Vida nova, tricolor.
Até o último segundo você insistiu em não acreditar, em não festejar.
Olhou lentamente o Arruda de uma ponta a outra. Abarrotado de gente, como sempre. Pediu mais uma vez para que desta vez fosse diferente…
Que a história do Santa Cruz fosse reescrita.
Que estivesse vivendo um dia inesquecível, sem mais provações.
Poucos, pouquíssimos suportaram uma carga de drama tão grande quanto os aficionados das repúblicas independentes.
Dos rebaixamentos em série à falta de atividade.
Sim, à pura falta de futebol.
Deixar o gigante de concreto em silêncio feria de morte o orgulho coral.
Antes do apito final você deve ter lembrado bem disso.
Recomeçar do zero era preciso. E seria bem difícil. À margem dos rivais, endinheirados e em patamares bem mais nobres, a caminhada foi árdua.
Com a força da camisa, a mudança partiu justamente no âmbito local.
Sem recursos, cresceu nos clássicos e voltou a empilhar taças. Tomou gostou.
Na verdade, retomou o gosto. O tri que o diga.
Ótimo para ego, mas insuficiente para a sobrevivência.
Esta, só mesmo evoluindo no cenário nacional, saindo da última casta possível.
O favoritismo escancarado pela massa presente nas arquibancadas nas divisões inferiores foi relegado pela qualidade duvidosa das equipes montadas.
Com paciência, surgiu uma base. E de onde pouco se esperava, surgiram novos ídolos.
Entre eles, um desconhecido goleiro, agora eternizado, onipresente nos bons e novos momentos. Nome e sobrenome, Tiago Cardoso.
Aos trancos e barrancos, veio o primeiro passo, em 2011.
Uma multidão como a de hoje, tão nervosa quanto. Esqueceu? Improvável, mesmo sem gols.
Como nada é fácil para o povão, não mesmo, a sequência da caminhada demorou mais que o necessário.
Um ano forçado de aprendizado, com foco absoluto no acesso, novamente com apoio incondicional.
Veio então uma campanha cambaleante, comandada de forma improvisada.
A chegada de um nome com pulso firme pôs ordem.
Se ainda havia tempo este ano era a grande dúvida. Uma a mais num mar de incertezas chamado Santa Cruz.
Da ameaça de mais temporadas de calvário à surpreendente dianteira, ao protagonismo.
Hoje, o Santa Cruz voltou a respirar futebol.
Juntos, milhares também respiraram fundo.
Inclusive você. Resfolegou no instante em que a duríssima vitória por 2 x 1 sobre o Betim, com o improvável e carismático herói Flávio Caça-Rato, virou mais uma história para contar, daquelas com um sorriso no rosto.
Difícil será encontrar um tricolor que não tenha ido ao jogo neste domingo.
60 mil?
Dentro de alguns anos serão 600 mil… e com o tempo terá ainda mais gente.
Naquele aperto no José do Rego Maciel estava você, digam o que quiser.
Preto, branco e encarnado, pronto para ver o Santa Cruz voltar a ter dignidade, deixando para trás os seis anos de sofrimento.
A segunda divisão não é o ato definitivo. A plenitude virá numa nova busca.
Em 2014, no centésimo aniversário, uma vida nova ao Mais Querido.
E você estará lá, claro. Sem você o Santa não seria o mesmo…