O suposto sumiço da “taça das bolinhas” retomou a antiga polêmica do Brasileirão de 1987. Então, nada como publicar mais um causo da histórica conquista do Sport. Veja o primeiro causo publicado no blog, sobre um dos personagens do título, o ex-ministro da Educação Hugo Napoleão, clicando AQUI. Confira outra surpreendente história:
Dois advogados defenderam o Leão na batalha jurídica pela homologação do título nacional daquele ano. Ambos torcedores do Náutico. Mais. Ambos são conselheiros do Alvirrubro. Renato Rocha, hoje com 60 anos, e José Henrique Wanderley Filho, 63.
Em 1988, antes da realização do quadrangular final, o Flamengo conseguiu uma liminar na Justiça Estadual do Rio de Janeiro que invalidava a fase final do Brasileiro.
Com o documento salvador em mãos, o Flamengo não precisaria enfrentar o Sport na Ilha do Retiro, em 27 de janeiro.
O que fazer, então? Em mais uma das dezenas de reuniões que ocorreram na sede do clube pernambucano por causa do imbróglio, ficou decidido que Renato Rocha viajaria até a capital carioca para tentar derrubar a liminar.
Ele viajou acompanhado de um diretor do Sport. Voo com escalas. Quase três horas.
Pousaram no Aeroporto Santos Dumont, a poucos minutros do centro da Cidade Maravilhosa. Missão: Palácio da Justiça na Avenida Erasmo Braga. Centro.
Chegando lá, a surpresa. Indigesta. A juíza plantonista estava descansando em sua casa na paradisíaca Angra dos Reis. A 150 quilômetros de distância…
Bastou um rápido telefonema para ter a verba liberada para alugar um carro. Trajeto pela rodovia BR-101, com trechos sinuosos na orla fluminense.
A chuva, porém, era intensa no Rio. Visibilidade ruim e trânsito lento. Pior. Mais à frente, eles encontraram a pista interditada.
A Polícia Rodoviária Federal havia bloqueado a estrada após um deslizamento. Os tratores levariam algumas horas para limpar o asfalto.
E agora, qual seria a solução? O relógio começava a acelerar rumo ao fim do prazo possível para derrubar a liminar.
Com a situação já batendo o desespero nas entranhas da justiça, Renato Rocha ligou para o então presidente do Sport, Homero Lacerda.
“Presidente, a pista está bloqueada. Não temos como chegar até Angra…”
“Então, alugue um helicóptero.”
“Mas Homero, estamos longe e somente a juíza é que poderia assinar.”
“Então, alugue logo o helicóptero…”
“É sério isso? É caro e não deve ser fácil. A distância é grande.”
“Então alugue a porra do helicóptero! Estou sendo claro? O Sport paga.”
Ainda desconfiado da seriedade da declaração, Renato foi até uma empresa de táxi aéreo. Havia um helicóptero disponível. O contrato foi firmado em nome do clube.
Rapidamente, o piloto chegou até Angra dos Reis. Logo depois, finalmente, a mansão da magistrada. A incredulidade dela estava clara.
Ela estava acompanhada do marido. Torcedor do… Flamengo. Apesar do tom de brincadeira sobre a situação, a legalidade jurídica falou mais alto.
Ela acatou os argumentos leoninos e derrubou a liminar do Flamengo.
O jogo foi confirmado. Apesar da certeza de que o Fla não apareceria, 38 torcedores do Leão pagaram ingresso para a partida na Ilha do Retiro. Após aguardar durante meia hora, o árbitro Ulisses Tavares deu a vitória ao Sport por WO, pontualmente às 22h. A sirene da Ilha (hoje desativada) tocou.