Sociologia das paixões clubísticas

Diario de Pernambuco: 29/08/2010. Capa do Superesportes. Arte: Greg/Diario de Pernambuco“Em Pernambuco, o Santa tem a maior torcida que vai ao campo. Pode ser por conta desse sentimento de esperança. O torcedor vai ao estádio sonhando com a vitória, mesmo sabendo que o clube vai mal ele acredita no sucesso. Se o Náutico passasse por essa situação, talvez deixasse de existir. É uma torcida mais elitizada. A torcida do Sport é mais de momento. Talvez até possa superar a do Santa em número, mas ela é de momento. É como se fosse de moda… Como foi na Libertadores, onde era chique estar na Ilha.”

Por Denílson Marques, doutor em sociologia da Universidade Federal de Pernambuco.

É um texto bem polêmico envolvendo os três clubes. A declaração faz parte da ampla reportagem “Um Fenômeno chamado Santa Cruz”, na edição deste domingo do Diario.

Leia a matéria completa dos repórteres Celso Ishigami e Diego Trajano clicando  AQUI.

Sobre a arte: o Diario de Pernambuco vem abusando do grafismo no Superesportes há algum tempo. Desta vez, a arte na capa do caderno foi assinada por Greg.

Batismo secreto da arena

Diário Oficial de Pernambuco, 20/08/2010, criando a Arena Pernambuco Investimentos

Arena Capibaribe? “Não.”
Arena Maracatu? “Não!”
Arena Pernambuco? “Não…”

De fato, a terceira resposta era a mais evasiva, segundo os envolvidos.

Desde que a arena inserida no projeto Cidade da Copa foi lançada, muito se falou da estrutura, viabilidade (ou não), localização etc.

Mas o nome – essa palavra quase “desnecessária” – acabou passando batido. Desde 15 de janeiro de 2009, quando o projeto foi apresentado, os nomes acima (entre outras ideias) foram divulgados. Pelo governo do estado, é bom ressaltar.

O Diario Oficial de Pernambuco oficializou a SPE (Sociedade de Propósito Específico) do estádio, chamada de Arena Pernambuco Negócios e Investimentos S.A..

Uma placa da Odebrecht com o nome “Arena Pernambuco” também foi colocada no canteiro de obras. Agora vai ser difícil alguém afirmar que “não existe nome oficial”.

Existe sim! O que poderá acontecer (e é bem provável) é a assinatura de um contrato de naming rights, com a concessão do nome a alguma empresa.

No fim das contas, eu acho é que os torcedores vão acabar chamando o estádio é de Cidade da Copa mesmo… A conferir.

Protesto em duas direções

“Ei, você aí… Avisa pro Ibope que torcida é isso aqui!”

Domingo, 5 de setembro. Arruda.

Neste dia, o Santa Cruz receberá o Guarany de Sobral, na abertura da segunda fase. Jogo de ida do confronto que valerá uma vaga entre os dez melhores da Série D.

Na internet, os tricolores já andam divulgando um grito de guerra (acima) que deverá ecoar forte no estádio José do Rêgo Maciel nesta partida.

Coração tricolorSerão duas semanas até o jogo. Tempo suficiente para convocar o povão.

A diretoria do Tricolor deverá colocar 60.000 ingressos à disposição.

Nos três jogos da primeira fase, o clube levou 70.076 torcedores ao Arruda. A tendência é que a média de 23.359 aumente bastante a partir de agora.

Acredito em pelo meno 40 mil pessoas presentes no Mundão.

Todas no embalo do grito de guerra…

Uma frase escrita pelos corais em forma de protesto à recente pesquisa Lance!/Ibope, mas que atinge diretamente o seu maior rival (veja AQUI). Lá e lô.

Um cacique no caminho

Guarany de Sobral

Sobral. A segunda cidade mais povoada do interior do Ceará, com 180 mil habitantes.

Município com o terceiro maior PIB do estado, com R$ 1,52 bilhão. Fica a 998 quilômetros do Recife, ou “13 horas e 12 minutos” segundo o Google Maps (veja AQUI).

Terra do Guarany, o primeiro adversário do Santa no mata-mata da Série D. Dia 5 no Arruda e dia 12 em Sobral, no estádio do Junco, com capacidade para 15 mil pessoas.

O Guarany é um clube conhecido no futebol alencarino pelos altos e baixos.

No Cearense, no primeiro semestre, o time não foi recomendável para cardíacos. Fez uma excelente campanha, mas perdeu as finais dos dois turnos. O primeiro nos pênaltis, após um 4 x 4 com o Fortaleza. Depois, revés diante do Ceará, por 1 x 0.

Na Série D, duas vitórias, três empates e uma derrota. Campanha inferior à dos tricolores, mas sufuciente para ficar em 1º lugar.

Saiba sobre o elenco do Guarany clicando AQUI.

Este será o segundo confronto entre Santa Cruz e Guarany pelo Brasileiro. Em 22 de outubro de 2002, os times se enfrentaram – que saudade – pela Série B. O Tricolor contava com Grafite… Veja a matéria do Diario sobre aquele 2 x 2 AQUI.

Curiosidade: o time nunca conquistou o certame cearense, mas já ganhou a 2ª divisão em quatro oportunidades: 1966, 1999, 2005 e 2008.

Junta mais essa vitória

Série D-2010: CSA 1 x 2 Santa Cruz. Tricolor se classifica para a segunda fase. Foto: Ricardo Fernandes/Diario de Pernambuco

Estádio Rei Pelé, último minuto de jogo.

Brasão, ele mesmo, acerta a cobrança de pênalti.

Gol que acaba com os 100% de aproveitamento do CSA na Série D. Gol que deu a vitória do Santa Cruz em Maceió.

Gol que cravou o 2 x 1 da classificação coral, neste domingo.

Gol que levou o Tricolor ao mata-mata da 4ª divisão nacional.

Mais de três mil torcedores corais invadiram a capital alagoana, como em 2009. Há um ano, o início da campanha. Desta fez, no desfecho da primeira fase.

Festa e tempo. O time treinado por Givanildo Oliveira terá duas semanas de descanso, planejamento, alívio, expectativa e sonhos…

Depois, a odisseia dos jogos de 180 minutos. Serão três etapas.

O primeiro passo será no Arruda, no dia 5, contra o Guarany de Sobral, que, apesar da liderança do grupo 3, fez 9 pontos, dois a menos que os triclores, que acabaram em segundo lugar da chave 4.

Menos de 40 mil torcedores…?! Duvido.

“Um abraço para aqueles 14 torcedores que passaram mal o Arruda. Dessa vez eu acertei o pênalti. Quero é ver o meu clube de coração na Série C.”

Brasão, mito.

Nova enquete do blog:

Após a classificação para o mata-mata, você acha que o Santa Cruz vai conseguir o acesso à Série C de 2011?

Frágil?

Icasa 3 x 1 Náutico.

“O adversário era tecnicamente muito frágil. Tínhamos condições de vencer e não vencemos. Perdemos em duas falhas individuais.”

IcasaDe fato, o técnico Alexandre Gallo foi contundente no comentário sobre a derrota do Náutico neste sábado, em Juazeiro do Norte, no Cariri cearense.

O time deixa o G4 da Série B do Brasileiro. Caiu para o 5º lugar na competição.

Com 27 pontos até o momento, o próprio comandante timbu já fez os cálculos: 33 pontos até o fim do primeiro turno da Segundona.

Portanto, faltam seis pontos em quatro jogos. O Alvirrubro segue nos trilhos.

Só não me parece muito prudente chamar o time do Icasa de frágil, Gallo.

O time estava na 2ª divisão do seu estado? Fato. Mas já subiu, ganhando a Segundona de 2010.

Mesmo sem tanto cartaz, o Icasa vem “mandando” no futebol pernambucano. Nos últimos três anos, enfrentou os grandes do Recife em quatro oportunidades.

2008 – Santa Cruz 0 x 1 Icasa (Série C)
2008 – Icasa 1 x 0 Santa Cruz (Série C)
2010 – Sport 1 x 2 Icasa (Série B)
2010 – Icasa 3 x 1 Náutico (Série B)

O Icasa pode até ser frágil… Mas não estamos longe disso. Infelizmente.

Veja a reportagem sobre o revés alvirrubro neste sábado AQUI.

Descaso em três cores

Museu do Santa Cruz. Foto: José Gustavo/Diario de Pernambuco

Não é um estoque de supermercado ou uma mudança de local. Antes fosse! A imagem acima é um retrato da atual situação da sala de troféus do Santa Cruz.

Em julho de 2009, o Diario já havia denunciado o descaso da diretoria coral em relação ao seu passado. Após mais de um ano, as taças seguem amontoadas. Encaixotadas.

São mais de 1.300 peças no acervo.

Lá estão os 24 títulos do Campeonato Pernambucano.

Museu do Santa Cruz. Foto: José Gustavo/Diario de PernambucoUniformes históricos, como essa chuteira na parede… Uma marca do abandono.

Flâmulas, tanto que é possível ver no canto esquerdo da foto o emblema do francês Paris Saint-Germain, durante a excursão que resultou na Fita Azul, em 1979 (veja AQUI).

Além de fotos de esquadrões, como o quadro do time supercampeão estadual em 1957.

O Diario apurou que a Cobra Coral segue com o projeto de modernizar a sua sala de troféus e transformá-la em um museu.

Mas, até lá, o Tricolor poderia manter, pelo menos, a antiga sala de troféus do clube. Se as glórias já estão difíceis hoje em dia, não precisa dificultar o acesso ao passado…

Folclore tricolor

O canal por assinatura SporTV começou nesta semana uma série de reportagens chamada “Brasil fora de série”. A descrição já deixa claro:

“Folclore, drama, paixão que cercam as divisões inferiores do futebol brasileiro.”

O primeiro episódio foi com o campeão de bilheteria Santa Cruz.

O vídeo de 6 minutos traz imagens inéditas da suada vitória coral no domingo, sobre o Potiguar, diante de 25 mil pagantes no estádio do Arruda.

Reparem na reação de Brasão ao perder um gol e sair xingando tudo, sozinho!

Números e mais números

Pesquisa de torcidas Ibope/Lance de 2010 sobre Pernambuco

Os números absolutos da 4ª pesquisa Lance!/Ibope foram divulgados em 31 de maio de deste ano (veja AQUI). Depois, o instuto foi mostrando outros dados do estudo, como torcidas mais jovens, mais velhas, mais ricas, mais pobres, por região…

Nesta terça-feira, chegou a vez de Pernambuco, como mostra o print screen acima. O Sport tem 33% da torcida do estado, seguido pelo Santa Cruz (12,8%) e Náutico (9%). Só depois do Trio de Ferro é que aparece algum “forasteiro”. O clube de fora mais bem colocado é o Corinthians, com 8,1%. É a segunda vez que o Timão aparece com um bom índice em pesquisa de torcidas por aqui…

Fora do Nordeste, o Náutico é o clube pernambucano com mais torcida, com 79.091. Depois, vem o Sport, com 50.156, e em 3º lugar, o Santa Cruz, com 40.510.

Leia a reportagem completa do Lance! AQUI.

Estamos a 2.977 km do sucesso

Mapa, com a distância entre Recife e Porto Alegre: 2.977 quilômetros

Internacional, o clube de maior transformação do país nesta década. Um time que, apesar da tradição, estava à margem do Grêmio. O Colorado cansou de ver o maior rival conquistar títulos nacionais e internacionais na década de 90. O campeonato estadual era o único consolo. Então, como sair daquela mesmice e voltar a ser rolo compressor dos anos 70, quando o Inter conquistou nada menos que três edições do Brasileirão?

Começou com uma gestão voltada à fidelidade do seu torcedor. Acima de tudo, com a fidelidade do seu sócio. Finalmente um programa de sócio-torcedores saía do papel de forma sustentável, com medidas comuns em nossa economia. Como o uso do cartão de crédito para pagar mensalidades. Débito automático. Medidas simples que estenderam o número de sócios para o interior gaúcho.

Não é por acaso que o número de sócios do Internacional ultrapassou a barreira dos 100 mil cadastrados, em dia. Gente suficiente para proporcionar uma renda mensal de R$ 3,5 milhões. Dinheiro reinvestido no time profissional e nas categorias de base. Uma engrenagem que rendeu ainda mais dinheiro.

De acordo com a consultora financeira Crowe Horwath, o Inter foi o clube brasileiro que mais arrecadou com a negociação de atletas para o exterior entre 2003 e 2008. O clube ganhou R$ 250 milhões no período – R$ 33 mi a mais que o segundo colocado, o São Paulo. Com um futebol se fortalecendo como bola de neve, chegaram os títulos.

O apelido de “Interregional”, por causa da falta de títulos além da fronteira, sumiu do mapa. Libertadores e Mundial em 2006, Recopa em 2007 e Copa Sul-americana em 2008. Nesta quarta, o time vermelho entrará num Beira-Rio com lotação esgotada precisando de um simples empate para conquistar o bi da Libertadores. Em cinco anos, o clube saiu do ostracismo para se tornar uma potência.

Há quem considere tudo isso coincidência. Eu considero consequência. Fica a dica para que este modelo implantado em Porto Alegre seja trazido para o Recife. Estamos a 2.977 quilômetros do sucesso. Não é tão longe quanto parece.