A volta dos públicos fantasmas no Campeonato Pernambucano

Pernambucano 2014, em 08/12/2013: América 2X2 Serra Talhada. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

Uma velha prática se mantém no Campeonato Pernambucano.

A centésima edição do Estadual, em 2014, começou de forma pouco usual ainda nesta temporada, mas apenas com os nove clubes intermediários.

Após duas rodadas, o público registrado é excelente. Em tese.

As oito partidas tiveram 48.057 pessoas, segundo o borderô oficial. A média ficou em 6.007 torcedores, superior inclusive à competição de 2013, cujo dado foi de 5.448 presentes, incluindo os clássicos e as finais.

Como ocorre há tempos, o número vem sendo turbinado pela campanha promocional do governo do estado, o Todos com a Nota.

Já foram trocados 45.500 ingressos subsidiados, o que corresponde a 94,6% de todos os torcedores. Analisando apenas a planilha de dados, trata-se de  algo louvável. No entanto, um rápido olhar também nos jogos, nos estádios, mostra que o dado parece bem longe da realidade, com o uso de forma contestável.

Bons públicos e estádios vazios? A conta não bate.

A explicação vem do sistema de repasse da verba da campanha. Os clubes (e a federação) só precisam informar à organização do TCN – e, consequentemente, à receita – o volume de ingressos trocado por notas fiscais, sem a necessidade de expor todos os torcedores como presentes nas partidas. Se vão 5 ou 5 mil, pouco importa. O repasse será apenas pela troca, de forma legal.

Na capital o sistema já é digital, necessitando de cartões magnéticos exclusivos para a solicitação dos ingressos. Curiosamente, nem todos os jogos de Náutico, Santa Cruz e Sport têm as cargas promocionais esgotadas. Já no interior, com o formato de troca presencial na véspera, na própria bilheteria do estádio, é comum a troca total. Estatisticamente, seria improvável que absolutamente que todas as entradas do TCN colocadas à disposição fossem contabilizadas nos públicos. A FPF explica que os times intermediários têm apoio de empresas locais, cujos funcionários exercem a ação.

Ou seja, um ato dentro de todas as brechas da lei, mas sem que o ingresso seja mesmo usufruído pelo público, na principal função social da campanha.

Pernambucano 2014, em 08/12/2013: Porto 1x1 Central. Imagem: TV Asa Branca/Globo/reprodução

Aqui, então, temos três exemplos de jogos do novo torneio com bons públicos no papel, mas visivelmente aquém dos números à disposição no site da FPF.

No único jogo na região metropolitana, América e Serra Talhada empataram no Ademir Cunha às moscas. Havia gente em apenas um lado da arquibancada, abaixo das cabines de rádio, e ainda assim em número reduzido.

Situação semelhante em Caruaru, também na rodada de abertura, onde houve o maior público, com cerca de oito mil pessoas no clássico entre Porto e Central. A torcida se concentrou em dois setores, nas arquibancadas da Rua Campos Sales e atrás de uma das barras, mas sem qualquer lotação, por mais que a arrecadação tenha apontado 40% ocupação no estádio de 19.478 lugares.

No Carneirão, no duelo entre Chã Grande – com o mando de campo, apesar da localização – e Vitória, as arquibancadas também ficaram bem vazias. Na última aferição de capacidade de público encomendada pela FPF, no início do ano, o estádio Severino Cândido Carneiro foi liberado para receber até 10.911 pessoas. Pelas imagens, o público teria ocupado 46% do espaço. Não, não ocupou. In loco, somente 168 pessoas assistiram ao jogo, conforme o anúncio do sistema de som do estádio, numa nova norma da FPF, mas sem qualquer registro posterior – borderô, site etc. Para não comprometer os dados oficiais, obviamente.

1ª rodada
08/12/13 – Porto 1 x 1 Central – 7.973 pessoas (7 mil do TCN). Fotos e borderô
08/12/13 – América 2 x 2 Serra – 5.123 pessoas (5 mil do TCN). Fotos e borderô
08/12/13 – Salgueiro 3 x 0 Ypiranga – 7.484 pessoas (7 mil do TCN)
08/12/13 – Chã G. 0 x 1 Vitória – 5.062 pessoas (5 mil do TCN). Fotos e borderô

2ª rodada
11/12/13 – Vitória 0 x 0 Salgueiro – 5.087 pessoas (5 mil do TCN)
11/12/13 – Ypiranga 0 x 2 Porto – 4.917 pessoas (4,5 mil do TCN)
11/12/13 – Serra Talhada 1 x 2 Pesqueira – 5.158 pessoas (5 mil do TCN)
11/12/13 – Central 3 x 1 Chã Grande – 7.253 pessoas (7 mil do TCN)

Surpreso com essas informações? Não deveria, pois o blog denunciou a mesma situação no futebol local em 4 de fevereiro deste ano, sendo inclusive a manchete do Diario de Pernambuco no dia seguinte. Relembre aqui.

Na época, o presidente Evandro Carvalho garantiu ter afastado um dos delegados responsáveis pelas partidas e disse que haveria uma maior fiscalização nos estádios, com pessoal e novas catracas (veja aqui).

O tempo passou e o modus operandi, ao que parece, continua em vigor.

Pernambucano 2014, em 08/12/2013: Chã Grande 0x1 Vitória. Imagens: Bruno Freitas/Youtube

11 Replies to “A volta dos públicos fantasmas no Campeonato Pernambucano”

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  3. O STJD está mal acustumado, fazem o que bem quer e nada acontece. Até quando esse barco vai andar sem freio e direção?

  4. O Santinha precisa se preparar melhor para o PE, provavelmente está mal acustumado com as facilidades dadas pelo Papai da Cidade para não ter o mesmo destino que teveram o Ibis, Santo Amaro, Ferroviario e tantos outros. O REI LEÃO será campeão invicto do PE 2014.

  5. Prezado Cassio:
    Há anos que venho combatendo esse procedimento. Na temporada de 2013, o governo interferiu e a movimentação colocada pela entidade do nosso futebol, reduziu-se pela metade.
    Colocar 48 mil pessoas nas rodadas realizadas é de uma irresponsabilidade total.
    Tenho pessoas colocadas em todos os jogos, para que possam acompanhar o público, e em muitos desses o número de torcedores presentes não passou de 200..
    Central x Porto com sete mil é um acinte. Não tinha mil pessoas no estádio.
    Esse é o nosso futebol, que vive de mentiras, e que infelizmente tem a cobertura da imprensa, que com raras exceções como o amigo falam a verdade.
    O Todos com a Nota está matando o futebol de Pernambuco, e os anestesiados dormem um sono profundo.
    Abraços

    José Joaquim PInto de Azevedo

  6. Essas cadelas de peruca não aprendem mesmo.

    Vai ser necessário ser tetra vice para tomar vergonha na cara ?

    Pau na muleira endoida.

  7. É UMA PENA UM ESTADIO COMO O ADEMIR CUNHA, NUMA CIDADE COMO PAULISTA DE MAIS DE 320 MIL HABITANTES ESTA ASSIM, TAO MAL CUIDADO. ESSE ESTADIO FOI INAUGURADO COM CAPACIDADE PARA 20 MIL ESPECTADORES E JA TEVE GRANDES PUBLICOS. #PENA

  8. Isso já vem sendo falando pelas rádios a tempos.

    Mas é aquela historia.. Se você compra o ingresso e não vai ao estádio, conta como se vc tivesse ido, não? Não precisa girar a catraca pra contabilizar.

    Eu sempre fui crítico desses todos com a nota. Mas os jornalistas “entendidos” e talvez especializados sempre disseram que o governo acertava, que era perfeito. Quando quem INFINITAMENTE MAIS beneficiado é o próprio governo com as notas, pra cobrar das instituições.

    Enquanto os clubes da capital recebem uma esmola, do interior uma verba mais ou menos mas que sempre seus presidentes roubam.

    Ou seja. um programa, como o governo atual sempre fez, que disfarça pra todos os âmbitos.

    Um ABSURDO.

  9. KKKKKKKKKKKKKKK

    7 mil pessoas no Salgueirão?!

    Normalmente o borderô diz que no Salgueiro tem 8.800 presentes num estádio que tem capacidade para 10.800.

    Dá pra você correr tranquilamente entre os torcedores. Por mais generosa que seja uma estimativa, você vai perceber que os estádio está com menos da metade da capacidade ocupada.

    Se levarmos em conta essa proporcionalidade, se o estádio lotasse feito lata de sardinha, teria que contarmos nada menos que 20 mil torcedores num estádio com 10.800 de capacidade.

  10. Parabéns Cássio, nao deixe essa peteca cair.

    É exatamente assim que nossos governantes fazem. Mudam quando as coisas complicam e depois as velhas praticas voltam.

  11. Com todos com a nota defunto é torcedor pagante! hahahahahaa!

    Com todos com a nota os sofredores do çanta cruii enchem o imundão…hahahahahahha!!!

    hahahhahahaa
    esse campeonato ser o “100 Graca” !!!!!!!

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