Os torcedores registraram o aperreio, gravaram vídeos, compartilharam informações. Aqui, até edição teve. Assista ao vídeo produzido por José Felipe Malagueta, um dos 30 mil torcedores escoados para casa via metrô após o jogo Espanha 2 x 1 Uruguai, na Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata.
A trilha sonora? Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho…
O texto é um relato através do principal caminho estipulado pelo governo.
O jogo era especial, com dois campeões do mundo em campo, duas camisas pesadas. Uma partida desse nível bem aqui no estado e na novíssima arena, que acompanhei desde a primeira pá na terra beirando a virgindade. Visito o terreno desde a época em que se criava cabras no antigo Jardim Penedo.
Por tudo isso, quis uma folga justamente no primeiro jogo da Copa das Confederações no Recife. Fui atendido e comprei o meu ingresso. Sim, estou entre os repórteres credenciados para o torneio a serviço do Diario de Pernambuco, mas assim como você também gosto um bocado de ver futebol de vez em quando sem nenhuma pauta, por pura diversão.
Ou quase isso, porque será difícil esquecer tudo o que aconteceu neste domingo. Sem exagero, foi a pior experiência que já tive em um estádio de futebol. Infelizmente, logo na arena.
Já estive em partidas com públicos bem maiores, e indo de ônibus, sem problemas. Só para citar as duas maiores massas, Santa Cruz x Sport com quase 80 mil pessoas no Arruda em 1999 e o jogo da Seleção Brasileira em 1993, no mesmo Mundão, com 96.990 torcedores.
Além disso, também já estive em jogos superlotados na Ilha e nos Aflitos. E estou falando de jogos na arquibancada, no cimentão, jornalismo à parte. Aperto, sempre teve. Mas as pessoas chegavam. Como gado? Algumas vezes.
Em um jogo comum às 16h, basta sair de casa às 14h e a acomodação deverá ser tranquila. No milionário estádio em São Lourenço eu esperava muito mais do que isso. Era o tão propalado Padrão Fifa, na infraestrutura, nos serviços e na mobilidade, focando o transporte de massa.
Mas se a entrega do estádio foi antecipada em oito meses, aumentando o custo total em R$ 118 milhões, não houve esse mesmo gás na infraestrutura, na organização. Ou seja, obras viárias inacabadas e soluções emergenciais.
Apenas boa vontade e simpatia de funcionários e voluntários e passagens integradas não deu jeito. Mas como poderia dar tão errado em uma só noite?
Vão me chamar de pessimista, disso, daquilo, que chegou e saiu rapidamente. Contudo, a minha visão, definitivamente, não é só minha. Onde circulei para chegar até lá o movimento foi intenso, com passos curtos, muita paciência, sujeira e falta de informação. Vamos lá. Moro em Boa Viagem e saí do apartamento às 15h40. A partida, relembrando, começaria às 19h.
Iria no esquema implantado pelo governo do estado. Estacionamento no Shoppping Recife (16h), expresso torcedor até a estação de metrô da Linha Sul mais próxima (16h30), o primeiro trem (16h40), conexão na Linha Camaragibe (16h57) e mais um ônibus a partir da Estação Cosme e Damião (17h48).
Esse último ponto, aliás, é algo surreal. Projetado possivelmente para ser mais um na rede do Metrorec. A escadaria, porém, não foi pensada para uma aglomeração daquelas típicas de um, vejam só, jogo de futebol…
Antes, paradas de até dez minutos nas estações, justamente porque a Cosme e Damião estava superlotada. O jeito era fazer os demais trens pararem na rota, sem aviso algum, até o oxigênio voltar ao ponto de descida para a arena. Eu tenho 31 anos e certa saúde, mas neste mesmo contexto havia crianças e idosos ansiosos com o jogo.
Passando disso, o novo busão expresso deixaria a 700 metros da arena, com o tempo fechado – ou pelo menos esta é a distância tida como oficial, pois parecia um trecho maior. Na minha caminhada não choveu, mas a lama já tomava conta, misturada ao novo gramado do complexo da Arena, imponente, sem dúvida. Mas com lixo no chão, como no dia a dia.
Às 18h30, após uma fila para o detector de metais, que faria vergonha a uma varredura no aeroporto, o modelo supostamente a ser copiado, enfim o portão F. Iria para o nível 4, no setor 409. Pois é, eu havia saído de casa há quase três horas. Ali, fui orientado e finalmente sentei no meu lugar marcado, confortável. A esta altura, a fome era grande. A sede também.
A fila do bar, meu amigo, era maior do que qualquer uma já vista num “salsichão é 50” da vida. E olhe que a oferta de produtos não estava plena, pois os produtos acabaram rapidamente, nos 30 primeiros minutos de bola rolando. Até água mineral. A reposição viria pelo menos meia hora depois. Obviamente, desisti, pois não perderia a partida por causa de uma fila para comprar uma cerveja por R$ 9.
Vale citar, de leve, que funcionários calculavam os pedidos em celulares! Tem como ser mais “Padrão Fifa”? Uma passadinha no banheiro e nada muito diferente do que sempre vi nos campos da capital. Não havia lixeira, nem no masculino nem no feminino. No fim, uma miniatura do Lixão da Muribeca.
No gramado, um grande espetáculo, com a Espanha confirmando o discurso de Xavi, que na véspera havia dito na coletiva que o time controlaria a bola e seria o protagonista da noite. Foi exatamente isso. Tocou a bola com maestria, deixando o adversário nervoso, abrindo a caixa de ferramentas. A Fúria deu aula de futebol e venceu sem desgaste por 2 x 1, superando um aguerrido time uruguaio, mas profissional na arte de errar passes.
O jogo acabou exatamente às 20h56. Começaria aí uma missão ainda mais complicada. Se na ida cada um fez o seu horário, na volta os torcedores tomariam o mesmo rumo ao mesmo tempo. Faltando quinze minutos já havia muita gente saindo, temendo o pior. No instante em que o juiz asiático encerrou o jogo eu já estava descendo a rampa.
Vista de longe, a lenta procissão assustava. Um gradil indicava o caminho. A imensa maioria o seguiu, inúmeros mal educados não. E a polícia apenas observou a desordem. O ato, claro, refletiria mais à frente, na fila de ônibus, com o brasileiríssimo “se vira nos 30” – quando saí, a massa humana chegava até perto do estádio. Foi cada um por si num processo que deveria ser top, nos colocar em um novo patamar de mobilidade. Em seguida, de novo Cosme e Damião, ainda pior.
O esquema, fracassado há horas, teve muito, mas muito tempo para ser traçado. No único jogo teste realizado, com Náutico x Sporting, o fluxo de pessoas via metrô alcançou 57% dos 27 mil torcedores, ou 15,2 mil. Desta vez seria ainda maior por algo bem simples. O estacionamento privado Parqtel, o único à disposição, continuaria com as 2 mil vagas, enquanto o borderô da partida subiria para 41.705 pessoas, das quais 30 mil nos trilhos.
Lotação na ida, na volta, relatos de alguns trens sem ar condicionado e conversas quase monotemáticas sobre o caos no domingo.
A Estação Centro surgiria no horizonte às 22h29. Eu ainda teria que fazer uma nova conexão, para retornar para a Linha Sul. Entre metrô, expresso, carro e porta de casa, o relógio encerrou a maratona futebolística às 23h15. Ao todo, 5h09min.
Escrevi esse post no calor da partida, frustrado com com um esquema tão contestado esse tempo todo e que se mostrou falho no grande dia.
Um estádio a 19 quilômetros do Marco Zero e 30 mil pessoas se deslocando apenas via metrô? Sem um plano B? Hoje foi um domingo, com a cidade teoricamente tranquila. Quarta-feira, no próximo compromisso, o ponto facultativo será para os servidores públicos. O comércio se mantém, o que indica que Itália x Japão será uma aventura daquelas.
A minha foi deplorável, a ponto de deixar o jogo em segundo plano. Justamente a partida que tanto me esforcei para ver sentado na arquibancada, com os amigos, sem nenhuma pauta…
Mas a pauta estava onipresente. Não adianta o silêncio governista. As redes sociais estão aí com histórias e imagens que dificilmente serão superadas pelo discurso padrão.
No primeiro jogo oficial na Arena Pernambuco o fluxo de torcedores via metrô foi de 15.200 pessoas, ou 57% dos quase 27 mil pagantes. Índice alto. Porém, na Copa das Confederações, com expectativa de públicos acima de 35 mil torcedores, o esquema de transporte precisará ser ainda mais amplo. A demanda na rede metroviária será bem maior, obviamente.
O plano de mobilidade da Secopa, apresentado nesta quarta, prevê bilhete grátis no metrô para os detentores de ingressos para os três jogos no estádio em São Lourenço da Mata. A medida visa influenciar o uso dos trilhos, algo de que deverá ser recorrente na operação da arena, nas próximas décadas.
Das 29 estações de metrô, 10 contarão com esse novo serviço para os torcedores. Integrando o esquema, três linhas de ônibus irão sair dos Shoppings Recife, Guararapes e RioMar para as “Estações da Copa” mais próximas, com preço de R$ 5 ida e volta. Faltou incluir o Shopping Tacaruna, na zona norte…
Enquanto isso, no estádio haverá uma série de blitze. Serão cinco bloqueios, só permitindo a passagem de veículos autorizados. A 1,5 quilômetro de distância, o estacionamento Parqtel, aberto no amistoso Náutico x Sporting, funcionará com ônibus incluído. São duas mil vagas, já com a venda iniciada (veja aqui).
Garantiu o seu ingresso? Comente o seu esquema de mobilidade até a arena.
O Centro de Ingressos da Fifa começa a funcionar na capital pernambucana nesta quarta em um espaço de 400 metros quadrados no Shopping Recife.
Ocorrerá lá toda a distribuição no estado dos ingressos vendidos para a Copa das Confederações de 2013. Na Arena Pernambuco, com três partidas agendadas, foram vendidos pela internet nada menos que 83.110 entradas.
16/06 – Espanha x Uruguai – 36.023 bilhetes
19/06 – Itália x Japão – 28.744 bilhetes
23/06 – Uruguai x Taiti – 18.343 bilhetes
O modelo do tíquete foi apresentado pela Secopa, ressaltando que os ingressos serão nominais e com assentos marcados no estádio.
A retirada, porém, precisa ser agendada. Por tudo isso, muitos torcedores seguem como dúvidas sobre o processo de distribuição das entradas.
Assista ao vídeo explicativo da Fifa, em português, clicando aqui.