Pernambuco no encerramento olímpico no Rio, com frevo, DJ, Lenine e Gonzagão

Frevo na Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016, no Maracanã. Crédito: Rede Globo/reprodução

Onipresente nas ladeiras olindenses e nas ruas do Recife Antigo, sobretudo no mês de fevereiro, o frevo foi bem longe. Tomou conta do Maracanã. No embalo de Vassourinhas, o ritmo pernambucano foi um dos escolhidos para compor a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016.

Aliás, Pernambuco foi um dos estados cuja cultura mais se fez presente no evento. Na sequência da apresentação das passistas vieram cantorias, o time completo da Orchestra Santa Massa, com Fábio Trummer, DJ Dolores, Isaar, Maciel Saulo e Jam da Silva, Maestro Spok, uma lembrança daquelas de Luiz Gonzaga, com Asa Branca fazendo os bonecos de barro de Mestre Vitalino ganharem vida, e, por último, Lenine. A maior festa em linha reta.

Durante os 17 dias da primeira Olimpíada no país a presença pernambucana foi intensa, com bandeiras e camisas do estado e do trio da capital. Os atletas locais não medalharam, é verdade, mas houve plena entrega nas disputas, representada em Yane Marques, a porta-bandeira brasileira na abertura.

Depois de tanto simbolismo, o plano B já está traçado caso Tóquio vacile…

Sim, em 2020. Ou, no mais tardar, 2024. Não entendeu? Veja aqui.

Nunca duvide. Pernambuco sempre dá um jeito. =)

Cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Crédito: Rede Globo/reprodução

Cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Crédito: Rede Globo/reprodução

Cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Crédito: Rede Globo/reprodução

Cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Crédito: Rede Globo/reprodução

Cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Crédito: Rede Globo/reprodução

O Dia do Rock gravado no Santa Cruz

Homenagem do Santa Cruz ao Dia do Rock em 2016. Crédito: Sepultura/twitter (@sepulturacombr)

O Santa Cruz é quase sinônimo de frevo, tendo o compositor Capiba e o maestro Nelson Ferreira, dois dos maiores nomes do ritmo pernambucano, como torcedores ilustres. Popular desde sempre, o tricolor está aberto a todos os estilos, com o mais poderoso deles, o rock’n’roll, cuja data comemorativa, 13 de julho, é celebrada desde 1985. Horas antes de enfrentar o Vasco, pela terceira fase da Copa do Brasil de 2016, o clube apresentou os uniformes com nomes de bandas famosas em cada numeração.

Titãs, Sepultura (que agradeceu a homenagem em seu perfil nas redes sociais), AC/DC, Raul Seixas, Chico Science e Nação Zumbi, Guns N’ Roses, Nirvana… Ao todo, 22 nomes possíveis, das mais variadas vertentes.

Qual banda (e/ou cantor) de rock não poderia faltar na lista coral?

Foi cirúrgica a ação de marketing elaborada pelo Santa Cruz, com a partida (e as marcas do clube, claro) sendo exibida pelo Sportv, ESPN e Fox Sports…

Sobre o Dia Mundial do Rock, Dia Internacional do Rock ou, simplesmente, Dia do Rock, trata-se de uma referência ao Live Aid, evento realizado na Filadélfia e em Londres, simultaneamente, para ajudar a combater a fome na Etiópia. Curiosamente, a data é conhecida basicamente no Brasil – com datas distintas em outros países. Há 31 anos, numa apresentação transmitida ao vivo, participaram Paul McCartney (que em 2012 fez um show para 50 mil pessoas no Arruda), Bob Dylan, Mick Jagger, U2, Led Zeppelin, Santana, The Who, David Bowie, Black Sabbatah e por aí vai. Foi o mesmo o Dia do Rock. 

Atualização: como o Vasco jogou de branco, o Santa teve que jogar com a camisa coral, sem os nomes das bandas…

Homenagem do Santa Cruz ao Dia do Rock em 2016. Crédito: Santa Cruz/twitter (@santacruzfc)

Arrastado por blocos espontâneos, o carnaval do Sport se espalha no estado

Carnaval do Sport. Fotos: sobreascidades.wordpress.com, Diario de Pernambuco  e Cláudio Maranhão/flickr

Atualizado em 24/02/2017

O carnaval rubro-negro não tem um bloco oficial na capital pernambucana há bastante tempo. Desde o Leão Dourado, no início da década de 1990. Campo aberto para a própria torcida, que em 2016 criou a Troça Carnavalesca Futebolística e Cervejeira Eternamente Sportpara desfilar nas ladeiras da Cidade Alta. Acabou recebendo o apoio do clube. Por sinal, de forma espontânea, o Sport tem a maior quantidade de blocos em Pernambuco. O blog contabilizou quinze. Os frevos leoninos seguem em alto e bom som nos metais na Ilha, em Olinda, no Galo da Madrugada e pelo interior do estado.

Na arquibancada, a entrada da orquestra da Treme-Terra é um show à parte, puaxando o frevo-de-rua mais famoso do clube, numa composição do maestro Nelson Ferreira, um tricolor, diga-se. A música Cazá Cazá, ainda tocada nas rádios, foi composta a pedido de Eunitônio Edir Pereira em 1955, ano do cinquentenário do Leão. O mesmo Eunitônio compôs o hino oficial anos do clube depois. Seguindo o tom carnavalesco, há um frevo-canção ainda mais antigo, de 1936, também sob a batuta de Nelson Ferreira, em parceria com Sebastião Lopes, o “Pelo Sport Tudo”, o famoso dos brados. A música ficou conhecida como Moreninha, com vários elementos do carnaval, retratando bem a época.

Entre outros frevos do Sport, Haroldo Praça, autor do gol da vitória rubro-negra sobre o Santa Cruz por 6 x 5 na inauguração da Ilha do Retiro, em 1937, é citado no Frevo Nº 1 do Recife, de Antônio Maria, gravado em 1951 pelo Trio de Ouro. No carnaval, acredite, há espaço até para homenagem a um dirigente após uma conquista emblemática. Com Jarbas Guimarães assumindo a presidência, em 1975 o Sport acabou com o jejum de doze anos. Mereceu um frevo-canção de Rogério de Andrade, “Este ano, nosso time / vai ser mesmo campeão / todo mundo vai cantar e dizer / ninguém segura o Sport não”.

Os blocos
Raça Rubro-negra (Bezerros/desde 1994, com desfile na terça-feira)
Leão da Barra (Goiana/2000, terça-feira)
Nação Rubro-negra (Pesqueira/2002, sexta-feira)
Rubro-negro de Coração (São José da Coroa Grande/2007, segunda-feira)
Cazá-Cazá (Nazaré da Mata/2008, terça-feira)
Sport Folia (João Alfredo/2010, prévia)
Cazá Cazá (Afogados da Ingazeira/2012, domingo)
Bloco do Sport (Condado/2012, terça-feira)
Sport Folia (Ribeirão/2013, segunda-feira)
Leões da Mata (Palmares/2013, quinta-feira)
Leões na Folia (Ipojuca/2013, terça-feira)
Leão da Ilha (Carpina/2015)
Eternamente Sport (Olinda, Sítio Histórico/2016, domingo)
Torcida do Sport (Bom Jardim, terça-feira)
As Marias do Sport (Mercado da Boa Vista/2017, na prévia)

As músicas

Pelo Sport tudo (Nelson Ferreira e Sebastião Lopes, 1936).
Moreninha que estas dominando
Desacatando agora pelo entrudo (2x)
Chegou a hora de gritares loucamente
Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo!
Vejo no batom dos teus lábios
E no teu cabelo ondulado
As cores que dominam altaneira por morena
Do meu glorioso estado
Moreninha que estas dominando
desacatando agora pelo entrudo (2x)
Chegou a hora de gritares loucamente
Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo!
Ter passado o carnaval
Pra que não te falte a boa sorte
Tira da minha vida e te manter eternamente
Tudo, tudo pelo Sport
Cazá, cazá, cazá, cazá, cazá
A turma é mesmo boa… É mesmo da fuzarca!
Sport! Sport! Sport!

O mais querido (Jovino Falcão, 1974)
Está comprovado
Já foi conferido
Que o mais amado
O mais amado é que é, é que é
É o mais querido
É ele o maior em nosso Estado
Destaca-se do remo ao futebol
É o consagrado campeão do Norte
O mais querido, o mais querido
É o nosso Sport

Ninguém segura o Sport (Rogério Andrade, 1975)
Este ano nosso time
Vai ser mesmo campeão
Todo mundo vai cantar e dizer
Ninguém segura o Sport não
Na Ilha vou ver, hei!
A turma pular, hei!
De alegria quando o time entrar
E mostrar a bola no pé
Meu Sport em ação
Cazá, cazá, cazá
Ninguém segura o Leão

Hino à Treme Terra (Renato Barros, 1979)
Chegando lá na Ilha do Retiro
Ô abre alas que o Sport vai jogar
O rubro-negro, é cor de guerra
É o super sport que estremece a terra
Chegando lá na Ilha do Retiro
Ô abre alas que o Sport vai jogar
O rubro-negro, é cor de guerra
É o super Sport que estremece a terra
Vivendo com o Sport esta emoção
A galera se engrandece muito mais
Quem não fala no Sport é mudo
Cazá, cazá, e pelo Sport tudo!

Pelo Sport Tudo / Moreninha (1936, Nelson Ferreira e Sebastião Lopes)

Cazá Cazá (1955, Nelson Ferreira)

A inspiração do carnaval do Santa, do frevo de Capiba ao manguebeat de Chico

Carnaval do Santa Cruz. Fotos: Blog do Santinha, Juna d m-fard junior/divulgação e Diario de Pernambuco

Os blocos Cobra Fumando, no Arruda, e Minha Cobra, em Olinda, arrastam milhares de tricolores, com características únicas no frevo. Em um século de história, o Santinha teve dois dos maiores compositores do envolvente ritmo pernambucano. Nelson Ferreira (1902-1976) e Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba (1904-1997). O primeiro foi um gênio nos frevos-de-rua, extraindo a animação dos metai, mas sem perder a linha como autor. Em 1957, homenageou o primeiro supercampeonato, com um frevo-canção, gravado posteriormente pelo alvirrubro Claudionor Germano. “Vamos cantar com toda emoção / Um, dois, três, quatro, cinco, seis / Saudando a faixa de supercampeão / A que fez jus / O mais querido Santa Cruz / Foram três as vitórias colossais”. 

Capiba, com 200 músicas no repertório, dos mais variados temas, não deixou por menos. Conselheiro coral, compôs em 1948 a marcha “O Mais Querido”. Como o clube não levantou a taça, guardou a letra. Hoje decorada em cada canto do Mundão, a canção só foi lançada em 1957. “Santa Cruz, Santa Cruz , junta mais essa vitória…”. O compositor só mexeu no último verso, adicionando o “super”. Irmão de Capiba, Marambá criou “Cobral Coral” em 1959, na voz de Rubens Cristino. “Quando aparece num gramado / O Santa Cruz dando xaxado / O adversário vai cair / Disso não pode fugir / Deixa a fumaça subir”. 

Muito antes, Sebastião Rosendo compôs o mais famoso frevo-canção do clube, “Santa Cruz de Corpo e Alma” de 1942, atendendo um pedido de Aristófanes de Andrade, renomado tricolor. Ainda que não tenha uma letra específica para o clube, o carnaval foi revigorado mais recentemente com as inúmeras músicas do tricolor Chico Science, através do manguebeat, uma soma de ritmos com total imersão no carnaval. Não por acaso, Chico, que faria 50 anos em 2016, foi o homenageado no bloco a Minha Cobra, juntando todos os sons.

De corpo e alma ao papa-taças, as canções que apaixonam nas orquestras.

Os blocos
Cobra Fumando (Recife, Arruda/desde 1992, com desfile na segunda-feira)
Triloucura (Bezerros/2004, segunda-feira)
Minha Cobra (Olinda, Sítio Histórico/2006, segunda-feira)
A Cobra Vai Subir (Afogados da Ingazeira/2008, terça-feira)
Paixão Coral (Pesqueira/2009, segunda-feira)
Minha Cobra nas Virgens (Surubum/2009, domingo pós-carnaval)
Naza Coral (Nazaré da Mata/2011, domingo)
Tricolor na Folia (Timbaúba, segunda-feira)
Veneno Coral (Bom Jardim, domingo)
Furacão Coral (Ribeirão, domingo)
Santamares (Palmares)

As músicas

Santa Cruz de Corpo e Alma (Sebastião Rosendo, 1942)
Eu sou Santa Cruz
De corpo e alma
E serei sempre de coração
Pois a cobrinha quando entra no gramado
Eu fico todo arrepiado e torço com satisfação (2x)
Sai,sai Timbu
Deixa de prosa,
O seu Leão
Periquito cuidado com lotação
Que matou pássaro preto
Tricolor é tradição

O mais querido (Capiba, 1957)
Santa Cruz, Santa Cruz
Junta mais essa vitória
Santa Cruz, Santa Cruz
Ao te passado de glória
És o querido do povo
O terror do Nordeste
No gramado
Tuas vitórias de hoje
Nos lembram vitórias
Do passado
Clube querido da multidão
Tu és o supercampeão.

Papa-Taças (João Valença e Raul Valença (década 1970)
Quem é que quando joga
A poeira se levanta
É o Santa, é o Santa
Escreve pelo chão
Faz miséria e não se dobra
É a cobra, é a cobra
É sem favor o maioral
O tricolor, a cobrinha coral
O mais querido timão das massas
Por apelido o papa-taças 

Se tu és tricolor (Capiba, 1990)
Se tu és tricolor
Que Deus te abençoe
Se não és tricolor
Que Deus te perdoe
O Santa tem a fibra
Dos Guararapes
Por tradição
É o mais querido
E sempre será
O clube da multidão

Santa Cruz de Corpo e Alma (1942, Sebastião Rosendo)

Vulcão Tricolor (2007, Maestro Forró). O último dos frevos-de-rua dos clubes.

O carnaval do Náutico começa cedinho nos Aflitos, com 50 frevos no repertório

Carnaval do Náutico. Fotos: www.nauticonews.com.br, Juna d m-fard junior/divulgaçã

É a torcida mais apressada para o carnaval. Desde cedinho já está acordada, mudando o humor da cidade, fazendo abrir o sorriso alvirrubro a cada esquina. O domingo é do Timbu Coroado desde 1934, quando os atletas de remo criaram o bloco, saindo pela Rua da Aurora, onde fica até hoje a garagem do remo do clube. A tradição se mantém viva, com o Timbu Coroado dando uma volta no bairro dos Aflitos. O bloco mais tradicional entre os grandes clubes pernambucanos reúne anualmente dez mil pessoas atrás da Frevioca.

No som , o Come e Dorme é imbatível. O frevo-de-rua do compositor coral Nelson Ferreira não tem nem letra, mas se confunde com o próprio hino alvirrubro. Os metais levantam a timbuzada em outra composição de Nelson, o frevo-canção Hino do Timbu Coroado, de autoria de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso. Essas músicas ficaram ainda mais populares no rádio, na execução a cada gol alvirrubro, sobretudo na era de ouro do Náutico, no hexacampeonato estadual. Naquela época, aliás, a segunda-feira de carnaval reservava espaço para o desfile do maracatu do Timbu Coroado.

Nos anos 1980, o carnaval vermelho e branco ganhou o Bonzão da Timbucana, sempre presente nas sociais dos Aflitos. Após um tempo tido como “azarado”, o boneco de olhos vermelhos voltou na Arena. O Náutico tem um repertório superior a 50 versões de frevo-canção, suficiente para um carnaval temático.

Os blocos
Timbu Coroado (Recife, Aflitos/desde 1934, com desfile no domingo)
Nação Alvirrubra (Bezerros/2001, segunda-feira)
Alvirrubros em Folia (Pesqueira/2006, segunda-feira)
Timbu Coroado (Limoeiro, sábado)

As músicas

Hino do Timbu Coroado (Nelson Ferreira, década de 1930)
O nosso bloco é mesmo enfezado
É o Timbu, é o Timbu Coroado
Desde cedinho já está acordado
É o Timbu, é o Timbu Coroado
Entre no passo
Que o frevo é de amargar
Pois a turma é muito boa
E no frevo quer entrar
Não queira bancar o tatu
Conheço seu jeito, você é Timbu
Esse negócio de casá, casá, casá
É negócio pra maluco
Pois ninguém quer se amarrar
Timbu sabe isso de cor
Casá pode ser bom, não casá é melhor
N – Á – U – T – I – C – O
Todo mundo vai saber isso de cor

Timbuate (Aldemar Paiva e maestro Luiz Caetano, década de 1950)
Timbu, no céu, no lar
Timbu, meu sol, meu ar
Ene-a-u-tê-i-cê-o
Sou de verdade teu fã
Mais do que ontem
Menos que amanhã (2x)
Timbuate é um sonho
Encantamento
Carnaval, delícia de cores
Movimento
Ene-a-u-tê-i-cê-o
Sou nos esportes teu fã
Sou nos esportes teu fã
Mais do que ontem
Menos que amanhã
Timbu no céu no lar
Timbu, meu sol, meu ar

Timbuzinho (Jorge Gomes, 1964)
Sou timbuzinho
Sou timbuzinho
Gosto do frevo
E gosto de carinho (2x)
As minhas cores são
Encarnado e branco
O Náutico é bicampeão
Nino dá a Nado
Nado a Geraldo
Gol, que sensação 

Papai do Nordeste (Jocemar Ribeiro, 1966)
Ene-a-u-tê-i-cê-o
A garra do leão
Baixou de cotação
O homem do boné
Levou um grande olé
O feitiço, meu amigo, deu azar
Foi cinco a um, na tabuleta o placar
Sou da cidade o tetracampeão
Vou gargalhar, ai, ai, ai
A vitória vai ficar
Para toda geração
Do Nordeste sou o papai

Hino do Timbu Coroado (letra de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso e composição de Nelson Ferreira)

Come e Dorme (1953, Nelson Ferreira)

Tomando conta das ladeiras em vermelho e preto

Carnaval do Sport. Fotos: sobreascidades.wordpress.com, Diario de Pernambuco  e Cláudio Maranhão/flickr

O carnaval rubro-negros não tem um bloco oficial na capital pernambucana. Até o início da década de 1990 havia o Leão Dourado. Mas nem por isso o frevo deixa de arrastar uma multidão de torcedores do Sport, com a maior quantidade de blocos espontâneos em Pernambuco.

Os frevos leoninos seguem em alto e bom som nos metais na Ilha, nas ladeiras de Olinda, no Galo da Madrugada e pelo interior do estado, com o maior número de blocos espontâneos. Na arquibancada, a orquestra da Treme-Terra puxa o frevo-de-rua mais famoso do clube, numa composição do maestro Nelson Ferreira, um tricolor, diga-se. A música Cazá Cazá, ainda tocada nas rádios, foi composta a pedido de Eunitônio Edir Pereira em 1955, ano do cinquentenário do Leão. O mesmo Eunitônio compôs o hino oficial anos do clube depois.

Seguindo o tom carnavalesco, há um frevo-canção ainda mais antigo, de 1936, também sob a batuta de Nelson Ferreira, em parceria com Sebastião Lopes, o “Pelo Sport Tudo”, o famoso dos brados. A música ficou conhecida como Moreninha, com vários elementos do carnaval, retrando bem a época.

Entre outros frevos do Sport, Haroldo Praça, autor do gol da vitória rubro-negra sobre o Santa Cruz por 6 x 5 na inauguração da Ilha do Retiro, em 1937, é citado no Frevo Nº 1 do Recife, de Antônio Maria, gravado em 1951 pelo Trio de Ouro.

No carnaval, acredite, há espaço até para homenagem a um dirigente após uma conquista emblemática. Com Jarbas Guimarães assumindo a presidência, em 1975 o Sport acabou com o jejum de doze anos. Mereceu um frevo-canção de Rogério de Andrade, “Este ano, nosso time / vai ser mesmo campeão / todo mundo vai cantar e dizer / ninguém segura o Sport não”.

Os blocos
Raça Rubro-negra (Bezerros/1994, terça-feira)
Leão da Barra (Goiana/2000, terça-feira)
Nação Rubro-negra (Pesqueira/2002, sexta-feira)
Rubro-negro de Coração (São José da Coroa Grande/2007, segunda-feira)
Cazá-Cazá (Nazaré da Mata/2008, terça-feira)
Cazá Cazá (Afogados da Ingazeira/2012, domingo)
Bloco do Sport (Condado/2012, terça-feira)
Leões da Mata (Palmares/2013, quinta-feira)
Leões na Folia (Ipojuca/2013, terça-feira)
Torcida do Sport (Bom Jardim, terça-feira)

As músicas

Pelo Sport tudo (Nelson Ferreira e Sebastião Lopes, 1936).

Moreninha que estas dominando
Desacatando agora pelo entrudo (2x)
Chegou a hora de gritares loucamente
Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo!
Vejo no batom dos teus lábios
E no teu cabelo ondulado
As cores que dominam altaneira por morena
Do meu glorioso estado
Moreninha que estas dominando
desacatando agora pelo entrudo (2x)
Chegou a hora de gritares loucamente
Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo!
Ter passado o carnaval
Pra que não te falte a boa sorte
Tira da minha vida e te manter eternamente
Tudo, tudo pelo Sport
Cazá, cazá, cazá, cazá, cazá
A turma é mesmo boa… É mesmo da fuzarca!
Sport! Sport! Sport!

O mais querido (Jovino Falcão, 1974)

Está comprovado
Já foi conferido
Que o mais amado
O mais amado é que é, é que é
É o mais querido
É ele o maior em nosso Estado
Destaca-se do remo ao futebol
É o consagrado campeão do Norte
O mais querido, o mais querido
É o nosso Sport

Ninguém segura o Sport (Rogério Andrade, 1975)

Este ano nosso time
Vai ser mesmo campeão
Todo mundo vai cantar e dizer
Ninguém segura o Sport não
Na Ilha vou ver, hei!
A turma pular, hei!
De alegria quando o time entrar
E mostrar a bola no pé
Meu Sport em ação
Cazá, cazá, cazá
Ninguém segura o Leão

Hino à Treme Terra (Renato Barros, 1979)

Chegando lá na Ilha do Retiro
Ô abre alas que o Sport vai jogar
O rubro-negro, é cor de guerra
É o super sport que estremece a terra
Chegando lá na Ilha do Retiro
Ô abre alas que o Sport vai jogar
O rubro-negro, é cor de guerra
É o super Sport que estremece a terra
Vivendo com o Sport esta emoção
A galera se engrandece muito mais
Quem não fala no Sport é mudo
Cazá, cazá, e pelo Sport tudo!

Pelo Sport Tudo / Moreninha (1936, Nelson Ferreira e Sebastião Lopes)

Cazá Cazá (1955, Nelson Ferreira)

O mar sem fim dos corais no carnaval

Carnaval do Santa Cruz. Fotos: Blog do Santinha, Juna d m-fard junior/divulgação e Diario de Pernambuco

Os blocos Cobra Fumando, no Arruda, e Minha Cobra, em Olinda, levantam a poeira no carnaval. No Tricolor de Capiba e Nelson Ferreira, o frevo-canção e a marcha-exaltação estão na boca do povão muito antes do concreto colossal no José do Rego Maciel. É o imenso carnaval do Santa Cruz.

Em um século de história do frevo, o Santinha teve dois dos maiores compositores do envolvente ritmo pernambucano. Nelson Ferreira (1902 – 1976) e Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba (1904 – 1997). O primeiro foi um gênio nos frevos-de-rua, extraindo dos metais a animação total do público, mas sem perder a linha como compositor. Cresceu com o frevo.

No supercampeonato de 1957, Nelson criou um frevo-canção gravado pelo cantor alvirrubro Claudionor Germano. “Vamos cantar com toda emoção / Um, dois, três, quatro, cinco, seis / Saudando a faixa de supercampeão / A que fez jus / O mais querido Santa Cruz / Foram três as vitórias colossais”.

O segundo, com 200 músicas no repertório, foi conselheiro coral em 1948, quando compôs a marcha “O Mais Querido”, decorada no Mundão e famosa da mesma taça de 1957. “Santa Cruz, Santa Cruz , junta mais essa vitória…”.

Irmão de Capiba, Marambá criou “Cobral Coral” em 1959, na voz de Rubens Cristino. “Quando aparece num gramado / O Santa Cruz dando xaxado / O adversário vai cair / Disso não pode fugir / Deixa a fumaça subir”. Bem antes disso tudo, Sebastião Rosendo compôs o mais famoso frevo-canção do clube, de 1942, atendendo um pedido de Aristófanes de Andrade, renomado tricolor. Saiu o frevo “Santa Cruz de Corpo e Alma”.

De corpo e alma ao papa-taças, as canções que apaixonam nas orquestras.

Os blocos
Cobra Fumando (Recife, Arruda/1992, segunda-feira)
Triloucura (Bezerros/2004, segunda-feira)
Minha Cobra (Olinda, Sítio Histórico/2006, segunda-feira)
A Cobra Vai Subir (Afogados da Ingazeira/2008, terça-feira)
Paixão Coral (Pesqueira/2009, segunda-feira)
Naza Coral (Nazaré da Mata/2011, domingo)
Tricolor na Folia (Timbaúba, segunda-feira)

As músicas

Santa Cruz de Corpo e Alma (Sebastião Rosendo, 1942)

Eu sou Santa Cruz
De corpo e alma
E serei sempre de coração
Pois a cobrinha quando entra no gramado
Eu fico todo arrepiado e torço com satisfação (2x)
Sai,sai Timbu
Deixa de prosa,
O seu Leão
Periquito cuidado com lotação
Que matou pássaro preto
Tricolor é tradição

O mais querido (Capiba, 1957)

Santa Cruz, Santa Cruz
Junta mais essa vitória
Santa Cruz, Santa Cruz
Ao te passado de glória
És o querido do povo
O terror do Nordeste
No gramado
Tuas vitórias de hoje
Nos lembram vitórias
Do passado
Clube querido da multidão
Tu és o supercampeão”.

Papa-Taças (João Valença e Raul Valença (década 1970)

Quem é que quando joga
A poeira se levanta
É o Santa, é o Santa
Escreve pelo chão
Faz miséria e não se dobra
É a cobra, é a cobra
É sem favor o maioral
O tricolor, a cobrinha coral
O mais querido timão das massas
Por apelido o papa-taças 

Se tu és tricolor (Capiba, 1990)

Se tu és tricolor
Que Deus te abençoe
Se não és tricolor
Que Deus te perdoe
O Santa tem a fibra
Dos Guararapes
Por tradição
É o mais querido
E sempre será
O clube da multidão

Santa Cruz de Corpo e Alma (1942, Sebastião Rosendo)

Vulcão Tricolor (2007, Maestro Forró). O último dos frevos-de-rua dos clubes.

A folia alvirrubra começa cedinho

Carnaval do Náutico. Fotos: www.nauticonews.com.br, Juna d m-fard junior/divulgaçã

É a torcida mais apressada para o carnaval. Desde cedinho já está acordada, mudando o humor da cidade, fazendo abrir o sorriso alvirrubro a cada esquina.

O domingo é do Timbu Coroado desde 1934, quando os atletas de remo do clube saíram pela Rua da Aurora, onde fica até hoje a garagem do remo timbu. Uma tradição que se mantém viva na base do frevo. O desfile agora ocorre nos Aflitos, com o bloco mais tradicional entre os grandes clubes o estado.

Além do Come e Dorme, frevo-de-rua do compositor coral Nelson Ferreira, que mesmo sem letra alguma se confunde com o próprio hino alvirrubro, os metais levantam a timbuzada com outra composição de Nelson, no frevo-canção Hino do Timbu Coroado, de autoria de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso.

Músicas que ficaram ainda mais populares no rádio, na execução a cada gol alvirrubro, sobretudo na era de ouro do Náutico, no hexacampeonato. Naquela época, aliás, a segunda-feira de carnaval reservava espaço para o desfile do maracatu do Timbu Coroado. Tempos depois, o Náutico teve até um boneco gigante, o Bonzão da Timbucana, sempre presente nos Aflitos nos anos 80. Agora, a ampliação carnavalesca, com a Casa Alvirrubra no Recife Antigo.

Com um repertório superior a 50 versões do frevo-canção, as músicas em homenagem ao clube ficaram ainda mais populares no rádio, na execução a cada gol do time, sobretudo nos anos 1960.

Os blocos
Timbu Coroado (Recife, Aflitos/1934, domingo)
Nação Alvirrubra (Bezerros/2001, segunda-feira)
Alvirrubros em Folia (Pesqueira/2009, segunda-feira)
Timbu Coroado (Limoeiro, sábado)

As músicas

Hino do Timbu Coroado (Nelson Ferreira, década de 1930)

O nosso bloco é mesmo enfezado
É o Timbu, é o Timbu Coroado
Desde cedinho já está acordado
É o Timbu, é o Timbu Coroado
Entre no passo
Que o frevo é de amargar
Pois a turma é muito boa
E no frevo quer entrar
Não queira bancar o tatu
Conheço seu jeito, você é Timbu
Esse negócio de casá, casá, casá
É negócio pra maluco
Pois ninguém quer se amarrar
Timbu sabe isso de cor
Casá pode ser bom, não casá é melhor
N – Á – U – T – I – C – O
Todo mundo vai saber isso de cor

Timbuate (Aldemar Paiva e maestro Luiz Caetano, década de 1950)

Timbu, no céu, no lar
Timbu, meu sol, meu ar
Ene-a-u-tê-i-cê-o
Sou de verdade teu fã
Mais do que ontem
Menos que amanhã (2x)
Timbuate é um sonho
Encantamento
Carnaval, delícia de cores
Movimento
Ene-a-u-tê-i-cê-o
Sou nos esportes teu fã
Sou nos esportes teu fã
Mais do que ontem
Menos que amanhã
Timbu no céu no lar
Timbu, meu sol, meu ar

Timbuzinho (Jorge Gomes, 1964)

Sou timbuzinho
Sou timbuzinho
Gosto do frevo
E gosto de carinho (2x)
As minhas cores são
Encarnado e branco
O Náutico é bicampeão
Nino dá a Nado
Nado a Geraldo
Gol, que sensação 

Papai do Nordeste(Jocemar Ribeiro, 1966)

Ene-a-u-tê-i-cê-o
A garra do leão
Baixou de cotação
O homem do boné
Levou um grande olé
O feitiço, meu amigo, deu azar
Foi cinco a um, na tabuleta o placar
Sou da cidade o tetracampeão
Vou gargalhar, ai, ai, ai
A vitória vai ficar
Para toda geração
Do Nordeste sou o papai

Hino do Timbu Coroado (letra de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso e composição de Nelson Ferreira)

Come e Dorme (1953, Nelson Ferreira)

Alceu Valença e Pelé. Cantores, compositores e…

Alceu Valença e Pelé

O cantor pernambucano Alceu Valença é quase sinônimo de carnaval.

Comanda a grande noite no Recife Antigo e também faz a ladeira pular em Olinda.

Canta o diabo loiro faiscando, a anunciação, aquela morenaça tropicana e tudo mais no frevo.

O talento, o jeito acelerado de falar, o passado psicodélico, a autenticidade. Uma soma com alto teor de popularidade, não só no estado.

Aos 67 anos, o artista de São Bento do Una coleciona histórias impagáveis. Uma delas numa conversa com ninguém menos que Pelé.

Em uma roda de entrevista, na Band, no domingo, o músico relembrou o episódio.

No encontro, o Rei, um tanto empolgado, falou…

“Eu também sou cantor e compositor.”

Na velocidade que lhe é característica, Alceu devolveu…

“É… Eu também jogo futebol.”

De fato, Alceu, rubro-negro na infância, bateu uma pelada com Bob Marley em 1980.

Os caboclos de lança que pesam uma tonelada no futebol

Caboclos de lança de Náutico, Sport e Santa Cruz. Crédito: Juna d m-fard junior/divulgação (Náutico e Santa) e Cláudio Maranhão/flickr (Sport)

O caboclo de lança é um dos principais símbolos do carnaval pernambucano.

Atrelado inicialmente ao maracatu rural, a colorida vestimenta com chapéu, gola de lantejoulas, óculos, surrão e lança logo se tornou constante nos carnavais, nas ladeiras de Olinda e no Recife Antigo.

Na mistura de todos, o futebol sempre tem o seu espaço. Como nas fantasias dos lanceiros folclóricos inspiradas nos três maiores escudos do estado.

No maracatu, confira as versões do Timbu, da Cobra Coral e do Leão.

O carnaval, aliás, é algo bastante presente nos grandes clubes pernambucanos, com fantasias, blocos, orquestras, canções de frevo, bonecos gigantes…

Sobre o carnaval nos grandes clubes, confira: Náutico, Santa Cruz e Sport.

Esses nomes realmente pesam uma tonelada.