A Arena Pernambuco não estava mais paramentada com as cores do Mundial. Em vez de cartazes e banners alusivos ao torneio da Fifa, o velho cimento sem vida. Nas cadeiras, nada de lotação esgotada, mas sim os assentos vermelhos aparentes. Com a mistura do branco, uma aglomeração de seis mil alvirrubros.
A torcida presente sabia que o clima era diferente. Em vez de entretenimento, a velha paixão clubística, dolorosa, com muito mais altos e baixos que a Seleção. De uniforme novo – com elogios à Umbro -, o Náutico tinha o papel de apresentar duas coisas ao seu público no retorno da Série B…
Bom condicionamento físico e uma melhora na parte tática. No primeiro cenário, após 40 dias de preparação, o rendimento foi insatisfatório. No segundo, não faltou empenho. A equação disso, no limite, foi suficiente para voltar a vencer.
O 1 x 0 sobre o Sampaio manteve o time 100% na arena após três jogos. Sem espetáculo, sem cerveja, sem craques internacionais. Ao alvirrubro, bastou.
Rio de Janeiro – O jornalista Hélio Pinto foi um dos 173.850 espectadores no Maracanã em 16 de julho de 1950. Como tantos outros brasileiros naquela tarde, ficou em silêncio no fim da partida ao ver o seu scratch vencido pelos uruguaios. Um silêncio tomado pelos pensamentos de como contar a história que não queria, que não esperava. Não teve jeito, recorreu à máquina datilográfica e escreveu sobre a maior tragédia do futebol nacional até então.
Foram duas páginas com textos carregados, numa diagramação bem diferente dos tempos atuais. Com a manchete Campeões do mundo os uruguaios, a reportagem foi feita exclusivamente para o Diario de Pernambuco. Enviado especial do periódico, o repórter cobriu in loco à final da primeira Copa do Mundo no Brasil. O DP já havia publicado várias páginas para torneio, como a participação recifense no jogo Chile 5 x 2 Estados Unidos, na Ilha do Retiro.
A longa espera durou 64 anos até que o Mundial retornasse com outra final no Maracanã, em 13 de julho de 2014. Desta vez sem a Seleção, mas novamente com o Diario na tribuna, o que fez do jornal o único do estado nas duas decisões. Histórico. Lá, participei da cobertura ao lado de João de Andrade Neto, resultando no texto O título em boas mãos, além de outras matérias e conteúdo online, com imagens de Ricardo Fernandes, fotógrafo da equipe.
Num cenário modernizado, o Maraca recebeu 74.738 pessoas. Viram outro gol agônico, agora da Alemanha sobre da Argentina. Foi o derradeiro episódio da ampla cobertura do Superesportes na Copa. A linha diferenciada foi marcada pela distribuição de sedes, com jornalistas enviando matérias exclusivas de cinco cidades. Fortaleza (Celso Ishigami), Salvador (Brenno Costa), São Paulo (João de Andrade Neto) e Rio (eu). No Recife, Alexandre Barbosa e Daniel Leal cuidaram do trabalho na Arena. Todos credenciados pela Fifa.
Foram 28 jogos do Mundial com o Diario presente. Uma experiência para a ficar na memória de todos. E foi um enorme prazer escrever tanto de tão perto…
Rio de Janeiro – Nunca antes na história desse país um time de futebol curtiu tanto um campeonato, da fase preparatória ao troféu erguido diante dos olhares de todo o mundo. Historicamente vista com a seriedade de seu povo, essa brilhante Alemanha tetracampeã mudou completamente esse conceito, esbanjando carisma numa campanha quase perfeita. Goleada na estreia sobre o time do melhor do mundo, Cristiano Ronaldo, uma apresentação antológica no Mineirão, com o 7 x 1 sobre o Brasil em plena semifinal, e a vitória da técnica sobre a Argentina na finalíssima no Maracanã, num jogo de muita paciência, estendendo a emoção da Copa das Copas até a prorrogação.
Tudo isso intercalado pelas praias no sul da Bahia, pelas visitas em escolas públicas, brincadeiras na web e se arriscando no português com declarações de amor ao Brasil. Mesmo algoz da Seleção, não despertou tal sentimento na imensa torcida verde e amarela. O apoio brazuca na decisão deixou claro isso – tudo bem, ajudado pela rivalidade com os hermanos do outro lado.
A decisão terminou com apenas um gol, o 171º do Mundial, igualando um recorde de 1998. Saiu dos pés de Mario Götze. E saiu com muita força, dominando e batendo rápido frente a Romero. Golaço, definindo a terceira final da história entre os dois países. A tarde já havia virado noite e o tempo parecia se estender mesmo aos pênaltis. Eram sete minutos do segundo tempo da prorrogação, num jogo tenso, brigado do começo ao fim. A Argentina fez tudo o que Brasil quis ser em BH. Forte no meio e consciente de seu potencial, de suas armas. Mas numa Copa reconhecida pela tática, ficou mesmo pelo caminho.
A partida ficará na cabeça de alguns jogadores para sempre. Tentarão esquecer Higuaín e Palacio, que ficaram cara a cara com o goleiro Neuer. Chutaram para fora, totalmente desmarcados. Para desespero de Messi, marcado de forma implacável e que esteve muito perto da consagração como gênio. Saiu com a Bola de Ouro. A Taça Fifa, viu só de longe. Ficou para uma próxima.
Enquanto isso, lembrarão sempre do triunfo no gigante estádio carioca Schweinsteiger, ícone de uma geração que vinha batendo na trave há tempos, e Klose, o maior artilheiro da história da Copa, com 16 gols. Foi o jogador mais aplaudido no Maraca durante toda competição, ao deixar o campo no finzinho do tempo normal. Entrou Götze. Esse aí, nem precisa falar. Tem apenas 22 anos e contará para muita gente, com orgulho, o que fez no já saudoso 13 de julho.
Primeira seleção europeia a conquistar o mundo na América do Sul, a Alemanha de certa forma repete o que fez a Canarinha em 1958, na Suécia, sendo o primeiro sul-americano campeão no Velho Mundo. A verdade é que o timaço germânico deixará o Brasil com a sensação de ter feito uma viagem inesquecível. Vieram, curtiram, jogaram muito e venceram. Fizeram história.
A ideia de confeccionar uma bola especial para a grande final surgiu na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, quando a Adidas criou a dourada Teamgeist Berlin.
Ao agregar ainda mais valor à final entre a Azzurra e os Bleus, a ideia foi oficializada pela Fifa e pela fabricante de material esportivo nos torneios seguintes.
Na África do Sul, a Jabulani foi utilizada em 63 partidas, saindo de cena só na decisão entre espanhóis e holandeses, com a Jo’Bulani.
No Brasil, a Brazuca agora será a Brazuca Final Rio. Em todos os casos, a mudança é fundamenta na cor, sempre no tom dourado.
A pelota do 64º jogo do Mundial de 2014 já está com os nomes dos países finalistas gravados, Alemanha e Argentina.
Claro, a bola também entrou no mercado, à venda por R$ 399.
Veja as versões das bolas das últimas edições numa resolução maior aqui.
A acachapante derrota brasileira na final da Copa do Mundo de 1998, com Zinedine Zidane comandando a França no 3 x 0, deflagrou uma crise administrativa na CBF, chegando a uma investigação através de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI). Duas, na verdade, com uma no Senado e outra na Câmara. A investigação foi até junho de 2001.
A diligência focou o milionário contrato entre a CBF e a Nike, assinado em 1996 e que renderia US$ 160 milhões durante uma década. Contudo, os interrogatórios se estenderam aos integrantes do Mundial. Foram chamados Zagallo, Edmundo e Ronaldo, com a suspeita de que a fabricante, patrocinadora do Fenômeno, tivesse pressionado na escalação no Stade de France.
Quatro edições depois, a Seleção voltou a sofrer um golpe duríssimo em campo. A humilhante derrota na semifinal, em casa, deixará marcas na história da paixão nacional. O 7 x 1 aplicado pela Alemanha pode ser o recomeço organizacional da Confederação Brasileira de Futebol.
Talvez não chegue a tanto, com uma nova CPI – uma ameaça constante à entidade. Mas, sobretudo, que os deputados não façam perguntas pertinentes como essas abaixo, em 10 de janeiro de 2001…
O sr. deputado Eduardo Campos – O Zagallo tinha… No esquema tático da Seleção, você tinha um papel… É fato, foi noticiado à época em alguns jornais, você tinha um papel na marcação do Zidane ou… ou isso é conversa do…
O sr. Ronaldo Luís Nazário de Lima – Quem tinha? Eu tinha um papel?
O sr. deputado Eduardo Campos – Sim, na… no esquema tático, na marcação do Zidane?
O sr. Ronaldo Luís Nazário de Lima – Isso vai ajudar muito na… na… na CPI?
O sr. deputado Eduardo Campos – Vai. Eu acho que vai. Senão, não teria perguntado.
O sr. Ronaldo Luís Nazário de Lima – Tudo bem. Eu não me recordo da marcação no Zidane, quem tinha que marcar.
O sr. deputado Eduardo Campos – Não recorda.
O sr. Ronaldo Luís Nazário de Lima – Tu diz na hora do gol do… do…
O sr. deputado Eduardo Campos – Não. Na hora do gol, não.
O sr. Ronaldo Luís Nazário de Lima – … ou durante o jogo?
O sr. deputado Eduardo Campos – Durante o jogo.
O sr. Ronaldo Luís Nazário de Lima– Ah, eu não me recordo quem deveria marcar o Dunga… o… o Zidane. Acho que quem deveria não marcou muito bem, também, não é?
O sr. deputado Eduardo Campos – Porque foram dois, né? (Risos.)
O sr. Ronaldo Luís Nazário de Lima – Pois é.
O sr. presidente (deputado Nelo Rodolfo) – Satisfeito, Deputado?
O sr. deputado Eduardo Campos – Satisfeito.
Pois é, acredite. Antes dos dois mandatos de governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) cumpriu três mandatos na câmara dos deputados, de 1995 a 2007, e foi um dos componentes da CPI CBF/Nike.
Sobre o relatório final, que acabou reprovado – sem surpresa alguma, como fica claro -, confira a íntegra do documento de 220 páginas aqui.
A blitz germânica sobre a Seleção Brasileira com 7 a 1 em pleno Mineirão foi o maior placar em uma semifinal de Copa do Mundo em todos os tempos. Até hoje, o recorde era da pioneira edição em 1930, com Argentina e Uruguai massacrando Estados Unidos e Iugoslávia por 6 a 1, respectivamente. No entanto, essa goleada sofrida pelo time verde e amarelo em 2014, em casa, foi bem além. A derrota foi a pior da centenária história do futebol da Canarinha.
A marca anterior, de 6 a 0, durava 94 anos. Em 1920, o Brasil, basicamente uma convocação carioca com o reforço do atacante Alvarizza, do Brasil de Pelotas, havia vencido o anfitrião Chile na estreia do Sul-Americano. No dia do confronto contra o Uruguai em Viña del Mar, no litoral chileno, o time – que ainda vestia um uniforme branco – entrou como líder, pois o clássico platense havia terminado empatado. Ledo engano. O Uruguai, ainda sem os títulos olímpicos, passou por cima. Goleou com três gols em cada tempo. No primeiro tempo, uma semelhança com o desastre em Belo Horizonte.
Nesta terça-feira, o time de Felipão sofreu quatro gols da Alemanha dos 23 aos 29 minutos. Há quase século, foram três gols uruguaios dos 23 aos 29. No fim daquela competição continental, o Uruguai terminou com o título, enquanto o Brasil foi o 3º lugar. Catorze anos depois, outra grande derrota da Seleção, em Belgrado, quando a antiga Iugoslávia venceu por 8 a 4, na maior quantidade de gols já sofrida pelo país em uma só partida – recorde que Mesut Özil chutou para fora a chance de igualar aos 44 minutos do segundo tempo.
Aquele amistoso ocorreu seis dias depois da eliminação brasileira no Mundial de 1934, na Itália. Na volta da delegação ao país, de navio, a equipe chegou a ser derrotada pelo Santa Cruz por 3 a 2 no antigo Campo da Avenida Malaquias, no Recife. Não há qualquer registo audiovisual dessas antigadas goleadas, ao contrário do Mineirazo na semifinal da Copa de 2014, exibida em alta definição para 200 países. Será simplesmente impossível esquecer.
Maior goleada da história da Seleção (em casa e em um Mundial)
08/07/2014 Brasil 1 x 7 Alemanha
Maior goleada sofrida em um Sul-Americano
18/09/1920 Uruguai 6 x 0 Brasil
Maior quantidade de gols sofrida
03/06/1934 Iugoslávia 8 x 4 Brasil (amistoso)
Os sites no formato “tumblr” costumam ter postagem curtíssimas, monotemáticas. Alguns duram pouco tempo – até 24 horas, após o sucesso instantâneo na web. Não pare ser o caso da versão criada por Júlio César Cardoso, com o Ensina, Romário!.
A premissa é bem simples. Basta pegar algum chute perdido por qualquer atacante e mostrar um lance parecidíssimo com o craque brasileiro mandando para as redes. O primeiro vídeo foi publicado em 2013, com uma finalização de Alecsandro na final da Libertadores do mesmo ano e um gol de Romário no início de sua carreira no Vasco, em 1985.
Agora, o tumblr ganhou popularidade ao comparar os lances da Copa do Mundo de 2014, sempre com o ensinamento do campeão mundial de 1994. Já foram mais de cem vídeos. Abaixo, o primeiro e os cinco mais recentes, da Copa.
1º) Romário: ensina o Alecsandro! Mané biquinho de direita por cima, porra! Enfia a canhota! (29/12/2013)
114º) Após confusão na área, a bola sobra para Mostefa, que bate pra fora! Ensina, Romário! (30/06/2014)
115º) Lançado com liberdade, Drmic tenta encobrir o goleiro e….falha de forma ridícula! Ensina, Romário! (01/07/2014)
116º) Foram tantos os gols perdidos em Bélgica x Estados Unidos, que foi preciso fazer uma edição especial (01/07/2014)
117º) Higuaín faz ótima jogada, mas exagera na força e finaliza por cima do gol! Ensina, Romário! (05/07/2014)
118º) Messi é lançado com liberdade, sai na cara do goleiro e… perde! Ensina, Romário! (05/07/2014)
Da atuação desastrosa nas quartas de final da Copa de 2010 à superação na disputa de pênaltis nas oitavas de 2014, Júlio César viu a sua carreira ir do auge, apontado como o melhor goleiro do mundo, ao obscuro futebol canadense…
Uma das patrocinadoras do camisa 12 da Seleção produziu um vídeo contando como foi a volta por cima, com a ajuda de um técnico especial…
Será que o vídeo seria uma produção após a campanha brasileira de 2014? Acabou sendo lançado em 30 de junho, antes da decisão.
O trabalho foi intenso, desde já inesquecível. Durante 15 dias, a dedicação foi integral ao Diario de Pernambuco, direto do Rio de Janeiro, como um dos quatro correspondentes do jornal no Mundial – os outros foram João Andrade em São Paulo, Brenno Costa em Salvador e Celso Ishigami em Fortaleza.
Foram 114 textos publicados no Superesportes, dia e noite. Faltou tempo para atualizar o blog. O corpo, a mente e o foco profissional, tudo encaminhado para as edições do DP. Aqui, então, algumas das matérias à parte da cobertura regular de treinos, coletivas e jogos. Até porque a Copa do Mundo é muito mais do que isso, com inúmeras histórias passando na sua frente… de torcedores, de um ambiente transformado, de uma experiência que jamais será esquecida.
Abaixo, resumos de 14 histórias. No hiperlink, os textos completos.
As palavras iam sendo escritas com lágrimas no teclado, em uma cena real, humana. Foi preciso enxugá-las, pois seria uma atitude mais fácil do que conter a emoção. O jornalista costa-riquenho Leonel Sandí, de 24 anos, cobria a sua primeira Copa do Mundo com a missão de escrever sobre o maior momento futebolístico de seu país. Diante de seus olhos, viu uma aguerrida e carismática seleção superar a Grécia nos pênaltis, na Arena Pernambuco, se classificando pela primeira vez às quartas de final do Mundial. A sua emoção contagiou a todos na tribuna de imprensa. E a imagem acabou vista por 1,2 milhão de pessoas.
Longe dos atuais padrões de design, o carrinho está cansado. Já rodou dezenas de milhares de quilômetros em todos os tipos de estrada no continente e já teve inúmeros proprietários. Os atuais não fazem nem ideia da quilometragem total, mas garantem: dá pra confiar no motor. Todo paramentado para o Mundial do Brasil, o Renault 4, fabricado em 1983, chegou ao Rio numa viagem desde Chiquinquirá, no norte colombiano. A bordo, os amigos Daniel Rincón, 29 anos, Jeni Avendaño e Roger Zambiano, ambos de 24. Durante o caminho, colecionaram histórias, com a ajuda de desconhecidos, tudo pela Copa.
A atenção no Maracanã começou dividida no primeiro dia das oitavas de final. Em campo, o jogo seria Uruguai x Colômbia. Até a bola rolar no gramado, olhos para o alto, em direção a um dos quatro telões do estádio. Imagens em alta de definição em 98 metros quadrados, tendo como programação o jogo Brasil x Chile. Eram poucos torcedores no estádio carioca, mas já vibrando com a abertura do mata-ma. Pela primeira vez nesta Copa, a Fifa havia liberado a transmissão de outro jogo no estádio. E a torcida foi no embalo – o objetivo era evitar que o público demorasse a entrar no Maracanã porque estava assistindo ao jogo do Mineirão. Todo o sofrimento em Belo Horizonte acabou sentido “in loco” no Maraca, com direito à secação dos uruguaios.
Há cinco décadas o comportamento pouco usual no futebol é o mesmo. O jogo é resumido na ida ao estádio, ficando sempre próximo ao portão, mas do lado de fora. Não há motivo algum para sofrer nas arquibancadas assistindo à partida, pois é muito mais prazeroso curtir só o “pré-jogo”, colecionando os ingressos (“relíquias”) de tais apresentações. Essa é a vida de Nino Ledesma, um uruguaio de 58 anos, residente na “República Oriental do Uruguai”, como faz questão de dizer, citando o nome completo de seu país. A sua fantasia é uma grande colagem de ingressos de jogos de futebol, que não para de crescer.
O Ramadã é o período de reflexão espiritual dos muçulmanos, no qual praticam o seu jejum ritual. O nono mês do calendário islâmico, no qual acredita-se que Maomé recebeu os primeiros versos do Alcorão, começará em 28 de junho, seguindo por 30 dias. Ou seja, seria iniciado paralelamente às oitavas de final da Copa do Mundo de 2014. A relação é direta e precisou ser estudada pela Fifa, com possíveis reflexos na competição. Foram feitos estudos e consultas a seleções com muitos muçulmanos, com Argélia e Costa do Marfim. O tema é polêmico há tempos.
Tradicionalmente, um sósia de Pelé ganha uns trocados na frente do Maracanã em dia de jogo. Sumido nos últimos dias, viu a concorrência crescer. Não bastasse o eterno concorrente ao posto de melhor do mundo no futebol, Maradona, há também um Valderrama na parada, no embalo da seleção colombiana, já classificada às oitavas da Copa. Dividindo o espaço na frente da entrada principal do estádio, onde fica a estátua de Bellini, os dois sósias (pra lá de genéricos) cobram pequenas quantias por uma foto. Tamanha a quantidade de torcedores estrangeiros no entorno do Maraca desde que começou o torneio, a clientela tem sido até razoável.
“Levanta a torcida que ele está chegando. Lá vem o maior do mundo, o Maraca. É queridão, é queridaço. Prepara para sair pela meia esquerda. Levanta na área, vai chegando, vai chegando, olha lá, olha lá. Levantou, chegoooou… Maracanã. É ele, o mais querido, o palco da finalíssima. Next stop, Maracanã.” Eis a narração na voz de Luiz Penido, locutor da Rádio Globo, especialmente gravada para anunciar a parada na estação de metrô mais próxima ao maior estádio da Copa do Mundo de 2014. E assim, o sistema metroviário do Rio se preparou especialmente para a grande demanda de torcedores no principal acesso ao estádio.
Um simpático casal de meia idade caminhava na calçada da Avenida Pausa Sousa apressando o passo. A chuva onipresente no Rio não estava prevista para os dois. Nas sacolas plásticas, água mineral e alguns biscoitos. Queriam passar o dia na região, próxima ao Maracanã. A chuva atrapalhou, mas complicado mesmo estava conseguir uma informação. Oleg e Olga Fedorenko são russos. Vieram, claro, por causa da Copa do Mundo, mas sem o conhecimento de um segundo idioma. A estrutura do Mundial de 2014 é feita a partir de três idiomas: português, espanhol e inglês. Não era o caso para os dois turistas, os primeiros de uma leva. Na base dos gestos, o prenúncio de uma dificuldade que muitos brasileiros deverão ter em 2018, na Copa da Rússia.
O seu perfil no twitter tem quase um milhão de seguidores. Eram 983.902 até a publicação da reportagem. Um número exato para perfilar alguém que só vive através dos dados esportivos. Alexis Martín-Tamayo, jornalista espanhol de 40 anos, começou a ficar famoso na rede social há quatro anos, através do @2010MisterChip. Durante a campanha da Espanha no Mundial da África do Sul, ele usou o microblog para derramar estatísticas sobre o torneio. Dos mais variados tipos. Algumas situações eram extremas, como “há quanto tempo não se marcava um gol de perna esquerda dentro da área faltando 15 minutos”. A descrição do twitter é clara, com “os segredos e a magia do futebol revelados”.
Catherine Hidalgo e Diego Alonso se conheceram há dez anos em Valparaíso, na beira do Oceano Pacífico. Ela, chilena, torcedora do Wanderers e moradora da cidade litorânea. Ele, espanhol, estudando na região e fanático pelo Celta. Clubes sem tanta tradição em seus países, mas longe de mudar a paixão dos dois pelo futebol. Uma década depois, casados, vão à sua primeira Copa do Mundo, no Brasil. Após o sorteio, tentaram (e conseguiram) ingressos para o jogo entre as seleções de cada um, Chile e Espanha. Já planejam um filho, certamente com histórias para contar aqui do Brasil.
A quantidade de torcedores estrangeiros no Maracanã nos jogos da Copa do Mundo de 2014 passa de 30 mil, numa projeção por baixo. Aproveitando este nicho, o curso de turismo da Universidade Federal Fluminense criou uma pesquisa para traçar o perfil desses torcedores (e turistas). Trajados com um colete azul com as palavras “survey” e “encuesta”, ou pesquisa em inglês e espanhol, os alunos do 7º período vão fazendo 30 perguntas aos torcedores. A principal queixa, segundo os dados preliminares, é o preço de produtos e serviços cobrados nos bares, restaurantes e hotéis.
“Vem com a gente, Thiago. Assiste lá. Vai perder uma dessa?” Os amigos nem precisaram insistir muito. O fato de ter futebol e multidão na jogada já era suficiente para convencer o rapaz de 21 anos, que diz gostar de fazer loucura por futebol. Apesar da autodescrição, a estreia no Mundial tinha sido em casa, na companhia da famíla, sem aperreio. Na segunda partida da Seleção, encarou a areia e o sol forte de Copacabana para torcer pelo time. No aperto. Entre os mais de 25 mil torcedores presentes na Fan Fest, numa gama de culturas e línguas tão distintas, ao menos um não fixou o olhar para o enorme telão de LED no palco principal. Não precisava. O comportamento da massa e a intensidade da narração bastavam para a tarde valer a pena. Thiago Campos não enxerga há dez anos. E que nem por isso deixou de frequentar o Maraca.
A orla de Copacabana é um dos cartões postais mais conhecidos do mundo. A presença de turistas estrangeiros nem de longe é novidade. O mar de uniformes de seleções, sim, mudou a cara do lugar. Mas era até esperado, ainda mais com a enorme Fan Fest armada na praia. O que não se imaginava, e agora vem tirando sono das autoridades, é a quantidade sem fim de veículos acampados (literalmente) na Avenida Atlântica. Placas de Buenos Aires, Córdoba, Mendoza, Rosário, entre outras. Vans, trailers, carros. Todos percorrendo 2,5 mil quilômetros. Esse comboio involuntário de argentinos, que trouxe mais de 40 mil torcedores ao Rio, ainda não se dissipou. Cozinhando macarrão em pleno calçadão, argentinos que sequer viram o gol de Messi no Maraca.
A Football Association (FA), a federação inglesa de futebol, é uma das mais ricas do mundo. Para dar plenas condições de trabalho às suas seleções, os britânicos não costumam economizar. Os valores não foram revelados (em “libras esterlinas”), mas é difícil achar que saiu barato o quartel-general montado no bairro da Urca. Assim como Alemanha (sul da Bahia) e Holanda (estádio da Gávea), a Inglaterra criou seu próprio bunker no país. Utilizando a Escola de Educação Física do Exército, liberado especialmente para o Mundial, o English Team se sentiu em casa – apesar do clima quente. Montado em tempo recorde, o CT foi totalmente adaptado para receber a seleção inglesa.