Emiliy Lima assumiu o comando da Seleção Brasileira feminina em 2016, após os Jogos Olímpicos do Rio. Imersa no cenário da modalidade, a treinadora paulista, então com 36 anos, sugeriu à direção da CBF a criação de convocações regionais para a seleção principal para períodos de observação – à parte das poucas estrelas, como Marta e Cristiane. Então, em 2017, o calendário trouxe quatro momentos pontuais de treinamento na Granja Comary, em Teresópolis, com listas distintas em relação aos estados.
Para isso, a comissão avaliou durante quase um ano os 19 campeonatos estaduais em vigor, com 150 times envolvidos, além das Séries A1 e A2 do Brasileiro. Neste caso, com Sport e Acadêmica Vitória na primeira divisão e Náutico na segunda. E o trio, que já disputou o Estadual de 2017, se destacou na segunda convocação regional do ano, com sete estados nordestinos. Eis a divisão dos 22 nomes: PE 10, RN 5, CE 3, BA 2, AL 1 e PB 1.
Do futebol local foram chamadas Lorena (goleira), Bruna (zagueira), Indryd (meia) e Juliana (atacante) do Sport; Débora (zagueira), Mayara (meia) e Ana (atacante) do Náutico; Stefane (goleira), Joyce (lateral) e Paloma (meia) do Vitória. Na visão do blog, a ideia é interessante, pois dialoga com a categoria, ainda semi-amadora, produzindo uma grande peneira nacional.
Da primeira convocação, sete jogadoras tiveram oportunidades em amistosos.
1ª convocação (6 a 10 de fevereiro): ES, MG, PR, RJ, RS, SC e SP
Corinthians (7), Santos (5), Flamengo (3), Rio Preto-SP (3), Kindermann-SC (2), América-MG (1), Ponte Preta (1), Foz Cataratas-PR (1), Vila Nova-ES (1) e 2 atletas sem clube
2ª convocação (21 a 26 de agosto): AL, BA, CE, PB, PE, RN e SE
Sport (4), Náutico (3), Acadêmica Vitória (3), Vitória-BA (2), Cruzeiro-RN (2), Caucaia-CE (2), Alecrim-RN (2), União Desportiva-AL (1), São Gonçalo-CE (1), Botafogo-PB (1) e União-RN (1)
3ª convocação (2 a 7 de outubro): GO, PI, MA, MS, MT e TO
4ª convocação (6 a 11 de novembro): AC, AM, AP, PA, RO e RR
Teresópolis – Em qualquer amistoso no país ou no exterior, a Seleção Brasileira atrai uma quantidade incrível de câmeras fotográficas e filmadoras em seus treinamentos – nos jogos nem se fala. Uma rajada de clicks por segundos, inúmeras imagens para vídeos na televisão etc. Agora, amplie esse cenário na Copa do Mundo.
Conforme já informado no blog, a quantidade de profissionais da imprensa cadastrados na Granja Comary na preparação de 2014 é recorde – 1,6 mil. Muitos deles apenas para captar imagens dos 23 jogadores convocados. Cada um com o seu diferencial, na luz, no enquadramento, no foco e em outras tantas especificações técnicas.
Nesta quarta ocorreu um treino teoricamente menos concorrido – eram apenas 16 dos 23 jogadores no gramado, sem Neymar, numa atividade no campo 2 do centro de treinamento. Ainda assim, uma linha com mais de 50 metros apenas para as câmeras, de todos os cantos do mundo…
Teresópolis – O campo principal da Granja Comary atende a todos as exigências da Fifa. Com 105 metros de comprimento por 68 metros de largura, o gramado cumpre à risca a 5ª versão do documento “Estádios de futebol – Recomendações técnicas e os requisitos”, elaborado pela própria Fifa, com 420 páginas. A revisão lançada em abril de 2011 foi a base para a Copa do Mundo de 2014.
Plantado pela empresa Greenleaf – a mesma responsável pela Arena Pernambuco -, o campo tem o tipo de grama bermuda celebratrion, retirada do viveiro de grama do Maracanã, m Saquarema.
Mesmo com as viagens no Mundial, com possíveis destinos a São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro, a Seleção continuará tendo como base de treinamentos a Granja Comary.
Daí o tratamento especial. Segundo a especificação oficial, o campo tem “drenagem espinha de peixe e irrigação ramal, que pode acionar até cinco aspersores de uma vez”.
Agora, a curiosidade. Se na Granja Comary a Seleção vai treinando num campo com dimensões características do Mundial, nos últimos dois amistosos preparatórios a situação é diferente.
Serra Dourada (Brasil x Panamá): 110m x 75m (8.250 m²)
Morumbi (Brasil x Sérvia): 108,25m x 72,7m (7.869,7 m²)
Granja Comary, arenas e CTs da Copa: 105m x 68m (7.140 m²)
Em campos maiores, naturalmente os passes são aplicados com mais força, as arrancadas são mais longas o senso de deslocamento é diferente etc. Talvez, essa diferença seja encarada como um pequeno detalhe. No futebol, entretanto, cada detalhe faz a diferença com a bola rolando. Seja na Granja, no Serra ou no Maraca.
Teresópolis – A parceria é antiga. Fez sucesso no Grêmio, Palmeiras, seleção portuguesa e seleção brasileira. No bigode e no banco de reservas. O técnico Luiz Felipe Scolari e o auxiliar técnico Flávio Murtosa trabalham juntos há pelo menos duas décadas. Entre as muitas conversas para definir o time e buscar soluções táticas e técnicas, os amigos têm o costume de realizar caminhadas matinais.
Muitas das formações nos clubes e nas seleções supracitadas já saíram dessas conversas. Na Granja Comary não é diferente. É um costume quase diário. No bate-papo, certamente a articulação de um possível plano B para a Copa do Mundo de 2014, num jogo em que Neymar não esteja bem – o time depende demais dele -, a estrutura do meio-campo, com um passe mais aprumado ou uma chegada surpresa no ataque… Conversa para 40 minutos, caminhando.
Nesta quarta, enquanto os 23 jogadores convocados seguiam nos quartos, Felipão e Murtosa fizeram uma caminhada em todo o CT. Passaram pelo alojamento, campo 1 e campo 2, alternando passos lentos e pequenas corridas.
A conversa dos dois gaúchos seguia até ser interrompida para um aceno para as câmeras de televisão – a pedido dos cinegrafistas -, já reposicionadas atrás da trave no campo principal da granja. Um gesto para a exibição ao vivo de toda a movimentação no local. Um aceno e o vídeo garantido nas emissoras, e até uma foto no blog.
Que o sinal positivo seja mesmo para a escalação… e siga até a próxima caminhada.
Teresópolis – São 1.632 profissionais da imprensa trabalhando na cobertura da Seleção Brasileira na Granja Comary. Acompanhar a preparação da equipe de Felipão para o Mundial de 2014 vem sendo bem corrido, com uma carga horária acima do normal e a consciência de que trata-se de um trabalho especial.
Numa interação com torcedores no twitter, algo que procuro (e gosto) fazer bastante, alguns me pediram algo específico. Sugeriram uma postagem sobre essa experiência (massa), justamente pela proximidade do relato, quase um canal direto com com o centro de treinamento da Seleção.
Realmente, fazia sentido. Afinal, no treino do mesmo dia, um domingo, postei várias mensagens e fotos sobre o desempenho dos jogadores no campo principal, mas sem deixar de conversar com a galera. Era tudo inédito para mim na Granja Comary.
Como jornalista esportivo – a área que sempre quis -, escrever sobre a Seleção é um objetivo que você projeta naturalmente. A minha primeira grande oportunidade do tipo (e inesquecível, diga-se) foi em 2011, na Copa América, durante 26 dias na Argentina. Agora, um cenário semelhante, mas com uma estrutura ainda maior, mais moderna. O mesmo espaço é dividido com jornalistas de renome nacional, como Juca Kfouri, PVC e Tino Marcos. É impossível ficar parado, pela agenda (treino às 9h30, coletiva com dois jogadores às 12h30 e treino às 15h30). Texto, texto, foto, texto, Superesportes, blog, correção…
O ritmo é diferente, sem dúvida. Ou seja, como profissional, só tenho a aprender aqui.
Em relação ao contato com os jogadores, há hoje uma barreira. Há 15 anos era possível entrevistar atletas pessoalmente, independentemente do seu veículo – e aqui, sem dúvida, isso faz diferença. Hoje, o contato é restrito às coletivas, em jogadores indicados pela própria comissão técnica/assessoria. Os principais, Neymar e Fred, por exemplo, demoram a entrar na pauta. A blindagem é clara.
No momento em que tudo isso é transmitido ao vivo em sites e canais de tevê, como ser diferente no conteúdo? Como justificar o investimento? E é óbvio que o Diario de Pernambuco fez isso para que eu estivesse no Rio. O caminho parece ser o de contextualizar depoimentos, histórias, treinamentos, regulamentos etc. Cada um procurando o seu viés. Ao jornal Estado de S. Paulo, a lesão de Paulinho, ex-Corinthians, ganhou um destaque maior. No Diario, a entrada do pernambucano Hernanes na vaga foi o direcionamento adotado. Leituras diferentes de um mesmo episódio.
Existem momentos complicados, desde uma apuração, uma pergunta não efetuada nas concorridas coletivas e problemas logísticos. No meu caso, o crachá ainda não estava no sistema no primeiro dia. Ou seja, não havia liberação para entrar na granja. Telefonemas, e-mails, respostas e, muito tempo depois, chegou.
Cada crachá de acesso, aliás, tem a sua limitação. Estou liberado para o centro de imprensa, para um palco provisório armado pela CBF atrás do gol do campo principal e na área de circulação da granja. Os alojamentos, claro, ficam do lado oposto.
Resumindo, é terminando um texto e seguindo para outra demanda. Tudo num frio considerável – ainda mais para quem vem do Recife. Tempo variando de 10 a 15 graus e bastante vento, o que só piora a sensação térmica.
Nos intervalos – acredite, é preciso se alimentar -, surge uma resenha diferente, no contato com jornalistas de outros estados. Cada um com seu time – e que certamente escutam as mesmas coisas que eu -, sua visão da profissão, suas histórias. Em uma dessas, já na noite de domingo, estava terminando o texto para o jornal numa sala de imprensa com três televisões. Duas passando jogos ao vivo e uma com a reprise de Corinthians x Botafogo. Pedi para que mudassem de canal, para a TV Brasil. Sim, Salgueiro x ASA. “Pode colocar aí, vá por mim. Canal 166 da Sky”.
Não me levaram a sério na hora. No fim, a turma – formada por cariocas, paulistas e mineiros – estava torcendo pelo Carcará, que venceu por 1 x 0. Até ali, na prática, mal sabiam que o Salgueiro existia. Mudou. E tudo por causa da ampla cobertura da Seleção na Granja Comary, por causa da presença de 1.632 profissionais. E porque tive o prazer, como jornalista formado, de ser um deles…
Teresópolis – O Comitê Organizador Local da Copa do Mundo recebe no dia 2 de junho as listas definitivas das 32 seleções. Nos formulários, cada país indicará 23 atletas. Apesar do caráter oficial, na prática será possível modificar os nomes dos convocados em um prazo até 24 horas antes da estreia. Tal formato acaba gerando uma apreensão constante entre os jogadores. Alguns sofreram lesões em amistosos a menos de um mês do Mundial, outros chegaram desgastados após o fim da temporada regular nos clubes e outros (a maioria?) vêm se poupando.
Esse cenário foi bem comum na primeira semana de preparação da Seleção Brasileira. O trabalho foi marcado por jogadores poupados. Na sexta, seis atletas sequer participaram das atividades. No dia seguinte, Bernard foi a baixa. No domingo, Paulinho sentiu um desconforto. Nos três dias, o capitão Thiago Silva não figurou entre os titulares.
Na entrelinhas, há mesmo uma precaução com o prazo de inscrição. Atletas até então titulares de Itália, Holanda e Bélgica se machucaram e não virão ao Brasil. Outros estão chegando no limite, como o português Cristiano Ronaldo e o uruguaio Luís Suárez. Com a hora definitiva chegando, torna-se natural uma atuação “cadenciada”, tanto nas seleções quanto nos clubes. Por mais complicado que seja admitir, o lateral-esquerdo Maxwell – reserva imediato de Marcelo na Canarinha – saiu do lugar-comum e revelou a existência de um trabalho de prevenção na Granja Comary.
“Desde que saiu a convocação (em 7 de maio), é difícil jogar 100% em todos os jogos, pois existe a preocupação de perder uma competição como essa, que é o sonho de todo mundo. É difícil ver um companheiro de trabalho perder isso (se referindo ao italiano Montolivo, cortado após fratura na tíbia). Agora é fazer uma boa preparação física, com trabalho de prevenção (atividades mais leves, na academia instalada no CT da CBF). Temos que jogar e esquecer os acidentes, mas o que pudermos fazer de prevenção, estamos fazendo.”
A partir da declaração do lateral de 32 anos, dá para imaginar o rendimento dos atletas nos amistosos contra Panamá (terça) e Sérvia (sexta)…
Teresópolis – Segurança total na Granja Comary, A aparato para preservar a tranquilidade dos 23 jogadores brasileiros impressiona.
Na apresentação na região serrana do Rio, o esquema já era considerável, com polícia federal, polícia rodoviária federal, corpo de bombeiros, ruas isoladas, agentes dia e noite e 30 seguranças particulares dentro do centro de treinamento da CBF.
Neste domingo, a estrutura foi reforçada.
Chegou o exército… Caminhões dentro da granja e na entrada, tropas em pontos estratégicos e um clima de “Teresópolis sitiada”.
Este formato de segurança deve se manter nas outras 31 seleções no país, sob coordenação do Comitê Organizador Local da Copa 2014. Isso mesmo. No deslocamento das seleções, a liberação parte do COL. Tudo com o braço forte do exército.
Teresópolis – Conforme imaginado, Neymar vai roubando a cena neste início de preparação da Seleção.
No coletivo do sábado, marcou um golaço. Quase sem ângulo, na linha de fundo, o atacante ficou cara a cara com Jefferson. Tocou rasteiro, quase força, mas entre as pernas do goleiro.
No domingo, logo no início do segundo treino coletivo comandado por Felipão, mandou no ângulo direito. Jefferson foi a vítima novamente.
Teresópolis – Em uma partida oficial, é proibido o uso de qualquer componente eletrônico por parte dos jogadores, seja um chipe de GPS ou equipamento de monitoramento. Nos treinos, a cargo dos clubes ou seleções, o uso é liberado. Mais do que isso. É necessário.
A princípio, até parece que os jogadores da Seleção Brasileira vêm treinando na Granja Comary com “relógios” nos pulsos. Todos eles. No entanto, trata-se de um equipamento de monitoramento de frequência cardíaca, que conta ainda com uma cinta, embaixo da camisa.
A partir disso, a equipe médica do Brasil vai medindo o nível de desgaste do grupo de convocados, cansados após a dura temporada internacional – até porque 19 dos 23 atuam fora.
Teresópolis – Itália, campeã mundial em 1934 e semifinalista em 1990. Foi a sede nas duas edições. Alemanha, campeã em 1974 e semi em 2006. Também anfitriã nos dois torneios. Brasil, vice em 1950… E mais uma vez país-sede em 2014.
A partir deste breve histórico, vamos à declaração de David Luiz, que trouxe este contexto ao ser indagado sobre o fantasma do Maracanazo, algo recorrente na cobertura da Seleção para este Mundial – e com respostas devidamente orientadas pelas três psicólogas a serviço do time brasileiro.
“Grandes seleções ganharam e perderam Copas em casa, como Itália e Alemanha. O Brasil só perdeu. Então, chegou a hora de ganhar.”
A frase foi dita durante a entrevista coletiva ao lado do meia Willian, com 51 minutos de duração. Na maior parte do tempo, respostas esbanjando confiança no hexa. Os questionamentos variaram de Paris até corte de cabelo. No fim, quebrando o script, David Luiz e Willian, companheiros no Chelsea na última temporada, posaram para fotos, num cenário de irreverência.
E assim se mantém um ambiente de confiança elevada. Pela lógica do novo jogador do PSG – foi negociado por R$ 188 milhões, tornando-se o zagueiro mais caro da história -, uma hora ganha.
Apesar de não citada, a França seria o exemplo perfeito à Canarinha. Sede 1938 e 1998. Só ganhou na segunda oportunidade.
Já México foi sede 1970 e 1986… Melhor nem lembrar mesmo.