O cenário é desolador. Lixo, entulhos, barro acumulado, ferro retorcido e mato.
É difícil acreditar que trata-se de um estádio novo, milionário.
A ordem de serviço para a construção de um estádio de futebol com capaciadde para 16 mil torcedores em Rio Doce, em Olinda, foi assinada em 2008.
Na ocasião, foi oficializado o orçamento de R$ 7,1 milhões, com R$ 6 milhões do Ministério do Esporte e R$ 1,1 milhão da prefeitura de Olinda.
Foi feita a limpeza do terreno, a terraplenagem, fundação, arquibancadas…
Em junho de 2012, o ministro do esporte, Aldo Rebelo, visitou o canteiro já avançado junto ao prefeito do município, Renildo Calheiros (veja aqui).
Na ocasião, Rebelo “se mostrou surpreso” com a evolução.
A expectativa do poder público era entregar a obra em dezembro, inscrevendo o estádio – o segundo sob a posse do município – para a seleção de centros de treinamento de seleções para a Copa do Mundo.
Passados nove meses do prazo, o completo abandono.
Um descaso total com dinheiro público e com o planejamento da cidade em relação à participação efetiva no Mundial.
Há tempo para recuperar a obra visando o Mundial no Brasil? Há. Contudo, resta saber o quanto essa “pressa” aumentaria o custo final…
Em seu primeiro ano de operação, o consórcio Arena Pernambuco Negócios e Participações Ltda acaba de anunciar o seu terceiro diretor-presidente.
Como os antecessores, outro executivo baiano assume o comando do estádio construído pela Odebrecht, também de origem da Boa Terra. Confira a cronologia sobre a presidência do empreendimento de R$ 650 milhões.
Marcos Lessa (2010/2013)
O administrador foi empossado logo na criação do consórcio, aos 37 anos. Ex-diretor de marketing da TV Bahia, afiliada da Globo, Lessa participou da concessão da Fonte Nova, cuja licitação também foi vencida pela Odebrecht.
Ele deixou a direção antes do início da operação oficial da arena, passando a se dedicar ao projeto da Cidade da Copa, o bairro projetado no restante da área em São Lourenço, num projeto orçado em R$ 1,5 bilhão.
Sinval Andrade (2013)
O engenheiro civil Sinval Andrade, de 50 anos, assumiu em março, na reta final da obra, então com 95% de avanço. Portanto, foi o primeiro diretor-presidente a trabalhar com o estádio de fato em relação à organização dos jogos locais, promoções de partidas com times de outras regiões e shows.
Com o Náutico em atividade e o Sport engatilhado para um contrato de cinco anos, Sinval partiu para o Rio de Janeiro, para atuar na operação do Maracanã, um dos quatro estádios erguidos pela construtora para o Mundial de 2014.
Alexandre Gonzaga (2013)
Aos 39 anos, o administrador de empresas já vinha sendo o braço direito de Sinval na Arena Pernambuco, tomando conta do departamento de marketing. Na entrevista concedida por Sinval ao Diario, em julho, Alexandre esteve presente. Passa a ficar à frente das decisões em setembro.
A missão baiana é integrar de vez a arena aos pernambucanos…
Um cantor pernambucano é o intérprete da música oficial da Copa do Mundo de 2014 para o público internacional.
Lenine? Alceu Valença? Não…
Foi David Correy – revelado no programa norte-americano The X Factor – o escolhido para interpretar a música da Coca-Cola para o Mundial.
Acompanhado pelo Monobloco, ele canta “The World is Ours”, o mundo é nosso. Assista abaixo à primeira das duas músicas oficiais em ingês para o torneio, ambas através de patrocinadores do evento.
Saiba mais detalhes sobre David Correy no hotsite.
Em junho, já havia sido lançada a música nacional da companhia para o torneio, com Gaby Amarantos, também em parceria com o Monobloco (veja aqui).
Alguns troféus se confundem com as próprias competições.
Copa do Mundo, Eurocopa, Copa América, Liga dos Campeões e Libertadores são algumas das competições em que a taça dispensa legenda (veja aqui).
Obviamente, não é uma regra. Inúmeros campeonatos de futebol contam com novas peças a cada edição.
A Copa do Nordeste resolveu seguir o modelo dos principais torneios. A taça criada em 2013 continuará sendo erguida, no mínimo, até o regional de 2022.
Ainda mais após o resultado da pesquisa de mercado encomendada pelo canal Esporte Interativo, detentor dos direitos de transmissão do Nordestão.
Entre outras questões, as 1.552 pessoas ouvidas responderam sobre a fixação da taça e sobre o logotipo do torneio.
Pois a taça dourada, levemente inspirada no modelo da Champions League, foi reconhecida por 93,8% do público. Já a marca oficial da Copa do Nordeste foi lembrada por 88% dos entrevistados.
Um feito incrível, condizente com a falta de estrutura que marca a segunda divisão profissional do futebol pernambucano.
Imagine quatro jogos contra o Íbis, todos eles no estádio Ademir Cunha, em Paulista. E diante do “pior time do mundo”, um restrospecto inexplicável. Pois é.
Quatro derrotas…
A Associação Desportiva Jaboatão dos Guararapes, o Jaguar, conseguiu a proeza de estabelecer o pior desempenho de um clube contra o Íbis.
O Pássaro Preto, com mais de 500 derrotas em 700 jogos oficiais, jamais havia sido tão carrasco na sua vida…
01/08/2012 – Íbis 3 x 2 Jaguar
26/09/2012 – Íbis 2 x 1 Jaguar
24/08/2013 – Íbis 1 x 0 Jaguar
11/09/2013 – Íbis 4 x 1 Jaguar
A estrutura do freguês alviazulino, com apenas um ano de história, justifica de certa forma o rendimento.
Não conta sequer com um estádio. Por mais que o objetivo na fundação, com o apoio da prefeitura, tenha sido representar o município no futebol local, o acanhado Jefferson de Freitas, no centro, segue sem condições até hoje.
Assim, vem atuando no Ademir Cunha, a 31 quilômetros de distância.
E os campos de treinamento? Começou no “Campo do 14 Bis”, no bairro de Socorro. Passou por outros gramados surrados. Segue andarilho. Nota-se que o Jaguar não é tão diferente do Íbis. Só não é famoso, ainda…
Para curtir a página oficial do Jaguar no facebook, clique aqui.
Os estádios Luiz Lacerda, em Caruaru, e Presidente Vargas, em Campina Grande, têm alguns pontos em comum. Ambos alvinegros e localizados nas duas tradicionais capitais nordestinas do forró.
Porém, ao entrar nesses locais o torcedor se depara com mais um detalhe, de viés histórico, na mesma mensagem pintada de uma ponta a outra.
“Campeão brasileiro Série B – 1986”
Central e Treze. Os primeiros campeões nacionais de seus estados?
Curiosamente, Patativa e Galo não disputam a posse do mesmo título, até porque Criciúma e Inter de Limeira também entrariam na disputa.
Na verdade, os quatro clubes pleiteiam há quase três décadas a oficialização da disputa, num formato bem polêmico. Em 1986, a segundona nacional, até então chamada de Taça de Prata, foi substituída pelo “Torneio Paralelo da CBF”, dividido em quatro chaves, com nove times cada uma.
Os vencedores ascenderam à elite do Brasileirão no mesmo ano – fato comum naqueles tempos. Não houve uma final entre os quatro clubes, que desde então passaram a considerar a conquista, sem disputa pela exclusividade.
Posteriormente, Central e Treze foram incisivos no movimento à parte da falta de reconhecimento da CBF. Pediram autorização às respectivas federações estaduais para pintar em seus estádios o “título brasileiro”. Foram atendidos.
Já a Internacional de Limeira trata a conquista como Série B, mas ressalva a falta da chancela. O Criciúma, por sua vez, também lembra a trajetória em sua página na web, mas como Torneio Paralelo mesmo.
O Salgueiro vive há quatro temporadas em uma gangorra no Brasileiro. A cada ano, uma divisão diferente. Acima ou abaixo. O voo do Carcará é imprevisível.
Em 2010, conquistou de forma espetacular o acesso à segunda divisão, ao derrotar o Paysandu em pleno Alçapão da Curuzu, em Belém.
Em 2011, com a promessa não cumprida de um novo estádio naquela temporada, o time se viu obrigado a jogar em Paulista, por causa da capacidade do Cornélio de Barros. Com investimento escasso e apoio modesto na arquibancada, caiu.
Em 2012, a surpresa, negativa. Vinha em uma campanha até certo ponto regular na terceira divisão. No entanto, acabou surpreendido na última rodada. Em vez de obter a vaga na fase seguinte, acabou rebaixado.
Agora em 2013, uma campanha na Série D construída na base da raça, buscando a vaga sempre fora de casa. Primeiro, vitória por 1 x 0 sobre o Parnahyba, no Piauí. Neste domingo, empate em 2 x 2 com o Nacional, em Manaus.
Copeiro, o Carcará está agora a apenas dois jogos de mudar mais uma vez de patamar na casta nacional. Desta vez, subindo…
Não há um só centralino que não lembre de uma grande frustração no clube.
Por mais que ame a Patativa, que siga ano após ano frequentando o cimento quente do Lacerdão, esse torcedor apaixonado tem consciência de que apoiar o Central é uma das experiências mais imprevisíveis que o futebol pode reservar.
Paradoxalmente, é algo enraizado na cultura alvinegra, tendo na palavra “quase” um sinônimo de dor.
“Agora vai”.
“É o ano do Central”.
“A vantagem é boa…”
E não há aí qualquer coitadismo, pois o centralino enxerga o seu clube do tamanho do Luiz Lacerda, imponente na Avenida Agamenon Magalhães. Jogos contra os clubes da capital são tratados como clássicos…
Mesmo assim, perto de completar um século e com o status de maior time do interior, o Central segue em busca de seu primeiro título pernambucano.
No Estadual de 2013, para não ir muito longe, a sua rotina foi cumprida à risca.
Perdeu o primeiro turno por um mísero gol de saldo. No segundo, ficou na rabeira, passando longe da briga por uma vaga na semifinal, para, em seguida, conquistar a vaga na Série D com uma retomada no octogonal contra o descenso.
Com essa classificação, voltou a disputar o Campeonato Brasileiro.
Em meio a uma crise financeira e polêmicas na administração, a equipe foi aos trancos e barrancos até a última rodada. Venceu e passou. Inspirou.
Seriam dois mata-matas para ascender à Série C, o maior desejo da torcida, desconfiada como sempre, querendo confiar como nunca.
Em casa, venceu o Botafogo da Paraíba por 3 x 1.
No jogo de volta, mais de 300 torcedores saíram de Caruaru em ônibus fretados para apoiar o time no Almeidão, em João Pessoa.
No tempo normal, derrota para o alvinegro paraibano pelo mesmo placar. Estava classificado até os 38 minutos do segundo tempo, quando sofreu o terceiro gol. Lá no fundo, provavelmente todos os centralinos pensaram “hoje não, hoje não.”
Hoje sim… Veio a disputa nos pênaltis, já debaixo de chuva, e a derrota por 5 x 3, com Andrezinho, o cobrador oficial, desperdiçando.
Fausto encerrou a série, estufando as redes e mandando às favas mais uma esperança. No Recife, poucos compreenderam a dimensão exata do que estava acontecendo no estado vizinho. Enquanto isso, Caruaru estava parada.
Calejada, a mesma torcida que agora tenta digerir a dramática eliminação já começa a sonhar com dias melhores no próximo ano.
Assim é o Central, o amor de muitos pernambucanos…
O ano prometia. Seria o único representante pernambucano na elite nacional, com o maior orçamento da história do clube, acima de R$ 41 milhões. A base mantida após a 12ª colocação no último Campeonato Brasileiro. Pré-classificado à Copa Sul-americana, de forma inédita no estado. E mais…
Contrato assinado com atuar na Arena Pernambuco, aumentando a receita e a cota de ingressos promocionais do Todos com a Nota, de 8 mil para 15 mil entradas. Ainda sobre a infraestrutura, teria a modernização do centro de treinamento, com direito a um novo sistema de iluminação e hotel. Para completar, um jogador convocado para a Seleção Brasileira.
O cenário do Náutico no começo de 2013 apontava um ano de ouro. Ainda estamos no mês de setembro e o panorama é o avesso do plano alvirrubro.
Colecionando fiascos em larga escala, incluindo Estadual, Copa do Brasil, Sul-americana e Série A, o clube já começa a vislumbrar 2014.
Uma nova temporada e provavelmente num patamar abaixo…
Em pouco mais de oito meses, foram cinco técnicos no Náutico. Administração à parte, quem é o maior culpado entre os treinadores?
1) Gallo, que trocou o planejamento nos Aflitos pela base da Seleção.
2) Mancini, que não conseguiu formar um bom time no Estadual.
3) Silas, que teve tempo, mas não arrumou a casa para a Série A.
4) Zé Teodoro, que afundou o Náutico na classificação.
5) Jorginho, que não conseguiu sequer um empate no Brasileiro.
A temporada deve terminar de forma interina com Levi Gomes e Kuki…
Agora, sobre a gestão do clube vermelho e branco, qual foi o maior erro?
Enaltecendo o resultado, desqualificando o estudo, questionando a amostragem e os lugares visitados. O roteiro não muda. Cada torcida só enxerga o seu ponto a favor e a discussão se prolonga cansativamente, como acontece há anos.
Aqui no blog várias pesquisas sobre a preferência clubística já foram publicadas, com levantamentos nacionais e locais, mas com o viés pernambucano, claro.
Tudo sempre dentro da margem de erro. Neste post, os dois estudos divulgados em 2013. Um de âmbito nacional, com a Pluri Consultoria, e outro de alcance estadual, com a Plural Pesquisa. A partir dos percentuais estabelecidos por cada um, consideremos a estimativa oficial do IBGE sobre a população neste ano, no Brasil (201.032.714) e em Pernambuco (9.208.551).
A diferença em relação à quantidade de torcedores nos três grandes clubes é irreal. Considerando as margens mínima e máxima das massas nas duas pesquisas, o público acumulado com o trio vai de 1.326.815 a 9.528.949.
Se o comparativo for apenas entre os dados regulares dos dois estudos – o mais apropriado, claro -, a diferença seguiria enorme, entre 3.963.360 e 5.427.881, com uma diferença de 1.464.521 pessoas.
É difícil acreditar que Sport, Santa e Náutico tenham tantos torcedores assim fora dos limites do estado, o que só aumenta a polêmica. E assim permanece o velho apelo. Que o IBGE adote essa questão no seu próprio censo, em 2020…
Pluri Consultoria (Brasil)
Público-alvo: 21.049
Margem de erro: 0,68%
População estimada (IBGE): 201.032.714