Flores do Estádio?, produzido por Manuela Andrade e Catarina Santos, alunas do curso de jornalismo da UFPE.

Lançado em julho de 2016, o vídeo aborda a opinião de torcedoras de Náutico, Santa e Sport e também de clubes de outros estados, São Paulo e Atlético-MG. A premissa é simples: a participação feminina muito além do batido “embelezamento” das arquibancadas, sendo determinante como parte da massa, sem distinção. O vídeo de 10 minutos foi produzido para a disciplina “redação para os meios de comunicação”. Tema válido demais.

A torcida feminina no Recife*
Sport – 330.067 (52% do clube na cidade)
Santa Cruz – 214.438 (48%)
Náutico – 78.251 (49%)

A divisão das 622.756 torcedoras: Sport 53%, Santa 34% e Náutico 12%.

* Dados do levantamento da Plural Pesquisa, em setembro de 2015.

Game da vida recifense: Boy do Bote

Game "Boy do Bote". Crédito: Google Play/reprodução

A cena viralizou, num meme que chegou até ao revezamento da tocha. Mas, à vera, foi uma tentativa de crime. Um jovem de camisa verde e calção branco se aproximou de um ônibus, na alagada Avenida José Rufino, na Estância, e pulou para tentar dar o bote no celular de uma mulher, que filmava o caos na cidade. Não conseguiu pegar, mas o vídeo foi rapidamente compartilhado, multiplicado.

Quatro dias depois, quando a zoeira começava a passar, surgiu o game “Boy do Bote”, produzido para smartphones pela Homy Apps. Para quem gosta de jogos eletrônicos, eis uma “corrida com obstáculos”, inspirada deliberadamente na dura vida na capital pernambucana. Com 15 megas, o jogo pode ser baixado gratuitamente em aparelhos com o sistema Android. Clique aqui.

O jogo é bem simples, no estilo “endless runner”, com o personagem tendo que desviar dos entulhos na rua alagada e ainda dar o bote nos celulares à disposição nas janelas. Quanto mais aparelhos, mais pontos…

Game "Boy do Bote". Crédito: Google Play/reprodução

Pelos direitos da mulher, o necessário engajamento dos clubes de futebol

Uma jovem de 16 anos foi estuprada por 33 homens, no Rio de Janeiro, em um caso que chocou o país, levantando, mais uma vez, a importante bandeira sobre os direitos da mulher, implicando na luta contra a cultura do estupro. Chegou ao futebol, onde o machismo se faz presente há tempos. Alguns clubes se engajaram na campanha, conscientes do alcance, incluindo Sport e Santa, que criaram mensagens para as suas redes sociais, à parte do Instituto Tolerância. 

Post atualizado em 28/05/2016.

Sport

Santa Cruz

Náutico


Grêmio

Internacional

Botafogo

Termo de Ajustamento de Conduta pelo fim das organizadas, via STJD. Adianta?

Inferno Coral, Torcida Jovem e Fanáutico

As maiores torcidas uniformizadas dos clubes pernambucanos (Jovem, Inferno Coral e Fanáutico) estão vetadas há algum tempo nos estádios, tendo que se submeter a camisas com a palavra “paz” para obter uma autorização parcial. No caso da Jovem, nem isso, pois o Sport cortou relações. Indo além, a FPF firmou um termo um Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva, pedindo o fim das facções. Na assinatura, com a presença do procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, os clubes locais se comprometeram com 12 cláusulas. A primeira delas é quase um resumo.

“Os clubes comprometem-se a abolir, extinguir, rescindir, romper, vedar imediatamente qualquer benefício ou custeio direto ou indireto a torcidas organizadas, tais como doação e/ou subsídio de ingressos, custeio de transporte interno ou externo para jogos como mandante ou visitante, reserva de assentos em sua praça de desporto, cessão de espaço dentro de estádios ou de sua sede, hospedagem, repasse de recursos, ou por qualquer outro meio de auxílio, apoio, subvenção ou patrocínio de qualquer natureza, inclusive quanto ao licenciamento ou utilização indevida de suas marcas ou símbolos.”

Para o presidente da FPF, Evandro Carvalho, o termo pode ajudar no controle e enquadramento dos sócios e no monitoramento da chegada e saída dos torcedores nos estádios, assim como  “criminalizar os vândalos”, saindo da esfera esportiva – abaixo, a íntegra do documento. Nesse tempo de violência no Recife, e são quase duas décadas, outros termos de ajustamento foram firmados, com compromissos semelhantes, com as mesmas uniformizadas. Por isso, é sempre bom relembrar o levantamento do Ministério Público de Pernambuco, com dados junto à Polícia Militar, delegacias da capital e Juizado do Torcedor. Foram 800 crimes envolvendo uniformizadas entre 2008 e 2012, num raio de até cinco quilômetros a partir dos estádios. Furto, roubo, lesão corporal, formação de quadrilha. Problema antigo, sempre ascendente…

Grafite, Tiago Cardoso, Magrão e Everton Felipe fardados pela paz no clássico

Grafite, Tiago Cardoso, Magrão e Everton Felipe em campanha contra a violência no clássico. Crédito: PMPE/youtube (reprodução)

Para a decisão do Campeonato Pernambucano de 2016 a polícia militar destacou mais de 1.000 homens para cada partida, número bem acima da média nos clássicos recifenses. Para reforçar a campanha pela segurança, tema importantíssimo acerca do confronto, a PM convidou quatro jogadores de Santa Cruz e Sport para a produção de um vídeo promocional. Grafite, Tiago Cardoso, Magrão e Everton Felipe gravaram depoimentos para as respectivas torcidas, devidamente fardados de oficiais. Assista.

Grafite: “Alô torcida coral, conto com a sua ajuda para fazer do futebol uma ferramenta de paz em Pernambuco. Juntos seremos todos campeões.” 

Tiago Cardoso: “Torcedor tricolor, você é fundamental para o nosso futebol. Torça sem violência.”

Magrão: “Torcida rubro-negra, faça do futebol a sua maior alegria. Vamos juntos torcer em paz por Pernambuco.” 

Everton Felipe: “Torcedor rubro-negro, precisamos de você para apoiar o nosso time e promover a paz nos estádios.”

Podcast 45 (233º) – Análise dos jogos de ida da semi e projeções do Nordestão

Em dois jogos movimentados no Recife, cinco gols anotados e cenários completamente abertos para as partidas de volta pela semifinal da Copa do Nordeste de 2016. O Santa Cruz vencia o Bahia até os 37 do segundo tempo, mas acabou cedendo o empate, 2 x 2. Já o Sport empatava sem gols com o Campinense até os 49 minutos, 1 x 0. Com o futebol objetivo demonstrado no Arruda, qual é a chance coral de voltar classificado em Salvador, no domingo? Com a desorganização tática na Ilha, o que Leão deve fazer em Campina Grande, sobretudo com as suspensões de Durval e Rithely? Pauta suficiente para o 45 minutos, que ainda debateu o texto infeliz, na visão do blog, do Movimento Ocupe Estelita, defendendo a Torcida Jovem (veja aqui).

Neste podcast, estive ao lado de Celso Ishigami, Fred Figueiroa, João de Andrade Neto e Rafael Brasileiro. Ouça agora ou quando quiser!

Santa Cruz 2 x 2 Bahia (gravado em 14/04)

Sport 1 x 0 Campinense, Bahia x Santa e Estelita/Jovem (gravado em 15/04)

Nas notas oficiais de Náutico e Santa, a miopia sobre o problema das organizadas

Miopia

A partir das notas oficiais de Náuticoe Santa Cruz após a confusão entre as torcidas organizadas nos Aflitos é possível entender um pouco a postura de cada clube com um problema histórico no futebol pernambucano.

Na nota alvirrubra, o “desconhecimento” por parte da direção de que a Terror Bicolor havia passado a tarde na sede, a convite dos integrantes da Fanáutico.

“A diretoria do clube fará uma rígida apuração interna dos fatos e tomará todas as providências para identificar os envolvidos e denunciar às autoridades competentes qualquer um que tenha tido participação no lamentável incidente.” 

nota tricolor soou ainda pior. O texto aponta o “extenso histórico de violência” da Terror Bicolor (facção do Paysandu), mas não diz uma linha sequer sobre o mesmo comportamento da Inferno Coral.

“Foi com surpresa que a diretoria do Santa Cruz tomou conhecimento de que a referida torcida (Terror), com um extenso histórico de violência, tinha sido acolhida na sede do Náutico durante a tarde de ontem.” 

Segue com o seguinte trecho: “se faz necessário identificar os envolvidos, caracterizando individualmente a ação de cada um”. Claro que isso é importante, mas ao mesmo tempo passa a imagem que a “generalização” caracterizaria a culpabilidade da torcida organizada (visão que só se ‘aplica” à Terror Bicolor).

“Punições genéricas, por mais espetaculares que possam parecer aos olhos da opinião pública, apenas reforçam a sensação de impunidade individual.” 

Pois é, o Náutico não sabia que a organizada do Papão estava em sua sede e o Santa não reconhece o histórico de violência da Inferno. Essa miopia beira a conivência. E o Sport neste contexto? Errou bastante, durante anos. Até o presidente do clube, João Humberto Martorelli, iniciar uma cruzada, só em 2015, para romper a relação, com a exclusão de sócios ligados à Torcida Jovem, a proibição do uso da marca, de espaços no clube e até ação na justiça.

Não há margem para clubismo na discussão, sobre um duradouro problema, que tem no estado a maior omissão, com o inoperante serviço de inteligência da secretaria de defesa social e a impunidade quase onipresente na justiça. Um cenário inseguro que vai minando a maioria (de bem) nos jogos de futebol…