Ano zero do futebol pernambucano – 4

A Princesa Isabel foi a primeira ponte de ferro do Recife

Por Carlos Celso Cordeiro*

Com o fracasso da tentativa de criação de uma liga pernambucana e de um estadual, em 1912, os clubes voltaram à disputa dos jogos amistosos. Ainda no ano de 1912 ocorreu um fato muito importante para a história do futebol de Pernambuco.

O “Minas Geraes Foot-ball Club”, do Recife, atravessou as fronteiras do Estado para disputar duas partidas de futebol na capital da Paraíba. Este clube, que estava entre os que disputaram o campeonato inacabado da Liga de 1912, foi o primeiro a disputar uma partida de futebol fora do nosso Estado. O primeiro destes jogos foi disputado no dia 13 de outubro de 1912. O adversário foi o América da Paraíba.

É interessante lembrar que, mesmo sem uma Liga que patrocinasse um campeonato, havia, desde 1909, uma tabela anual de jogos, organizada pelo British Club. Naquela época, a influência, dos ingleses que moravam em Recife, no nosso futebol, era enorme. A começar pela tabela anual de jogos do British Club. Um fato ocorrido em 1910 retrata bem esta influência dos ingleses. A tabela organizada pela direção do British Club marcava para o dia 13 de maio de 1910 um amistoso entre Náutico e Sport.

Ocorre que, no dia 6 daquele mês, morreu o monarca inglês Eduardo VII, filho primogênito da Rainha Vitória. A morte do Rei, em Londres, fez com que fosse adiado um jogo, em Recife. No ano de 1913, a exemplo do já ocorrera em 1912, as atividades futebolísticas do Sport, do Náutico e dos clubes de ingleses foram mínimas. Náutico e Sport realizaram uma única partida no dia 15 de junho. Jogos envolvendo os times de ingleses também foram raros. No “Jornal Pequeno” de 14 de abril de 1913 encontramos um registro que dá uma idéia de como as atividades futebolísticas destes clubes foram, realmente, escassas.

“O director do Sport Club Recife lastima a falta de comparecimento de jogadores no campo do Derby, hontem pela manhã, onde só estiveram a trenar trez jogadores; não é de se esperar que essa mocidade forte, vivaz, queira abandonar de vez o foot-ball, espécie de sport que tanto bem faz ao nosso systema nervoso. A manhã de hontem estava esplendida para jogar, e tanto é assim que os inglezes, esse povo que sabe comprehender melhor que nós o resultado ultra-benefico dos sports, especialmente pela manhã, andavam a passeiar pelos campos a jogar golf”.

* Carlos Celso Cordeiro é escritor e pesquisador do futebol pernambucano

Confira a história completa: parte 1, parte 2, parte 3, parte 5 e parte 6.

Ano zero do futebol pernambucano – 3

Ponte a Boa Vista no Recife, no início do século XX

Por Carlos Celso Cordeiro*

Em 1910, o futebol já não era praticado somente pelos componentes da elite recifense. É verdade que os principais jogos envolviam apenas os sócios do Náutico e do Sport, além dos funcionários, geralmente ingleses, da Great Western e da Western Telegraph. Esse clubes se enfrentaram algumas vezes também, assim como times formados por marujos de navios ingleses ancorados no Porto do Recife.

Nos subúrbios, porém, o futebol começava a ganhar impulso. Os jornais registravam, com freqüência, a fundação de novos clubes. Entre eles:

Caxangá Foot-ball Club, Club Athletico de Pernambuco, Olinda Foot-ball Club, Brazilian Foot-ball Club, Recreio Sportivo Pernambucano, Principe Foot-ball Club, Clube Sportivo Almirante Barroso, Centro Sportivo do Peres e Minas Geraes Foot-bal Club.

No ano de 1912, as atividades futebolísticas do Sport, do Náutico e dos clubes de ingleses foram resumidas. Um jogo entre Náutico e Sport marcado para o dia 13 de maio, data do oitavo aniversário do Sport, não foi realizado. No dia 26 de maio foi realizado um jogo entre o “Mundo” (time de estrangeiros) e um combinado Sport/Náutico, com público diminuto. De uma maneira geral, contudo, o interesse pelo futebol era crescente.

Diversos estados brasileiros já realizavam seus campeonatos. Pernambuco deveria, também, organizar o seu certame. Assim, em fevereiro de 1912, sob a presidência do então conhecido “foot-baller” Eugênio Silva, foi criada a Liga Pernambucana de Foot-ball, formada pelos clubes: Internacional F. C., Mina Geraes F. C., Riachuelo F. C., Brazil F. C. e Peres F. C.

Foi organizado um campeonato, do qual algumas partidas foram disputadas. Depois toda a diretoria da Liga renunciou e suas atividades foram encerradas (o campeonato não foi oficializado depois).

*Carlos Celso Cordeiro é escritor e pesquisador do futebol pernambucano

Confira a história completa: parte 1, parte 2, parte 4, parte 5 e parte 6.

Ano zero do futebol pernambucano – 2

Recife Antigo

Por Carlos Celso Cordeiro*

Um fato novo revigorou a prática do futebol na capital de Pernambuco no começo do século passado, que foi a adesão do Náutico à prática do futebol. Uma matéria publicada no “Jornal Pequeno” de 12/05/1909 reforça a idéia de que o entusiasmo inicial pelo futebol realmente ficou arrefecido neste período e que a criação de novas equipes poderia modificar esta tendência. Abaixo, a matéria com a grafia da época.

“Reina grande animação no centro sportivo desta bella capital, tão balda em divertimentos e onde a rapaziada “smart” raramente tem ocasião de evidenciar as suas aptidões para os jogos athleticos. O reapparecimento do muito apreciado jogo de foot-ball do qual aqui tem sido infatigável propagandista o sr. Guilherme de Aquino Fonseca, tem despertado no animo da vigorosa mocidade pernambucana um verdadeiro enthusiasmo!

Basta salientar que ultimamente, depois do match disputado em Sant’Anna uns vinte dias atraz, só de uma vez, segundo ouvimos dizer, entraram mais de vinte e oito sócios para o sympathizado Sport Club. Não era comprehensivel que a rapaziada pernambucana se deixasse ficar na retaguarda dos paulistas, cariocas e bahianos, que já cultivam o foot-ball com verdadeiro delírio. Constou-nos que os rapazes do Club Náutico tratam de formar um eleven para bater-se com os do Sport Club.

Não será somente este, pois também ouvimos dizer que o sr. Arnaldo Loyo está organizando um team para jogar contra o Sport e outros. Se assim acontecer, em Pernambuco ficará então definitivamente introduzido o foot-ball, um dos jogos que mais concorrem para uma boa educação phisica e onde os moços aprendem a dominar os nervos, adquirindo a calma e tenacidade precisas para serem bons servidores da Pátria!”

Como previsto, a adesão do Náutico foi a mola propulsora desta nova onda de entusiasmo pelo futebol. O Clube Náutico Capibaribe, fundado em 07/04/1901, mas voltado apenas para esportes náuticos, aderiu aos esportes terrestres em 14/07/1909, quando foi realizada uma reunião para modificação dos estatutos da agremiação.

Náutico e Sport já estavam se tornando tradicionais adversários nas Regatas e a transferência desta rivalidade para os gramados foi muito importante para a consolidação definitiva do futebol em Pernambuco. A primeira partida entre Náutico e Sport, realizada em 25/07/1909, despertou grande interesse na imprensa escrita que, para os padrões da época, dedicou ao jogo extensas matérias. O resultado do primeiro jogo do Náutico foi: Náutico 3 x 1 Sport, com 2 gols de Maunsell e 1 de Thomas para o Náutico, e 1 de C.Chalmers para o Sport.

*Carlos Celso Cordeiro é escritor e pesquisador do futebol pernambucano

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Ano zero do futebol pernambucano – 1

Estação central dos trens e Praça Barão de Mauá

Por Carlos Celso Cordeiro*

No final de 1903, pela persistência de Guilherme de Aquino Fonseca, um pernambucano que estava de volta da Inglaterra, onde fora completar seus estudos, começou a ser implantado o futebol em Pernambuco.

É de se supor que ele não encontrou interesse por parte dos dois clubes esportivos que existiam na época: Internacional e Náutico. O passo seguinte teria sido procurar os funcionários ingleses dos Bancos, do Comércio, da Western Telegraph Company e da Great Western para disseminar o futebol em Recife.

A realização das primeiras práticas de futebol, no ano de 1904, animou Guilherme de Aquino Fonseca a planejar a fundação de um clube de futebol. Este plano foi concretizado no dia 13 de maio de 1905 com a fundação do Sport Club do Recife. No início, a prática do futebol era restrita a sócios do Sport, a funcionários de companhias inglesas e a times organizados por ingleses.

Além do Futebol Association, o Rugby e o Cricket eram praticados por estes desportistas. O Rugby e o Cricket foram praticados durante alguns anos, mas não se consolidaram nos costumes dos pernambucanos. O primeiro jogo de futebol em Pernambuco foi disputado no dia 22/06/1905, e envolveu o Sport Club do Recife e um time de ingleses radicados em Recife. O resultado desta partida foi 2 x 2. Não foram localizadas informações sobre os goleadores do jogo.

No local deste jogo, o campo do Derby, foi inaugurado, em 27 de abril de 1997, um monumento alusivo ao acontecimento. O marco tem 2,5 m de altura sobre o qual está uma bola estilizada em bronze. O monumento tem ainda duas placas. Numa delas está as escalações dos dois times. Depois do impulso inicial, o gosto pelas atividades futebolísticas ficou arrefecido. A prática do futebol deve ter ficado restrita aos treinos. Tanto que nos anos de 1906 a 1908, não são encontradas, nos jornais de Recife, notícias sobre a realização de jogos de futebol.

*Carlos Celso Cordeiro é escritor e pesquisador do futebol pernambucano

Confira a história completa: parte 2, parte 3, parte 4, parte 5 e parte 6.

Viajando no tempo

Por Carlos Celso Cordeiro*

Quando o futebol foi introduzido em Pernambuco, no ano de 1905, os jogos eram disputados no campo do Derby, então chamado “Campina do Derby”, e no “Parque Santana”. O campo do Derby ainda existe. Lá foi erguido um monumento alusivo à realização da 1ª partida de futebol no Recife. Este campo fica na Praça do Derby, em frente ao Quartel da Polícia Militar, responsável por sua manutenção. O campo do Parque Santana não existe mais. Ficava localizado nas imediações do Hiper de Casa Forte.

Com o crescente interesse pelo futebol em Recife, a partir de 1911, começaram a aparecer os campos suburbanos. Vamos nos ater aos campos mais importantes, os utilizados para jogos do Campeonato Pernambucano, cujo início se deu no ano de 1915. Primeiro surgiu o campo do “British Club”, um clube de ingleses. Este campo ficava por trás de onde é hoje o Museu do Estado e tinha como vantagem o fato de ser “cercado”. Depois, em 1917, a LIGA (como era chamada a Federação Pernambucana de Futebol naquela época) arrendou um terreno para construir o campo dos Aflitos. Após um ano, a LIGA desistiu do campo e o Náutico assumiu o arrendamento. Posteriormente, o Náutico comprou o terreno e este campo é o hoje Estádio dos Aflitos.

Em 1918, os ingleses saíram do “British Club”. O campo passou a ser do América até o final de 1919. Em 1920, o América passou a ter o seu campo na Jaqueira (no Parque da Jaqueira). Em meados dos anos 30, este campo, passou a ser do Tramways. Em 1918, o Sport construiu seu campo na Avenida Malaquias, onde ficou até 1937, quando se transferiu para a Ilha do Retiro. No campo da Avenida Malaquias, o Sport instalou arquibancadas de madeira, adquiridas ao Fluminense do Rio. Na Ilha do Retiro o Sport começou a construção de moderno estádio que serviu de palco para um dos jogos da Copa do Mundo de 1950.

Quando o Sport saiu da Avenida Malaquias, o América assumiu este campo por um pequeno período. Os locais onde foram os campos do British Club e da Avenida Malaquias, hoje estão ocupados por prédios e avenidas. O local onde foi o campo da Jaqueira é parte, hoje, do Parque da Jaqueira, um dos pulmões da cidade do Recife. Nos anos 40, o Santa Cruz adquiriu o campo do Arruda, onde, nos anos 60/70, ergueu o Estádio do Arruda, apelidado de “Mundão do Arruda”. Antes da construção do Estádio do Arruda, o campo do Santa Cruz era utilizado principalmente para treinos. Algumas vezes foi utilizado para jogos amistosos e era conhecido como o “Alçapão do Arruda”.

Nota: Antes de ser adquirido pelo Santa Cruz, o campo do Arruda pertenceu à Associação Atlética do Arruda (AAA), conhecido como o clube da “Trinca de Az” e, posteriormente, ao Tabajaras.

*Carlos Celso Cordeiro é escritor e pesquisador do futebol pernambucano. Já publicou livros com os retrospectos de todos os jogos de Náutico e Sport (além do Campeonato Pernambucano), e se prepara para lançar a coleção com todas as partidas do Santa Cruz.