FPF implanta sistema mundial contra a manipulação de resultados no futebol

Reprodução do Sistema de Detecção de Fraudes (FDS), da Sportradar. Crédito: integrity.sportradar.com

Já está em operação no futebol pernambucano um sistema de detecção de fraudes (com a sigla em inglês FDS), produzido pela Sportradar, empresa internacional especializada em “prevenção de manipulação de resultados”. Além de Pernambuco, a federação paulista também já havia contratado o serviço, cujo relatório obtido pelo globoesporte.com, de julho de 2016, apontava que o “futebol no Brasil está ameaçado por fraudes” – não por acaso, já houve um caso confirmado, no Brasileirão de 2005 (com 11 jogos anulados). E a questão vai além dos clássicos (como seria no Recife, envolvendo Náutico, Santa e Sport), uma vez que, hoje, praticamente todas as partidas profissionais estão sujeitas a apostas online, até a 2ª divisão pernambucana, pioneira local no sistema.

O Fraud Detection System, agora a serviço da própria Fifa, foi criado em 2005, passando por atualizações. Atualmente, é monitorado por 550 operadoras de apostas e até lotéricas não regulamentadas (caso do Brasil). Os três escritórios do FDS, em Londres (Inglaterra), Manila (Filipinas) e Sydney (Austrália), recebem dados de cinco mil jornalistas e 275 pesquisadores freelancers

Alertas de fraude no futebol, segundo o FDS:

1) O sistema contém 44 alertas no pré-jogo, baseados nas movimentações de apostas, detectando padrões incomuns tanto no número de jogos feitos quanto no dinheiro injetado. O cenário fora da curva sugere manipulação.

2) Durante o jogo existem 25 alertas, a partir de um modelo matemático que permite um monitoramento minuto a minuto. Segue a mesma lógica de ações fora do padrão – independentemente do local da partida e da aposta realizada. 

Por dia, são processados cinco bilhões (5.000.000.000!) de dados, já anexados ao histórico das competições, dos times e dos atletas (imagens). Pois então imagine isso em escala anual, com mais de 160 mil partidas supervisionadas.

Vamos a um jogo de pequeno porte realizado no estado no período:

Como foi possível monitorar Íbis 2 x 4 Vera Cruz, na abertura na Série A2 de 2016? Através de uma análise enxuta. Nada de apostas específicas como “o próximo escanteio será do Íbis”, mas, sim, a partir do histórico de resultados. Uma vitória do Vera Cruz como visitante surpreenderia? Não, devido ao péssimo retrospecto do Pássaro Preto. Logo, por que alguém apostaria R$ 100 mil (por exemplo) na vitória do Íbis? Provavelmente, o alerta teria sido acionado.

Até o momento (cinco meses), nenhum alerta no futebol pernambucano…

Reprodução do Sistema de Detecção de Fraudes (FDS), da Sportradar. Crédito: integrity.sportradar.com

Redesenho dos escudos de Santa, Sport, América e Íbis. Releitura ou tradição?

Evolução dos escudos da Juventus de Turim

A mudança radical no escudo da Juventus, agora restrito à letra “J” em duas grafias, é o resultado de dois anos de criação, com diversos modelos e objetivos de mercado imaginados. Por fim, o presidente do clube italiano, Andrea Agnelli, justificou a escolha como uma evolução da linguagem para atingir novos públicos. Na Inglaterra, Manchester City e West Ham também apresentaram redesenhos de seus escudos. Considerando a evolução dos escudos da Juve (acima), será que a ideia funciona junto à base tradicional da torcida?

A discussão é grande e se estende até o Recife. Não faz muito tempo, os três grandes clubes tiveram projetos em suas mesas para a releitura dos distintivos. Entre 2007 e 2011, a Módulo Design criou modelos para Náutico, Santa e Sport. Começou no alvirrubro, uma vez que um dos criadores, Roberto Varela, também era vice-presidente de marketing do clube. Ao lado de Daniel Dobbin, o trabalho resultou no atual modelo usado pelo clube, com a explicação no livro Construindo Marcas, uma compilação de 25 anos de trabalho da empresa.

“O redesenho do escudo de clube é algo muito completo porque o torcedor geralmente é muito passional. Mexer com isso sempre requer muita pesquisa. Começamos por retirar Náutico de dentro do escudo, pois a palavra só tinha sido usada na última versão. Tiramos partido das listrar flamulantes da bandeira e criamos um campo na parte de baixo, onde inserimos 1901, ano da fundação do clube. Ainda deixamos as seis estrelas relativas ao Hexa, pois sabíamos de sua importância para muitos torcedores” 

Após a aprovação pelo conselho deliberativo timbu, no fim de 2008, a criação focou rivais e em clubes periféricos da capital. A seguir, outro trecho.

“Após o redesign do escudo do Náutico em 2008, graças ao nosso bom relacionamento com os demais clubes do estados, fizemos primeiro uma proposta para o Santa Cruz, que iria completar 100 anos e também tinha problemas em seu escudo, e depois para o Sport, que também term dificuldades de reprodução. Em ambos os casos, os dirigentes não tiveram como implantar, pois aprovar esses redesenhos junto aos conselheiros é sempre muito complicado. Já os redesenhos do Íbis e do América foram feitos para uma empresa de marketing esportivo que depois se desligou dos dois clubes e não teve mais como implantá-los.” 

No tricolor, houve uma mudança, mas sem relação com a Módulo Design, com a retirada das oito estrelas (tri-super e pentacampeonato). Já no rubro-negro, o assunto chegou a ser discutido internamente em 2011, na gestão de Gustavo Dubeux. A versão atual data de 2008, após a conquista da Copa do Brasil, com a inclusão da segunda estrela dourada e a redução da prateada.

Confira a evolução dos escudos do Trio de Ferro clicando aqui.

Abaixo, todas versões criadas pela Módulo Design e apresentadas a Santa Cruz, Sport, América e Íbis. Gostou de alguma?

Obs. O blog já entrou em contato para ter as versões do Náutico, de 2007.

Santa – Variações do modelo atual, incluindo ondulações, e mudanças na fonte e na cor do acrônimo SCFC. Sobre o amarelo, era tradição nos anos 70 e 80.

Projetos para um redesenho do distintivo do Santa Cruz. Crédito: livro "Construindo Marcas", de Marcos Daniel Dobbin e Roberto Varela

Sport – O leão se mantém no escudo, mas com várias mudanças no número de listras. Das sete atuais, o número cairia para até 2. A sigla SCR também poderia sair das mãos do leão (aliás, havia dois modelos de leões).

Projetos para um redesenho do distintivo do Sport. Crédito: livro "Construindo Marcas", de Marcos Daniel Dobbin e Roberto Varela

América – Uma modernização sobre um escudo que não era modificado há décadas. Dos traços simples para uma leitura mais arrojada. A versão com o 1914 embaixo do AFC acabou usada no ano do centenário, em 2014.

Projetos para um redesenho do distintivo do América. Crédito: livro "Construindo Marcas", de Marcos Daniel Dobbin e Roberto Varela

Íbis – O pássaro preto seguiria quase sem retoques, com mais presença da cor preta. Em dois casos, até mesmo a inclusão do branco.

Projetos para um redesenho do distintivo do Íbis. Crédito: livro "Construindo Marcas", de Marcos Daniel Dobbin e Roberto Varela

O silêncio pernambucano pela Chape

Uma semana de silêncio no futebol em respeito à Chapecoense, homenageada em todo o mundo. Em Pernambuco, inúmeros atos lembrando as 71 vítimas do voo que levava o time catarinense à Colômbia, onde decidiria a Sul-Americana.

Após o luto oficial decretado pelo Trio de Ferro, as reapresentações dos times de Sport e Santa Cruz, a uma rodada do fim do Brasileirão, foram marcadas por círculos de orações junto aos jornalistas presentes (que também sofreram com 20 mortos no acidente aéreo). Quando a bola voltou a rolar, no domingo, pela segunda divisão estadual, as três partidas válidas pelas quartas de final tiveram homenagens em conjunto entre os adversários, num legado já deixado pela Chape. Camisas com com o escudo do alviverde, faixas de apoio e muita fé.

Por fim, o enterro do Cléber Santana, cujo velório ocorreu na Ilha do Retiro.

Sport no Centro de Treinamento José de Andrade Médicis, em 30/11

Homenagem do Sport à Chapecoense. Foto: Nando Chiapetta/DP

Santa Cruz no Arruda, em 01/12

Homenagem do Santa Cruz à Chapecoense. Foto: instagram.com/santacruzfc

Cabense 1 x 0 Vera Cruz no Gileno de Carli (Cabo de Santo Agostinho), em 04/12

Homenagem de Cabense e Vera Cruz à Chapecoense. Foto: twitter/futebolderaizes (Augusto Fernandes)

Íbis 0 x 0 Flamengo de Arcoverde no Ademir Cunha (Paulista), em 04/12

Homenagem de Íbis e Flamengo de Arcoverde à Chapecoense. Foto: facebook/ibismania

Centro Limoeirense 0 x 0 Afogados no José Vareda (Limoeiro), em 04/12

Homenagem de Centro Limoeirense e Afogados à Chapecoense. Foto: ), twitter/centroLFPE

Os 9 clubes na briga por duas vagas na primeira divisão pernambucana de 2017

Estádios da Série A2 de 2016: Vianão, Luiz de Brito, Gileno de Carli e José Vareda; Áureo Bradley, Paulo Petribu, Ferreira Lima e Carneirão

A segunda divisão do Campeonato Pernambucano de 2016 terá apenas 49 jogos, entre setembro e novembro. Valendo duas vagas para a elite local, o torneio terá a presença de nove clubes – seriam dez, mas o Ypiranga, sem a documentação necessária, desistiu. Entre os inscritos, apenas dois da Região Metropolitana do Recife, ambos do Cabo, com o restante espalhado no interior, incluindo o andarilho Íbis, outra vez em ação em Carpina. Quatro nunca jogaram na primeirona (Afogados, Barreiros, Ferrim e Timbaúba), enquanto o Vera Cruz (o maior campeão da segundona, tri) foi o último presente, em 2015.

Confira a tabela da segundona, a partir de 3 de setembro, clicando aqui.

A fórmula de disputa é simples, com turno único, avançando os oito melhores – ou seja, só o lanterna cai fora. Depois, quartas e semifinal com o critério da Copa do Brasil, qualificando o gol fora de casa. Já a decisão, com os dois times já assegurados, será em apenas uma partida. As melhores campanhas definem os mandos decisivos. Sobre a composição dos elencos, vale o estilo “olímpico”. Assim, a cada apresentação os times podem relacionar 22 atletas, com no máximo quatro acima de 23 anos. Entre os Sub 23, cinco podem ser amadores.

Em relação aos palcos, o regulamento determina uma capacidade mínima de 1.000 espectadores sentados. Entre os estádios liberados pela federação, dois não chegam a três mil lugares, a exigência mínima na elite. Portanto, em caso de acesso, os campos de Afogados e Barreiros precisariam de ampliações.

Clubes na Série A de 2016: Afogados, Barreiros, Cabense, Centro, Ferroviário, Flamengo, Íbis, Timbaúba e Vera Cruz

Algum favorito? Alguma preferência em relação ao acesso? Comente.

Lista de participantes, estádios e capacidade
Afogados Futebol Clube (Afogados) – Vianão, 1.735
Barreiros Futebol Clube (Barreiros) –  Luiz de Brito, 2.000
Associação Desportiva Cabense (Cabo) – Gileno de Carli, 5.459
Centro Limoeirense de Futebol (Limoeiro) – José Vareda, 5.000
Ferroviário Esporte Clube do Cabo (Cabo) – Gileno de Carli, 5.459
Flamengo Sport Club de Arcoverde (Arcoverde) –  Áureo Bradley, 3.000
Íbis Sport Club (Carpina) – Paulo Petribú, 3.600
Timbaúba Futebol Clube (Timbaúba) – Ferreira Lima, 3.750
Vera Cruz Futebol Clube (Vitória) – Carneirão, 10.911

Distâncias nas estradas a partir do Recife
35 km – Cabo de Santo Agostinho (Grande Recife)
53 km – Vitória de Santo Antão (Zona da Mata)
65 km – Carpina (Zona da Mata)
82 km – Limoeiro (Agreste)
102 km – Timbaúba (Zona da Mata)
111 km – Barreiros (Zona da Mata)
255 km – Arcoverde (Sertão)
378 km – Afogados da Ingazeira (Sertão) 

Eis os classificados à elite nas últimas dez edições da Série A2*…

Campeões e vices da segunda divisão do Campeonato Pernambucano de 2006 a 2015

* Em 2007, numa virada de mesa da FPF, Centro e Petrolina também subiram, ampliando a primeira divisão de dez para doze participantes, dado ainda vigente.

Documentário sobre o Íbis em Paris. Graças a José Mourinho, acredite

Mauro Shampoo em Paris, representando o Íbis. Foto: Ibismania/twitter

Em 28 de dezembro de 2015, o Íbis fez uma proposta histórica a José Mourinho. O técnico havia acabado de ser demitido do Chelsea e passava as férias em Porto de Galinhas quando houve a “sondagem”. No Pássaro Preto o português receberia uma cesta básica e poderia ter o contrato rescindido em caso de boas apresentações. A greia do Ibismania se espalhou rapidamente, saindo bastante da fronteira brasileira. Aula de marketing (mesmo às avessas).

A repercussão teve um novo capítulo cinco meses depois, com o convite do Canal+ (espécie de Sportv da França) para uma reportagem especial sobre o pior clube do mundo. Já na chegada ao Aeroporto Charles de Gaulle a plaquinha indicava a figura: Mr. Shampoo. Não havia melhor representante que o camisa 10 (“show, show, show”) para ir ao Museu do Louvre e à Torre Eiffel.

Além do tradicionalíssimo repertório do clube, com o jejum de 55 jogos sem vitória entre 1980 e 1984, indo parar no Guinness Book, Mauro comentou nas gravações, realizadas em maio, sobre a sondagem a Mourinho. O cabeleireiro explicou aos franceses o significado da expressão “bicho” no futebol brasileiro. Porém, disse que o prêmio ao técnico seria um cachorro mesmo…

Mauro Shampoo em Paris, representando o Íbis. Foto: Ibismania/twitter

Íbis, Olinda e Timbaúba em ação no campeonato mais equilibrado do mundo

Série A2 do Estadual 2015: Íbis 1x8 Olinda, Timbaúba 2x8 Íbis e Olinda 0x1 Timbaúba. Fotos: Ibismania/twitter e FPF/site oficial

A sequência de jogos entre Íbis, Olinda e Timbaúba, na segunda divisão pernambucana de 2015, chamou a atenção pelos resultados, sem qualquer nexo técnico, a não ser o fato de ser algo possível basicamente no “futebol”.

30/08 – Íbis 1 x 8 Olinda
06/09 – Timbaúba 2 x 8 Íbis
09/09 – Olinda 0 x 1 Timbaúba

Quem levou de 8, marcou 8. E que perdeu deste, se reucuperou vencendo o primeiro a ganhar de 8. Sem contar o fato de que todas as vitórias ocorreram fora de casa na competição restrita a atletas de até 23 anos.

A partir desses três jogos, vale apresentar como curiosidade os campeonatos mais equilibrados da história, segundo banco de dados do site RSSSF, especializado em estatísticas do futebol. E é preciso ir bem longe, no tempo e nas divisões, para achar algo realmente surpreendente.

O torneio mais parelho que se tem notícia foi o campeonato romeno da terceira divisão da temporada 1983/1984. Exceção feita ao campeão, sete pontos à frente do vice, os outros 15 times foram separados por três pontos após trinta rodadas! Nove equipes terminaram com 29 pontos, entre o 7º e o 15º, este rebaixado. E sem contar o fato de que oito times são chamados de “Minerul”.

Vitória valendo 2 pontos e empate 1 ponto.

Campeonato Romeno da 3ª divisão de 1983/1984. Fonte: RSSSF

O segundo caso de maior equilíbrio foi na África, na edição 1965/1966 do campeonato marroquino. Com 14 clubes, também no formato pontos corridos, a diferença entre o campeão (Wyad Casablanca) e o lanterna (Maghreb) foi de apenas oito pontos. O Kawkab, de Marrakech, terminou em 5º lugar, com 53 pontos, a quatro pontos do título e quatro pontos do rebaixamento.

Vitória valendo 3 pontos, empate 2 pontos e derrota 1 ponto (sim, derrota).

O campeonato marroquino de 1965/1966. Fonte: RSSSF

Oito gols do Íbis em um jogo? Nem o placar do estádio estava preparado

Série A2 do Pernambucano 2015: Timbaúba 2x8 Íbis. Foto: Ibismania/twitter

O Íbis é o clube mais folclórico do futebol pernambucano, disparado. Vive disso. Há mais de trinta anos é conhecido internacionalmente como o Pior Time do Mundo, mas as vitórias aparecem de vez em quando. Entretanto, nada que se compare à antológica goleada em Timbaúba sobre o time da casa. Sem precedentes na história do Pássaro Preto, o placar apontou 2 x 8. Ou quase isso, pois o placar manual do acanhado estádio Ferreira Lima só tinha até o número “6”, com quatro gols de Rogério Moicano. Não havia 7, 8 e 9.

No jeitinho brasileiro, a plaquinha “2” foi colocada próxima, somando o número de gols marcados pelo Íbis na segunda divisão do Estadual, para alegria dos 218 heróis presentes na peleja – um resultado que qualquer outra pessoa só acreditaria vendo a súmula no site da FPF (e é mesmo verdade, abaixo). O que deixa o triunfo ainda mais incompreensível é o fato de que há menos de uma semana o mesmo Íbis havia levado uma sova do Olinda de 8 x 1, em casa. Vai ver, é tão acostumado a perder que não faltou motivação para este inesquecível 6 de setembro de 2015…

Claro, o Ibismania não perdoou o resultado no interior.
“Estamos organizando um protesto para derrubar o treinador”.

Greia à parte, o Íbis melhorou o histórico do seu saldo de gols, agora em -1.720.

Súmula de Timbaúba 2x8 Íbis, na Série A2 do Estadual 2015. Crédito: FPF/reprodução

O dia em que o Íbis chegou a 100 vitórias oficiais, 61 anos após a sua fundação

Íbis na década de 1980

Está na raiz do Íbis a sua alergia à vitória. A sina de insucessos fez a fama do Pássaro Preto, apontado pelo Guinness Book como o “Pior Time do Mundo” devido ao ainda insuperável jejum de 55 partidas entre 1980 e 1984. Perdeu de todo jeito no Campeonato Pernambucano, tendo como ídolo o mito Mauro Shampoo. Mas, acredite, também saíram alguns resultados positivos, arrancados a pulso. Tanto que o clube chegou a conseguir o acesso na segunda divisão pernambucana, em 1999. Curiosamente, foi naquele ano, no dia 20 de junho, que a modesta equipe chegou a 100 vitórias oficiais em sua história, ao bater o Boa Vista por 2 x 1, quase 61 anos após a sua fundação.

As vitórias são tão escassas nas quase oito décadas de futebol que este número tem lá as suas incertezas. Até pouco tempo, o Ibismania, o perfil que tira onda do próprio clube, vinha contando cada minguado a partir do livro “O voo do Pássaro Preto”, de Israel Leal, lançado em 2008. Porém, a imprecisão de informações sobre a Segundona acabou tirando alguns jogos da contagem.

Daí, acreditava-se que a centésima vitória ainda estava por vir, este ano. A folclórica marca gerou interesse da imprensa nacional e até da CBF, para algum tipo de homenagem às avessas. Entretanto, em contato com a FPF, apareceu a campanha de 1996, indisponível na web. Somando aos dados do pesquisador Carlos Celso Cordeiro, a boa estreia na Série A2 de 2015, um 2 x 1 sobre Barreiros, no acanhado estádio de Carpina, foi a 133ª vitória do Íbis, que até hoje só ganhou 14% de seus jogos. O saldo de gols de -1.718 faz todo sentido.

Íbis na 1ª divisão (43 participações, 1946-2000)
678 jogos
83 vitórias
91 empates
504 derrotas
507 gols marcados
1.995 gols sofridos
-1.488 de saldo

Íbis na 2ª divisão (18 participações, 1977-2015)*
232 jogos
50 vitórias
61 empates
121 derrotas
216 gols marcados
446 gols sofridos
-230 de saldo

Jogos oficiais do Íbis (1ª e 2ª divisões)*
910 jogos
133 vitórias
152 empates
625 derrotas
723 gols marcados
2.441 gols sofridos
-1.718 de saldo
* Até a estreia na segunda divisão estadual de 2015.

No histórico do Íbis é necessário fazer algumas ponderações. Além dos três resultados “possíveis”, com vitórias, empates e derrotas, o clube conta com situações incomuns. Ao todo, 17 jogos tiveram outras características: 8 sem placar conhecido, 3 cancelados, 2 W.O. a favor e 4 W.O. contra.

O dia em que o Íbis emplacou três jogadores na Seleção Brasileira

Íbis e Seleção Brasileira. Arte: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

Em 9 de outubro de 1959, a FPF recebeu da CBD, atual Confederação Brasileira de Futebol, a missão de representar o país no Campeonato Sul-Americano. Seria a segunda edição da tradicional competição naquele ano, não por acaso chamada de “Extra”. Para a disputa no Equador, viajariam 22 jogadores.

No entanto, houve uma pré-convocação com 34 nomes, sob as ordens de Gentil Cardoso, nomeado técnico da Seleção Brasileira na ocasião. E há, aí, um capricho da história. Hoje conhecido como o Pior time do mundo, o Íbis emplacou três atletas na lista pioneira. O goleiro Jagunço e os atacantes Vantu e Inaldo. Integrantes da equipe com apenas 2 vitórias em 20 jogos no Estadual. E não foi só. Além das convocações esperadas, com dez tricolores, nove alvirrubros e sete rubro-negros, outras duas equipes pequenas do futebol local foram lembradas. O Ferroviário do Recife cedeu quatro, enquanto o extinto Asas Esporte Clube, ligado à Aeronáutica, cedeu o atacante Manoelzinho.

Na prática, era a Cacareco vestindo a camisa verde e amarela, mas a cobertura jornalística tratou a equipe desde o começo como “Brasil”. No Diario de Pernambuco, a convocação inicial foi noticiada como “Jogadores para o Sulamericano Extra”, com o seguinte primeiro parágrafo: “Ontem, o treinador Gentil Cardoso completou a relação dos jogadores convocados para os treinos da seleção pernambucana que irá representar o Brasil no Equador”. Ainda com os pré-convocados, o termo Seleção Brasileira foi usado em 25 de outubro.

E olhe que poderiam ter sido 35 nomes, pois o treinador acabou deixando Jovelino de fora. Vindo do Rio de Janeiro para reforçar a Canarinha, ele sequer entrara em campo no Recife. Qual seria o seu clube aqui? O Íbis! No torneio continental propriamente dito, rebatizado nos anos 70 de Copa América, o Brasil, sem representantes do Pássaro Preto, acabou numa honrosa 3ª colocação, após duas vitórias e duas derrotas para os favoritos Uruguai e Argentina.

Camisa do Íbis como souvenir do estado no Aeroporto dos Guararapes

Camisa do Íbis à venda no Aeroporto dos Guararapes. Foto: Carol F./twitter.com/lentesuja

O Íbis é conhecido como o Pior Time do Mundo desde 1984, com fama internacional pelo antifutebol, registro no Guinness Book e uma aura “cult”.

Por isso, não surpreende a venda do uniforme oficial do Pássaro Preto dentro da área de embarque do Aeroporto Internacional dos Guararapes, num espaço reservado para lembranças do estado, com camisas com a bandeira de Pernambuco estampada, sombrinhas de frevo etc.

Na saída do Recife, então, há a oferta de um artigo para colecionadores. E, acredite, o clube é mesmo conhecido.

No entanto, o preço do padrão de 2015 para os passageiros em trânsito no aeroporto recifense abusa um pouco. Na etiqueta, R$ 170.

Nas lojas da cidade e em sites especializados o valor é de R$ 130.

Uma disparidade de quarenta reais? Eis a diferença de um “souvenir”.