Paulo Câmara cogita fim do Todos com a Nota, uma decisão numericamente improvável

Paulo Câmara, governador de Pernambuco em 2015. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press

Ao ganhar a eleição para governador, a figura de Paulo Câmara garantiu a manutenção do Todos com a Nota. Afinal, seria a continuidade da gestão sob a sigla do PSB, a mesma de Miguel Arraes e Eduardo Campos, criadores do subsídio estatal ao futebol pernambucano. No quarto mês de seu mandato, contudo, o político sinalizou indiretamente a possibilidade de acabar o programa, caso seja a solução para combater a violência.

Eis a declaração dada por Paulo Câmara à Rádio Jornal.
“Solicitei aos secretários de Defesa Social e da Casa Civil que iniciassem um processo de discussão imediata com os clubes de Pernambuco e com a FPF  para analisar os cuidados que se tem que ter com esse grupo de torcedores que continuam a fazer baderna. Pernambuco, como grande incentivador do esporte, a partir do programa todos com a nota, tem uma preocupação muito grande para isso. E se isso (a revisão ou a extinção) for uma solução a gente não vai se omitir de tomar as decisões necessárias, o que não vamos permitir é que se repitam cenas como a do último domingo passado”.

Na prática, considero inviável a curto prazo uma solução tão drástica.

Abaixo, alguns pontos que transformam a ideia em uma cortina de fumaça.

1) Simplesmente atrelar a violência ao TCN é preconceito, rasteiro. Os delitos (agressões, furtos, roubos etc) não estão inseridos na camada mais pobre da sociedade – a que mais consome o programa -, mas na impunidade, na falta de segurança, estrutura, transporte e educação, num contexto bem mais amplo da crescente cultura de violência em nossa sociedade.

2) O estado vem aumentando sistematicamente a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que representa 60% da receita. Desde 2007, a partir da gestão de Eduardo Campos, o crescimento foi de 150%. Como se sabe, a geração de notas fiscas é a base do Todos com a Nota. Considerando os dados do TCN de 2007 a 2011, os únicos divulgados, e projetando-os até 2014, a conta bruta apontaria 120 milhões de notas fiscais trocadas (R$ 2,08 bilhões). Os clubes receberam um repasse absoluto de R$ 36 milhões no Pernambucano. Ao estado, o programa rende.

3) Atualmente, são 420 mil usuários cadastrados no Grande Recife, onde é obrigatório o uso de cartões magnéticos no Todos com a Nota. Isso corresponde a 10,7% de toda a população na região metropolitana. Política, como se sabe, é voto. Não parece ser a melhor ideia do mundo privar tanta gente do benefício, institucionalizado há quase uma década. Dos 414 mil torcedores presentes nos 113 jogos do Estadual de 2015, 311 mil (75%) entraram via TCN.

4) A Arena Pernambuco, gerida em uma parceria público-privada, depende do Todos com a Nota. Não por acaso, a lei estadual do programa foi modificada, obrigando Náutico, Santa Cruz e Sport a atuar a algumas partidas por lá. Para completar, o ingresso pago pelo governo na arena é de R$ 25, o maior nos estádios locais, justamente para gerar mais receita ao empreendimento, que nos dois primeiros anos de operação registrou um prejuízo de R$ 54 milhões.

5 Replies to “Paulo Câmara cogita fim do Todos com a Nota, uma decisão numericamente improvável”

  1. o problema não é o todos com a nota e sim a falta de puniçao para os vandalos, são 30% que vão pra quebrar onibus, roubar e fazer baderna.. Acabar o todos com a nota não adianta nada, só vai diminuir mais o publico nos estadios.. Deveriam por mais policiais nas ruas e prender essas pessas que todo jogo, quebram tudo

  2. A torcida do santa cruz nao usou cartao todos com a nota no domingo, so a do sport fez uso e o acesso no portao foi muito tranquilo, sem problema algum, eu usei o meu e fui ver o jogo. Acabar o todos com a nota é punir os cidadaos que sao verdadeiros torcedores. O todos com a nota deveria era ser ampliado para cinemas, shows, teatros… pois socializa e une os que realmente sao torcedores e nao tem discriminacao!!

  3. Como sempre a classe política culpando os inocentes pelos problemas da sociedade.
    Proibiram a bebida alcoólica, as bandeiras e faixas, o papel picado, e agora querem proibir o torcedor.
    Peraê, se proibirem o torcedor o futebol acaba.
    Cássio enumera-se bem os motivos pelo descrédito nessa cogitação do governador.
    Se essa decisão for tomada só punirá o torcedor de baixa renda, e ainda imputa-lhe a culpa pela violência. Isso é um pensamento totalmente preconceituoso.
    Punam os bandidos, vagabundos, meliantes q aos poucos acabam com vida do cidadão de bem. Pois agora até o lazer ñ está sendo permitido.

  4. Disseram a mesma coisa quando proibiram as Organizadas de entrar nos estádios de Pernambuco com camisas, bandeirões, sinalizador e etc, disseram também que se proibissem a venda de Bebidas a violência ia diminuir, ai eu Pergunto, diminuiu a Violência ?? Não, pelo contrário está cada vez Pior.

    Proibir o TCN por causa desses Marginais é injusto e não vai acabar com a Violência, na Verdade o Governo quer Tapar o Sol com a Peneira pela sua incompetência em Manter a Ordem Pública em dias de Jogos, o que tem que se Fazer é Melhorar a Educação cada vez mais, Preparar melhor os Policias que hoje são completamente Despreparados e não Sabem diferenciar Torcedor de verdade de marginal e por último, o mais Importante, Criar Leis Duras contra esses Marginais, Mais Parece que esses nossos Políticos tem Preguiça, São uns Verdadeiros COME e DORME, Não Faz nada em prol da População, uma prova disso é os políticos de Brasilia, que pra Aprovar a Redução da maioridade Penal é uma mal Vontade Incrível e 80% da População do pais Pedindo a Redução, voltando ao Assunto, não é tirando o todos com a nota que vai Resolver o problema da Violência.

    Falta Competência, eu acho que o Brasil devia Aprender com a Inglaterra como se Faz pra acabar com a Violência no futebol, se Lá ainda tem, é casos Isolados, não é como antes.

  5. o todos com a nota não tem nada haver com o ocorrido no domingo primeiro a torcida do santa não tinha todos com a nota a questão é que não querem acabar com a baderna pois tem jeito ao invés de colocar 300 ou mais dentro ou fora do estadio deveria colocar entro dos ônibus não tanto ônibus saindo para o mesmo local ao mesmo tempo.

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