Por Lucas Fitipaldi*
O jogo tão esperado, justamente por ser tão esperado, deixou a desejar.
Dessa vez não teve show, espetáculo ou overdose de futebol arte. Ficou no ar certa ponta de frustração aos amantes do “jogo bonito”. A vitória do Barça no Superclássico deste sábado, em pleno Santiago Bernabéu, no entanto, esteve longe de ser um jogo decepcionante. Venceu o melhor time. O mais competente. O mais talentoso. Foi o quarto triunfo consecutivo dos catalães no maior clássico do futebol mundial. Novamente com a marca de Lionel Messi. 😀
Se não brilhou como na última visita ao palacete real, o craque argentino voltou a ser decisivo. Autor do primeiro gol – por sinal, um belo gol -, ele ajudou o Barcelona a construir o inquestionável 2 x 0. Ano passado, Messi marcou três dos 6 gols culés no histórico “Dos-Seis” (2 x 6).
Voltando à noite deste sábado, o Barcelona sagrou-se campeão com todos os méritos. Matematicamente, a conquista da Liga Espanhola ainda está um pouco distante. São 3 pontos de vantagem sobre o arquirrival, a 7 rodadas do fim. Isso significa que o Barça pode se dar ao luxo de perder 1 destes 7 jogos e ainda assim depender apenas das próprias forças – confronto direto é o primeiro critério de desempate.
De fato, o mágico time de Pep Guardiola está com uma mão e mais quatro dedos na taça. Quase lá. Já o outro título, ao qual me referi na primeira linha do parágrafo anterior, foi devidamente cravado. Tenho certeza, bastante festejado pelas calles espanholas, especialmente as da Catalunha. Sim, porque Barcelona x Real Madrid não é apenas um clássico. É final à parte. É campeonato à parte.
In loco – No final de 2007, tive o privilégio de testemunhar in loco a disputa deste “campeonato”. Diante de um Camp Nou tomado por cerca de 120 mil apaixonados, presenciei o último triunfo madrista. La Bestia Negra, o nosso Júlio Batista (tão cortejado pelo amigo Fred Figueiroa) anotou o único gol daquela noite. Um golaço, por cobertura. Naquela época, Robinho ainda vestia a camisa merengue, enquanto Ronaldinho Gaúcho tentava renascer com a azul-grená.
O Gaúcho, mesmo em má fase, foi escalado surpreendentemente como titular. Imprensa e torcida esperavam pela sua redenção.Confesso que também tinha esperança de ver o craque renascer. Mas o final melancólico era um dos últimos capítulos de uma trajetória histórica. “Se quedava” a Era Ronaldinho.
Recordo de um torcedor indignado, o taxando de ex-jogador nos minutos finais. Caiu por terra todo carinho e confiança depositados antes de a bola rolar. Ainda no aquecimento, ao ter o nome anunciado no alto-falante do estádio, “Dinho” foi ovacionado. Um momento de singular emoção.
É realmente “más que un juego”, como eles costumam dizer. A cidade não só respira, como exala o Superclássico por toda parte. Ansiedade comum às grandes decisões. Tensão de final. Concorrência de final. É desnecessário citar o nível de procura e dos preços dos ingressos. No fim, salvo raras exceções, afloram sentimentos extremos. Alegria e euforia de um lado, tristeza e decepção do outro. Hoje, Messi é o Messias às avessas. Segue semeando a discórdia e aflorando os ânimos entre eternos rivais.
*Lucas Fitipaldi é repórter do Diario e colaborador do blog
Fotos: site do Real Madrid