Pernambucano em 2 linhas – 5ª/2014

Pernambucano 2014, 5ª rodada: Sport x Santa Cruz, Náutico 0x2 Salgueiro e Central 2x1 Porto. Fotos: Ricardo Fernandes (Ilha) e Paulo Paiva (Arena), ambos do DP/D.A Press e Flávio Romeu/divulgação (Caruaru)

A fase principal do Pernambucano chegou à sua metade, após a 5ª rodada. A tabela ficou finalmente completa, com a realização do clássico adiado da abertura, Náutico 2 x 1 Sport. No meio desta semana, mais três jogos, mexendo bastante na classificação e deixano o atual tricampeão estadual fora do G4.

Desde que o sistema de semifinal e foi implantado pela FPF na competição, em 2010, os três grandes da capital sempre avançaram ao mata-mata. Hoje, as semifinais seriam Sport x Central e Náutico x Salgueiro.

Em 15 jogos nesta fase do o #PE2014 saíram 36 gols, com média de 2,4. Em relação à artilharia, que oficialmente considera apenas os dados hexagonal e o mata-mata, Neto Baiano segue na ponta, com quatro tentos.

Sport 3 x 0 Santa Cruz – O Leão foi arrasador no primeiro tempo, “matando” o confronto. Com a goleada definida, se poupou na etapa complementar.

Náutico 0 x 2 Salgueiro – Numa atuação apagada, com a arena às moscas, o Timbu foi surpreendido pela proposta tática do Carcará, povoando a meiuca.

Central 2 x 1 Porto – Com dois gols de Jonathan Goiano no segundo tempo, a Patativa ganhou mais um derby caruaruense e entrou no G4.

Destaque: Felipe Azevedo. Marcou dois gols no Clássico das Multidões. Aliás, dois golaços, numa bomba no ângulo e outro por cobertura.

Carcaça: Zaga coral. Estática na Ilha do Retiro, a defesa do Santa foi superada inúmeras vezes pelos leoninos, deixando Tiago Cardoso sem ação.

Próxima rodada:
08/03 (16h00) – Porto x Náutico
09/03 (16h00) – Central x Sport
09/03 (16h00) – Santa Cruz x Salgueiro

Classificação do hexagonal do título do Pernambucano 2014 após a 5ª rodada. Crédito: Superesportes

Ato 1: Leão passa por cima dos corais e retoma a liderança estadual

Pernambucano 2014, 5ª rodada: Sport 3x0 Santa Cruz. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Agenda recheada em março, com grandes clássicos na Ilha e no Arruda.

A primeira das quatro edições do Clássico das Multidões neste mês terminou com um atropelamento dos rubro-negros.

Em partida válida pelo hexagonal do Campeonato Pernambucano, o Sport goleou o grande rival por 3 x 0 e retornou à liderança da fase.

A vitória, diante de 18 mil torcedores e a uma semana do aguardado confronto pela semifinal da Copa do Nordeste, mostrou um ataque leonino soberano diante a estática defesa coral, plantada em campo na noite desta quinta-feira.

O passeio começou logo aos cinco minutos, num golaço.

Numa bola levantada na grande área, Felipe Azevedo – criticado justamente pela falta de pontaria – acertou um sem pulo, no ângulo de Tiago Cardoso.

A desvantagem tão cedo desmontou o time de Vica, necessitando pontuar para voltar à zona de classificação do Estadual.

Pernambucano 2014, 5ª rodada: Sport 3x0 Santa Cruz. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

A única chance do Santa Cruz – para realmente equilibrar a partida – aconteceu aos dez minutos, com Raul, livre livre. O meia chutou pra fora.

Fora isso, um primeiro tempo para esquecer. Mas estava apenas começando…

Aos 16, Neto Baiano, exercendo muito bem o papel de pivô, tocou para Patric. De lesionado, o lateral foi a surpresa do clássico e mandou para as redes.

Aos 29, a goleada improvável num jogo com previsão tão equilibrada até então. Outra assistência de Neto Baiano, desta vez para Felipe Azevedo, numa atuação endiabrada. Encobriu o paredão coral, com categoria.

No intervalo, Vica conversou bastante, visando um ajuste no posicionamento.

O segundo tempo até foi mais equilibrado, com o time da casa cadenciando um resultado já definido e com o visitante mais disposto. Era tarde.

O peso da partida – ainda pela fase classificatória do certame local – findou um jejum dos rubro-negros, que não venciam os corais há cinco duelos.

Pernambucano 2014, 5ª rodada: Sport 3x0 Santa Cruz. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

A relação Arena/Metrô, a mãe de todos os erros em Pernambuco

A Arena Pernambuco foi lançada pelo governo do estado em 15 de janeiro de 2009, num projeto integrado a algo maior, a Cidade da Copa, uma nova centralidade urbana na zona oeste do Recife. O novo campo utilizaria de forma massiva o metrô, um modal sem conexão direta com os estádios da capital.

O transporte nos trilhos seria o grande diferencial na mobilidade, com uma nova estação de metrô, a Cosme e Damião, a apenas 700 metros da arena. Pois bem. O estádio (R$ 650 milhões) e a estação (R$ 7,4 milhões) foram construídos… e a ideia inicial, tão divulgada pelo estado, acabou relegada.

De forma incompreensível, a arena ficou a uma caminhada de 4,1 quilômetros do acanhado terminal de Cosme e Damião, ou 485% acima da previsão inicial. Por isso, e pela falta de integração ao Metrorec nos jogos noturnos, o formato – que utilizou bastante dinheiro público – ainda não surtiu efeito na arena.

Agora, o poder público agora tenta lançar a versão de que a estação já estava prevista antes do estádio, sem uma relação direta com o projeto. No entanto, o terminal de Cosme e Damião só foi viabilizado por causa da arena, tanto que o gasto foi inserido na Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo.

Vamos a exemplos de outros estádios de ponta, no Brasil e no exterior, nos quais o metrô é o principal modal para o transporte do público. Através do Google Maps, com o mesmo zoom, é possível notar a disparidade.

No caso do estádio do Porto, a estação portuguesa fica dentro do estádio. Entre os exemplos, o mais distante foi o campo da Internazionale e do Milan, com cerca de dois quilômetros, ou metade do caminho em São Lourenço da Mata.

Ou seja, em todos os estádios o trajeto entre a estação e o campo é inferior a apenas um sentido no percurso para o modelo pernambucano.

Estádio do Dragão (Porto, Portugal) – Estação integrada

Estádio do Dragão. Crédito: Google Maps

Santiago Bernabéu (Madri, Espanha) – 220 metros

Santiago Bernabéu. Crédito: Google Maps

Wembley (Londres, Inglaterra) – 400 metros

Wembley. Crédito: Google Maps

Camp Nou (Barcelona, Espanha) – 450 metros

Camp Nou. Crédito: Google Maps

Maracanã (Rio de Janeiro, Brasil) – 500 metros

Maracanã. Crédito: Google Maps

Estádio da Luz (Lisboa, Portugal) – 550 metros (inclui retorno)

Estádio da Luz. Crédito: Google Maps

Stade de France (Saint-Denis, França) – 650 metros

Stade de France. Crédito: Google Maps

Amsterdam Arena (Amsterdã, Holanda) – 700 metros (inclui retorno)

Amsterdam Arena. Crédito: Google Maps

Allianz Arena (Munique, Alemanha) – 1,38 km

Allianz Arena. Crédito: Google Maps

San Siro (Milão, Itália) – 1,9 km

San Siro. Crédito: Google Maps

Arena Pernambuco (São Lourenço da Mata, Brasil) – 4,1 km (inclui retorno)

Arena Pernambuco. Crédito: Google Maps

E se Pelé tivesse sido contratado pelo Sport?

E se Pelé tivesse sido contratado pelo Sport: Arte: Greg/DP/D.A Press

A temporada recifense do menino Pelé

O telegrama enviado por José Rozenblit foi entregue na Vila Belmiro, no serviço executado pela Western Telegraph, em 1957. Eram apenas duas frases. Modesto Roma, inteirado sobre o assunto, foi até o campo de grama alta e assobiou em direção a um franzino rapaz de 17 anos. “Pelé, chega mais”. Suado, já com a camisa na mão, Edson se aproximou, desconfiado como bom mineiro. Nem falou. Só ouviu. “Prepara a tua mala que você irá passar um tempo no Recife”. O juvenil arregalou os olhos. Antes de imaginar qual seria o seu novo clube ou a distância da cidade em relação à Baixada, já bateu a saudade de Seu Dondinho, seu pai e grande incentivador.

Pelé, o curioso apelido ganho ainda quando criança, era uma grande promessa do Santos. Faltava cancha para disputar o campeonato paulista, acreditavam os dirigentes do clube. A amizade entre o rubro-negro Rozenblit e o santista Roma viabilizou a solução, com um tempo em Pernambuco, no disputado campeonato citadino, com clássicos cada vez mais populares. Inicialmente, seriam apenas quatro meses. O tal telegrama era bem claro. “Queremos o garoto Pelé. Quatro meses de contrato e negociação para a renovação de mais oito meses, grato.”

O jogador chegou no Recife sem alarde e logo foi inscrito no Estadual. Na reta final, sem espaço, viu o Sport ser derrotado pelo Santa Cruz. Valeu a experiência de ter sentado no banco de reservas. Acreditava estar preparado para voltar a São Paulo. Conforme a negociação previa, não retornou. Com o certame terminando somente no ano seguinte, sem muito tempo de preparação, Dante Bianchi, o severo técnico do Leão, tentou implementar o ousado plano de jogo da Seleção Brasileira. Em vez de quatro jogadores na linha ofensiva, uma linha de ataque com três nomes. Ponta direita, ponta esquerda e o centroavante. Na Ilha do Retiro, já brilhavam Pacoty e Traçaia. A vaga estava aberta há tempos.

Técnico além da conta, de atrair torcedores para os treinos, o atacante logo ganhou a sua vaga. A vida, contudo, seguia simples, alojamento/campo, campo/alojamento. Certo dia, Pelé foi até o terraço da sede. Era 4 de maio de 1958 e outros jovens atletas e sócios leoninos acompanhavam via rádio o primeiro jogo da Seleção Brasileira no ano da Copa do Mundo. Que apresentação! No Maracanã, 5 a 1 sobre os paraguaios, com show do palmeirense Mazzola , autor de três gols. “Joga muito esse aí. É outro nível, entende?” A timidez deu lugar ao sorriso fácil, às cantorias com violão antes dos jogos. O menino foi ganhando personalidade.

Quatro semanas depois, após muito tempo de espera, surgiu a primeira chance como titular. O estádio apanhou um bom público. Os jornais locais já noticiavam os feitos do “menino de Santos” – mas natural, na verdade, de Três Corações. Contra o Íbis, o Leão arrancou de forma impiedosa, 5 a 0. Acredite, Pelé marcou cinco gols. Pé direito, pé esquerdo, cabeça, rebote e driblando toda a zaga do pássaro preto do subúrbio. O abraço de Pacoty, o apoio de Traçaia e o público de pé, aplaudindo. Tardes assim seriam uma rotina. Enquanto os dirigentes paulistas – cientes do talento extraordinário – tentavam antecipar a volta da revelação, o presidente do Sport, Adelmar da Costa Carvalho, assegurava o cumprimento do documento registrado na FPF.

Em 29 de junho, o Brasil enfim conquistaria o sonhado título mundial, numa apertada e inesquecível vitória sobre a Suécia em Estocolmo, 2 a 1. A primeira escala no país, curiosamente, seria no Recife, três dias depois. Festa nas ruas da capital, com a delegação no aeroporto. Único santista no elenco campeão, Zito enviou uma mensagem ali mesmo. “Pelé, eu sabia de toda a tua dedicação em Santos. Esse título mundial também é para você. Jogaremos juntos em breve”. Mensagem recebida, quase um presente. Após ser campeão pernambucano de 1958 com 41 gols marcados, à frente de Pacoty (36) e Traçaia (11), num  recorde ainda em vigor, Pelé deixou a torcida rubro-negra órfã. No ano de ouro do futebol brasileiro, se dizia que jamais haveria um ataque como Garrincha, Vavá e Mazzola. E nem como Pacoty, Traçaia e Pelé.

História real
O telegrama do Santos oferecendo Pelé ao Sport de fato existiu, datado em 05/11/1957, mas Rozenblit agradeceu a oferta e recusou o “jovem desconhecido”. Pelé explodiu no futebol em 1958, marcando 58 gols no campeonato paulista e seis no Mundial. No Recife, o Leão foi campeão pernambucano, com Pacoty como artilheiro, com 36 gols. O recorde de um goleador local segue com 40 gols (Baiano, em 1982 e 1983, e Luís Carlos, em 1984).

O texto da série “E se…” faz parte do especial do Diario de Pernambuco com a história de todos os Mundiais. Confira o hotsite aqui.

Eis os textos de escritores famosos sobre o tema, publicados no Diario de Pernambuco em 23 de janeiro de 2000, quando o telegrama foi revelado.

Luís Fernando VeríssimoPelé seria ainda mais Pelé!
Luiz Fernando Veríssimo

Combinado que em qualquer outro lugar o Pelé ainda seria Pelé, o que mudaria mesmo seria a história do Sport. O Santos, claro, não era só Pelé, mas foi ele o responsável pela projeção mundial do clube. O Sport teria tido a mesma projeção com Pelé no time? Naquela época havia pouco intercâmbio entre os times do Brasil, era raro times de fora de São Paulo e Rio serem notados, ou terem jogadores convocados para a Seleção. Se jogasse no Sport, Pelé não teria sido convocado para a Seleção de 58. Pelé teria que jogar mais do que jogou no Santos para ser notado. Conclusão: se Pelé tivesse ido para o Sport, seria obrigado a ser melhor do que foi. Pelé seria ainda mais Pelé!

Xico SáSorte do goleiro do Íbis
Xico Sá

Existem dois tipos de traição que não prescrevem nunca – a da mulher da sua vida e a do time do seu coração. Para evitar maiores constrangimentos durante o cozido dominical, tratemos apenas do segundo crime. E que traição dos velhos cartolas, senhores. Chifre é pouco. Último a saber, sonhei as últimas noites com as manchetes épicas que teriam sido possíveis. Leão conquista a América. Rei da Ilha humilha a Europa. Sport para a guerra em excursão à África. Pernambuco é bi do mundo…

Mas também fiquei pensando nas desgraças que isso poderia representar. Sonhei com um texto, no melhor futebolês: “Em tarde infeliz, o camisa 10 do Leão da Praça da Bandeira balançou apenas 15 vezes as redes do Íbis…”

Perdemos Pelé, numa bobeada imperdoável da cartolagem. Por ironia, os deuses do futebol ainda nos presentearam, tempos depois, com outro rei, Dadá Beija-Flor. Não conquistamos a América, não humilhamos a Europa, mas os goleiros do Santo Amaro e do pobre Íbis… sofreram como o diabo.

Minha sorte, nessa história toda, é que, graças a tios nordestinos que migraram para São Paulo nos anos 60, tive a felicidade de ganhar uma camisa do Peixe ainda menino, o que permitiu usufruir de todas as glórias da era Pelé. Naquele tempo já era Sport, por causa do Guarani de Juazeiro, que tinha as mesmas cores, o meu escudo, a mesma torcida cri-cri e o apelido de “O Leão do Mercado”, em virtude da paixão dos feirantes pelo time.

Raimundo CarreroPromessa de amor do Rei
Raimundo Carrero

Foi uma jura de amor. O raquítico Dico, ainda não transformado em Pelé, coberto apenas por um calção de veludo vermelho, bordado em lantejoulas, e exibindo sandálias imperiais de pom-pom, basta cabeleiras escaracolada, perdeu-se de paixão por uma garotinha que, recém-nascida, passeava nos braços da mãe na sede do glorioso Sport Club do Recife. Ele havia chegado ao Recife a bordo de um teco-teco, especialmente contratado para trazê-lo aos gramados pernambucanos, terror do tricolor Adelmar e do alvirrubro Caiçara.

Naquele instante, no solo sagrado do Leão e sob o testemunho do incandescente sol nordestino, Pelé vislumbrou a glória que haveria de se abir aos seus pés, e num gesto cavalheiresco, ajoelhou-se perante a garotinha, gritando: “Serei rei, ó bela dos meus olhos. Retornarei ao Recife para desposá-la, ó sonho dos meus sonhos, linda dama dos cabelos dourados”.

Naquele instante, num fenômeno da natureza, apareceu no céu a estrela Assíria. Anos depois, coroado rei nos estádios do mundo, Pelé voltou ao Recife, depois de enfrentar deuses e monstros, mouco ao cântico das sereias, e ainda no Aeroporto dos Guararapes, gritou apaixonado: “Voltei, minha princesa”. Casou-se com Assíria Seixas na Igreja Episcopal. E foram felizes para sempre.