“Com mais esse grande jogo, a Itaipava Arena Pernambuco inicia a sua variedade de atuações e demonstra a vocação de multifuncionalidade. Já recebemos a Copa das Confederações e jogos do Naútico. Encaramos esta partida como mais um espetáculo, como teremos outros, ligados não apenas ao futebol, como também a shows, eventos e entretenimento. Estamos preparados para oferecer as melhores condições possíveis”.
A declaração é de Sinval Andrade, presidente do consórcio Arena Pernambuco, se referindo ao clássico carioca Botafogo x Fluminense, no estado.
Obviamente, ele enxerga da melhor forma possível (e rentável) esta agenda. Foi o clássico do Rio de Janeiro que deu início às discussões sobre o tema.
A palavra “provincianismo” foi bastante utilizada nos dois lados da discussão.
Entre os que defendem jogos tipo, seria provincianismo achar que uma partida assim poderia influenciar no perfil das torcidas pernambucanas, com o aumento a longo prazo de torcedores de times de outros estados no Recife.
Entre os que não gostaram, seria provincianismo o fato de receber esse jogo, pois outras cidades com tradição no futebol, como Belo Horizonte e Porto Alegre, não foram cogitadas, levando em conta o poder das massas locais.
O blog, desde o começo, não tratou o clássico como um caso isolado. Mas sim como o início de uma tendência, numa transição não imaginada até então.
A frase da operadora do estádio do consórcio confirma isso.
Tanto que o jogo Flamengo x Grêmio, também pela Série A, já estaria engatilhado. Depende do resultado financeiro de Bota x Flu.
O clássico carioca terá ingressos por R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia). Os sócios dos Botafogo, o “mandante”, poderão comprar ingressos de sócio.
Com 50% de desconto, atendendo à vontade do clube, que alugou o estádio.
Nos jogos do Náutico, num contrato mais longo, o associado timbu terá 30%.
Não faz muito sentido.
O consórcio já ajudou bastante o Timbu, melhorando o centro de treinamento, com direito à instalação de refletores, e com um aditivo mensal de R$ 500 mil até o início da operação regular, neste mês.
No entanto, as ações mais recentes vêm batendo de frente com esse princípio.
Mudança na data do jogo, justamente para receber outro jogo, desconto menor para sócio, demora na marcação de horários para treinos etc.
Paralelamente a isso, a Arena segue buscando formas de gerar receita – e é uma necessidade. Mas ao agendar partidas do Rio de Janeiro, alvo de polêmicas, o consórcio deixa uma série de questionamentos no ar…
Na parceria público-privada, o governo do estado terá que suprir o rombo no faturamento anual caso a receita da temporada seja abaixo de 50% da previsão inicial, de R$ 73,2 milhões, segundo aditivo assinado em 21 dezembro de 2010.
A estimativa, aliás, é altíssima. Foi calculada considerando a presença de Santa Cruz e Sport, como o governo garantiu ao parceiro privado. Contaram com ovo antes da galinha, pois tricolores e rubro-negros ainda não assinaram.
Ou seja, para que o governo (o povo, consequentemente) não pague a conta – com três décadas pela frente -, os jogos de fora “precisam” ser um sucesso.
Logo, não serão poucos jogos…
Botafogo x Fluminense é, sim, uma partida emblemática para o futebol local.
Por mais que os torcedores sigam discutindo, jogos assim vão acontecer.
Comparações com os benefícios do Náutico, único cliente até o momento, serão onipresentes. A preocupação com a receita anual ainda mais.
É inegável o ganho ao estado proporcionado pela Copa das Confederações e pela Copa do Mundo. Pernambuco não poderia ficar de fora disso.
Mas o ônus, contudo, virá. Por enquanto, uma surpresa a cada semana.
Mudança cultural, econômica… Tudo a dezenove quilômetros do Marco Zero.