Aos 61 anos, o técnico Givanildo Oliveira tem uma imagem consolidada como um comandante sério, detalhista e exigente. Ou até “chato”, para alguns.
Já era assim em 1994, quando o técnico – que sempre gostou de morar em Olinda – comandava o Sport pela 3ª vez – agora é a sexta. Uma das manias do treinador era ir várias vezes por semana até a banca de revistas localizada na Praça 12 de Março, em Bairro Novo, conhecida só como “Praça 12”. Colada à Sorveteria Bacana. Quem já foi uma vez em Olinda, sem ter sido no Alto do Sé, conhece…
Ele sempre ia comprar jornais do dia, uma ou outra revista e bater um papo com um dos donos, os irmãos “quase gêmeos” Cid e Celso.
Numa dessas passagens, um menino de 12 anos, que morava a menos de 200 metros da banca, lia uma revista Placar que havia acabado de chegar. Era a edição de nº 1094, de maio, sobre os “80 anos da Seleção Brasileira” (capa ao lado).
Uma compilação de todas as partidas do Brasil desde 1914 até então. Com as fichas técnicas, naturalmente. Fanatismo puro.
Apesar de ter comprado a revista, a mania do menino era começar a ler a revista ali mesmo. Foi quando Givanildo viu o título da revista e se aproximou para dar uma olhadinha.
Começou a ler a mesma edição do moleque. Com menos de 2 minutos, ele resolveu matar a curiosidade. Ele = o técnico.
“Menino, tem todos os jogos da Seleção aí mesmo? Todos!?”
O menino olhou, reconheceu – surpreso, é claro – o então treinador do Sport (que já havia sido bicampeão em 91/92) e respondeu:
“Sim. São todas as partidas, com ficha e tudo. Público, data…” (100% metódico)
Givanildo, então, pediu para checar se a revista era mesmo tão completa assim.
“Veja se o Brasil enfrentou a Itália em 1976, por favor.”
“Está aqui, ó. Jogou sim. Ganhou por 4 x 1. Oxe… Esse não foi o placar da final de 70 também?”, disse o menino, querendo demonstrar um mínimo de conhecimento de futebol para o treinador.
“Interessante… Falcão jogou, né? Ele foi substituído?”, retrucou o técnico.
“Falcão entrou como titular sim. E foi substituído!”, respondeu o garoto, mais uma vez.
“Quem entrou no lugar dele?”, questionou pela última vez o treinador.
“Givanildo…”, disse o menino, de olhos arregalados.
No papel daquele menino há quase 16 anos, posso assegurar que o técnico não correspondeu à tal imagem consolidada no início do post. No fim daquele ano, Givanildo terminaria com os títulos de campeão estadual e da Copa do Nordeste. E o menino continuou comprando a Placar na mesma banca, para tentar aprender um pouco mais.