Era de novos estádios no Recife em 1971 (projeto), 1980 (ampliação) e 2007 (arena)

Em três períodos distintos, os grandes clubes pernambucanos apresentaram projetos para a construção e ampliação de estádios no Recife. Seja pelo aporte do governo do estado, por empréstimos bancários de uma estatal ou pela oportunidade de obter investimento público-privado em uma modernização, o fato é que Náutico, Santa Cruz e Sport disputaram o mercado, direta ou indiretamente, em 1971, 1980-1982 e 2007-2011. O funil sempre foi estreito, com apenas um projeto de cada vez, com soluções corretas ou surpresas de última hora. Vamos lá, num passeio estrutural com imagens originais dos nove projetos. Depois, comente sobre os melhores projetos de cada época…

1971, a oportunidade de colocar o estado na Copa da Independência

Na época, a Ilha do Retiro era o maior estádio da capital, mas já considerado obsoleto, sobretudo com o Castelão e a Fonte Nova em evolução, chegando a 80 mil pessoas. A realização de um torneio internacional no país, o maior desde 1950, acabou gerando uma onda de investimentos estatais.

Arruda (conclusão)
Lançamento: 30/08/1964
Capacidade: 64.000
Custo: US$ 850 mil
Prazo original de conclusão: 7 anos (1972), cumprido
Presidentes do Santa Cruz: José do Rêgo Maciel (1964) e James Thorp (1971) 

O Arruda vinha sendo erguido aos poucos desde a década de 1960, com sucessivas ampliações. Em 1971, já recebia até 20 mil espectadores. Foi quando o então governador do estado, Eraldo Gueiros, quis transformar o Recife em subsede da Copa da Independência de 1972, a Minicopa, com a participação de 20 seleções. Com três projetos na mesa, acabou optando pelo Arruda, já no meio do caminho. Assim, liberou um empréstimo através do Bandepe, junto ao grupo Campina Grande S/A, para a conclusão do projeto criado por Reginaldo Esteves. Pelé, o rei, assinou o documento como testemunha. Finalizado em um ano pela construtora Corrêa Loyo Engenharia, o estádio recebeu sete jogos do torneio.

Maquete do Arruda. Foto: Acervo/dp

Presidente Médici (construção)
Lançamento: 06/08/1971
Capacidade: 140.000
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: 3 anos (1974), abortado
Presidente do Sport: Ivan Ruy de Andrade Oliveira 

Apontado como a “mais bela praça de desportos”, no primeiro projeto de Oscar Niemeyer para o Nordeste, o estádio seria o segundo maior do mundo, só abaixo do Maracanã. O projeto – cujo nome foi autorizado pelo então general-presidente – ficaria a menos de 1 km da Ilha do Retiro, na Joana Bezerra, cujo terreno de 26 hectares pertencia ao clube. Coberto, o estádio seria dividido por arquibancada (90 mil lugares), popular (25 mil), cadeiras (24 mil) e camarotes (1 mil), além de um estacionamento para cinco mil carros. Três mil cadeiras chegaram a ser vendidas, mas o sonho parou na terraplanagem da Hofmann Bosworth S/A. O motivo? Dívidas. “O Sport estava devendo dinheiro a Deus e ao mundo. Até o terreno, cedido pela família Brennand, foi negociado para amortizar o débito”, lembra Sílvio Pessoa, presidente em 1974.

Maquete do estádio Presidente Médici. Foto: Acervo/DP

Guararapes (construção)
Lançamento: 01/12/1971
Capacidade: 60.000
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: 3 anos (1974), abortado
Presidente do Náutico: Luiz Carneiro de Albuquerque 

Hoje em dia, o terreno de 40 hectares na Guabiraba abriga o centro de treinamento do Náutico. A área foi comprada em 20 de julho de 1971 por Cr$ 800 milhões. Para adquirir a propriedade, o clube sorteou 28 carros e 300 prêmios em dinheiro, arrecadando Cr$ 500 milhões (62,5% do total). A ideia, porém, não era fazer um CT, mas sim um moderno estádio, com traços inspirados no Olímpico de Munique, que receberia os Jogos no ano seguinte. O estádio timbu seria erguido pela Ribeiro Franco Engenharia nos moldes da Fonte Nova, utilizando os morros como suporte da arquibancada, diminuindo o custo. Segundo Salomão, ex-coordenador do CT e ex-jogador nos anos 60, o lançamento visava mesmo arrecadar fundos. “Conhecendo a estrutura do futebol, acho que o projeto foi para arrumar dinheiro para pagar dívidas. No final, foi melhor mesmo construir um CT”.

Maquete do estádio Guararapes. Foto: Acervo/DP

1980-1982, a era dos empréstimos do Bandepe

Numa era de gigantismo, com a melhora de infraestrutura sendo sinônimo de estádios maiores, os grandes clubes resolveram investir na ampliação. Se caixa, recorreram ao Bandepe, com influência política para a obtenção de empréstimos Apenas o Santa concluiu a obra, com o Sport parando na primeira parte e investindo o resto em calçamento

Arruda (ampliação)
Lançamento: 20/01/1980
Capacidade: +46 mil lugares (até 110.000)
Custo: Cr$ 282 milhões
Prazo de conclusão: 2 anos (1982), cumprido
Presidente do Santa Cruz: Rodolfo Aguiar

No início de 1980, o projeto de ampliação foi apresentado no Palácio do Campo das Princesas ao então governador Marco Maciel – o filho do nome oficial do Mundão. Ao contrário do estádio coral conhecido hoje em dia, a maquete trazia o anel inferior prolongado a um tamanho gigantesco. A visita visava o financiamento da obra no Bandepe. Além do recurso, era preciso legalizá-la. Numa articulação de um ano junto à Prefeitura do Recife, por causa das residências próximas, o projeto acabou adaptado à forma definitiva, com dois anéis e um lance menor na Rua das Moças. Entre janeiro de 80 e 81, a inflação e novos custo saltaram a previsão de gasto de 70 mi para 282 milhões de cruzeiros. Após a confirmação, o clube divulgou informes publicitários no Diario de Pernambuco com a chamada ““Valeu a pena modificar – Aprovado novo aprovado”.

Maquete original da ampliação do Arruda (1980). Foto: Acervo/DP

Aflitos (ampliação)
Lançamento: 28/11/1981
Capacidade: +25 mil lugares (até 50.000)
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: não divulgado
Presidente do Náutico: Hélio Dias de Assis

O Arruda já estava em obras quando a direção alvirrubra apresentou o “plano de expansão” dos Aflitos. Contaria com novas gerais, fosso, camarotes, cabines de imprensa e um novo lance de arquibancada onde funcionava o velho placar (balança mas não cai). “Não faremos dos Aflitos o maior estádio, mas o mais aconchegante”, frisou o mandatário.” Lendo assim, até parecia algo pequeno, mas seria um dos maiores estádios particulares do país. Na reportagem do Diario de Pernambuco, o custo foi tratado da seguinte forma: “estimativa dentro da realidade do nosso futebol, ou seja, o Náutico está se preparando para o presente e futuro”. A obra não saiu, com o clube usando parte do recurso obtido no Bandepe para a reforma do calçamento de todo o clube. Ps. A ampliação realizada nos Aflitos entre 1996 e 2002 ficou bem parecida.

Maquete da ampliação dos Aflitos (1981). Foto: Arquivo/DP

Ilha do Retiro (ampliação)
Lançamento:25/04/1982
Capacidade: +55 mil lugares (até 90.000)
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: 2 anos (1984) na 1ª etapa e 4 anos (1986) na 2ª
Presidente do Sport: José Antônio Alves de Melo

A ideia era aumentar em 157% a capacidade da Ilha, em duas etapas, como registra o texto original do Diario: “a obra foi dividida em forma de blocos, ou seja, o estádio seria ampliado em quatro etapas (…). Entretanto, com as alterações feitas no projeto, os trabalhos ficaram divididos em apenas duas etapas: a primeira compreende 80% das obras e os 20% restantes representam a segunda”. Só a primeira saiu do papel. Imaginava-se 70 mil, mas a lotação máxima (com os tobogãs e as novas cadeiras centrais) seria de 52 mil pessoas. O ex-presidente Jarbas Guimarães ainda foi profético na época: “O futebol pernambucano tinha que manter a sua célula-mater viva, ou seja, nunca construir um estádio estadual, e sim, reformar e ampliar os três estádios particulares”. Como o Náutico, usou parte do dinheiro no calçamento.

Maquete da ampliação da Ilha do Retiro (1982). Foto: Arquivo/DP

2007-2011, a onda das arenas para a Copa do Mundo

Com o Brasil confirmado como sede do Mundial de 2014, em 2004, inúmeros governos estaduais e/ou clubes começaram a articular projetos de arenas, seguindo o pesado caderno de encargos da Fifa. Na época, o discurso era de investimento privado, o que pouco depois se mostraria longe da verdade, com inúmeros financiamentos federais. Ah, os três projetos abaixo ficaram no 3D, com o governo do estado bancando a Arena Pernambuco, criada em 2009, a 19 quilômetros do Marco Zero.

Arena Coral (ampliação e modernização)
Lançamento: 28/06/2007
Capacidade: 68.500
Custo: R$ 190 milhões
Prazo original de conclusão: 7 anos (2014)
Presidente do Santa Cruz: Édson Nogueira

A Arena Recife-Olinda, em Salgadinho, foi o primeiro projeto de arena no estado. Surgiu em 29 de maio de 2007, orçada em R$ 335 milhões. No mês seguinte, o Santa Cruz apresentou uma alternativa, com o plano de mordernização do Arruda, 43% mais barato. Com a capacidade estipular (68,5 mil), o palco poderia receber qualquer jogo da Copa. O custo da obra seria dividido entre reforma (R$ 150 mi) e a construção de um prédio de serviço, sede e estacionamento (R$ 40 mi). “O melhor é que o clube não vai precisar gastar nada. Todo o dinheiro virá da iniciativa privada. Hoje já temos contatos com quatro investidores interessados no projeto”, garantiu David Fratel, diretor da Engipar, a empresa paulista que firmou a parceria com o Tricolor, responsável pela captação de recursos. Os recursos jamais foram captados.

Arena Coral. Imagem: divulgação

Arena Timbu (construção)
Lançamento: 18/11/2009
Capacidade: 30.000
Custo: R$ 300 milhões
Prazo original de conclusão: 5 anos (2014), abortado
Presidente do Náutico: Maurício Cardoso

A direção do Náutico anunciou a ideia de construir uma arena em 2007. Na época, dois projetos já tinham sido lançados, a Arena Coral e a Arena Recife-Olinda. Dois anos depois, refinou a ideia e a apresentou ao então prefeito, João da Costa. Com capacidade para 30 mil pessoas, o projeto seguia os traços modernos dos novos estádios, já contendo um capítulo de ampliação para 42 mil lugares – visando a Copa. Localizado entre a BR-101 e a Avenida Recife, no Engenho Uchôa, o estádio seria operado durante 30 anos pelo consórcio envolvendo Camargo Corrêa, Conic Souza e Patrimonial Investimentos. O estádio, que não chegou a conseguir a autorização da prefeitura, foi deixado de lado quando o timbu começou a negociar o contrato para mandar seus jogos na Arena Pernambuco, o que acabou ocorrendo em 17 de outubro de 2011.

Arena do Náutico. Crédito: divulgação

Arena Sport (construção)
Lançamento: 17/03/2011
Capacidade: 45.000
Custo: R$ 400 milhões (ou R$ 750 milhões pelo complexo)
Prazo original de conclusão: 4 anos (2015)
Presidente do Sport: Gustavo Dubeux 

Aproveitando a onda de investimentos, o Sport articulou a sua própria arena, à parte do empreendimento em construção em São Lourenço. O plano era demolir o clube e erguer um estádio multiuso, um shopping center, dois empresariais e um hotel. No entanto, a direção leonina não esperava tantas barreiras burocráticas junto à Prefeitura do Recife. A principal autorização, dada pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU), só viria em dezembro de 2013 – essa demora resultou numa mudança completa na arena, saindo da DDB/Aedas para o escritório Pontual Arquitetos, cujo projeto foi revelado em março de 2012. Ainda assim, era preciso regularizar outros documentos. Quando tudo para iniciar a obra ficou ok, o investidor anunciado, a Engevix, não entrou mais em contato – e posteriormente seria investigada na Lava-Jato.

Arena do Sport. Crédito: divulgação

Os gigantes de concreto clamam por reformas, com ou sem estrelas

Projeto de ampliação do estádio Camp Nou, do Barcelona. Crédito: divulgação

O Camp Nou integra a exclusiva casta “cinco estrelas” da Uefa, em uma classificação estrutural dos estádios de futebol. Na temporada 1998/1999, o palco do Barcelona, o maior da Europa, recebeu a nomenclatura máxima, podendo receber qualquer decisão organizada pela entidade.

Inaugurado em 1957, o Camp Nou ainda é um estádio moderno. Contudo, há falhas, como pilastras na frente de alguns assentos, nos resquícios das várias reformas. Para corrigir tudo isso, acrescentar seis mil lugares e uma cobertura, o Barça conduzirá uma reforma entre 2017 e 2021. Chegando a 105.354 lugares, o Camp Nou se tornaria um dos três maiores estádios do mundo.

O orçamento de 600 milhões de euros agregaria outras obras ao redor do clube espanhol. A previsão é quitar a conta até 2024. Os investidores já apareceram.

Enquanto isso, no Recife, o Santa Cruz segue em busca de parceiros para tocar o seu projeto. A Arena Coral foi lançada em 2007. Na época, o custo para remodelar o Arruda foi calculado em R$ 200 milhões. Desde então, com novas exigências na infraestrutura, o possível gasto ainda não refeito.

Curiosamente, a reforma milionária também deixaria o estádio José do Rego Maciel em terceiro lugar, mas no ranking nacional. À frente do Mundão, hoje necessitado, está só o Morumbi entre os não reformados ou construídos no mais recente Padrão Fifa. Cara ou não, a mudança é essencial. Como comprovou o Barça, mesmo já sendo proprietário de um estádio cinco estrelas…

Maiores estádios de futebol do mundo
1º) Rungrado May Day (Pyongyang, Coreia do Norte) – 150.000
2º) Salt Lake (Calcutá, Índia) – 120.000
3º) Azteca (Cidade do México, México) – 105.064
4º) Azadi (Teerã, Irã) – 100.000
5º) Camp Nou (Barcelona, Espanha) – 99.354
6º) Soccer City (Joanesburgo, África do Sul) – 94.700
7º) Rose Bowl (Pasadena, Estados Unidos) – 93.420
8º) Wembley (Londres, Inglaterra) – 90.000
9º) Gelora Bung (Jacarta, Indonésia) – 88.306
10º) Bukit Jalil (Kuala Lumpur, Malásia) – 87.411

Com 105.354 lugares, o Camp Nou subiria para o 3º lugar no ranking mundial

Maiores estádios de futebol do Brasil
1º) Maracanã (Rio de Janeiro-RJ) – 78.838
2º) Mané Garrincha (Brasília-DF) – 72.788
3º) Morumbi (São Paulo) – 67.052
4º) Itaquerão (São Paulo-SP) – 65.807
5º) Castelão (Fortaleza-CE) – 64.846
6º) Mineirão (Belo Horizonte-MG) – 62.547
7º) Arena Grêmio (Porto Alegre-RS) – 60.540
8º) Arruda (Recife-PE)- 60.044
9º) Parque do Sabiá (Uberlândia-MG) – 56.450
10º Beira-Rio (Porto Alegre-RS) – 56.000

Com 68.500 lugares, o Arruda subiria para o 3º lugar no ranking nacional

Projeto da Arena Coral

Pré-arena, as três décadas do Colosso

Ampliação do Arruda, em 1980. Foto: Diario de Pernambuco

Esta temporada marca o aniversário de 30 anos de um apelido que orgulha o Mundão.

Com um megaprojeto, o Arruda começcou a ser erguido aos poucos em 1965, com sucessivas ampliações bancadas pela torcida coral.

Em 1971, o governador Eraldo Gueiros liberou um empréstimo ao Tricolor de US$ 850 mil, através do Bandepe, junto ao grupo financeiro Campina Grande S/A, para a conclusão das obras. O craque Pelé assinou o documento como testemunha do financiamento.

O objetivo era transformar o Recife em subsede da Copa da Independência de 1972, que teve a participação de 20 seleções. Sport e Náutico também tentaram obter o investimento, mas uma comissão do governo apontou o Arruda como o mais viável.

O estádio José do Rêgo Maciel começaria a ser ampliado novamente em 1980, quando a sua capacidade aumentou para 85 mil pessoas, após a inauguração do anel superior em 1º de agosto de 1982, dando origem ao apelido “Colosso do Arruda”.

Visando o centenário do clube tricolor, em 2014, foi lançado em 2007 o audacioso projeto “Arena Coral”, com o mesmo arquiteto do Arruda original, Reginaldo Esteves.

Os tricolores tentaram, sem sucesso, emplacar o estádio no Mundial de 2014. Sem apoio político e financeiro, o projeto segue parado. O sonho, jamais…

Arena Coral. Crédito: Santa Cruz/divulgação

Copa baseada em projetos utópicos

Arenas lançadas no Recife no século XXI. Arte: Diario de Pernambuco

Brasil x Ucrânia, Cidade da Copa

Abertura da Copa do Mundo de 2014. Domingo, céu nublado no Recife. Coisa rara num mês marcado pelas pancadas de chuva. Mesmo com algumas avenidas alagadas, o clima na capital pernambucana é de festa. O aguardado primeiro jogo do Mundial vai acontecer às 17h, a dezenove quilômetros do Marco Zero, na recém-inaugurada Cidade da Copa, diante de 46.214 torcedores.

Ao redor da arena o visual é espetacular, com canhões de luzes amarelas e verdes apontando para a cobertura de policarbonato, dando vida ao estádio. Cores que condizem com a presença no gramado da Seleção Brasileira, a anfitriã, pronta para enfrentar a Ucrânia. Enquanto Neymar e Ganso lutam para furar a muralha ucraniana, uma multidão de repórteres tem o aporte do centro de imprensa ao lado do estádio mais caro da Copa. A suada vitória brasileira acaba sendo transmitida em 3D em sinal aberto para algumas cidades do Brasil.

Argentina x Gana, Arena do Sport

Dia seguinte. Chega a vez da estreia dos hermanos argentinos. Após 15 dias de isolamento em um resort no litoral sul de Pernambuco, o time que idolatra Maradona encara Gana na arena do Sport. Estádio que um dia abrigou a Ilha do Retiro, sede do único jogo da Copa do Mundo de 1950 no Nordeste. A chuva fina na arena não mudou a marra de El Diez, que adotou mais uma vez a postura de “Poderoso Chefão”, de terno bem apertado e gravata.

Com um forte esquema de segurança, e sob os olhares de alguns integrantes da Torcida Jovem, a torcida argentina invadiu o estádio, comprovando a expectativa de que a hinchada de Buenos Aires seria mesmo o maior contingente de gringos no país. Com muito barulho e centenas de faixas nas arquibancadas, a Argentina vence por 2 x 0. Após oito anos, Lionel Messi voltou a marcar um gol no Mundial.

Itália x Suécia, Arena Recife

Na mesma tarde, mas em Engenho Uchôa, a Itália dava largada ao temível grupo da morte, contra a Suécia, que não disputava a Copa desde 2006. O estádio do Náutico foi o último a ser entregue pelo comitê organizador, porém, recebeu elogios da Fifa pela estética ousada, a única comparada ao Mundial da África do Sul. Em campo, uma Azzurra renovada. Mesmo assim, os jogadores, muitos deles desconhecidos do grande público, foram bastante assediados pelas tietes pernambucanas em frente ao hotel cinco estrelas na Avenida Boa Viagem.

Em campo, o time recuperou a péssima imagem deixada pela prematura eliminação anterior e venceu a Suécia por 2 x 1. Na saída da partida, muitas torcedoras suecas foram “consoladas” pelos pernambucanos de plantão. E a primeira fase do Mundial seguiu com dois ou três jogos diários no estado.

Holanda x Uruguai, Arena Recife-Olinda

Uma das partidas mais aguardadas acabou acontecendo apenas na última rodada do Grupo F, entre a atual vice-campeã Holanda e o Uruguai, que perdeu a emocionante semifinal de 2010 justamente para a Laranja Mecânica. Como não foi escolhida como cabeça-de-chave, a Celeste Olímpica acabou na mesma chave do algoz, numa dessas ironias do mundo da bola. O jogo foi marcado para a Arena Recife-Olinda, a poucos metros da Cidade Patrimônio, tão marcada pela cultura holandesa. E o que dizer dos uruguaios, cujo consulado fica no próprio Sítio Histórico?

Aos 35 anos, o Bola de Ouro da Celeste, o meia Diego Forlán, não apresentara o mesmo futebol até então, mas num lampejo de genialidade, acertou um chutaço de fora da área e empatou o jogo aos 44 minutos do segundo tempo, com a cara da garra charrúa. O resultado classificou os dois países para a fase seguinte. Com a paz selada entre as duas torcidas, a festa aconteceu logo depois, pertinho dali, no Alto da Sé.

Brasil x Espanha, Arena Coral

Mesmo com alguns problemas no sistema de transporte, com a capacidade insuficiente do Corredor Norte-Sul e o excesso de passageiros transitando no Aeroporto Internacional dos Guararapes, apontado antes da competição como um dos cinco melhores do mundo, o Mundial seguiu dentro dos padrões da Fifa, chegando à mesma nota 9 dada ao país-sede quatro anos atrás. No último dia, o duelo que deveria ter acontecido na África do Sul: Brasil x Espanha. A Fúria e o passo final para consagrar a geração de Iniesta e Xavi contra a Seleção e a chance de apagar de vez o Maracanazo. Ou seria Arrudazo? Final da Copa de 2014, 13 de julho, na Arena Coral.

Foi o mais polêmico de todos os projetos. O estádio tricolor chegou a ser vetado pelo secretário geral da Fifa, Jerome Valcke, por causa dos problemas estruturais e as apertadas vias de acesso. Mas Pernambuco não abriu mão do Arruda e costurou a entrada do estádio, o único com capacidade para receber a finalíssima do 20º Mundial. Um dia histórico no Recife, um “Galo da Madrugada” nas ruas em pleno inverno.

A torcida caminhou desde os principais pontos de concentração, como Encruzilhada, Campo Grande e Casa Amarela. Como todos os 68.500 bilhetes foram vendidos cerca de um ano antes (sendo 40% deles para os estrangeiros), uma multidão de 30 mil pessoas se concentrou no Fifa Fan Fest no Recife Antigo. A decisão acabou às 22h. Soberano em campo, o Brasil ganhou a sexta estrela. Em uma Copa 100% pernambucana.

Ao todo, os cinco estádios custariam R$ 1,692 bilhão, com 235.514 assentos. Acredite se quiser, mas esse texto fictício também está no Diario (veja aqui).

Pedra fundamental ou erro fundamental?

Cidade da Copa1º de março de 2010.

Prazo máximo dado pela Fifa para que começassem as obras dos novos estádios para a Copa do Mundo de 2014.

Um deles ainda se enrola em centenas de papeis, articulações políticas e incerteza perante o público.

A Cidade da Copa.

Lançado com toda pompa em 15 de janeiro do ano passado, o megaprojeto orçado em R$ 1,59 bilhão deveria registrar a sua pedra fundamental na manhã desta segunda-feira.

Mas o terreno de 230 hectares em São Lourenço da Mata continua do mesmo jeito.

Uma viatura da Polícia Militar segue patrulhando a entrada e saída de pessoas da comunidade de Jardim Penedo de Baixo. Moradores sem informações sobre a data da desocupação. Nem o novo endereço, o que é ainda mais grave.

Continua tudo na mesma, como há um ano, quando a arena pernambucana para o Mundial foi apresentada pelo governo do estado.

O resultado da futura licitação, hoje, seria “deserto”, jargão para definir a ausência de candidatos.

Bastaria um.

O suporte do consórcio era uma parceria com dois dos três grandes clubes do Recife.

Proposta inicial: jogar sem custo algum em um estádio com “padrão Fifa” durante 30 anos e ainda dividir os lucros (ficando com a maior porte).

Dirigentes de Sport, Santa Cruz e Náutico bocejaram.

Rubro-negros bateram o pé e decidiram ficar isolados numa ilha. Do Retiro.

Alvirrubros ainda negociaram um acordo com os governistas, mas a Arena Recife, no Engenho Uchôa, acabou atraindo toda a atenção timbu.

O Náutico não só deixou o projeto pernambucano como passou a fazer lobby para o mais novo estádio de papel da cidade.

Enquanto isso, tricolores continuaram com a mesma posição, divagando sobre a construção de um “elefante branco” a 9 quilômetros do Marco Zero e a possibilidade de tocar o velho projeto da Arena Coral.

O governo avançou pelos flancos e mandou uma segunda proposta.

Além das benesses da primeira carta, o clube que aceitasse (neste momento, o governo já apelava para contar com pelo menos “um” time) ganharia um centro de treinamento novinho em folha, bancado pelo grupo de investidores da arena.

Nessa, o Santa Cruz balançou. Pediu 15 dias. Tempo suficiente para avaliar e negar.

Logo em seguida, a terceira oferta.

Tudo o que estava escrito nas duas primeiras propostas e mais R$ 10 milhões.

E aí? Nada.

O governo ficou de mãos atadas. Ficou não. Está.

O discurso oficial é de que Pernambuco vai construir o estádio independentemente da aceitação dos clubes locais. Uma medida de quem não quer perder (ou cogitar perder) o status de subsede de um Mundial, ainda mais num período de avanço econômico.

Nada de pedra fudamental nesta segunda-feira. Será mais um dia para pensar numa solução para o erro fundamental: como tocar o ousado e caro projeto sem a força motriz de uma torcida de massa?

A conferir.

A proposta

Projeto do CT do Íbis

O presidente coral Fernando Bezerra Coelho recebeu na tarde desta quinta-feira o secretário da Casa Civil do estado, Ricardo Leitão.

Lembrando que FBC também é o titular de uma pasta do governo de Pernambuco (Desenvolvimento Econômico).

Mas na condição de mandatário do Santa Cruz, ele recebeu Leitão para ouvir a proposta do estado para levar o Tricolor para a Cidade da Copa a partir de 2014.

Santa CruzNenhuma despesa para jogar na Arena Capibaribe? Ok.

Espaço para uma loja oficial no estádio? Ok.

Parte da receita com publicidade? Ok.

Até aí, tudo esperado… E já considerado insuficiente pelos dirigentes corais. Mas eles não esperavam pelo golpe de mestre.

Aí, o 4º item foi colocado na mesa. Surpreendente. Balançou…

Um Centro de Treinamento novinho em folha. Moderno. Estruturado. Pronto para preencher a maior lacuna do clube atualmente. Nesta década, o time treinou em CTs (Intercontinental e Unibol) através de permutas. Os dois rivais já têm um CT… 😯

Ao Santa Cruz, uma condição: jogar no mínimo 20 vezes por ano na Cidade da Copa durante 30 anos, período da concessão do grupo de investidores que ganhar a licitação para construir o estádio.

Os tricolores deverão entregar uma contraproposta, com menos jogos em São Lourenço da Mata, até o próximo dia 15.

E você, torcedor coral… Aceitaria “a” proposta?

Obs. A imagem do CT é o projeto do Íbis. Isso mesmo, do Pássaro Preto (veja AQUI).

Arena Coral sem apoio do estado

Arena Coral

Abaixo, trechos da entrevista com o secretário da Casa Civil de Pernambuco, Ricardo Leitão, que negou qualquer possibilidade de retomar o projeto da Arena Coral, do Santa Cruz, orçado em R$ 190 milhões. Ele garantiu a Cidade da Copa mesmo se nenhuma empresa se inscrever no edital.

“O unico projeto que existe em Pernambuco,  aprovado pela Fifa e pelo Comitê da Copa de 2014, é a Cidade da Copa, em São Lourenço da Mata. Não existe nenhum outro projeto. Não existe outra alternativa”.

“Faremos a licitação. Ela será concluída e a arena será construída. Temos uma data. Já iniciamos os contatos com o governo federal, para ver a mobilidade urbana. Os investidores privados já estão contactando as instituições financeiras”.

“Nenhum empresário se interessou em reformar os estádios particulares do Recife para o Mundial. Os clubes se mobilizaram, mas nenhum grupo se interessou. Se a opção fosse particular, o governo não colocaria recursos.

“Estamos trabalhando com o projeto da Cidade da Copa desde o ano passado. É uma PPP (parceria público-privada), na qual o governo entra com o terreno e uma contrapartida”.

“Nenhuma fonte do governo confirma o interesse de reformar o Arruda. Essa opção não existe”.

“Se nenhum consórcio aparecer na licitação, o governo do estado tem a opção de transformar o projeto em uma obra publica, que seria feita com investimento direto do estado. Mesmo assim, é uma hipótese bastante improvavel, porque já existem grupos interessados”.

Leia a matéria do Diario sobre essa polêmica AQUI.

Enquete: Como será o mandato de Fernando Bezerra Coelho?

Arena Coral, projeto do Santa para a Copa do Mundo de 2014Candidato único para a presidência do Santa Cruz no próximo biênio, o secretário de Desenvolvimento Econômico do estado, Fernando Bezerra Coelho, vem sendo um verdadeiro rolo-compressor desde que o seu nome foi oficializado no processo eleitoral coral. FBC vem aglutinando nomes de peso para compor a diretoria e o Conselho Deliberativo do clube. Uma verdadeira luz no fim do tunel. Portanto, qual é a expectativa para o mandato em 2009 e 2010 do novo presidente tricolor?

OPINE!

A nova enquete está no lado direito do menu do blog.

Obs. Com a chegada de FBC ao Santa, até mesmo o projeto da Arena Coral (ilustração acima) voltou para a pauta. Lançado em junho de 2007, o projeto prevê uma reforma completa no Arruda, que passaria a ter uma capacidade de 68.500 pessoas sentadas (o anel superior seria ampliado). O orçamento do sonho tricolor é de R$ 190 milhões. É, também, a cartada do clube para colocar o Arruda como o estádio pernambucano candidato a subsede da Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil.

É bom avisar que a Copa será em 2014

Arena Recife-OlindaHá quase um ano, a Fifa confirmava o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014. Uma responsabilidade daquelas para o país, que recebeu o evento apenas uma vez, em 1950. E há quase um ano também segue a dúvida sobre as subsedes do Mundial. Algumas cidades já foram confirmadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília), mas e a proposta pernambucana? A candidatura conjunta Recife/Olinda foi bem recebida pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, até mesmo porque existe um novo estádio no projeto (capacidade para 42 mil pessoas). Mas é aí que começa a série de dúvidas sobre o pleito pernambucano.

A Arena Recife-Olinda (ilustração acima)- projeto do governo do estado junto à iniciativa privada – seria construída no bairro de Salgadinho em Olinda. O elevado custo para desapropriar a área (mais de R$ 100 milhões) vem inviabilizando a execução da obra. Aliás, para ela sair do papel, o estado precisa ser confirmado como subsede. É o gato correndo atrás do rabo. O Náutico, por sua vez, anunciou em outubro de 2007 que construirá um novo estádio (a Timbarena, em local a ser confirmado), através de uma parceria com a empresa potuguesa Lusoarenas. Dificilmente, porém, Pernambuco comportará dois estádios multiuso. Por isso, o presidente do Náutico, Maurício Cardoso, vem tentando há 15 dias uma audiência com o governador Eduardo Campos, para conversar sobre o assunto. O governo tem total interesse que um clube local administre o estádio.

Vale lembrar ainda que o Santa Cruz divulgou, também no ano passado, o projeto Arena Coral, com o objetivo de modernizar todo o Arruda. Projetos, projetos, projetos… É animador sim. Mas será ainda mais se pelo menos um deles chegar pelo menos à etapa da “pedra fundamental“. Pernambuco ganharia bastante. Apesar de todo esse rebuliço, alguns setores já se mexem. O Sindicato de Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco/PE) promoveu hoje o Seminário Copa 2014, no Recife Palece, que teve como objetivo reunir representantes do governo do estado e das prefeituras de Olinda e Recife (além de empresários), até mesmo porque Pernambuco terá que se estruturar bastante para receber a Copa. Que é um desejo de todos. Por mais que não pareça, ainda.