Em queda livre, Sport desaba em Salgueiro

Pernambucano 2013, 2º turno: Salgueiro 2x1 Sport. Foto: Bernardo Dantas/DP/D.A Press

Os primeiros lances indicavam um jogo equilibrado, parelho, bem disputado. Era a estreia de rubro-negros e salgueirenses no campeonato estadual após a vexatória participação no Nordestão e ambos queriam mudar a imagem.

Com apenas 30 segundos Marcos Aurélio arriscou de longe, no cantinho de Luciano, que espalmou para escanteio. Aos 8 minutos o ala direito do Carcará, Sidny, acertou o travessão de Saulo. Na sequência, Reinaldo quase abriu o placar para os leoninos, exigindo outra boa defesa de Luciano. Em seguida, Elvis, livre, bateu pra fora. Isso tudo em doze minutos. Eletrizante.

Os 8.998 torcedores acompanhavam um duelo lá e cá. O gol era questão de tempo, restava saber a barra. Aos 14 a rede balançou, a do Sport, que a partir daí se perdeu em campo. Clébson recebeu de costas, girou rápido e finalizou, com direito a uma comemoração marrenta. O time sertanejo passou a insistir na bola aérea, com a defesa leonina em pânico.

Contudo, o Salgueiro só ampliou quando pôs a bola no chão. Pegando de primeira, Élvis acertou o ângulo de Saulo. Apático, o Sport, em crise administrativa logo no segundo mês da nova gestão, até diminuiu o placar na etapa complementar, num pênalti cobrado por Marcos Aurélio, mas não evitou a primeira derrota no ano, 2 x 1. Clima segue pesado na Ilha.

Vale lembrar que a fase será de tiro curto. Uma crise duradoura e uma eventual ausência do G4 pode deflagrar um problema de calendário até em 2014.

Pernambucano 2013, 2º turno: Salgueiro 2x1 Sport. Foto: Bernardo Dantas/DP/D.A Press

Vitória no esporte, vitória ainda maior na vida

Mô andando na Comunidade do Caranguejo, no Recife. Crédito: montagem sobre vídeo de Bernardo Dantas/DP/D.A Press

Para milhares de atletas antes de tentar vencer no esporte é preciso superar uma batalha muito maior, na vida. Vencer as dificuldades impostas pelas condições, nas verdade pela falta de condições na sua realidade. Saúde, educação, segurança, infraestrutura. Tudo.

Vamos a um duro exemplo bem aqui no Recife, com a jogadora de basquete Mô, do Sport. Da Favela do Caranguejo, ela relata as grandes adversidades em uma das comunidades mais carente da capital do estado.

Abaixo, um vídeo produzido pelo repórter Lucas Fitipaldi, cuja matéria estampa duas páginas no Diario de Pernambuco deste domingo. Tocante, reveladora.

Confira a reportagem clicando aqui.

Os grandes clubes e a responsabilidade titânica no G4 do Estadual

Filme: Fúria de Titãs

Onze rodadas, tiro curto. Agora sim teremos o Estadual. Será que Náutico, Santa Cruz e Sport irão confirmar o favoritismo mais uma vez? Nas três torcidas, o índice de confiança beira os 60% com a presença do trio na fase final. Realmente não será tão fácil ir contra a maré da história.

Tirar um dos titãs do futebol local da reta final é algo raro…

Um G4 com apenas dois grandes clubes: último em 2008.
Um G4 com apenas um grande clube: último em 1930.
Um G4 sem grandes clubes: nunca.

Quantos grandes clubes do Recife irão se classificar à semifinal do Campeonato Pernambucano 2013?

Sport – 323 votos
SportTrês – 56,96%, 184 votos
Dois – 20,74%, 67 votos
Um – 16,71%, 54 votos
Zero – 5,57%, 18 votos

Santa Cruz – 258 votos
Santa CruzTrês – 60,07%, 155 votos
Dois – 16,27%, 42 votos
Um – 18,60%, 48 votos
Zero – 5,03%, 13 votos

Náutico – 233 votos
NáuticoTrês – 61,80%, 144 votos
Dois – 20,17%, 47 votos
Um – 15,02%, 35 votos
Zero – 3,00%, 7 votos

Um campeonato inteiro sem público como punição, a solução?

Libertadores 2013: San José 1x1 Corinthians. Crédito: Pasion Libertadores

A morte de um torcedor boliviano após um sinalizador arremessado pela torcida do Corinthians durante um jogo em Oruro gerou uma severa punição ao clube paulista na Taça Libertadores da América. O atual campeão continental jogará de portões fechados até o fim de sua participação na edição desta temporada. Não um jogo, mas o campeonato inteiro.

Prejuízo direto no bolso. Só na primeira fase o Timão já havia comercializado 85 mil bilhetes. Em 2012, na campanha do título inédito, o alvinegro arrecadou cerca de R$ 15 milhões em bilheteria.

A dura punição deve servir de exemplo aos demais clubes brasileiros, cujas torcidas também protagonizaram atos violentos num passado não tão distante. Na verdade, a decisão já poderia ter sido tomada há tempos pela Conmebol.

Até porque há vários anos na Libertadores é quase cultural, no pior sentido, as pedras arremessadas a cada cobrança de escanteio, o torcedor tratado como gado na arquibancada, os gramados espúrios.

Vamos então além da punição na Libertadores. Tomaremos a medida como um “padrão” para o combate à violência no futebol. E se fosse aplicada, por exemplo, no Pernambucano? Arruaça nos jogos e apresentações com portões fechados. Atos extremos e toda a campanha sem a presença da torcida.

A segurança do público está à frente de qualquer interesse desportivo. Relembrar o clube em questão de forma severa para que ele cumpra as suas obrigações parece algo fora de lógica, mas é o caminho.

Em 1985, na final da Liga dos Campeões da Uefa, 38 torcedores morreram no estádio Heysel, na Bélgica, numa selvageria provocada pelos torcedores do Liverpool contra os da Juventus. Resultou na suspensão de cinco anos dos times ingleses nos torneios europeus. De todos eles.

Naquela época mal existia torcida organizada no Brasil, enquanto os hooligans britânicos já arrasavam os jogos no país há décadas. Como aqui, neste momento, ali também era um problema social, complexo. A pena duríssima, bem além do Liverpool, foi um marco divisório no futebol da Inglaterra.

A exclusão também está prevista na Libertadores vigente, mas em casos de corrupção ou abandono de campo. Poderia ser ampliada à violência? Além disso, teria que mensurar o raio de ocorrências, no estádio ou fora dele.

O fato é que no presente, as tragédias já vão se acumulando no futebol brasileiro. Que não precisemos de um “Heysel” para aprender de uma vez por todas. Pesar no bolso dos clubes, de forma concreta, pode ser o começo.

FPF, a terceira federação estadual mais lucrativa do país

As cinco federações de futebol que mais lucraram no Brasil em 2011. Crédito: Pluri Consultoria

Em março deve ser divulgado o balanço financeiro de 2012 da Federação Pernambucana de Futebol com os dados sobre receitas, despesas e patrimônio líquido. A situação atual, no entanto, é bem favorável. Mais do que se imagina…

Existem 27 federações estaduais futebolísticas no Brasil. Todas elas naturalmente subordinadas à Confederação Brasileira de Futebol. Eis que em 2011 a FPF teve o terceiro maior lucro entre as entidades estaduais, à frente até da poderosa federação paulista, de acordo com o estudo da Pluri Consultoria.

Confira a tabelha detalhada clicando aqui.

Isso é consequência do crescimento elevadíssimo nas últimas temporadas. Em um ano, o patrimônio líquido da FPF subiu de R$ 2.858.889 para R$ 3.757.389, turbinado pelo lucro de R$ 898.500. Ou seja, um crescimento de 31,4%.

E olhe que neste ano a direção da entidade subiu a sua taxa de administração sobre todos os jogos no Estadual de 6% para 8%. Como entidade privada, a Federação Pernambucana de Futebol é uma das mais lucrativas da praça.

O dinheiro vem sendo bem aplicado? Os clubes vêm obtendo resultados à altura dessa saúde financeira? Verba tem.

Vermelho de luta, o sangue pela vida

Doação de sangue no Hemope para ajudar Lucas Lyra. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

A mobilização para ajudar o alvirrubro Lucas de Freitas Lyra, baleado antes de um jogo nos Aflitos, mostra como tem de ser o comportamento das torcidas…

O Hemope já recebeu dezenas de doações de sangue de torcedores em nome de Lucas. Solidariedade que ajudará não só à ultima vítima da violência no futebol pernambucano como a outros tantos necessitados na capital.

A campanha segue, com alvirrubros, tricolores e rubro-negros sentados lado a lado, como num passado distante nos estádios locais.

Para quem quiser colaborar, basta ir ao Hemope, na Rua Joaquim Nabuco, no Derby, de segunda a sábado, das 7h15 às 18h30.

Portanto, vermelho de luta!

Das cores dos escudos de Náutico, Santa Cruz e Sport, das veias da torcida. O sangue solidário, para lembrar que futebol à parte somos todos iguais.

Doação de sangue no Hemope para ajudar Lucas Lyra. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Cadastro local de torcidas ativado. O nacional depende de Aldo Rebelo, no Recife

Ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Foto: Ministério do Esporte/divulgação

Há tempos se espera um cadastramento detalhado dos integrantes das principais torcidas organizadas no futebol.

Não só no Recife como no restante do país, em centros ainda maiores.

Aqui, os números são altíssimos. Segundo levantamento do Ministério Público de Pernambuco, a Torcida Jovem, a Inferno Coral e a Fanáutico têm 90 mil, 80 mil e 20 mil membros, respectivamente.

Ao todo, uma projeção de 190 mil pessoas. Para se ter uma ideia, a soma dos sócios em dias nos três clubes chega a 30 mil, um dado irrisório.

O cadastro visa dar uma identidade a esses torcedores organizados, definindo aqueles de bem, porque, afinal, ainda são a maioria.

A ideia voltou a ser imposta pelas autoridades do estado após o último violento episódio na cidade. Trata-se de uma decisão conjunta da secretaria estadual de esportes, FPF, Polícia Militar e Ministério Público.

Dessa vez, com um prazo de execução definido. Serão 60 dias para colocar em prática o plano orçado em R$ 1,2 milhão. Vale lembrar que a burocracia emperrou a ideia num passado recente. Mais uma vez, repito, não foi só aqui.

Ao assumir o Ministério do Esporte, Aldo Rebelo acabou não dando continuidade ao projeto Torcida Legal, que cadastraria 500 mil pessoas país afora (veja aqui).

A princípio porque a verba foi repassada sem licitação. Contudo, acabou não se criando um processo público para uma nova empresa, que teria o papel de gerir o orçamento de R$ 6,2 milhões do governo federal.

Lançado em 2009, agendado para 2010 e paralisado desde 2011.

Coincidentemente, o ministro Aldo Rebelo fará uma rápida passagem no estado nos dias 23 e 24 de fevereiro. A visita deve servir para atualizar a opinião do ministro sobre a situação em evidência no futebol pernambucano.

À parte do Torcida Legal, o cadastramento local irá andar. E no resto do Brasil?

Um jogo por dia no Recife, e só

Torcidas de Santa Cruz, Sport e Náutico

A estreia do programa Todos com a Nota foi no dia 25 de janeiro de 1998. No Recife, Sport x Petrolândia, Náutico x Vitória e Santa Cruz x 1º de Maio. Todos no mesmo horário. As partidas reuniram 20 mil pessoas com o vale lazer. Na época foi um no número incrível, pois o Estadual do ano anterior havia sido o de pior média de público da história, com menos de 2 mil torcedores por jogo.

Aquela tarde marcou também o último domingo no Pernambucano com as três grandes massas circulando em direção aos seus estádios no mesmo horário. Com o aumento da violência no futebol, a agenda foi sendo modificada.

Neste 18 de fevereiro de 2013, a mais radical das decisões para evitar confrontos entre torcidas organizadas. Se até recentemente era liberada apenas a realização de dois jogos na capital no mesmo dia, mas em horários diferentes, uma reunião entre Polícia Militar, Ministério Público, FPF e Juizado do Torcedor definiu que a partir de agora só poderá ter um jogo de grande clube por dia.

Em vez de enfrentar o problema, a tentativa de “driblar” a situação. Considerando que são três grandes clubes, alguém que se prepare para atuar na sexta ou na segunda-feira, caso a tabela aponte três partidas no Recife na mesma rodada. Será suficiente? Estão tapando o sol com a peneira…

O problema está nas organizadas, mas também está bem além delas. Nasce na educação do cidadão. Ou falta dela.

Um campeão nordestino inédito a caminho

Copa do Nordeste 2013, semifinal: ASA  x Ceará e Campinense x Fortaleza. Arte: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

O Nordeste terá um campão inédito em 2013. No surpreendente desfecho das quartas de final, festa dos quatro visitantes. E olhe que nenhum dos semifinalistas conseguiu vencer o jogo de ida do primeiro mata-mata, em casa. Em todos os confrontos, quem decidiu em casa teve que aturar a vista da torcida visitante após o apito final.

Na Ilha do Retiro, mesmo invicto, o Sport foi despachado pelo Campinense. Em Natal, o ABC vencia o ASA por 1 x 0 até os 34 minutos do segundo tempo. Levou dois gols seguidos e foi eliminado pelo clube alagoano. Em Salvador, a grande surpresa. Maior vencedor da competição, o tetracampeão Vitória havia vencido o Ceará por 2 x 0 no estádio Presidente Vargas. Na partida de volta, foi humilhado no Barradão, goleado por 4 x 1.

No Arruda, o último ato. Classificado até os 46 minutos da etapa complementar, o Santa Cruz acabou derrotado pelo Fortaleza por 2 x 1. Entre os quatro integrantes do novo G4, as melhores campanhas no Nordestão até hoje foram de Ceará e Fortaleza, semifinalistas em 1997 e 2002, respectivamente. Nota-se que o capítulo final deste regional será histórico.

Ceará x ASA

O duelo de alvinegros de Ceará e Alagoas será, também, um duelo de dois times da Série B do futebol brasileiro, o que projeta uma organização maior para a temporada. O time de Arapiraca estava praticamente eliminado na primeira fase quando venceu os últimos três jogos. Já o Vozão conseguiu uma reviravolta incrível em Salvador, o que o credenciou na competição.

Campinense x Fortaleza

Os dois times terminaram a primeira fase na segunda colocação, mas tiveram todos os méritos para derrubar a dupla das multidões do Recife. Foram 50 mil torcedores nas partidas na Ilha e no Arruda. Esse povo todo viu os visitantes com mais ímpeto, mais volume, mais estrutura tática. Mais tradicional, o Fortaleza, uma divisão acima do Campinense, tem leve favoritismo.

Além de todos os limites da violência no futebol

Morte em confronto de torcidas organizadas em 2013

Morte no futebol. Morte ao futebol.

A primeira vez em que o futebol pernambucano viveu isso foi em 18 de março de 2001, num confronto entre integrantes da Torcida Jovem e da Fanáutico.

Numa briga generalizada no Túnel Chico Science, próximo à Ilha do Retiro, Daniel Ramos da Silva, de 17 anos, levou um tiro no peito e outro na cabeça. O rapaz, com a camisa da Jovem, foi socorrido no Hospital da Restauração, mas não resistiu. Foram inúmeras versões sobre o autor do disparo, sem prisão.

Aquela foi a primeira morte atrelada de forma direta à violência no futebol pernambucano. Doze anos depois, mais um duro episódio, trazendo à tona pela enésima vez a cruel realidade da insegurança dos jogos no estado.

Antes e depois das partidas, nas imediações. Parece não haver mais tolerância alguma pelo fato de outro cidadão estar vestido com a camisa de um clube diferente. Desta vez, papéis invertidos na vítima.

Lucas de Freitas Lyra, 19 anos, membro da Fanáutico, levou um tiro na nuca em um confronto envolvendo as mesmas uniformizadas de doze anos atrás. Na confusão, um segurança armado em um coletivo disparou à revelia no jovem. A vítima foi socorrida em estado grave ao mesmo hospital (veja aqui).

Nesse tempo todo, a formação da tabela local mudou bastante. Acredite, era comum jogos no mesmo horário nos três principais estádios do Recife, Arruda, Ilha e Aflitos. Na saída, no máximo a provocação. Difícil imaginar isso hoje, né?

Com o aumento exponencial da violência, das brigas, assaltos e pedradas, passou a ser liberado apenas dois jogos no mesmo horário. Pouco depois, nem isso. No máximo, dois jogos na capital, desde que fossem realizados em horários diferentes, tudo para evitar o choque das principais uniformizadas.

Essa foi a agenda desse já fatídico 16 de fevereiro de 2013.

Sport x Campinense às 16h e Náutico x Central às 19h.

Entre o fim do jogo na Ilha e o apito inicial nos Aflitos, uma hora de intervalo. Foi o suficiente para o estrago. Na dispersão da maior organizada rubro-negra, o simples trajeto de um ônibus pela Avenida Rosa e Silva foi suficiente para provocações, agressões e o tiro.

De Daniel Ramos a Lucas Lyra, o futebol pernambucano ruiu em uma década, com uma violência sem limite, diante de uma passividade organizacional.

Fim das organizadas? Mais policiamento? Mais investigação? Ações no Ministério Público? Sempre na mesma e improdutiva tecla. Relembre aqui.

Chegou a hora da voz da principal autoridade do estado entender que essa situação há muito foge do campo esportivo e se pronunciar.

É questão de segurança pública, governador. De todos.