A cada Copa do Mundo a Fifa lança uma série de novidades na cobertura dos jogos. Uma mudança já clássica é a evolução das estatísticas ao vivo de cada partida, disponibilizadas pela internet.
No acompanhamento em tempo real, finalizações, faltas e posse de bola estão entre as opções mais tradicionais. O mapa de calor das equipes fez sucesso em 2010.
Em 2014, conforme esperado, novos dados e gráficos, como a distância com posse de bola e sem posse, passes curtos, médios e longos e direcionamento dos chutes na barra…
Aqui, o primeiro quadro oficial do Mundial, com o jogo Brasil 3 x 1 Croácia.
Para ver os dados de cada atleta, separadamente, clique aqui.
Os 62.103 torcedores cantando em voz alta o hino nacional com os jogadores visivelmente emocionados já foi de arrepiar. A atmosfera estava pronta.
Era o início da festa no Itaquerão. Outra vibração assim em São Paulo, só aos 45 minutos do segundo tempo, em um jogo tenso e bem disputado. Brasil 3 x 1.
Após a festa de abertura sem sal, o começo da partida não foi dos melhores. A responsabilidade de atuar em casa realmente é grande, pesa.
A cobertura dos laterais brasileiros foi falha durante boa parte do jogo. E o bem armado time da Croácia aproveitou cedo. E ainda contou com a ajuda…
A meta de Júlio César foi vazada aos 11 minutos, após bola cruzada pelo lado esquerdo, passando em sequência por Thiago Silva, Luiz Gustavo e David Luiz.
A Brazuca acabou nos pés de Marcelo, de uma infelicidade tremenda. Marcou o primeiro gol contra da Seleção em toda a história dos Mundiais.
O empate veio num chute quase despretensioso de Neymar, ainda na primeira etapa. Lance para acalmar a Canarinha, para trazer de volta a torcida. O time canarinho queria jogo, não se absteve do ataque.
A primeira mudança de Felipão aconteceu aos 20 do segundo tempo. Paulinho, ainda em recuperação, deu lugar ao pernambucano Hernanes. O Profeta é o reserva mais acionado nesta Era Scolari. Nesta tarde, limitou-se à marcação.
A virada minutos depois, mas numa penalidade mandrake marcada pelo árbitro japonês Yuichi Nishimura, bem confuso nos seus critérios.
Fred caiu na área, sem sofrer qualquer contato. Na cobrança, Neymar mandou para as redes e já largou na artilharia – algo simbólico, uma vez que o camisa 10 é a maior aposta do país na Copa do Mundo de 2014.
No finzinho, o lance mais bonito. Num contragolpe rapidíssimo, Oscar – muito bem – tocou de biquinho, de fora da área. Acertou o cantinho do goleiro croata.
Do banco, para onde havia ido há pouco descansar, Neymar abriu o sorriso de vez. E ainda seria eleito pela Fifa, justamente, o craque do dia.
Acredito que todo mundo, quando criança sobretudo, já teve conversas com amigos imaginando o futuro, mas daqueles bem utópicos.
“Já pensasse… Uma Copa do Mundo aqui no Brasil?”
“Peraê, né véi… Já teve aquela de 1950. Duvido que a Fifa faça outra aqui.”
“Danosse.”
“Mas e se fizesse? Será que colocariam o Recife de novo? E seria muito maior, com 24 países. Seria arretado, vá por mim.”
“Seria, né velho. Mas tás viajando na maionese. A gente teria que construir um bocado de estádio. O Brasil tá liso.”
“Era só reformar o Arruda. Ano passado deu quase 100 mil lá com a Seleção. Como é que tu vai dizer que não serve? Ainda tem o Maracanã, o Morumbi, a Fonte Nova, o Serra Dourada…”
“Bote fé, po. Mas a turma ia roubar tão pouquinho mesmo…”
“Vixe, nem fale. Mas daqui a 20 anos a gente vê então.”
Não exatamente com essas palavras, mas algo bem próximo disso aconteceu em 1994, na época do tetra, em Rio Doce, Olinda. Na rodinha de conversa furada, eu e meus amigos, entre 11 e 12 anos de idade.
Após um tempão com cada um querendo falar mais alto que o outro, o consenso foi de que, se tivéssemos uma chance, seria com no mínimo vinte anos.
Com boa vontade e ainda achando impossível. A arenga logo tomou outro rumo, sobre sobre quem seria o Romário do futuro…
Quanto à Copa do Mundo, o maior evento com o esporte mais popular que existe, era algo realmente distante da gente, sempre alvo de admiração.
Tinha sido assim em 1990, na Itália. Foi, e como, em 1994, nos Estados Unidos. Dos 24 países imaginados, a competição evoluiu para 32. Cada vez mais agigantada.
Veio a beleza da França em 1998, a tecnologia de japoneses e sul-coreanos em 2002 e a plena organização germânica em 2006. Aquela mesma emoção guardada a cada quatro anos sempre voltava bem viva durante o Mundial.
Até que em 30 de outubro de 2007, direto da sede da Fifa, em Zurique, Joseph Blatter tirou de um envelope um papel branco com o seguinte texto na cor azul:
2014 Fifa World Cup Brazil
Era fato. O país seria novamente a sede de uma Copa do Mundo. O momento econômico em expansão, os índices sociais enfim melhorando.
A história havia, sim, virado a nosso favor.
Na ocasião, a escolha veio com a seguinte mensagem. Curta e direta.
“O Comitê Executivo decidiu, unanimamente, dar a responsabilidade, não apenas o direito, mas a responsabilidade de organizar a Copa de 2014 ao Brasil.”
Teríamos sete anos para nos prepararmos. Nunca um país havia tido tanto tempo para fomentar a infraestrutura e logística necessária.
Estádios, aeroportos, mobilidade urbana, telecomunicações, serviços etc. Bilhões seriam investidos. E foram, na verdade… Mais de R$ 25 bi.
A aplicação desses recursos e a forma é que corroboraram com as indagações dos meninos de duas décadas atrás.
A incompetência na gestão pública em todas as esferas – municipal, estadual e federal – acabou deixando o sonho parcialmente embaçado.
É da índole do brasileiro se contagiar com a Copa, quanto mais com uma Copa aqui. Ao mesmo tempo, soa errado – para alguns – aproveitar o momento sabendo a forma na qual ela foi executada.
Daí, uma mistura histórica de entusiasmo e protesto.
A contagem regressiva acabou. Infelizmente, antes de parte das obras.
A Copa do Mundo começa neste 12 de junho de 2014.
Não foi como eu imaginei há 20 anos – e muito menos esperava participar da cobertura como jornalista, pois eu queria ser piloto de avião. Ainda assim, me sinto prestigiado de ver o sonho se tornando real.
A responsabilidade de organizar uma Copa nos foi dada pela segunda vez, com a expectativa de três milhões de pessoas assistindo aos 64 jogos nos estádios e três bilhões acompanhando na televisão.
Em junho de 2014, de minha parte, em campo, irei curtir bastante o Mundial.
Em outubro de 2014, de minha parte, nas urnas, cobrarei tudo o que não foi cumprido nesse sonho tão antigo… desde menino.