Fanático por tênis (acompanha, finge que joga e escreve sobre o assunto), o repórter Lucas Fitipaldi aparece novamente para colaborar com o blog, com uma análise interessante sobre um fato histórico nesta semana.
O brilho do alagoano Tiago Fernandes, 1º brasileiro a sagrar-se campeão de um Grand Slam juvenil, parece ter refletido sobre o tênis brasileiro nesta terça. Refletido e inspirado alguns de nossos principais tenistas. Na bela capital chilena, Santiago, e no palco principal da próxima Copa do Mundo, a capital sul-africana, Johanesburgo.
Particularmente, não lembro a última vez em que no mesmo dia quatro brasileiros tenham vencido jogos em torneios de nível ATP. Talvez nunca tenha visto. Como se embalados pela conquista do nosso novo xodó, na Austrália, Thomaz Bellucci, João Feijão, Ricardo Mello e Thiago Alves ganharam nas suas respectivas estréias. Os três primeiros no Chile e o último na África.
Pode-se dizer que a única vitória esperada foi a de Bellucci. Mesmo diante de um perigoso adversário, o experiente equatoriano Nicolas Lapenti, 69º, dava pra apostar no nosso número 1, atual 35º do ranking mundial.
Bellucci já tinha levado a melhor sobre o adversário no último confronto entre ambos, no final do ano passado, no aberto de São Paulo. Pouco antes, porém, havia perdido em duelo válido pela Davis, dentro de casa. Depois de um primeiro set apático nesta segunda, 6/3 contra, o paulista atropelou com um duplo 6/1 na sequência.
Em Johanesburgo, Thiago Alves reencontrou-se com a vitória mais de seis meses depois de ter furado a primeira rodada em Wimbledon. Número 138 no ranking, ele passou pelo ucraniano Oleksandr Dolgopolov, 115º, por 5/7, 6/2 e 6/3.
Mas a maior surpresa do dia ficou mesmo a cargo de Feijão. A primeira rodada em Santiago contra o alemão Simon Greul, 63º do mundo, marcou a estreia do paulista, 208º, em torneios de nível ATP. Vindo do quali, ele superou uma batalha dramática para alcançar o maior feito da carreira. Ao final do primeiro set, o jogo parecia seguir um roteiro previsível. Um fácil 6/3 e o alemão rumava firme à segunda rodada.
Surpreso, me deparei com a virada do brasileiro. Com 6/4 a favor no segundo set e a vantagem de 4/2 no terceiro, ficou difícil não imaginar mais um triunfo do Brasil. Seria sofrido, porém. Em certo momento, parecia que não ia dar. No tiebreak, prevaleceu o tom verde e amarelo: 7/6 (7/5) foi o placar da terceira e decisiva parcial. Duas horas e 24 minutos depois, Feijão era recompensado.
Para encerrar o dia, no apagar das luzes, coube a Ricardo Melo fechar com chave de ouro. Atual 138º do mundo, ele não tomou conhecimento do uruguaio Pablo Cuevas, 47 º. Dois sets a zero, com parciais de 7/6 (7/5) e 6/3. Boquiaberto, tive a certeza de que o dia 2 de fevereiro de 2010 ficará marcado. Senão na história, pelo menos no campo estatístico.
Dificilmente veremos tal fato se repetir tão cedo. Sem dúvida, o dia de hoje merece registro. E talvez o blog seja mesmo o local mais adequado para homenagear algo que certamente passará batido.
Fotos: TênisBrasil