Buenos Aires – O estádio do River Plate já estava vazio. Após a saída da massa em uma final contundente para os uruguaios, restava escrever textos para o Diario de Pernambuco e para o blog, além da edição de fotos e vídeos…
Eis que os jogadores da seleção celeste surpreenderam e voltaram para o campo, para iniciar uma volta olímpica, de uniforme e taça nas mãos, passando por todo mundo.
Comemoração particular do grupo? Nunca tinha visto nada parecido…
Vale lembrar que a volta olímpica foi criada pelo próprio time do Uruguai, após vencer o torneio olímpico de futebol em 1924, em Paris, no estádio Colombes. Na ocasião, os jogadores passaram a dar uma volta no gramado agradecendo o apoio da torcida após uma vitória sobre a Suíça. A Celeste se tornava “Celeste Olímpica”.
O placar foi mesmo nas duas finais separadas por 87 anos: 3 x 0.
Buenos Aires – Música que embalou o 15º título do Uruguai na Copa América.
“Volveremos, volveremos volveremos otra vez volveremos a ser campeones como la primeira vez”
“Voltaremos, voltaremos voltaremos outra vez voltaremos a ser campeões como na primeira vez”
A torcida celeste não parou de cantar nas arquibancadas do Monumental de Nuñez, em uma referência direta ao título da seleção na primeira Copa América, em 1916, quando empatou em 0 a 0 com a anfitriã Argentina e ergueu a taça em Buenos Aires, como agora. Já são três títulos da Celeste na capital argentina: 1916, 1987 e 2011.
Buenos Aires – Com os seis jogos disputados na Copa América, Diego Forlán se tornou o jogador com o maior número de partidas pela seleção uruguaia, com 82 atuações. Passou o goleiro Rodolfo Rodríguez, que jogou no Santos na década de 1980.
Mais. Com os dois gols na decisão deste domingo, o camisa 10 e melhor jogador do Mundial de 2010 chegou a 31 tentos pela seleção e se tornou o maior goleador da seleção, empatando com Héctor Scarone, que entre 1917 e 1930 também fez 31 gols, ganhando ainda a primeira Copa do Mundo, realizada em Montevidéu.
Como se não bastasse números tão expressivos com uma camisa pesada como essa da Celeste, Forlán ainda retorna com a taça de campeão das Américas. Pela 15ª vez.
Desde Enzo Francéscoli o Uruguai não tinha um camisa 10 com tanto potencial, conduzindo o time e dando qualidade ao passe, além do poder de fogo na finalização.
Em 2014, o meia-atacante Diego Forlán chegará na Copa do Mundo no Brasil com 35 anos. Ainda é possível esperar um bom rendimento do craque até lá? Não é bom duvidar.
Buenos Aires – O povo charrúa dominava os flancos abaixo do território brasileiro até cinco séculos atrás. Os primeiros registros ocidentais desses ameríndios datam de 1535. A partir daí, o mesmo extermínio que marcaria todo o Novo Mundo.
Os charrúas acabaram banidos no processo de colonização espanhola na região, pontuado por diversas guerras em busca da posse daquela gama de terra no afluente norte do Rio da Prata. Conhecidos pela bravura, cuja palavra ‘desistência’ parece fora do vocabulário, eles marcaram a história, apesar de hoje a sua população ser de apenas cinco mil habitantes.
No entanto, esse espírito se estendeu ao novo povo uruguaio, que não negou o passado e adotou o “charrúa” como apelido, sobretudo à seleção, com estilo próprio desde 1916, no primeiro Sul-americano, já com o troféu máximo nas mãos.
Mesmo sendo uma nação pequena, o Uruguai se tornou uma fonte inesgotável de futebol com raça e técnica. Nem sempre agregadas. Exatamente por isso o país passou um bom tempo no ostracismo no futebol, até que uma nova geração voltasse a dominar a gênese da camisa azul, da República Oriental do Uruguai.
Com Luís Suárez e Diego Forlán, a Celeste voltou a ser temida, voltou a impressionar. Voltou a ser campeã. Se os antigos charrúas lutaram para seguir a vida na fria planície, esses charrúas com as bolas nos pés foram além. Dominaram a América.
Ao Uruguai, o incontestável título da Copa América de 2011, destronando o irascível Paraguai e sua fortaleza de empates com um 3 x 0 no mais uruguaio dos domingos na capital alheia. Os bicampeões mundiais ratificaram o futebol da África do Sul, há um ano.
A então surpresa é agora uma dura realidade para os adversários mais tradicionais. Como sua torcida cansou de cantar num Monumental de Nuñez repleto, o Uruguai voltou a ser campeão, como na primeira vez. Os charrúas ganharam a guerra.
Buenos Aires – Análise do Paraguai para a final da Copa América de 2011.
O Paraguai vem em um processo de involução nesta Copa América. Na fase de grupos, o time dirigido por Tata Martino mostrou uma faceta inédita, ao pressionar o adversário, criando jogadas e desenvolvendo um bom futebol, com toque de bola.
Em duas partidas, ante Brasil e Venezuela, vencia até o último (2 x 1 e 3 x 2), quando cedeu o empate. Depois, nas quartas de final e na semifinal, curiosamente contra os mesmos adversários, respectivamente, atuações recheadas de críticas, sem lucidez alguma no meio-campo. Passou em branco, nos pênaltis, sem brilho.
A defesa sólida de outros tempos, com Gamarra, por exemplo, não é a verdade absoluta. Pesada, a zaga vem cedendo muito espaço aos adversários. O time vem contando, então, com a grande fase do goleiro Justo Villar.
Sem um “cérebro” para a criação, a bola chega quase sempre rifada aos atacantes Haedo Valdez e Lucas Barrios, quando chega.
Buenos Aires – Análise do Uruguai para a final da Copa América de 2011.
Possivelmente, o Uruguai é o time de leitura tática mais fácil de ser compreendida em toda a Copa América. Assim é a Celeste desde a estreia e, certamente, nesta decisão. Com uma boa dose de entrosamento da Copa do Mundo, cujo grupo é a base atual.
Compacto na defesa – com os gigantes Lugano, de 1,88m, e Coates, 1,96m – e com dois atacantes de muita qualidade (Forlán e Suárez), a Celeste briga bastante pelos flancos para obter faltas, transformando a bola parada em jogadas mortais, sempre a partir dos pés de seu camisa 10, que distribui a bola com qualidade.
No Monumental de Nuñez, o melhor jogador do Mundial de 2010, utilizado como atacante até aqui, poderá ser recuado caso o atacante Cavani, atleta do Nápoli-ITA, se recupere de uma lesão que o tirou de praticamente toda a Copa América. Ele entraria no lugar de Gargano, recuando Diego Forlán para o setor de criação.
Buenos Aires – Logo no último dia, uma mancada da organização argentina na Copa América. O estádio Monumental de Nuñez foi, disparado, o local com menos estrutura para o trabalho da imprensa, alojada num setor da torcida do River Plate adaptado às pressas.
Pior. A conexão de internet, elogiada em outros jogos, praticamente não existe. Os cabos de conexão – apesar de um mês inteiro de preparação – estão desativados.
Assim, apenas a rede wi-fi, mambembe. Pois é. Em algumas situações, a primeira imagem é a que fica. Por aqui, parece que será a última…
Vale dizer que foram investidos US$ 5 milhões no estádio após o quebra-quebra da torcida do River Plate, indignada com o rebaixado à segunda divisão nacional.
Dos seis 6 mil profissionais de imprensa credenciados para a Copa América, 1.500 conseguiram acesso à decisão.
Buenos Aires – Como era esperado, torcedores argentinos com a camisa da seleção albiceleste, eliminada em casa ainda nas quartas de final.
No caso, a dupla acima, abraçada com um algoz uruguaio, veio de Rosario, no interior do país. Como tantos outros, compraram os ingressos para a arquibancada superior antes de começar a Copa América.
O sonho era ver no Monumental o fim do jejum de títulos da Copa América, desde 1993. Ficou para a próxima… No caso, a próxima Copa América será no Brasil, em 2015.
Para a pergunta sobre qual time torcer neste domingo, a dupla respondeu de cara…
“Só vamos assistir a final para não perder o ingresso e porque hoje não tem futebol no resto da Argentina, mas seria bom que os dois times fossem derrotados.”
Buenos Aires – O clima é até de tranquilidade neste domingo, apesar da final da Copa América entre Uruguai e Paraguai, mas a polícia argentina não está a fim de brincadeira.
Segundo informações repassadas pela organização, o número de “policiais federais” (na capital argentina qualquer soldado é chamado assim) está “entre 1.000 e 1.500”.
Fora isso, o caveirão dos hermanos… Popular nas investidas da polícia carioca contra traficantes, o caveirão aqui é utilizado contra protestos em frente à Casa Rosada (sede do governo federal) e em jogos de futebol, sobretudo os clássicos.
Esses veículos são “armados” com potentes jatos d’água em caso de necessidade para dispersar so barra-bravas…
Buenos Aires – No meio da multidão, sem qualquer divisão de arquibancadas, uma vez que as torcidas vão ficar misturadas no Monumental de Nuñez, foi possível conversar com os rivais ao mesmo tempo…
Neste vídeo, o uruguaio Javier e o paraguaio Cristian. Ambos chegaram na capital argentina no sábado. Viajaram de avião de Montevidéu e Assunção, respectivamente.
No fim, ainda mandaram uma mensagem para o futebol brasileiro, que ficou no meio do caminho nesta surpreendente Copa América de 2011.
Para a Copa América, otimismo total da dupla, apesar da cordialidade.