Um olhar sem segredos no Palácio

Estádio Tomás Ducó, do Huracán, em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Pausa no futebol, postagem sobre cinema. Ainda que com futebol…

O foco desta pauta estava no obscuro bairro de Parque Patrícios, localizado no início da periferia da capital argentina. Ruas pouco movimentadas, algumas praças (daí o nome), várias fábricas, poucos prédios e um clima não muito propício para o turismo.

Então, após sair do Centro e descer na última estação da linha B do metrô, no bonito terminal de Constitución, uma rápida corrida de táxi até o destino, por 15 pesos (R$ 6).

Lá, na Avenida Amancio Alcorta, na altura do nº 2570, encontra-se um prédio imponente, como o de um palácio. Ou, literalmente, El Palacio, inaugurado em 1949.

Os seus corredores, contudo, levam ao gramado de um dos clubes mais tradicionais da cidade, o Huracán, mergulhado em uma longa má fase técnica, de quase duas décadas.

Porém, o seu estádio, o Tomás Adolfo Ducó, com capacidade para 48.314 pessoas em um formato de caldeirão, passou a ser um novo ponto de visitação em Buenos Aires.

A localização não ajuda, mas a sua história, sobretudo a recente, atrai novos turistas.

Em 2009, durante três dias e três noites, a cancha do Huracán ficou sob os cuidados de Juan José Campanella, renomado diretor de cinema, produzindo o seu 8º filme.

Tudo para uma cena antológica da película argentina O segredo dos seus olhos, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado.

Estádio Tomás Ducó, do Huracán, em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Na história, a cena ocorre em 1975, no clássico Huracán x Racing. Do helicóptero até a perseguição nos corredores, uma sequência sem cortes (veja o making of aqui).

Para a minha surpresa, o acesso ao “set” improvisado foi bem rápido, autorizado pela secretária do estádio, Myriam Santillan, presente nos créditos do filmes, aliás.

“Desde que saiu o filme, brasileiros começaram a aparecer aqui, sempre perguntando sobre o local exato da gravação (a arquibancada “popular visitante”, na foto abaixo). Quase todos vêm de La Boca (onde fica a Bombonera) e só nos visitam por causa do ‘Segredo’. Campanella deixou algo bom aqui.”

Cinema à parte, vale dizer que o Huracán, em grande fase, seria o vice-campeão argentino de 1975, dois anos após a sua única conquista na era profissional.

Por sinal, aquele time histórico de 1973 foi dirigido por César Luis Menotti , que cinco anos depois comandaria a Argentina em seu primeiro título da Copa do Mundo…

Esse fase vitoriosa do Huracán ficou mesmo para as telonas.

Zona mista, uma zona

La Plata – A popular “zona mista”, uma área reservada para entrevistas depois dos jogos, já havia sido tema de um post no blog nesta Copa América (relembre aqui).

Aqui vai, então, um vídeo gravado pelo blog na cobertura do primeiro finalista da competição, o Uruguai, deixando claro o desespero de alguns periodistas.

É ou não é uma zona?

América 23 – Sem medo de ser gigante

Copa América 2011: Uruguai 2x0 Peru. Foto: AFA/divulgação

La Plata “Soooy, Celeste. Soooy, Celeste… Soooooy, Celeste. Celesteeeee, soy yo!”

Ecoou forte o grito da torcida uruguaia no Estádio Único, que desde a geração de Enzo Francescoli, encerrada em 1995, não tinha tanta alegria com o futebol como o time de Diego Forlán, Luis Suárez e Lugano.

Ainda na segunda-feira seis mil ingressos foram vendidos em Montevidéu em menos de duas horas. Depois, haja balsa para levar tantos hinchas à Argentina.

Tudo para apoiar a seleção do Uruguai, na noite desta terça, colocando o país novamente em uma final de Copa América, o que não ocorria há 12 anos.

Depois de um primeiro tempo de dar sono – muitos acordaram com o apito final do árbitro -, o Uruguai demonstrou mais vontade na etapa final, apesar do frio de 5 graus.

Copa América 2011: Uruguai 2x0 Peru. Foto: AFA/divulgação

Então, a Celeste passou a pressionar pelos lados, abrindo espaços na defesa peruana, visivelmente preocupada em não cometer faltas, em não oferecer a bola parada.

A consequência disso foi um chute seco de Forlán, de fora da área, aos 7. O goleiro deu rebote, Suárez apareceu rápido e tocou no canto, fazendo metade do estádio vibrar.

Logo depois, aos 12 minutos, em um contragolpe, Alvaro Pereira tocou para Suárez. O atacante aproveitou driblou o goleiro e tocou calmamente para as redes.

Sem dar espaço para outra zebra, os bicampeões munduais venceram o Peru por 2 x 0 e vão em busca da 15ª taça continental, em busca da hegemonia na competição.

O renascimento absoluto está perto.

O bom exemplo das arquibancadas argentinas

Copa América 2011: Uruguai x Peru, na semifinal. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

La Plata – Se tem algo que me chamou a atenção nesta Copa América na Argentina, desde a primeira cobertura in loco, foi o comportamento ordeiro das torcidas.

Pela localização do país, e pela quantidade de colônias das demais nações hispânicas no continente, o número de torcedores “visitantes” foi enorme no torneio.

Na foto acima, peruanos (vermelho) e uruguaios (azul) dividem o mesmo setor do estádio Único, a popular norte. E olhe que o jogo é a semifinal, nesta terça!

Não cordão de isolamento, centenas de policiais, clima de tensão? Nada.

O mesmo ocorreu nos outros jogos, inclusive no clássico do Rio da Prata, em Santa Fé, com 6 mil uruguaios dividindo o Cemitério dos Elefantes com outros 31 mil argentinos.

Bandeiras foram liberadas, grandes, pequenas. Com haste, também. Até mesmo aquela fumaça colorida. Impressiona saber que um cenário assim é quase impossível no futebol “clubístico”, sobretudo o pernambucano, a minha base de comparação.

Quem sabe a Copa do Mundo de 2014 não sirva para implantar isso no país. De vez em quando é bom copiar as boas ideias das arquibancadas também…

Entrando numa fria na Copa América

La Plata – E o blog foi ficando… Depois da eliminação brasileira com um desempenho ridículo nas penalidades, a volta para o Recife era questão de horas.

Porém, aqui estamos na região sul de Buenos Aires, mais uma vez, no estádio Único, para assistir à semifinal da Copa América entre Uruguai e Peru.

Mas, neste exato momento, o termômetro está perto de 4 graus, com uma ventania daquelas – a cancha é aberta entre a arquibancada e a cobertura – , deixando a sensação térmica muito pior. Bronca nas tribunas e, principalmente, no campo. Não deve ser fácil jogar nesse contexto.

Portanto, este é o post mais congelado desta cobertura do blog na Argentina.

Sobre o jogo, o Peru, quem diria, não perde da Celeste na competição há 28 anos…

Mas não é mesmo, hermano

Maradona e Pelé

Buenos Aires – A empáfia futebolística é grande mesmo. Dos dois lados, é verdade.

Antes da viagem para a Argentina, o meu amigo Lucas Fitipaldi, que também é repórter do Superesportes, disse que eu escutaria bastante nas arquibancadas uma música dos hermanos provocando Pelé.

Passou o primeiro jogo, o segundo, o terceiro… Nada!

Até que a Argentina caiu nas quartas de final de sua própria Copa América.

Eis que, no dia seguinte, no confronto Brasil x Paraguai, em La Plata, os argentinos vestiram a camisa da seleção albiceleste e foram para o setor paraguaio no estádio.

Foram secar e, finalmente – quase fora de hora -, cantaram a tal musiquinha…

“Brasileño, brasileño! Qué amargado se te ve, Maradona es más grande, es más grande que Pelé.”

Pelé, 1.282 gols e 3 títulos da Copa do Mundo.

Maradona, 358 gols e 1 título da Copa do Mundo.

Dia Brasileiro do Futebol

Copa América 2011: Brasil 0x0 Paraguai, com classificação paraguaia nos pênaltis. Foto: AFA/divulgação

Buenos Aires – Exatamente… Terça-feira, 19 de julho de 2011.

Dia Nacional do Futebol Brasileiro.

A data foi escolhida em homenagem ao gaúcho Sport Club Rio Grande, o time de futebol mais antigo do país, fundado neste dia, em 1900, há longos 111 anos.

O dia comemorativo foi criado em 1976 pela então Confederação Brasileira de Desportos.

A entidade foi modificada, atualmente para a CBF.

Hoje começa a semifinal da Copa América. Sem a Seleção…

Na foto, o abraço fraterno após uma eliminação nos pênaltis, de forma vexatória.

Semana Nacional da Ressaca?

Na Argentina, em 2011, o Brasil fez a sua pior campanha na Copa América, acabando em 8º lugar. Confira abaixo todas as 33 posições da Seleção na competição.

Campeão: 1919, 1922, 1949, 1989, 1997, 1999, 2004 e 2007
Vice: 1921, 1925, 1937, 1945, 1946, 1953, 1957, 1959, 1983, 1991 e 1995
3º: 1916, 1917, 1920, 1942, 1959, 1975 e 1979
4º: 1923, 1956 e 1963
5º: 1987 e 1993
6º: 2001
8º: 2011
Não participou: 1924, 1926, 1927, 1929, 1935, 1939, 1941, 1947, 1955 e 1967

Plasticidade demais, objetividade de menos

Estatísticas de dribles na Copa América. Crédito: Conmebol

Buenos Aires – Análise do futebol a partir dos números… Neste post, o duelo um contra um, do driblador diante do marcador, nesta Copa América de 2011.

Acima, um quadro estatístico da Conmebol sobre a competição continental apenas com os dribles aplicados por todas as seleções.

O dado considera a soma dos jogos na fase de grupos e das quartas de final.

Vale como curiosidade…

Nos dribles, brasileiros e argentinos estão muito, mas muito acima dos rivais.

Dos quatro semifinalistas, o Peru foi o que mais fintou além das superpotências, mas, ainda assim, foram 28 a menos que a Argentina e 47 em relação ao Brasil.

A arte está encravada no futebol praticado na Albiceleste e na Canarinha, mas, pelo visto, a objetividade precisa voltar à pauta, urgente!

O contraponto à lista de dribles é o ranking de desarmes. Aí, “curiosamente”, os quatro semifinalistas estão entre os cinco primeiros. O Brasil bem que tentou roubar a bola…

Destaque para o Paraguai, que não dribla ninguém e desarma todo mundo!

Veja mais estatísticas da Copa América clicando aqui.

Estatísticas de desarmes na Copa América. Crédito: Conmebol

Clima de Copa América com pancadas de incompetência

Chuva em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Segunda-feira, última semana da Copa América. Como se não bastasse o frio, chuva na capital argentina, a primeira desde que cheguei aqui, há 15 dias.

Clima que condiz com o cenário armado para a disputa do título continental no país.

Um torneio organizado para ser o melhor da história, iniciada em 1916, chega à reta final sem brasileiros e argentinos entre os quatro melhores pela primeira vez. Antes, em 1939 e 2001, também com semifinais distintas, um dos países havia negado o convite.

No entanto, a ausência das duas principais potências futebolísticas – e econômicas – da América do Sul foi provocada pela falta de estrutura coletiva nas seleções.

Encararam adversários duros, mas sem muita qualidade técnica. Criaram chances, mas não convertaram. Foram eliminados, paciência. Faltou competência, só.

Com o baque, grande parte da imprensa brasileira já está remarcando a passagem aérea para voltar para casa. Já os argentinos, em suas inúmeras mesas redondas, já começaram a falar da preparação dos principais clubes locais para o Apertura 2011…

Sem os dois países, com 11 finais de Copa do Mundo agregadas, a taça da Copa América será entregue a uma equipe compacta na defesa, afeita ao contragolpe e que tem como prioridade cavar faltas para desenvolver jogadas através da bola parada.

Descrição válida para qualquer um dos semifinalistas.

Uruguai, Peru, Paraguai e Venezuela.

O primeiro busca a redenção, os dois seguintes querem repetir uma glória distante há mais de três décadas e o último vai curtir cada segundo a mais na Argentina.

Com ou sem chuva, de cara feia ou não, a Copa América se aproxima de seu epílogo. Sem brasileiros, sem argentinos, sem tanta rivalidade, mas com muita garra.

Chuva em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Melhor que no videogame

Copa América 2011: Argentina 1x1 Uruguai, com vitória da Celeste nos pênaltis. Foto: AFA/divulgação

Buenos Aires – Ainda em tempo de fazer um registro após assistir in loco a uma atuação de Lionel Messi. Sim, aquele craque do Barcelona, eleito o melhor jogador de futebol do mundo nas últimas duas temporadas, é realmente genial.

Nunca fui à Europa. Obviamente, nem cheguei perto do Camp Nou. Exibições de gala do craque argentino, só mesmo pela televisão.

Mas tive a chance em Santa Fé, a 476 quilômetros da capital argentina, no superclássico de seleções do Rio da Prata. Seria uma oportunidade daquelas…

Messi é, de fato, melhor que nos videogames. Primeiro porque ele parece se mexer em campo sempre com o comando de “velocidade” apertado, o tempo todo, sem desgaste e com a bola colada no pé. O popular “quadrado”, para o chute, sai sempre calibrado, direcionado. É como se Alguém lá em cima estivesse com o joystick na mão…

A Argentina não passou das quartas de final? Messi não balançou as redes uma vez sequer? Futebol não se resume só a isso. Não mesmo.

No Cemitério dos Elefantes, com uma técnica muito acima da média – principalmente na sua própria seleção – , La Pulga deu o melhor de si em campo diante do Uruguai, com passes genais (“x” ou “triângulo”), lançamentos, como o que resultou no gol de Higuain, apertando a “bola” do controle”, e dribles incríveis.

Durante quase toda a partida, e foram 120 minutos de futebol, é bom lembrar, Lionel  foi cercado e caçado por dois ou até três uruguaios. Cáceres, Pérez e Lugano tiveram muito trabalho. Quase sempre, parando o camisa 10 da albiceleste com falta. Na maioria das vezes, porém, viram o argentino passar voando.

No fim, cabisbaixo, frustrado, destruído, Messi ainda foi aplaudido. Com companheiros à altura, como os do Barça, ele chega perto de se tornar imparável.

Basta que a bateria do controle não acabe…

Controle do Playstation