O Santa Cruz não perdia na estreia do Campeonato Pernambucano desde 1988. Mal se lembrava disso. Voltou a perder em 2015. Não era derrotado nas duas primeiras rodadas do Estadual desde 1951. Aconteceu de novo. Após o revés diante do Sport, no Arruda, os corais também foram goleados pelo Serra Talhada, no Sertão, igualando o “feito” de 64 anos atrás, quando largou na competição perdendo de Auto Esporte e América.
No Nildo Pereira, num sol de lascar e apinhado com 4.988 espectadores, o Serra fez 3 x 0, se aproveitando dos inúmeros erros no lado esquerdo do Santa, ora com Léo Veloso ora com Everton Sena. Quem se deu bem foi Júnior Juazeiro, marcando os dois primeiros tentos no primeiro tempo, com nove finalizações do mandante. Uma prova do maior volume de jogo.
Com a bronca do técnico Ricardinho no intervalo, o time da capital até melhorou na etapa complementar, mas os sertanejos permaneciam ligadíssimos, ganhando divididas e se antecipando nos desarmes, com o volante Luciano Totó (aquele, ex-Náutico) numa tarde bem melhor que Bileu e Sitta.
Sem tanto tempo com a bola, e pecando bastante no passe, o Santa não conseguiu reagir, com Anderson Aquino desperdiçando uma chance e Bruno Mineiro nem isso. No fim, num contragolpe, Cleitinho definiu o pior início da Cobra Coral em seis décadas de futebol no estado, deixando o adversário na laterna do hexagonal do título. Histórico, no pior sentido.
A agência de notícias Associated Press, com sede em Nova York, é uma das mais antigas do mundo, em atividade desde 1846. Conhecida pela sigla “AP”, a agência distribui notícias e fotos para jornais de todos os cantos do globo, incluindo os pernambucanos, diga-se. Por isso, chama a atenção a reportagem enviada à Europa sobre a Copa do Nordeste. Escrito por Tales Azzoni, correspondente da AP em São Paulo, o texto “Prospera a versão brasileira da Liga dos Campeões, a Lampions League” explica o apelido Lampião/Lampions, a média de público e a transformação do futebol da região. A seguir, a tradução do texto. Confira a reportagem original, em inglês, clicando aqui.
Equipes com grandes e fervorosas torcidas se qualificam através de campeonatos locais. Elas são divididas em grupos de quatro e o melhor avança para a fase eliminatória. Milhares vão ao jogos, milhões assistem na televisão e o interesse segue crescendo.O sorteio para as quartas de final é transmitido ao vivo pela TV e o campeão ergue um troféu conhecido como “orelhuda”.
Liga dos Campeões? Experimente Lampions League.
Disputado no nordeste do Brasil, povoado por quase 55 milhões de habitantes, quase tantos como a soma de Chile e Argentina, a Lampions League evolui como o campeonato regional de futebol mais bem sucedido do país.
Ela tem algumas das mais altas audiências da tevê e a melhor média de público. No ano passado, a final atraiu mais de 60.000 pessoas à Arena Castelão, em Fortaleza, no maior público do Brasil à parte da Copa do Mundo. Passou até os jogos do Mundial em Fortaleza, incluindo o da Seleção.
O campeonato é oficialmente conhecido como Copa do Nordeste (Northeast Cup), mas não demorou muito para que os fãs começassem a chamá-lo de Lampions League, em referência a Lampião, um conhecido e popular herói local da década de 1920, que permanece simbólico à região. Muitos nordestinos – northeasterns – vão aos jogos vestindo camisas da “Lampions League” e chapéus típicos.
Não é coincidência que o formato da Lampions League, o marketing e o troféu sejam modelados à Liga dos Campeões da Uefa. Até o hino da Liga dos Campeões foi adaptado para a música leve de uma região conhecida por seu clima quente, belas praias e pessoas alegres.
A emissora que transmite a Copa do Nordeste no Brasil, o Esporte Interativo, também adquiriu recentemente os direitos exclusivos para a Liga dos Campeões no país.
“Estamos usando um torneio para ajudar a promover o outro”, diz o presidente da Esporte Interativo Edgar Diniz. “Nós sempre admiramos e nos inspiramos pela forma como a Liga dos Campeões foi capaz de construir sua marca. Por isso, decidimos adotar algumas das mesmas práticas.”
A copa tem crescido tanto que o clube mais popular do Brasil, o Flamengo, do Rio de Janeiro, tentou recentemente um convite junto aos organizadores. O Goiás, um clube de primeira divisão nacional localizado no Centro-Oeste, também considerou a adesão.
Entre os times tradicionais no torneio estão Bahia, Vitória, Náutico, Sport, Ceará e Fortaleza, todos com reconhecimento pelo Brasil. A intensa rivalidade entre eles acrescenta sabor, assim como o entusiasmo dos torcedores locais, conhecidos como os mais apaixonados e dedicados no país.
“Todo mundo está reconhecendo que este é um dos melhores torneios no Brasil neste momento”, diz Alexi Portela, o presidente da liga que organiza a copa. “Aqui, as equipes preferem jogar a Copa do Nordeste do que a Copa do Brasil. O impacto financeiro para esses clubes tem sido grande. O torneio tornou-se realmente significativo para cada um destes clubes.”
Como outros torneios regionais, a copa preenche os primeiros meses antes do Campeonato Brasileiro, que começa em maio e vai até dezembro. Ídolos locais, como Chicão, Magrão e Durval esperam também ganhar para suas equipes uma vaga na Copa Sul-Americana.
As Copa do Nordeste foi disputada pela primeira vez em 2001, mas foi cancelada após duas temporadas por razões políticas. Ele voltou com o novo formato em 2013.
“Nós crescemos (em público) 22% no ano passado, e esperamos crescer 30% este ano”, diz Portela. “Não há dúvida de que estamos falando sobre o mais rápido crescimento de uma competição no Brasil hoje em dia”.
Nota blog – Apesar do texto positivo sobre a Lampions, faltaram alguns dados na reportagem. Destaco abaixo:
1) Oficialmente, a Copa do Nordeste começou em 1994, e não em 2001.
2) O público da final do regional foi o segundo maior registrado no país em 2014, fora o Mundial. O maior, também no Castelão, foi na Série C, no 1 x 1 entre Fortaleza e Macaé, com 62.525 pagantes.
3) A média de público do Nordestão foi, sim, a maior entre estaduais e regionais em 2014. O índice do torneio foi de 8.286 espectadores por jogo.
4) Segundo o Ibope MW Parabólica, as 62 partidas do regional de 2014 tiveram uma audiência média de 1,6 milhão de telespectadores. Na final, 4,5 milhões.
5) O faturamento do Nordestão 2014 foi de R$ 23 milhões e a expectativa é de que o número chegue em 2015 a R$ 29 milhões, o maior da história.
O casarão verde de número 3.107, na Estrada do Arraial, foi esvaziado.
O América Futebol Clube desocupou a sua (ex) sede, onde guardou parte da memória do futebol do estado desde 16 de dezembro de 1951.
Os troféus referentes aos títulos pernambucanos de 1918, 1919, 1921, 1922, 1927 e 1944, entre outros, como do Torneio Início e competições amistosas, foram encaixotados num caminhão e no banco traseiro de um carro.
Uma cena triste, sem qualquer resquício do que um dia foi um grande clube.
Nenhuma vitória pernambucana na primeira rodada do Nordestão. Derrota do Sport no Maranhão e empate entre Náutico e Salgueiro. O 45 minutos analisa a estreia local no regional e já estica o debate para o Clássico dos Clássicos de domingo, pelo Estadual. No Pernambucano, espaço também para o Santa Cruz, que terá enfim a sua dupla de ataque titular, no Sertão. A pauta do podcast foi finalizada com a nova paralisação do metrô, atrapalhando a mobilidade à arena, e o recurso do Flamengo para levar o caso do título brasileiro de 1987 ao STF.
Estou nesta edição (1h39min) ao lado de Celso Ishigami, Fred Figueiroa, João de Andrade Neto e Rafael Brasileiro. Ouça agora ou quando quiser!
Novo confronto entre Náutico e Salgueiro na Arena Pernambuco. Mais uma vez, empate. Estreando na Copa do Nordeste, pelo grupo C, os pernambucanos ficaram no 2 x 2. Com o novo formato do regional, avançando de forma direta somente o primeiro lugar de cada chave, o resultado obriga a uma recuperação rápida. Ao Carcará, o ponto fora de casa naturalmente foi mais proveitoso.
Com o estádio vazio – novamente atrapalhado pela paralisação do metrô -, o Náutico fez um péssimo primeiro tempo. Viu o Salgueiro perder um pênalti, cometido infantilmente por João Ananias e desperdiçado de forma constrangedora por Lúcio, chegar outras vezes com muito perigo e, finalmente, abrir o placar com Berger, após falha de Júlio César.
As vaias dos 1.882 espectadores eram justas. Cobrando mais empenho dos laterais alvirrubro, Moacir Júnior precisava de eficência no setor para a bola chegar no miolo de zaga. Quase não chegava, ou então só mascada.
E em duas bolas cruzadas, da direita e da esquerda, o Náutico conseguiu virar o placar, com Josimar, desencantando em sua 5ª apresentação, e Gastón, um tanto nervoso até então, mais preocupado em bater boca.
Mesmo em desvantagem, o Carcará continuava agredindo, usando a velocidade diante de uma zaga timbu pregada. Num lançamento bem desviado pelo ataque, a bola sobrou para Anderson Lessa. O ex-alvirrubro já tinha ido bem no domingo. Nesta quinta, finalmente deixou o seu. Por cobertura.
E com o apito final, tanto no Estadual quanto no Nordestão, a presão para Timbu e Carcará ficou para a segunda rodada…
Os metroviários compraram a briga contra a violência no futebol pernambucano.
Sobretudo porque os funcionários vêm sofrendo, há tempos, com as ações dos vândalos nas estações de metrô que cortam a região metropolitana do Recife.
O estopim foi a chuva de pedras numa estação no sábado, 31 de janeiro de 2015, horas antes do Clássico das Multidões entre Santa e Sport, no Arruda.
O trem ficou parado, refém da violência entre supostos integrantes das torcidas organizadas, com vidros quebrados, agressão e ameaça de invasão. As cenas de terror, no Barro, foram registradas pelo próprio maquinista.
No dia seguinte, domingo, a categoria parou as ações na hora do confronto entre Náutico e Salgueiro, na Arena Pernambuco, pelo Estadual. Justamente num estádio construído para ter a rede de metrô como principal acesso.
A princípio, a ação parecia oportunista. Não foi… É, na verdade, um alerta.
Por mais que a paralisação atrapalhe a vida de 200 mil passageiros, por baixo, o ato visa chamar a atenção para algo sério, numa falha de segurança pública.
Veio o jogo seguinte, novamente entre Náutico e Salgueiro, desta vez pelo Nordestão, e nova paralisação dos metroviários. E o anúncio de outra parada já foi feito para o domingo, 8 de fevereiro, no Clássico dos Clássicos.
O estado pode até ignorar o caos, mas tem quem perca a paciência, com razão.
No carnaval pernambucano, uma das grandes preocupações em relação à saúde é o banco de sangue do Hemope, sempre baixo nesse período. Em 2015, o estoque começou com apenas 10% da capacidade. Usando a força de suas torcidas, Sport e Santa Cruz lançaram nos últimos dias campanhas de doação.
Seja por uma promoção de camisas (rubro-negro) ou pelo aniversário do clube (tricolor), os dois times mais populares do estado acabam gerando uma mídia positiva, através da solidariedade. As campanhas foram espalhadas no facebook para mais de um milhão de torcedores, considerando as duas páginas oficiais.
O caso referente ao título de campeão brasileiro de 1987 irá passar por um juízo de admissibilidade de prequestionamento e repercussão geral.
Simplificando o juridiquês: é preciso preencher esses requisitos para que o maior imbróglio da história do futebol nacional chegue ao Supremo Tribunal Federal. A mais alta instância do poder judiciário do país julga apenas matérias constitucionais. Daí a necessidade de avaliar o “peso” do polêmico caso, que se arrasta na justiça comum desde 14 de janeiro de 1988.
Em 16 de abril de 2001 expirou o prazo para recurso do Flamengo sobre a sentença da Justiça Federal, de 2 de maio de 1994, o que transformou o caso em transitado em julgado, a favor da conquista exclusiva do Sport.
Num ato administrativo à parte de qualquer respeito à coisa julgada, em 21 de fevereiro de 2011 a CBF proclamou os dois rubro-negros campeões, de torneios paralelos. Logo, o Sport entrou com uma ação de respeito à sentença original, reiniciando a confusão, que foi parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), responsável pelas divergências fundamentadas na lei federal.
Em 8 de abril de 2014, a terceira turma do STJ julgou por 4 votos a 1 novamente a favor do Leão. No mesmo dia, o departamento jurídico do Flamengo anunciou a intenção de estender a disputa até o STF. Dito e feito. O Mengo protocolou um recurso extraordinário, possível somente na última competência (veja aqui).
O caso está batendo à porta. Cabe à última instância do Brasil decidir pela continuidade… Do STF não passa.
O Sport perdeu do Sampaio Corrêa pela primeira vez. No 8º jogo oficial entre as equipes, a Bolívia Querida virou o placar em dois minutos, ampliou no finzinho e expôs o ritmo do Leão, cadenciado demais durante as partidas.
Com empate entre Coruripe e Socorrense, o atual campeão nordestino largou na lanterna do grupo B. Sem dúvida, foi punido pela falta de ímpeto ofensivo para matar o jogo no primeiro tempo, quando controlou as ações, e pelo desleixo na etapa final, cedendo espaço demais ao mandante, estreante no Nordestão.
O Leão começou dominando as ações no Castelão, mais aceso que no Clássico das Multidões. Aos 14, abriu o placar com Rithely, escorando de cabeça o escanteio cobrado por Danilo. Diego Souza, que chegara de última hora, após a regularização, entrou jogando fácil. Chegou a deixar Joelinton livre para marcar. Oscilante, o jovem centroavante perdeu a “bola” da noite.
Se o time de Eduardo Batista voltou do intervalo num ritmo disperso, a equipe de Oliveira Canindé foi para o abafa. Mostrou vontade e foi tecnicamente bem. Aos 14 e aos 15, virou com Edivânio e Válber. Às pressas, o rubro-negro promoveu todas as mudanças, incluindo Régis, que deu mais velocidade. Exposto, o time pernambucano sofreu outro gol aos 43, com Robert, 3 x 2.
Aos 50 minutos, Régis descontou. Não adiantou. Que fique a lição.
O favoritismo é do Sport, mas precisa fazer o óbvio, mostrar superioridade…
Uma dívida de R$ 109.919,20 custou a sede do América Futebol Clube. O tradicionalíssimo casarão verde na Estrada do Arraial, inaugurado em 16 de dezembro de 1951, pode se transformar numa loja de eletroeletrônicos.
Tudo por causa de um leilão para abater uma dívida de fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS), segundo determinação da justiça (veja aqui).
O curioso é que, de acordo com a Prefeitura do Recife, o imóvel – o único patrimônio do Mequinha – estava avaliado em R$ 5,3 milhões, a partir do cálculo do imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI).
Ou seja, a dívida abatida representa apenas 2% do valor de mercado da sede. É no mínimo estranha essa decisão, sem qualquer outra alternativa, até porque bens de Náutico, Santa Cruz e Sport também já foram ameaçados de leilão pela justiça, mas jamais foram executados. Pobre, Mequinha.
Francamente, o casarão já deveria ter entrado em processo de tombamento pela Fundarpe e pelo Iphan há tempos, como a sede de Rosa e Silva, por exemplo. Agora, deve ser demolido. Lá, uma placa relembra a inauguração.
“Construído e incorporado ao patrimônio do América Futebol Clube”
Era, também, um patrimônio do futebol pernambucano. O despejo fere a todos.