Antológica, a recente confissão de doping de um ícone no esporte levantou mais uma vez a discussão sobre a competitividade, sobre o limite da competitividade.
Que por muitas vezes resulta numa busca desenfreada pela vitória, pelos recordes e pela marca pessoal, ultrajando todas as regras possíveis.
O ciclista Lance Armstrong frustrou milhares de torcedores, sobretudo americanos, orgulhosos com as sete vitórias na Volta da França, mesmo combatendo um câncer.
A bombástica entrevista à apresentadora Oprah Winfrey confirmou as inúmeras denúncias, as quais rechaçava há mais de uma década. A revolta do público, seja lá qual for o esporte predileto, acabou aliviada com a lembrança de um ato recente…
Para deixar claro que o plano esportivo segue intacto como regra, não exceção.
O queniano Abel Mutai vencia com facilidade uma prova de atletismo. Na reta final, se confundiu com a linha chegada, diminuiu o ritmo e passou a saudar o público.
O espanhol Ivan Fernandez Anaya se aproximou e teve tudo para vencer, mas percebeu o engano do adversário. Teve alguns segundos para sonhar com o alto do pódio.
Se a confissão eternizou Armstrong no rol dos atletas controversos, um simples toque no ombro alheio tranformou Anaya em sinônimo de fair play no esporte.
Torneio Pentagonal dos Campeões do Norte-Nordeste, Torneio dos Campeões do Norte e Copa dos Campeões do Norte. A nomenclatura é dúbia pois os jornas variaram bastante a referência. No entanto, o torneio, histórico, é exatamente o mesmo.
Em 1966, os cinco vencedores da fase Norte-Nordeste da extinta Taça Brasil, curiosamente apenas nordestinos, disputaram um pentagonal em jogos de ida e volta.
Bahia (59, 61 e 63), Fortaleza (60), Sport (62), Ceará (64) e Náutico (65).
Foi realizado de janeiro a abril nas três maiores cidades nordestinas, Salvador (Fonte Nova), Recife (Aflitos e Ilha do Retiro) e Fortaleza (Presidente Vargas).
Após oito rodadas, o título ficou com o Náutico. Então tricampeão pernambucano, o Timbu empatou sem gols com o rival rubro-negro e garantiu a conquista regional.
Uma vitória leonina teria forçado um triangular extra envolvendo Náutico, Sport e Ceará.
O torneio consta no levantamento do blog sobre os campeonato nordestinos (veja aqui).
Esta postagem, contudo, visa tentar tirar uma dúvida sobre a chancela da competição. Foi organizada pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), precursora da CBF?
A pergunta se refere à polêmica sobre os títulos oficiais do Náutico fora do estado.
Mergulhando no acervo histórico do Diario de Pernambuco, as notícias relatam a organização por parte dos próprios times, sem uma relação direta com a CBD.
Com as maiores forças envolvidas, a tabela foi elaborada por Abdias Veras, diretor de futebol do Fortaleza. À frente de toda a articulação, o folclórico presidente do Bahia, Osório Villas-Boas, que viajou várias vezes às capitais alencarina e pernambucana.
Os últimos times a assinar o contrato de participação foram justamente os pernambucanos. Na apresentação, um trecho do texto original do Diario de Pernambuco:
“Realizando-se no próximo ano, em caráter experimental, o torneio poderá se transformar no futuro, dependendo o seu resultado financeiro, transformando-se num certame de alto gabarito.”
Confira a reportagem do Diario de Pernambuco em uma versão ampliada aqui.
Independentemente da chancela, a conquista alvirrubra, em sua fase dourada, foi relevante, ainda mais considerando que teve como adversários os vencedores da “Copa Norte”, como era chamada fase Norte-Nordeste da Taça Brasil, criada em 1959.
Analisar o título como uma “Copa do Nordeste” também não faz sentido, pois o critério de classificação e a própria nomenclatura foram bem distintas, chancela à parte.
Contudo, não há como não enxergar o triunfo do Náutico como um título regional relevante. Ainda mais com o precedente aberto pela CBF em 2010, unificando os títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa ao Brasileiro, quarenta anos depois.
Até o momento, a entidade não se posicionou sobre o passado do Nordestão pré-1994.
Nessa dúvida histórica, há espaço para uma confusão interna. Com as numerosas nomenclaturas do supracitado torneio de 1966, o Timbu citou duas vezes a competição em sua lista de títulos. Ao Náutico, falta mesmo é atitude pelo reconhecimento…