Conhecimento às avessas

Geraldo Cal, proteiro do Museu do estádio Centenário, em Montevidéu. Ao seu lado, a bola da final da Copa do Mundo de 1930. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Montevidéu – Um pequeno “causo” em solo uruguaio.

Durante a visita ao Museo del Fútbol, embaixo da arquibancada Tribuna Olimpica, a maior do estádio Centenário, fui surpreendido pelo conhecimendo do porteiro do local.

Geraldo Cal, 53 anos.

O uruguaio trabalha há dois anos no museu. O passeio ao museu inclui a visita ao estádio e um minicinema com o gol de Loco Abreu nas quartas de final no Mundial de 2010. Nessa passagem, pedi para que Cal tirasse uma foto minha. Ele me reconheceu como brasileño, e seguiu o diálogo em portunhol abaixo.

“San Pablo o Río?”

“Recife…”

(aí, ciente da capital pernambucana, ele fez algumas perguntas e as respondeu)

“Recife. Sport? Segunda división. Náutico? También en la segunda. Batalha dos Aflitos!”

(nota: ele não citou o Santa Cruz)

“Batalha dos Aflitos…?”

“Si. Con siete jugadores, el Grêmio ganó el partido.”

Neste momento, eu já estava impressionado. Ele também lembrou que o Sport jogou a Libertadores de 2009 como campeão nacional.

Foi quando se aproximou o único brasileiro que encontrei durante a visita ao Centenário. Torcedor do Atlético-PR.

“Com licença, mas que Batalha dos Aflitos é essa que esse senhor estava falando?”

“Cara, você está falando sério…?”

O paranaense disse que estava sim. Mas fiquei na dúvida se ele era mesmo brasileiro, assim como se Cal era realmente uruguaio.

Envelhecida pela rivalidade

Estádio Centenário, em Montevidéu, no Uruguai. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Montevidéu – A 300 quilômetros de Buenos Aires, separada apenas pelo Río de la Plata, está a capital da República Oriental do Uruguai. Com 1,8 milhão de habitantes na metrópole, Montevidéu tem um tom mais envelhecido que a “rival” argentina, acompanhando a economia do país, que não anda bem das pernas, apesar do IDH aceitável da população.

O futebol do país da Celeste, semifinalista da Copa do Mundo de 2010, seguiu o ritmo de queda, com um campeonato nacional decadente, formado por times com folhas menores que as da Série C do Brasil. O Uruguai é polarizado entre os clubes Peñarol e Nacional, ambos tricampeões mundiais e de muita tradição.

Estive na cidade nesta quarta-feira e deu para perceber de perto a rivalidade local (flâmulas, bandeiras etc, mesmo sem jogos agendados). Esta parece ser a única coisa que sustenta o futebol do país – em relação à estrutura de clubes, e não à seleção.

Casa pintada com as cores do Nacional, em Montevidéu. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de PernambucoO Peñarol, ou Manya, leva vantagem em outros aspectos sobre o Nacional, o Bolso, tanto em Libertadores (5 x 3) quanto nacionais (48 x 42) e vitórias (180 x 162, em 501 jogos).

Nas ruas, a rivalidade é aquecida pelas casas pintadas. Muitas delas são utilizadas como sedes das peñas, torcidas realmente organizadas dos clubes uruguaios. As pixações também têm espaços nos lugares mais nobres.

Apesar do acanhado estádio Parque Central, do Nacional, é mesmo no mítico Centenário onde as duas hinchadas se encontram. Lá, as pixações (nada muito diferente do Brasil, é verdade) também dominam os espaços reservados para os gigantes locais, atrás das duas barras. Os setores têm nomes oficiais, inclusive. Sempre com uma referência ao distante passado de glórias da seleção nacional.

Torcida do Peñarol pixa entrada nobre do estádio Centenário para "demarcar a área". Foto: Cassio Zirpoli/Diario de PernambucoA torcida do Albo (Nacional) fica reunida na Colombes, ao lado direito (na foto). Já os hinchas do Carbonero (Peñarol) ficam no setor Amsterdã, à esquerda. As duas arquibancadas são homenagens aos títulos olímpicos de 1928 e 1924, respectivamente.

Inaugurado em 1930, o oitentão Centenário passou por uma levíssima modernização com a colocação de assentos no estádio. Quase todos sem encosto – a torcida “gosta” mesmo é de ver em pé, de toda forma.

Na visita ao estádio, que custou 80 pesos uruguaios (R$ 7,40), o que valeu mesmo foi a história de um dos gigantes de concreto do futebol do planeta.

Se no ano de sua inauguração o local recebeu 90 mil pessoas na decisão da Copa do Mundo vencida pela Celeste, agora a capacidade é de 60 mil pessoas. Custou 1 milhão de dólares na época. Hoje em dia, a cifra para virar um palco de primeiro nível é muito maior. E esse dinheiro está longe do futebol do Uruguai atualmente.

Veja a lista completa de campeões uruguaios AQUI.

Confira mais números da rivalidade entre Nacional e Peñarol AQUI.

Nacional e Peñarol tomam conta das ruas de Montevidéu. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Onde só o futebol tem vez

Bar Locos por Fútbol, em Buenos Aires, na Argentina. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Um bar temático sobre futebol, com jogos de todas as divisões, países etc. Basta passar em algum canal de televisão. Assim é o Locos por el Fútbol, no requintado bairro da Recoleta, na capital argentina.

Apesar do visual do local, a cotação da moeda brasileira faz com que os preços sejam bem acessíveis por aqui. No câmbio, 1,00 real = 2,27 pesos.

Todas as mesas do famoso bar portenho são direcionadas para pelo menos uma televisão. Por sinal, existem mais aparelhos de LCD do que mesas… Embaixo são 15 TVs e 11 mesas. Em cima, outras 12 televisões e um telão. Na decoração fixa do bar, que se ajusta para partidas especiais (da seleção dos hermanos, por exemplo), estão sempre duas camisas do Boca Juniors.

Estive lá nesta terça-feira e a explicação foi simples: o Boca tem a maior torcida do país e a que mais frequenta o bar. O estádio La Bombonera, do Boca, está a 6 quilômetros do bar, enquanto o Monumental de Nuñez, do River, está a 7.

Uma tarde sem rodada para o blog, certo? Que nada! Transmissão ao vivo do “jogaço”  França 2 x 0 Luxemburgo, pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2012. Além de alguns DVDs da Fifa com jogos históricos da Copa do Mundo. Sem futebol, no!

Jogos do Brasileirão também têm vez? Por supuesto.

E a Série B…? Loco, mas com um mínimo de bom senso.

Veja o site oficial do bar Locos por el Fútbol clicando AQUI.

Dia da Raça. E das defesas

Campeonato Argentino de 2010: River Plate 0 x 0 Gimnasia y Esgrima, com 50 mil pessoas no estádio Monumental de Nuñez. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Feriado nacional na Argentina nesta segunda-feira. O Día de la Raza, ou simplesmente o Dia da Raça, em homenagem ao descobrimento da América, em 12 de outubro de 1492, quando o navegador Cristóvão Colombo avistou a primeira gama de terra no Novo Mundo. Na capital argentina, o feriado é antecipado todos os anos para o fim de semana mais próximo à data, criando um “feriadão oficial”.

Com o clima finalmente deixando o frio intenso do inverno, os hermanos foram em peso aos parques tomar um sol, ainda que o tempo não tenha passado dos 22 graus.

Uma fatia da população preferiu outro caminho, no norte da metrópole. Carros, metrô, ônibus. Uma multidão de 50 mil torcedores. Todos em direção ao estádio Monumental de Nuñez, inclusive o blogueiro, que pagou 70 pesos (R$ 29) por uma entrada no setor Centenario Medio y Bajo. O feriado de toda essa galera seria apoiando o time Millonario.

Os torcedores (hinchas) locais são conhecidos pelo apoio incondicional. Desta vez, eles teriam que alentar (apoiar) por algo incomum a o clube, autointitulado de forma nada modesta como El Más Grande – de fato, é o maior campeão nacional do país, com 33 títulos, contra 23 do Boca Juniors, mas em termos internacionais, o River, campeão mundial em 1986, deve ao arquirrival.

O motivo para tamanho suporte é a séria ameaça de rebaixamento do clube, que jamais jogou a segunda divisão do país. No complicado sistema de acesso e descenso da Argentina, a pontuação que define os rebaixados  após uma temporada é a média dos últimos três anos, o chamado Promedio (entenda AQUI). Detalhe: em cada temporada são realizados dois nacionais (Apertura e Clausura), totalizando seis torneios.

O jogo seria justamente contra o principal adversário na luta para escapar do rebaixamento, o Gimnasia y Esgrima de La Plata. Até a tarde desta segunda, River e Gimnasia haviam disputado 85 jogos nos últimos três anos. O River somava 99 pontos contra 97. Na média: 1.164 x 1.141. Ambos estão no limite (veja AQUI).

A torcida da casa não queria nada de tiki tiki, como eles chamam o “jogo bonito”, de toque de bola. Uma vitória por 1 x 0 seria suficiente. Talvez por isso o confronto tenha sido tão nervoso, com muita raça, duas bolas na trave do River no primeiro tempo, duas chances inacreditáveis perdidas pelo Gimnasia e uma outra do principal atacante do time da casa, Pavone. O camisa 10 e capitão do River foi o rodado Ariel Ortega, ídolo máximo da barrabrava do clube, a Los Borrachos del Tablón (os bêbados da tábua).

Ortega ciscou, catimbou como sempre, mas não deu em nada. Em número de chances, 10 x 4 para o River. No placar, um 0 x 0 com vaias do público já impaciente. O jogo que encerrou a 10ª rodada do Apertura-2010 (liderado pelo Estudiantes, rival do Gimnasia) manteve o tradicional River Plate numa situação de risco. O resultado só fez deixar ainda melhor o feriado da hinchada do Boca Juniors…

Proibido, pero no mucho

Campeonato Argentino de 2010: River Plate 0 x 0 Gimnasia y Esgrima. Placar eletrônico do estádio Monumental tinha cronômetro, proíbido pela Fifa. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – A Fifa poíbe a utilização de cronômetro no placar eletrônico há muito tempo. A decisão foi tomada para evitar qualquer tipo de pressão no árbitro.

Tanto por parte dos jogadores quanto da própria torcida local.

A regra vale para qualquer competição, em qualquer divisão, em qualquer país.

No entanto, sempre aparece alguém para tentar burlar a norma. Até mesmo em Copa do Mundo isso já aconteceu…

No estádio Monumental de Nuñez a medida é normal. É quase uma fonte extra de consulta para o árbitro.

Nesta segunda-feira, o juiz Rafael Furchi deu quatro minutos de acréscimo na etapa final do empate sem  gols entre River e Gimnasia y Esgrima.

O cronômetro no gigante placar eletrônico do estádio marcava rigorosamente 49 minutos quando o árbitro encerrou a partida.

Ele pode até ter sido pressionado nos minutos finais por causa do relógio exposto, mas, no fim, nenhum hincha reclamou do tempo…

Você concorda com o veto da Fifa em cronômetros em placares eletrônicos?

Às margens do Río de la Plata

Como já foi dito no Twitter (siga AQUI), o blogueiro está de férias.

Mesmo assim, os posts continuam saindo pelo “vício” iniciado em agosto de 2008.

ArgentinaBandeira do UruguaiNesta semana, alguns posts serão escritos diretamente dos vizinhos brasileiros.

Argentina e Uruguai.

Apesar da atualização menor devido à folga, vamos ver se a viagem rende algo esportivo para a galera aqui no blog… Hasta!

Abaixo, a final da primeira Copa do Mundo, em 1930: Uruguai 4 x 2 Argentina.

Que a TV transmita um gol do Carcará

A expectativa era grande no Sertão. Fundamentada no sonho de chegar à Série B.

Até mesmo pelo anúncio de transmissão ao vivo pela TV neste sábado. Mas, de última hora, a TV Brasil acabou passando para o estado Chapecoense x Ituiutaba.

A emissora já começou errado, pois esta partida deve ter dado “traço” na audiência.

Televisão à parte, o Salgueiro ficou no empate em 1 x 1 com Paysandu.

SalgueiroPaysanduNo estádio Cornélio de Barros, o Carcará ficou em vantagem até os 26 minutos do segundo tempo.

Fruto do gol de pênalti de Beá, no finzinho da primeira etapa. Mas Lúcio Bala empatou para o Papão.

Segundo o regulamento da Terceirona do Brasileiro, o formato do mata-mata é o mesmo adotado na Copa do Brasil (veja AQUI). Gol fora de casa tem um peso maior… Desvantagem para a equipe pernambucana.

Ou seja: um 0 x 0 em Belém classificará o time paraense.

O Salgueiro, que já cansou de surpreender nas situações mais adversas, vai ter que marcar pelo menos um gol no alçapão da Curuzu.

Jogo às 10h do próximo domingo (17). Com transmissão da TV Brasil? A conferir.

A primeira vez do Ipatinga. A última do Sport?

Série B-2010: Sport 0 x 1 Ipatinga. Leão perde do lanterna na Ilha. Foto: Blenda Souto Maior

Em 13 jogos como visitante nesta Série B, o Ipatinga havia empatado 3 e perdido 10.

Nenhuma vitória. Nenhuma!

Até a tarde deste sábado, na Ilha do Retiro.

Jogando de forma apática no primeiro tempo e afobada no segundo, o Sport conseguiu ser derrotado pelo time mineiro. O sonho do G4 virou pesadelo.

A luta para chegar ao pelotão de cima é quase inglória.

Nos primeiros 45 minutos, o Ipatinga teve um gol mal anulado e pressionou bastante. Já o Sport teve apenas uma bola na trave de Marcelinho Paraíba.

No comecinho da etapa final, o meia, em nova cobrança de falta, acertou o poste de novo. Não era o dia do time Rubro-negro.

O lance foi só uma falsa impressão para os 22.488 torcedores na Ilha, pois Alessandro cobrou um pênalti com tranquilidade e abriu o placar aos 6 minutos.

Depois, o goleiro Douglas fez três defesas espetaculares, em chutes de Ciro e Marcelinho Paraíba e numa cabeça de Germano, no fim.

A pior defesa da Segundona, com 48 gols, não foi vazada.

Douglas segurou tudo lá atrás, 0 x 1.

O Ipatinga era o lanterna da competiçã e continua sendo mesmo após os três pontos.

Ao Sport, pode ter sido a última cartada na luta pela classificação à Série A de 2011…

Coreografia de um videogame

Entre outras coisas, as universidades dos Estados Unidos são famosas pelas enormes bandas marciais, com centenas de integrantes e muita criatividade.

O vídeo abaixo aconteceu durante o intervalo em um jogo do campeonato universitário de futebol americano. O tema? Videogame.

Espetáculo com coreografias e trilhas sonoras de jogos famosos, como Super Mario, Mortal Kombat e Tetris. Tente identificar mais algum game…

Universitário Nobel

Escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura de 2010. Foto: Conmebol/divulgação

Uma justa homenagem ao peruano Mario Vargas Llosa.

Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura deste ano (veja AQUI).

O escritor de 74 anos é um torcedor (“hincha”) fanático do Universitario de Lima.

O clube é o maior campeão do país, com 25 títulos nacionais.

Em 1972, quando Llosa, então com 36 anos, ainda finalizava o seu 7º livro (Pantaleón y las visitadoras), o Universitario chegou ao seu auge.

O time foi finalista da Taça Libertadores da América.

Após um empate no estádio Nacional de Lima, a equipe foi derrotada pelos argentinos do Independiente, em Avellaneda, por 2 x 1.

Mas a campanha ficou marcada no país, que nunca venceu a Libertadores (veja AQUI). Até hoje, apenas o Sporting Cristal também conseguiu chegar a uma final. Em 1997.

E o tal Universitario foi o time que segurou o empate em 0 x 0 com o Sport na Ilha do Retiro, em 23 de agosto de 1988, eliminando o Leão de sua primeira Libertadores.

Neste ano fatídico para os rubro-negros ele escreveu Elogio de la madrasta.

Saiba mais sobre a vida de Mario Vargas Llosa AQUI.