Aquele fanático que há anos só senta no mesmo lugar, mesmo que seja debaixo de sol forte no cimentão da arquibancada. Tudo por causa de uma grande vitória do time, quando ele esteve no mesmo local.
Outros, com uma dezena de uniformes do clube no armário, só vestem as camisas mais velhas, costuradas, mas presentes na volta olímpica inesquecível.
Outras manias estão bem enraizadas na cultura do futebol nacional.
Há até quem só use a mesma cueca, aquela cansada…
O terror das namoradas, esposas e mães.
Basta a preparação não sair perfeita, com o lugar ocupado, a camisa suja ou a cueca rasgada. E bate o desespero na superstição.
Essa foi a ideia pra um comercial brasileiro, produzido pela agência Africa.
Cenas de violência após o primeiro Clássico das Multidões em 2014.
Arrastão, brigas, rojões, pedradas, ônibus invadidos, roubos, carros com vidros quebrados e pânico no Recife em 6 de março, no primeiro dos quatro jogos agendados neste mês. Confusão antes e depois do jogo na Ilha. E também houve tumulto no acesso ao estádio.
Assista à reportagem da TV Clube e outros dois vídeos caseiros, gravados em edifícios vizinhos, sobre a guerra entre supostos integrantes das uniformizadas Torcida Jovem e Inferno Coral na Avenida Conde da Boa Vista.
O saldo da noite? Nenhuma prisão de fato, como sempre.
A complexa e cansativa questão das torcidas ditas como organizadas é de segurança pública, do estado. Até hoje, o governo de Pernambuco segue um tanto omisso sobre o assunto…
Enquanto isso, a insegurança vai esvaziando os jogos de futebol na capital.
Os blocos Cobra Fumando, no Arruda, e Minha Cobra, em Olinda, levantam a poeira no carnaval. No Tricolor de Capiba e Nelson Ferreira, o frevo-canção e a marcha-exaltação estão na boca do povão muito antes do concreto colossal no José do Rego Maciel. É o imenso carnaval do Santa Cruz.
Em um século de história do frevo, o Santinha teve dois dos maiores compositores do envolvente ritmo pernambucano. Nelson Ferreira (1902 – 1976) e Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba (1904 – 1997). O primeiro foi um gênio nos frevos-de-rua, extraindo dos metais a animação total do público, mas sem perder a linha como compositor. Cresceu com o frevo.
No supercampeonato de 1957, Nelson criou um frevo-canção gravado pelo cantor alvirrubro Claudionor Germano. “Vamos cantar com toda emoção / Um, dois, três, quatro, cinco, seis / Saudando a faixa de supercampeão / A que fez jus / O mais querido Santa Cruz / Foram três as vitórias colossais”.
O segundo, com 200 músicas no repertório, foi conselheiro coral em 1948, quando compôs a marcha “O Mais Querido”, decorada no Mundão e famosa da mesma taça de 1957. “Santa Cruz, Santa Cruz , junta mais essa vitória…”.
Irmão de Capiba, Marambá criou “Cobral Coral” em 1959, na voz de Rubens Cristino. “Quando aparece num gramado / O Santa Cruz dando xaxado / O adversário vai cair / Disso não pode fugir / Deixa a fumaça subir”. Bem antes disso tudo, Sebastião Rosendo compôs o mais famoso frevo-canção do clube, de 1942, atendendo um pedido de Aristófanes de Andrade, renomado tricolor. Saiu o frevo “Santa Cruz de Corpo e Alma”.
De corpo e alma ao papa-taças, as canções que apaixonam nas orquestras.
Santa Cruz de Corpo e Alma (Sebastião Rosendo, 1942)
Eu sou Santa Cruz De corpo e alma E serei sempre de coração Pois a cobrinha quando entra no gramado Eu fico todo arrepiado e torço com satisfação (2x) Sai,sai Timbu Deixa de prosa, O seu Leão Periquito cuidado com lotação Que matou pássaro preto Tricolor é tradição
O mais querido (Capiba, 1957)
Santa Cruz, Santa Cruz
Junta mais essa vitória
Santa Cruz, Santa Cruz
Ao te passado de glória
És o querido do povo
O terror do Nordeste
No gramado
Tuas vitórias de hoje
Nos lembram vitórias
Do passado
Clube querido da multidão
Tu és o supercampeão”.
Papa-Taças (João Valença e Raul Valença (década 1970)
Quem é que quando joga A poeira se levanta É o Santa, é o Santa Escreve pelo chão Faz miséria e não se dobra É a cobra, é a cobra É sem favor o maioral O tricolor, a cobrinha coral O mais querido timão das massas Por apelido o papa-taças
Se tu és tricolor (Capiba, 1990)
Se tu és tricolor Que Deus te abençoe Se não és tricolor Que Deus te perdoe O Santa tem a fibra Dos Guararapes Por tradição É o mais querido E sempre será O clube da multidão
Santa Cruz de Corpo e Alma (1942, Sebastião Rosendo)
Vulcão Tricolor (2007, Maestro Forró). O último dos frevos-de-rua dos clubes.
É a torcida mais apressada para o carnaval. Desde cedinho já está acordada, mudando o humor da cidade, fazendo abrir o sorriso alvirrubro a cada esquina.
O domingo é do Timbu Coroado desde 1934, quando os atletas de remo do clube saíram pela Rua da Aurora, onde fica até hoje a garagem do remo timbu. Uma tradição que se mantém viva na base do frevo. O desfile agora ocorre nos Aflitos, com o bloco mais tradicional entre os grandes clubes o estado.
Além do Come e Dorme, frevo-de-rua do compositor coral Nelson Ferreira, que mesmo sem letra alguma se confunde com o próprio hino alvirrubro, os metais levantam a timbuzada com outra composição de Nelson, no frevo-canção Hino do Timbu Coroado, de autoria de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso.
Músicas que ficaram ainda mais populares no rádio, na execução a cada gol alvirrubro, sobretudo na era de ouro do Náutico, no hexacampeonato. Naquela época, aliás, a segunda-feira de carnaval reservava espaço para o desfile do maracatu do Timbu Coroado. Tempos depois, o Náutico teve até um boneco gigante, o Bonzão da Timbucana, sempre presente nos Aflitos nos anos 80. Agora, a ampliação carnavalesca, com a Casa Alvirrubra no Recife Antigo.
Com um repertório superior a 50 versões do frevo-canção, as músicas em homenagem ao clube ficaram ainda mais populares no rádio, na execução a cada gol do time, sobretudo nos anos 1960.
Hino do Timbu Coroado (Nelson Ferreira, década de 1930)
O nosso bloco é mesmo enfezado É o Timbu, é o Timbu Coroado Desde cedinho já está acordado É o Timbu, é o Timbu Coroado Entre no passo Que o frevo é de amargar Pois a turma é muito boa E no frevo quer entrar Não queira bancar o tatu Conheço seu jeito, você é Timbu Esse negócio de casá, casá, casá É negócio pra maluco Pois ninguém quer se amarrar Timbu sabe isso de cor Casá pode ser bom, não casá é melhor N – Á – U – T – I – C – O Todo mundo vai saber isso de cor
Timbuate (Aldemar Paiva e maestro Luiz Caetano, década de 1950)
Timbu, no céu, no lar Timbu, meu sol, meu ar Ene-a-u-tê-i-cê-o Sou de verdade teu fã Mais do que ontem Menos que amanhã (2x) Timbuate é um sonho Encantamento Carnaval, delícia de cores Movimento Ene-a-u-tê-i-cê-o Sou nos esportes teu fã Sou nos esportes teu fã Mais do que ontem Menos que amanhã Timbu no céu no lar Timbu, meu sol, meu ar
Timbuzinho (Jorge Gomes, 1964)
Sou timbuzinho Sou timbuzinho Gosto do frevo E gosto de carinho (2x) As minhas cores são Encarnado e branco O Náutico é bicampeão Nino dá a Nado Nado a Geraldo Gol, que sensação
Papai do Nordeste(Jocemar Ribeiro, 1966)
Ene-a-u-tê-i-cê-o A garra do leão Baixou de cotação O homem do boné Levou um grande olé O feitiço, meu amigo, deu azar Foi cinco a um, na tabuleta o placar Sou da cidade o tetracampeão Vou gargalhar, ai, ai, ai A vitória vai ficar Para toda geração Do Nordeste sou o papai
Hino do Timbu Coroado (letra de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso e composição de Nelson Ferreira)
A noite dos mortos vivos, filme dirigido por George Romero, em 1968, estabeleceu um novo patamar nos filmes de terror.
A figura do zumbi, hoje cult, ganhou inúmeras versões desde então. Cinema, videogames, quadrinhos e até uma série na televisão, The Walking Dead.
Mesmo em um tema tão refilmado, sempre aparece alguém com algo novo.
Por que não contar uma história de uma infecção misteriosa em um jogo de futebol, em uma noite com a arquibancada lotada?!
Esta foi a ideia dos produtores franceses Benjamin Rocher e Thierry Poiraud, no filme Goal of the Dead, de 2014, cujo roteiro se passa em uma pequena vila no norte da França.
Uma hora e meia na telona com jogadores, torcedores e moradores transformados em zumbis, correndo atrás de bolas de futebol e cabeças…
Saiba mas sobre filmes de terror no blog Toca o Terror.
Na época carnavalesca, nada de uniformes no futebol no estado. Mas nem assim a paixão clubística é deixada de lado. Pelo contrário, continua arrastando multidões.
As camisas alvirrubras, tricolores e rubro-negras cedem lugar às fantasias. Nos festejos de momo há espaço também para as camisas dos blocos, com inspiração nos maiores clubes de Pernambuco.
Entre blocos e troças carnavalescas, Náutico, Santa Cruz e Sport têm as suas versões na folia em todo o estado. No Recife Antigo, nas ladeiras de Olinda, nos papangus no interior…
Confira os estandartes, da antevéspera carnavalesca, ainda na quinta, à quarta-feira de cinzas. O mais antigo de todos é o Timbu Coroado, criado na década de 1930.
Abaixo, a lista de blocos e alguns vídeos. Entre parênteses, o local de origem, o ano de fundação e o dia do desfile.
O post será atualizado com a confirmação de mais blocos…