A crise hídrica, com o Nordeste vivendo a maior seca em um século, age diretamente na qualidade dos gramados dos times intermediários, da região metropolitana ao sertão. Com receitas modestas e pouca ajuda das prefeituras para bancar seguidos caminhões-pipa (de uma forma geral), o quadro é dos piores já vistos no futebol pernambucano. Tanto que a fase principal, o hexagonal do título, pode não contar com os palcos hoje autorizados. É o que diz primeira circular do ano, publicada pela FPF, chamando a atenção dos nove intermediários sobre o estado dos gramados. Todos foram alertados sobre a possibilidade de veto. Ainda que não haja tal regra no regulamento do Estadual 2017 (que exige, apenas, uma capacidade mínima de 10 mil espectadores a partir do mata-mata), no regulamento geral de competições da FPF há um artigo que dá à entidade o poder de veto, independentemente dos laudos técnicos.
Em caráter preventivo, a federação lembrou um artigo presente no RGC (abaixo, em itálico) e também a diretriz operacional quando os locais são utilizados por equipes das Séries A e B, caso do Trio de Ferro. Uma nova vistoria (já surpreende a primeira) será feita entre os dias 21 e 24 de janeiro.
Artigo 5º – Incumbe à diretoria de competições da FPF, na qualidade de órgão gestor técnico das competições:
VI – “Validar os estádios ao termino de cada fase/turno das competições, independentemente da vigência dos Laudos Técnicos estabelecidos em Lei, objetivando a qualificação do evento, exigida em face dos contratos de televisionamento e da premissa do programa de Projetos de Gramado, implantado pela CBF, em 2016.”
Dos nove times, oito estão no interior. Um deles já não joga em seu município, o Belo Jardim. Com o Sec-Mendonção castigado (imagine a situação!), o Calango acabou acertando com a liga caruaruense o aluguel do Antônio Inácio. Abaixo, imagens recentes dos campos de cada clube, todas registradas em janeiro.
América – Estádio Ademir Cunha (Paulista, a 17 km do Recife)
Foto em 17/01, no treino do América
O Mequinha toma conta do estádio municipal desde 2010. No último ano, o local acabou sendo bastante usado por categorias de base de outros clubes, além de peladas de fim de ano e ações sociais. Devolvido em péssimo estado, o campo vem recebendo placas de grama, compradas pelo próprio alviverde.
Atlético Pernambucano – Estádio Paulo Petribú (Carpina, 45 km)
Foto em 15/01, Atlético 0 x 2 América
O acanhado estádio, que começou sendo utilizado sem torcida, por falta de laudos técnicos de segurança e bombeiros, tem inúmeros buracos, com um piso duro. Ao menos, tem uma grama verdinha acima da média.
Acadêmica Vitória – Estádio Carneirão (Vitória de Santo Antão, 50 km)
Foto em 04/01, Vitória 3 x 0 América
O campo do Severino Cândido Carneiro foi o primeiro a chamar atenção negativamente, por causa da inédita transmissão via internet, com o globo.com exibindo Vitória x América. A quantidade de buracos nas laterias gerou críticas da FPF. Apesar da capacidade de público apta ao hexagonal, está ameaçado.
Central – Estádio Luiz Lacerda (Caruaru, 130 km)
Foto em 15/01, Central 2 x 0 Belo Jardim
Vale lembrar que em 2016 a Patativa firmou um acordo para a reutilização da água da Compesa. Em um mês, na ocasião, a reutilização gerou 120 caminhões com 12 mil litros cada. Ou seja, 1,44 milhão de litros sem uso aparente deixaram o campo verde. Neste ano, nem esse tipo de água foi suficiente. Além de caminhões-pipa, o clube vem usando água do poluído Rio Ipojuca.
Belo Jardim – Estádio Antônio Inácio (Caruaru, 130 km)
Foto em 08/01, Belo Jardim 3 x 0 Vitória
O estádio, também conhecido como Vera Cruz, apresenta remendos, mas conta com um campo melhor que o do outro estádio da cidade. Tende a receber o Central caso o Lacerdão seja vetado ou não seja melhorado a tempo. Quanto ao Belo Jardim, o time é mandante a 49 km de distância. Às moscas. Em Belo Jardim, já treinou no estádio do rival local, o campo sintético da “Gameleira”.
Flamengo – Estádio Áureo Bradley (Arcoverde, 256 km)
Foto em 04/01, Flamengo 2 x 1 Belo Jardim
Apontado pela FPF como o melhor campo no interior, neste ano, o gramado de Arcoverde é o único que vinha sendo cuidado pela prefeitura de maneira prévia, com acordo para fornecimento de água em níveis satisfatórios. O Fla só deixaria o local em caso de mata-mata (por falta de arquibancadas maiores).
Afogados – Estádio Vianão (Afogados da Ingazeira, 386 km)
Foto em 11/01, Afogados 1 x 3 Salgueiro
Utilizado pela primeira vez na primeira divisão estadual, o local tem um tom mais uniforme de grama, ainda que a irrigação também sofra com a estiagem.
Serra Talhada – Estádio Nildo Pereira (Serra Talhada, 415 km)
Foto em 08/01, Serra Talhada 3 x 3 Atlético
Uma calamidade o cenário no Pereirão. Sem grama em diversos pontos, com o Cangaceiro precisando implantar, desde dezembro, placas de grama – ainda insuficientes para todo o campo, como a grande área, de areia.
Salgueiro – Estádio Cornélio de Barros (Salgueiro, 518 km)
Foto em 02/01, treino do Salgueiro
A casa do Salgueiro seria a única, hoje, a atender tanto a capacidade mínima na semifinal quanto o gramado. Ainda assim, vem tentando melhorar desde dezembro, uma vez que o piso estava completamento seco. Alega-se à falta d’água e de manutenção a disputa eleitoral. O prefeito eleito acabou sendo Clebel Cordeiro, ex-mandatário do Carcará.