O ranking de cotas do pay-per-view no Campeonato Brasileiro de 2013 a 2015

Além das cotas fixas no Campeonato Brasileiro, a Rede Globo paga aos 18 clubes com contratos duradouros – os acordos atuais vão até 2018 – parcelas extras referentes às vendas de pacotes do pay-per-view, com receitas proporcionais ao número de assinantes de cada clube. Trata-se de um adicional importantíssimo. Em 2013, o canal rateou R$ 280 milhões somente com o PPV. No ano seguinte, R$ 300 mi. Na temporada 2015 o aumento foi de 50%, chegando a R$ 450 milhões, segundo o site MKT Esportivo. E a tendência é que a televisão por assinatura siga ganhando força na negociação do futebol, até porque o Premiere exibe os 380 jogos da competição, vários deles exclusivos.

Em relação à divisão do dinheiro, há uma controvérsia, pois a apuração dos assinantes é feita através de uma pesquisa em conjunto entre Ibope e Datafolha, que em 2014 entrevistaram dez mil pessoas. Não seria mais fácil detalhar cada assinante logo na compra do pacote de PPV? Imagina-se que haja tecnologia para isso, até porque o único ranking oficial de assinantes difere da divisão das cotas. A Sky, uma das principais operadoras envolvidas, disponibiliza um ranking de torcedores, com o cliente indicando o seu clube do coração num cadastro no site da empresa, ação que ainda carece de uma divulgação maior, diga-se. A lista da Sky – que conta com 5,4 milhões de clientes, ou 28% do mercado nacional – engloba qualquer time do país. Comparando com o estudo encomendado pela emissora, restrito a 18 equipes, o Sport sobe 0,09%, enquanto o Bahia salta 1,46%. Pior para alvirrubros e tricolores, sequer citados.

Nº de assinantes em 2015
Bahia
Ibope – 3,7%
Sky – 2,24%

Vitória
Ibope – 2,3%
Sky – 1,41%

Sport
Ibope – 1,5%
Sky – 1,41%

Santa Cruz
Ibope – n/d
Sky – 0,59%

Náutico
Ibope – n/d
Sky – 0,57%

Cotas de PPV
Bahia
2013 – R$ 8,40 milhões
2014 – R$ 11,12 milhões
2015 – R$ 16,65 milhões

Vitória
2013 – R$ 7,28 milhões
2014 – R$ 6,87 milhões
2015 – R$ 10,35 milhões

Sport
2013 – R$ 3,36 milhões
2014 – R$ 4,43 milhões
2015 – R$ 6,75 milhões 

O quadro deixa claro que alguns clubes presentes na Série A (Santa Cruz, Ponte Preta, América-MG, Chape e Figueirense) não devem ser inseridos no rateio de 2016, que por outro lado engloba três integrantes da Série B (Vasco, Bahia e Goiás). Isso porque os clubes “cotistas” ganham independentemente da Série, enquanto os demais, com contratos singulares na elite (renovados a cada edição), têm o PPV embutido no acordo. Justo? Não parece…

As cotas de transmissão do Brasileirão, com divisão entre TV aberta e PPV

Cota de TV do Campeonato Brasileiro de 2013 a 2015. Crédito: José Colagrossi/Ibope/Twitter

As cotas de transmissão do Campeonato Brasileiro atendem a dois perfis de mercado, a televisão aberta e a tevê paga. Neste segundo ponto há o critério “flutuante” nas verbas repassadas aos clubes, através do pay-per-view, com a distribuição de R$ 300 milhões. Quem vende mais pacotes, recebe mais, num levantamento feito em conjunto entre o Ibope e o Datafolha – em 2014 foram dez mil assinantes entrevistados. A Sky, uma das principais operadoras envolvidas, disponibiliza um ranking de assinantes, que ajuda a compreender o quadro. Entre os clientes, Sport 1,41%, Santa Cruz 0,58% e Náutico 0,57%.

Sobre a divisão, a explicação é direta. Mesmo com a “base” paga pela Globo, existe um “bônus” na receita total, via PPV. Sport e Bahia, por exemplo, têm a garantia de R$ 27 milhões. Neste ano, na Série B, o Tricolor recebeu mais por ter mais assinantes (R$ 42 mi x R$ 33 mi). Pelo mesmo motivo, o Galo aparece à frente do Palmeiras na lista absoluta, mesmo recebendo menos na base. No quadro divulgado pelo diretor-executivo do Ibope/Repucom, José Colagrossi, o Náutico aparece em 2013. Na ocasião, quatro times receberam a cota mínima (Criciúma, Náutico, Ponte e Lusa), mas o Timbu ganhou um pouco mais por causa dos assinantes do Premiere (1,88% x 1,79%).

Vale lembrar que a partir de 2016 começa um novo ciclo de contratos, de quatro anos. No novo modelo, Flamengo e Corinthians devem receber R$ 170 milhões anuais. A cota do Sport, o único pernambucano de contrato assinado por mais de uma temporada, passa de R$ 27 mi para R$ 35 milhões.

A tendência a médio prazo é aumentar a importância do PPV nesta divisão….

A pesquisa secreta do Datafolha em 2014, com a Lusa à frente dos grandes do Recife

Pesquisa do Datafolha em 2014. Arte: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

A cada dois anos o instituto Datafolha costuma realizar uma pesquisa nacional sobre o tamanho das torcidas dos clubes de futebol. A versão de 2014 ainda não foi divulgada oficialmente, mas os números já vazaram, trazendo novamente um dado incompreensível numa relação direta com Pernambuco…

Os dados, revelados pelo blog Teoria dos Jogos, de Vinícius Paiva, mostram que o instituto paulista havia feito um levantamento clubístico em seu último estudo, a poucos dias da Copa do Mundo, sobre questões relacionadas ao torneio.

Esses números foram comparados com o perfil do público presente no Mineirão para o jogo Brasil x Chile, nas oitavas de final (veja aqui).

A curiosidade é o fato de que há dois anos Flamengo e Corinthians tenham ficado num empate e agora a diferença a favor do time carioca seja de quatro pontos percentuais. E a pesquisa não ter ido ao ar…

Resultados das últimas quatro pesquisas do Datafolha:
2009 – Flamengo 19% x 13% Corinthians
2010 – Flamengo 17% x 14% Corinthians
2012 – Flamengo 16% x 16% Corinthians
2014 – Flamengo 18% x 14% Corinthians

Abaixo, os percentuais mensurados pelo blog com a população atual do Brasil. Perceba que ao contrário de outras pesquisas nacionais (Ibope, Pluri e Gallup), a Portuguesa aparece na frente dos grandes clubes pernambucanos.

Ponto fora da curva? Na verdade, é praxe no Datafolha. Nas últimas três pesquisas do instituto (no fim do post), a Lusa, sem qualquer apelo popular, ficou à frente de Náutico e Santa Cruz. Em relação ao Sport, o clube levou vantagem duas vezes. Estaria na (baixa) amostragem no estado a resposta?

Para este cenário, colabora o fato de não haver decimais nos dados. Em 2012, o Datafolha justificou essa ausência: “Justamente por serem aproximações, os números do Datafolha são arredondados, a exemplo do que faz a maior parte das empresas de pesquisas em outros países. Entendemos que a divulgação de números com casas decimais passaria a falha impressão de precisão que o método estatístico não proporciona”.

Datafolha / Brasil 2014
Período: 3 a 5 de junho de 2014
Público: 4.337 (207 municípios)
Margem de erro: 2%
População estimada (IBGE/junho de 2014): 202.639.820

1º) Flamengo – 18% (36.475.167)
2º) Corinthians – 14% (28.369.574)
3º) São Paulo – 8% (16.211.185)
4º) Palmeiras – 6% (12.158.389)
5º) Vasco – 5% (10.131.991)
6º) Grêmio – 4% (8.105.592)
7º) Cruzeiro – 3% (6.079.194)
7º) Santos – 3% (6.079.194)
7º) Inter – 3% (6.079.194)
10º) Atlético-MG – 2% (4.052.796)
10º) Botafogo – 2% (4.052.796)
10º) Fluminense – 2% (4.052.796)
13º) Bahia – 1% (2.026.398)
13º) Vitória – 1% (2.026.398)
15º) Portuguesa – 1%* (2.026.398*)
15º) Seleção Brasileira- 1%* (2.026.398*)
15º) Sport – 1%* (2.026.398*)

Outros times – 6%
Sem clube – 23%
* Não atingiu 1% exato

Datafolha 2014 (4.337 pessoas em 207 cidades)
Portuguesa 1%*
Sport – 1%*
Náutico e Santa Cruz – n/i

Datafolha 2012 (2.588 pessoas em 160 cidades)
Portuguesa 1%
Sport, Náutico e Santa Cruz – n/i

Datafolha 2010 (2.600 pessoas em 144 cidades)
Sport – 1%
Portuguesa 1%
Náutico – 1%*
Santa Cruz – 1%*

O blog já havia postado sobre o “fator Portuguesa” em 2012. Relembre aqui.

Mensurando as torcidas brasileiras no embalo das pesquisas políticas

Institutos de pesquisa no Brasil: Datafolha, Vox Populi, Plural Pesquisa, Ibope, Maurício de Nassau e Sensus. Arte: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

O cenário é comum em ano eleitoral no Brasil, a cada dois anos. Até a véspera da votação são divulgadas, de norte a sul, pesquisas de intenção de voto.

Existem quase duas centenas de consultorias no ramo. Na Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, a Abep, estão cadastrados 174 institutos.

Acredite, esses mesmos levantamentos eleitorais têm uma relação direta com os estudos quantitativos sobre torcidas de clubes de futebol.

Foi o caso do Ibope, instituto mais famoso do país, que lançou uma pesquisa nacional de torcida pela última vez em 2010. Agora, em mais um ciclo presidencial, especula-se um novo grande levantamento de campo do Ibope. No último foram ouvidas 7.109 pessoas, em 141 cidades.

O custo de um estudo do tipo, dependendo do número de entrevistados – mudando, claro, a fidelidade na margem de erro -, pode ir de R$ 8 mil a mais de R$ 70 mil. De 400 pessoas a aproximadamente 10 mil entrevistados.

No campo político, os levantamentos são encomendados por jornais, emissoras de televisão e até pelos próprios partidos, com o objetivo de enxergar melhor o eleitorado, tanto nas disputas majoritárias – municipal, estadual e federal -, quanto nas proporcionais – vereador e deputado.

O público pesquisado é sempre a partir dos 16 anos. Não por acaso, não mesmo, é a idade mínima para tirar um título de eleitor no país.

Com questionários prontos, alguns institutos de pesquisa aproveitam a oportunidade para mensurar outras questões. E aí entra o futebol.

Cenário aplicado, por exemplo, em Caruaru, através da Plural Pesquisa em 2014. Outros municípios já estão na pauta, como Garanhuns e Petrolina.

Cidades, estados, país. Não é mera coincidência. Até porque a divulgação dos estudos costuma ter espaço na mídia e repercussão entre as massas, dando destaque aos nomes das empresas envolvidas.

Portanto, a situação já está encaminhada para um ano recheado de levantamentos sobre os times, inclusive de grande alcance. O cenário político está aberto. Para entender melhor o público, o futebol sai ganhando no embalo.

Confira as pesquisas já publicadas pelo blog aqui.

O fator Portuguesa nos percentuais das pesquisas nacionais de torcida

Série A 2012: Portuguesa 0x0 Ponte Preta. Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Os institutos de pesquisa constroem a credibilidade ao longo dos anos, através de acertos nos dados equiparados aos reais, posteriormente levantados de forma integral. Antes, a conversa estatística é sempre a mesma, com dados flutuantes com pontos percentuais para mais e para menos, dentro da margem de erro. De praxe.

No futebol, as principais pesquisas, e mais polêmicas, projetam o tamanho das torcidas. A nível local, a discussão já é enorme, histórica. Imagine então no cenário nacional! Em 2009, o Instituto Maurício de Nassau ouviu 3.363 pessoas em Pernambuco. Houve contestação. Pois em 2012 o Datafolha ouviu 2.588 em 160 cidades espalhadas no país.

O resultado final do instituto paulista promoveu uma série de debates.

No topo, o inédito empate técnico. Abaixo, as últimas três pesquisas Datafolha.

2009 – Flamengo 19% x 13% Corinthians
2010 – Flamengo 17% x 14% Corinthians
2012 – Flamengo 16% x 16% Corinthians

É possível concluir que 3% da torcida nacional virou a casaca do Flamengo para o Corinthians ou simplesmente 3% dos flamenguistas desapareceram do mapa, sem explicação, ou ainda que outros 3% de corintianos nasceram num crescimento muito acima da média histórica. Até então imbatível, o Fla protesta.

Ainda no ranking principal, a polêmica atinge Pernambuco de forma direta.

Os números publicados pelo Datafolha se estendem até o 15º lugar, ocupado pela Portuguesa. Nenhum representante do futebol pernambucano se faz presente.

Ou seja, a Portuguesa, com 0,51% da torcida nacional, está não só à frente de Sport, Santa Cruz e Náutico, como de outros times populares, como Coritiba, Atlético-PR, Goiás, Remo, Paysandu, Ceará, Fortaleza… Um tanto surpreendente.

O dado corresponde a 989.129 pessoas na atualização do censo do IBGE, em 2012.

Vamos a um exercício de possibilidades, uma vez que as projeções dos clubes pernambucanos ainda não foram divulgadas. Estão inseridos no dado de “4,88%”, que corresponde a todos os times do país a partir do 16º lugar no ranking de torcidas.

Supondo que os três pernambucanos tivessem “um” torcedor a menos que a Lusa e que as três massas fossem iguais e morassem em Pernambuco, o número seria de 2.967.384. A população atual de Pernambuco é de 8.931.028 habitantes. Ou seja, as três torcidas locais teriam, segundo o Datafolha, no máximo 33,22% do estado.

De acordo com o supracitado instituto Maurício de Nassau, percentual é bem maior, de 50,1%. E não considera, conforme dito no exercício, os torcedores em outros estados. O número corrigido, hoje, elevaria a torcida do Trio de Ferro para 4.474.445 pessoas. Considerando as últimas quatro pesquisas realizadas no estado, por quatro institutos diferentes, o percentual mínimo das três torcidas agregadas, com a margem de erro para menos, seria de 35,8%, ainda assim, à frente do máximo via Datafolha (veja aqui).

Em tempo: o Datafolha ouviu neste ano apenas 727 pessoas em todo o Nordeste.

Vale destacar que até a recém-lançada pesquisa Sport e Santa não haviam ficado, em dez anos, com menos de 0,6% em âmbito nacional. Agora, estariam abaixo de 0,51%?! Neste mesmo 2012, a pesquisa da Pluri Consultoria, com 10.545 entrevistas, apontou Sport 1,1%, Santa 0,7%, Náutico 0,4% e Portuguesa 0,1%… Haja diferença.

Mas voltemos ao Datafolha, que em 2010, com 2.600 pessoas, indicou o Sport com 1,33 milhão de torcedores, contra 880 mil da Lusa. Em dois anos, mais cem mil lusitianos, dentro do mesmo instituto? Na Ilha, mais de 340 mil pessoas deixaram de torcer?

Acredite, tem mais. Há dois anos eram 600 mil alvirrubros e 520 mil tricolores. Sim, o Santa Cruz teria a menor torcida da cidade (veja aqui).

Também há dois anos, o Ibope ouviu 7.109 pessoas no país, quase três vezes mais, reduzindo a margem de erro. Na ocasião, a soma de rubro-negros, tricolores e alvirrubros chegava a 2,8% da população nacional, ou 5.430.512. O mesmo Ibope, em parceria com o diário esportivo Lance!, promete uma nova pesquisa com mais entrevistados em 2013, no embalo da polêmica provocada pelo concorrente.

A polêmica nunca vai deixar de existir. Discutir quem tem a maior torcida faz parte.

Porém, o fato precisa ser pelo menos plausível. Não há qualquer indício que aponte o time do Canindé com essa massa superior a tantos times tradicionais. Apresentar a Portuguesa com uma torcida maior fere de morte qualquer estatística.

A culpa, no entanto, não é do Datafolha. A “culpa” sobre a polêmica é do IBGE, que se nega a acrescentar uma simples perguntinha no censo…

Série A 2012: Portuguesa 0x1 Bahia. Foto: Dorival Rosa/Portuguesa