O jornalismo esportivo lida diariamente com algo bem mais específico comparado às outras editorias… A paixão.
A partir dela, defender a uma bandeira torna-se um ideal pra vida toda, imutável.
Com ou sem razão, sobretudo.
A paixão do torcedor e a paixão dos dirigentes. Neste segundo caso, a paixão costuma ser um perigoso escudo.
Há quem diga que a imprensa de um estado deve defender os seus clubes.
Sem demagogia, o jornalismo é pautado pela informação. Não é publicidade.
Atualmente, num viés mais moderno, a informação vem agregada de opinião, análise, tudo para construir um conteúdo diferenciado.
Acima disso, o óbvio. É preciso informar com fatos, evidências e tudo mais o que possa dar substância ao texto.
Agradar ou não é outro departamento, e não o do jornalismo sério, diga-se.
Portanto, no momento em que um árbitro revela uma suposta orientação superior à parte das regras do futebol, como não repercutir isso?
Quando se percebe, há três anos, que os estádios estão vazios e com os borderôs dizendo exatamente o contrário, como não investigar?
As respostas foram duas, mas foram legítimas.
Baseadas em depoimentos, imagens e documentos, num trabalho de reportagem.
Por isso, surpreendeu a postura do presidente da FPF, Evandro Carvalho, de se negar a conceder entrevistas aos repórteres do Diario de Pernambuco, do qual faço parte há dez anos. Não só ele como todos os funcionários da federação, vetados.
O dirigente se queixa que o jornal está “querendo acabar com os times do interior” ao publicar reportagens sobre os públicos fantasmas no campeonato local. O jornal e o blog (relembre aqui e aqui).
O futebol pernambucano, como se sabe, é subsidiado pelo estado desde 1998. Os programas Todos com a Nota e Futebol Solidário ajudaram a trazer de volta os torcedores, aumentando bastante os públicos.
Nos últimos anos, porém, o sistema vem falhando bastante no interior, com jogos desertos e rendas consideráveis. É dever do jornal ficar alerta a isso, até porque, vale lembrar sempre, é uma verba pública em questão.
Só em 2013 o governo do estado injetou R$ 13 milhões, via TCN. É justo e necessário que exista uma contrapartida dos clubes, com seus torcedores presentes. Hoje, na prática, só ocorre na capital, que conta com um sistema digital de controle.
Assim, as denúncias foram feitas. As atitudes foram escassas.
Já a irritação na federação passou do ponto, com a censura.
O ato de silêncio veio uma semana após uma pressão desnecessária da entidade através de e-mail da assessoria à direção do jornal.
Entretanto, tudo foi bem apurado e checado. E devidamente autorizado pelos editores.
Os públicos fantasmas existem, queira o presidente da FPF ou não.
O futebol do estado continua sendo a pauta esportiva principal do Diario, com notícias sobre esquemas táticos, contratações, regulamentos, públicos, arbitragem e, claro, denúncias.
Francamente, o Diario de Pernambuco cobre o Campeonato Pernambucano desde 1915, e não será Evandro Carvalho quem irá mudar isso…