Em 29 de agosto de 1993, o estádio do Arruda recebeu o maior público de sua história. Foram 96.200 torcedores. Apaixonados por Sport, Santa Cruz e Náutico, mas que naquela tarde, há 15 anos, se uniram em prol da Seleção Brasileira, que teria uma partida complicadíssima contra a Bolívia.
O adversário era o líder do grupo B das Eliminatórias para a Copa de 1994, e contava com o craque Etcheverry, “El Diablo”. Um tropeço no Recife poderia deixar o Brasil com um pé fora do Mundial, pela primeira vez.
O time verde e amarelo até havia vencido o último jogo, mas a torcida vaiou a equipe no Morumbi, após o 2 x 0 sobre o Equador. Veio então o jogo no Recife. Carga de ingressos mais que esgotada. E nenhum torcedor brasileiro saiu triste. Goleada inesquecível, por 6 x 0 (fotos), com cinco gols apenas no primeiro tempo. Tomara que hoje à noite, contra a mesma Bolívia, no Rio, o Brasil volte a dar alegrias como nesse jogo.
Brasil 6 x 0 Bolívia (29/08/1993)
Local: Arruda. Árbitro: Oscar Velasquez (Paraguai). Gols: Raí aos 12, Muller aos 19, Bebeto aos 22, Branco aos 35 e Ricardo Gomes aos 44 minutos do primeiro tempo; Bebeto aos 13 do segundo. Cartão vermelho: Dunga. Cartões amarelos: Bebeto (B); Sandy e Juan Peña. Público: 96.200 torcedores (75 mil pagantes).
Brasil: Taffarel; Jorginho, Ricardo Rocha, Ricardo Gomes e Branco; Mauro Silva, Dunga, Raí e Zinho (Palhinha); Bebeto (Evair) e Muller. Técnico: Carlos Alberto Parreira
Bolívia: Trucco; Miguel Rimba, Quintetos, Marco Sandy e Cristaldo; Borja, Melgar, Baldivieso e Marco Antonio Etcheverry (Juan Peña); Erwin Sanchez e Ramallo (Alvaro Peña). Técnico: Xavier Azkagorta
Retrospecto geral – 24 jogos
18 vitórias do Brasil
2 empates
4 vitórias da Bolívia
86 gols do Brasil
26 gols da Bolívia
Último confronto: Bolívia 1 x 1 Brasil (9 de outubro de 2005, em La Paz)
Obs. O blogueiro, então com 12 anos, estava em um dos últimos degraus do anel superior do Arruda naquele jogo. Me lembro pouco dos gols, mas bastante da festa antes, durante e depois da partida.
1) Primeira partida: Brasil 2 x 0 Exeter City (Inglaterra), nas Laranjeiras, no Rio de Janeiro, em 21 de julho de 1914.
2) Primeiro gol: Oswaldo Gomes (que atuava no Fluminense).
3) Quantos modelos de uniformes já foram utilizados? R: 18. Ao lado, a reprodução do padrão do Brasil em 1914. A CBD (antiga CBF) sequer existia. O emblema FBS significava Federação Brasileira de Sports. Durou até o ano seguinte.
Em 2004, na festa pelo centenário da Fifa, Brasil e França jogaram em Paris com os seus primeiros uniformes. Empate por 0 x 0. Abaixo, a versão 2008 da camisa da Canarinha.
4) Quantos jogadores já vestiram a camisa da Seleção, desde a primeira partida? R: 1002.
Obs. – O 1000º a entrar em campo foi o meia Thiago Neves, na vitória por 1 x 0 sobre a Suécia, em Londres, em 26 de março deste ano.
5) Qual é o nome mais comum entre os jogadores chamados? R: José, 93 vezes. E qual é o sobrenome mais comum entre os convocados? R: Silva, 108 veses. Ps. Três “José da Silva” já jogaram com a verde e amarela.
Alguns nomes curiosos: Pernambuco (primeiro jogo em 1914), Paula Ramos (17), Japonês (20), Telefone (20), Formiga (22), Tatu (22), Itália (30), Ministrinho (30), Agrícola (era nome mesmo, 32), Bioró (39), Russo (42 e 97!), Tesourinha (44), Bigode (49), Pinga (50), Quarentinha (59), Tião (59), Traçaia (59), Babá (61), Aírton Beleza (64), Mostarda (74), Cafu (1990), Viola (93) e Vágner Love (04).
Sobre o jogador Pernambuco: o centro-médio que participou da estréia do Brasil nasceu no Rio de Janeiro, em 1890…
6) A Seleção já atuou quantas vezes contra outros países? R: 833 partidas. O primeiro jogo contra outra seleção foi em 20 de setembro de 1914, na derrota por 3 x 0 para a Argentina.
7) Quem é o maior adversário? R: Argentina, sem dúvida. Já foram realizados 93 jogos, com 36 vitórias brasileiras e 34 dos hermanos.
8 ) Quem marcou mais gols pelo Brasil? R: Ele, o rei Pelé, com 95 gols em 114 partidas.
9) Quem mais jogou? R: Cafu, com inacreditáveis 146 partidas (entre 1990 e 2006).
10) Qual é o clube que cedeu mais jogadores para a Seleção em Copas do Mundo? R: Botafogo, com 46 atletas.
Sobre o jogador Tião: Sebastião Pereira dos Santos, nascido em 11 de maio de 1935, no Rio de Janeiro. O atacanate atuava pelo Santa Cruz quando foi chamado. E não tem nada, absolutamente nada, a ver com o hilário Tião Macalé.
Apenas quatro jogadores que atuam no Brasil fizeram parte da lista com 22 nomes para os dois jogos da Seleção contra Chile e Bolívia, pelas Eliminatórias. E olhe que foi até muito, pois cada vez mais os convocados são atletas de clubes estrangeiros com nomes difíceis de pronunciar.
Mas esse cenário já foi bem diferente. Tanto que os três grandes clubes do Recife já cederam jogadores para a Canarinha. Ao todo, 33 jogadores do futebol local já foram convocados para defender o time principal do Brasil, sendo 13 do Santa Cruz, 12 do Sport e 8 do Náutico. Entre os que entraram em campo, a conta fica em 10 do Santa, 9 do Sport e 7 do Náutico).
Por sinal, completará 50 anos em 2009 a primeira participação efetiva do futebol pernambucano na Seleção Brasileira. Participação de peso, surpreendente até.
Foi quando a Seleção Pernambucana, a “Cacareco” (explicação no final), vestiu a camisa verde e amarela e representou o país no Campeonato Sul-Americano disputado no Equador, em 1959. Por mais estranho que possa parecer, aquela atitude da CBD (atual CBF) não foi inédita. Em 56, os gaúchos venceram o Pan-Americano da mesma forma, enquanto os baianos foram derrotados na Taça Bernardo O’Higgins em 57.
O grupo foi treinado por Gentil Cardoso, que havia acabado de ser campeão estadual dirigindo o Santa. O Tricolor, aliás, cedeu 10 dos 22 jogadores chamados. O Náutico cedeu 7 e o Sport 5. Pernambuco, ops… O Brasil terminou num honroso 3º lugar. O time venceu Paraguai e Equador e perdeu para o Uruguai (campeão) e Argentina (vice). Na despedida, novo triunfo sobre os equatorianos, por 2 x 1, em Guayaquil. O ex-editor de Esportes do Diario, Adonias de Moura, participou da cobertura in loco.
Após a saga da Cacareco, os jogadores que atuavam no estado só voltaram a ser chamados após superar uma concorrência em todo o território nacional. Com isso, tornou-se rara a presença na Seleção de alguém que vestisse a camisa de um time local. Em 1966, o ponta alvirrubro Nado chegou a ser pré-convocado para a Copa do Mundo, mas não viajou para a Inglaterra.
Em 78, o tricolor Nunes só não disputou o Mundial por causa de uma lesão. Já o Sport passou a dominar as convocações a partir dos anos 80. Além dos cinco que atuaram, o Leão ainda cedeu mais dois. No entanto, o meia Chiquinho (contratado recentemente pelo Salgueiro), em 96, e o goleiro Bosco, em 99, não chegaram a entrar.
O último atleta chamado foi o volante Leomar (foto), em 2001. Ele foi convocado por Leão, que havia deixado o Sport para comandar a Seleção. Leomar chegou a usar a braçadeira de capitão na Copa das Confederações, mas por causa dos maus resultados da Canarinha, parte da imprensa do Sudeste chamou aquele time de “Era Leomar”.
Jogadores que já atuaram na Seleção sem deixar o futebol pernambucano:
1959 –SantaCruz: Biu (volante, 5 jogos), Clóvis (zagueiro, 4 jogos), Geroldo (volante, 1 jogo), Goiano (ponta-esquerda, 3 jogos), Servílio (volante, 1 jogo), Tião (ponta-direita, 3 jogos), Zé de Mello (atacante, 5 jogos e 3 gols), Dodô (lateral-esquerdo, 1 convocação), Valter Serafim (goleiro, 1 convocação) e Moacir (meia, 1 convocação);Náutico: Elias (atacante, 5 jogos), Geraldo José (atacante, 5 jogos e 2 gols), Givaldo (zagueiro, 5 jogos), Paulo Pisaneschi (atacante, 4 jogos), Waldemar (goleiro, 5 jogos e 11 gols sofridos), Zequinha (zagueiro, 5 jogos) e Fernando Florêncio (, ponta-esquerda, 1 convocação);Sport: Édson (zagueiro, 5 jogos), Elcy (atacante, 1 jogo), Traçaia (atacante, 5 jogos e 1 gol), Zé Maria (meia, 3 jogos) e Bria (zagueiro, 1 convocação)
1966 – Náutico: Nado (atacante, 1 jogo) 1976 – Santa Cruz: Givanildo Oliveira (volante, 7 jogos) 1978 – Santa Cruz: Nunes (atacante, 11 jogos e 7 gols) 1979 – Santa Cruz: Carlos Alberto Barbosa (lateral-direito, 1 jogo) 1981 – Sport: Roberto Coração de Leão (atacante, 2 jogos e 1 gol) 1983 – Sport: Betão (lateral-direito, 2 jogos) 1995 – Sport: Adriano (zagueiro, 2 jogos) 1996 – Sport: Chiquinho (meia, 1 convocação) 1998 – Sport: Jackson (meia, 3 jogos) 1999 – Sport: Bosco (goleiro, 3 convocações)
2001 – Sport: Leomar (volante, 6 jogos)
Técnicos cedidos: Gentil Cardoso (Santa Cruz) – 5 jogos em 1959; Emerson Leão (Sport) – 11 jogos entre 2000 e 2001.
Obs. Dos 22 convocados em 1959, cinco não entraram em nenhuma partida.
Cacareco: esse foi o termo utilizado como deboche pela imprensa paulista para definir o time pernambucano, que contava com jogadores com passagens apenas regulares em clubes de São Paulo.