Por Fred Figueiroa*
Desde a derrota da Argentina para o Brasil, no último sábado, em Rosário, o mundo do futebol passou a viver e consumir o drama dos argentinos – relativamente ameaçados de ficar fora da Copa do Mundo de 2010. Até os organizadores da competição externaram a preocupação de não ter Messi atuando nos gramados da África do Sul.
E a definição de “relativamente ameaçados” pode se tornar “seriamente ameaçados” na noite desta quarta-feira, quando a seleção de Maradona enfrenta o Paraguai em Assunção.Quis o destino que os paraguaios, com 27 pontos, precisassem justamente desta vitória para já garantir lugar no Mundial.
A situação matemática da Argentina é a seguinte: Hoje ela ocupa a 4ª posição com 22 pontos – seguida de perto por Equador e Colômbia, com 20; e ainda ameaçada por Uruguai e Venezuela, com 18. Restam, contando a de hoje, mais três rodadas. Nas duas últimas, os argentinos enfrentam o Peru em casa e o Uruguai no estádio Centenário em Montevidéo.
Só lembrando que os quatro primeiros se classificam direto para a Copa e o 5º colocado da América do Sul vai para uma repescagem com o 4º colocado da Concacaf (um duelo inédito já que até a última Copa, a repescagem era contra a seleção campeã da Oceania).
O drama se justifica. Seria – sem dúvida – o capítulo mais trágico do futebol de um país que não só ama, mas cultua e respira o esporte. O fracasso nas Eliminatórias deixaria Argentina fora da Copa pela primeira vez desde a conquista do título mundial em 1978.
Antes disso, os argentinos não participaram de quatro Copas: 1938, 1950, 1945 e 1970 – mas só nesta última os hermanos não conseguiram passar pelas eliminatórias sul-americanas. As três primeiras ausências foram por posicionamentos políticos (e radicais) da AFA e do próprio governo do país.
AS COPAS SEM A ARGENTINA
1938 – A Argentina havia se candidatado para sediar a competição e não aceitou a decisão da FIFA de levar a Copa para a França. Os argentinos defendiam um revezamento entre América do Sul (Uruguai foi sede em 30) e Europa (Itália havia sido sede em 1934). Como protesto, a seleção negou-se a disputar o Mundial.
1950 – A violenta decisão da Copa América de 1946*, onde houve uma batalha campal entre jogadores argentinos e brasileiros fez com que as federações dos dois países rompessem ligações por longos 10 anos. E como a FIFA escolheu o Brasil como sede do Mundial de 1950, a Argentina mais uma vez desistiu de participar**.
* Saiba os detalhes do jogo que transformou Brasil e Argentina em arqui-rivais e como foram os 10 anos sem duelos entre os dois países: http://fredfigueiroa2.blogspot.com
**Estas duas desistências seguidas fizeram com que a Argentina ficasse 21 anos sem enfrentar uma equipe européia – desde a partida contra a Iugoslávia pela Copa de 1930 até um amistoso contra a Inglaterra em 1951. Isto talvez explique como a seleção mais vitoriosa da América do Sul na época demorou tanto tempo para ganhar o seu primeiro Mundial, quando seus rivais (Uruguai e Brasil) já haviam conquistado, juntos, cinco Copas.
1954 – As divergências entre a AFA e a FIFA não foram administradas. Convictos das ruas razões, os argentinos – neste momento, rompidos com várias outras federações sul-americanas – mais uma vez se recusaram a disputar uma Copa, entrando para um isolamento de 24 anos sem participar da mais importante competição do futebol mundial.
1970 – Desta vez, nada de protesto. Nada de política. Pelo menos, não diretamente – já que o país vivia um período de turbulência administrativa e econômica. O fracasso no futebol, para muitos, foi um reflexo da crise nacional. O fato é que a Argentina, pela primeira e única vez, não passou das Eliminatórias. Em um grupo com Peru e Bolívia, venceu apenas um jogo, empatou outro e perdeu duas partidas.
*Fred Figueiroa é editor-assistente do Diaro e colaborador do blog