O carnaval já está chegando. Enquanto as ladeiras não ficam lotadas, ainda é possível até correr. No sábado, a Cobra Coral venceu a quarta edição da Corrida de Mascotes, realizada uma semana antes do carnaval olindense.
Nas ladeiras do Sítio Histórico, o mascote do Santa Cruz conquistou, de certa forma, o primeiro título do clube no ano do centenário.
O grande desfalque neste ano foi o Sport, que não mandou o mascote “Léo”. Campeão em 2011, o mascote rubro-negro caiu na corrida passada (veja aqui).
Confira o pódio de todas as ediçoes da Corrida de Mascotes em Olinda.
Na época carnavalesca, nada de uniformes no futebol no estado. Mas nem assim a paixão clubística é deixada de lado. Pelo contrário, continua arrastando multidões.
As camisas alvirrubras, tricolores e rubro-negras cedem lugar às fantasias. Nos festejos de momo há espaço também para as camisas dos blocos, com inspiração nos maiores clubes de Pernambuco.
Entre blocos e troças carnavalescas, Náutico, Santa Cruz e Sport têm as suas versões na folia em todo o estado. No Recife Antigo, nas ladeiras de Olinda, nos papangus no interior…
Confira os estandartes, da antevéspera carnavalesca, ainda na quinta, à quarta-feira de cinzas. O mais antigo de todos é o Timbu Coroado, criado na década de 1930.
Abaixo, a lista de blocos e alguns vídeos. Entre parênteses, o local de origem, o ano de fundação e o dia do desfile.
O post será atualizado com a confirmação de mais blocos…
O caboclo de lança é um dos principais símbolos do carnaval pernambucano.
Atrelado inicialmente ao maracatu rural, a colorida vestimenta com chapéu, gola de lantejoulas, óculos, surrão e lança logo se tornou constante nos carnavais, nas ladeiras de Olinda e no Recife Antigo.
Na mistura de todos, o futebol sempre tem o seu espaço. Como nas fantasias dos lanceiros folclóricos inspiradas nos três maiores escudos do estado.
Em um século de história do frevo, o Santa Cruz teve dois dos maiores compositores do envolvente ritmo pernambucano. Nelson Ferreira (1902 – 1976) e Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba (1904 – 1997).
O primeiro foi um gênio nos frevos-de-rua, extraindo dos metais a animação total do público, arrastando gente pra todo lado nas ladeiras de Olinda e ruelas do Recife Antigo, mas sem perder a linha como compositor. Cresceu com o frevo.
No supercampeonato de 1957, Nelson Ferreira criou um frevo-canção gravado pelo cantor alvirrubro Claudionor Germano. “Vamos cantar com toda emoção / Um, dois, três, quatro, cinco, seis / Saudando a faixa de supercampeão / A que fez jus / O mais querido Santa Cruz / Foram três as vitórias colossais”.
O segundo, com 200 músicas no repertório, foi conselheiro tricolor em 1948, quando compôs a marcha “O Mais Querido”, decorada no Mundão, mas famosa a partir do mesmo título de 1957. “Santa Cruz / Santa Cruz / Junta mais essa vitória / Santa Cruz / Santa Cruz / Ao te passado de glória / És o querido do povo / O terror do Nordeste / No gramado / Tuas vitórias de hoje / Nos lembram vitórias / Do passado / Clube querido da multidão / Tu és o supercampeão”.
Irmão de Capiba, Marambá criou “Cobral Coral” em 1959, na voz de Rubens Cristino. “Quando aparece num gramado / O Santa Cruz dando xaxado / O adversário vai cair / Disso não pode fugir / Deixa a fumaça subir”.
Bem antes disso tudo, Sebastião Rosendo compôs o mais famoso frevo-canção do clube, de 1942, atendendo um pedido de Aristófanes de Andrade, renomado tricolor. Saiu o frevo “Santa Cruz de Corpo e Alma”. Sete décadas de carnaval.
Eu sou Santa Cruz De corpo e alma E serei sempre de coração Pois a cobrinha quando entra no gramado Eu fico todo arrepiado e torço com satisfação (2x) Sai,sai Timbu Deixa de prosa, O seu Leão Periquito cuidado com lotação Que matou pássaro preto Tricolor é tradição
Entre os blocos tricolores, dois deles agregam multidões e mantêm a tradição. O bloco Minha Cobra sai em Olinda, no Largo do Bonsucesso, nas segundas-feiras. No mesmo dia, no Arruda, carnaval também em três cores, com direito a trio elétrico. A Cobra Fumando desfila no bairro desde 1992.
Santa Cruz de Corpo e Alma (1942, Sebastião Rosendo)
Vulcão Tricolor (2007, Maestro Forró). O último dos frevos-de-rua dos clubes.
Num passado não muito distante, o bloco Leão Coroado arrastava uma multidão de rubro-negros no Recife. O bloco pode ter parado para respirar, mas os frevos rubro-negros seguem em alto e bom som nos metais, nos estádios, e, claro, no carnaval, nas ladeiras de Olinda e até no Galo da Madrugada.
Na Ilha do Retiro, a orquestra da Treme-Terra puxa o frevo-de-rua mais famoso do clube, já com 58 anos, numa composição de Nelson Ferreira, um torcedor tricolor, diga-se. A música Cazá Cazá, ainda tocada nas rádios, foi composta a pedido de Eunitônio Edir Pereira em 1955, ano do cinquentenário do Sport.
O mesmo Eunitônio anos depois escreveria o hino oficial. Mas, seguindo o tom carnavalesco, tem um frevo-canção ainda mais antigo, de 1936, também sob a batuta de Nelson Ferreira, em parceria com Sebastião Lopes, o “Pelo Sport Tudo”, o famoso brado do clube. A música ficou conhecida como Moreninha. Um música com vários elementos do carnaval, retrando bem a época.
Moreninha que estas dominando… Desacatando agora pelo entrudo (2x) Chegou a hora de gritares loucamente Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo! Vejo no batom dos teus lábios E no teu cabelo ondulado As cores que dominam altaneira por morena Do meu glorioso estado Moreninha que estas dominando desacatando agora pelo entrudo (2x) Chegou a hora de gritares loucamente Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo! Ter passado o carnaval Pra que não te falte a boa sorte Tira da minha vida e te manter eternamente Tudo, tudo pelo Sport Cazá, cazá, cazá, cazá, cazá A turma é mesmo boa… É mesmo da fuzarca! Sport! Sport! Sport!
Entre outros frevos do Sport, Haroldo Praça, autor do gol da vitória rubro-negra sobre o Santa Cruz por 6 x 5 na inauguração da Ilha do Retiro, em 1937, é citado no Frevo Nº 1 do Recife, de Antônio Maria, gravado em 1951 pelo Trio de Ouro.
Um concurso da revista Placar sobre torcidas, em 1974, terminou com a vitória do Leão no estado. No embalo, Jovino Falcão emendou: “Está comprovado / já foi conferido / que o mais amado / o mais amado é o que é / É ele o maior do nosso estado / é o consagrado campeão do norte / é o nosso Sport”.
Há espaço até para homenagem a um dirigente após uma conquista emblemática. Com Jarbas Guimarães assumindo a presidência, em 1975 o Sport acabou com o jejum de doze anos. Mereceu um frevo-canção de Rogério de Andrade, “Este ano, nosso time / vai ser mesmo campeão / todo mundo vai cantar e dizer / ninguém segura o Sport não”.
Pelo Sport Tudo / Moreninha (1936, Nelson Ferreira e Sebastião Lopes)
O domingo de carnaval é do Timbu Coroado desde 1934, quando os atletas de remo do Alvirrubro saíram pela Rua da Aurora, onde fica até hoje a garagem do remo timbu. Uma tradição que se mantém viva na base do frevo. O desfile anual agora acontece nos Aflitos, naquele que é o bloco de carnaval mais tradicional entre os grandes clubes pernambucanos.
Além do Come e Dorme, frevo-de-rua do compositor Nelson Ferreira, torcedor coral, que mesmo sem letra alguma se confunde com o próprio hino alvirrubro, os metais levantam a timbuzada com outra composição de Nelson Ferreira, no frevo-canção Hino do Timbu Coroado (letra abaixo), de autoria de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso.
Músicas que ficaram ainda mais populares no rádio, na execução a cada gol alvirrubro, sobretudo na era de ouro, na década de 1960.
Naquela época, aliás, a segunda-feira de carnaval reservava espaço para o desfile do maracatu do Timbu Coroado. Tempos depois, o Náutico teve até um boneco gigante, o Bonzão da Timbucana, sempre presente nos Aflitos nos anos 80. Agora, a ampliação carnavalesca, com a Casa Alvirrubra no Recife Antigo.
O nosso bloco é mesmo enfezado É o Timbu, é o Timbu Coroado Desde cedinho já está acordado É o Timbu, é o Timbu Coroado Entre no passo Que o frevo é de amargar Pois a turma é muito boa E no frevo quer entrar Não queira bancar o tatu Conheço seu jeito, você é Timbu Esse negócio de casá, casá, casá É negócio pra maluco Pois ninguém quer se amarrar Timbu sabe isso de cor Casá pode ser bom, não casá é melhor N – Á – U – T – I – C – O Todo mundo vai saber isso de cor
Entre outros vários frevos do Náutico, há o “Papai do Nordeste”, exaltação acompanhada de ironia ao Sport. “A garra do Leão / baixou de cotação / o homem do boné / levou um grande olé”. Letra composta após o 5 x 1 aplicado pelo Timbu na final de 1966, no então inédito tetracampeonato estadual. O “Nordeste” se aplica ao triunfo na Copa Norte, a fase preliminar da Taça Brasil.
E o que dizer da homenageam na base da frevança ao famoso pai de santo Pai Edu, que fazia das suas em Rosa e Silva? Foi no ano seguinte, no penta. “Dei o bi / dei o tri / dei o tetra / e o penta chegou / é gol / é gol”.
Hino do Timbu Coroado (letra de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso e composição de Nelson Ferreira)
Após liderar toda a corrida, o mascote do Íbis tropeçou a cinco metros da linha de chegada. Vitória do Mequinha, com o Periquito. Relembre o tombo aqui.
Desta vez o Pássaro Preto não deixou passar a chance de conquistar algo raríssimo em sua dura história, um título – além do famoso status de “Pior Time do Mundo”, é claro.
Na terceira edição da corrida dos mascotes do futebol pernambucano, neste sábado, o Íbis foi o vencedor, com Nilsinho Filho do Ibismania suando na Cidade Alta de Olinda no percurso de 500 metros.
“É o início de uma nova era”, gritou o grande campeão…
Completaram o pódio a Patativa do Central e o Periquito, deixando pela primeira vez os grandes clubes do Recife sem medalha. O Leão até caiu na ladeira. Confira as classificações anteriores aqui.
A disputa, uma das várias categorias na tradicional Corrida de Mascotes, entrou de vez no calendário carnavalesco.