Fifa suspende o presidente da CBF, que logo recebe apoio da FPF. Sem surpresa

Sedes da Fifa (Zurique, Suíça), CBF (Rio de Janeiro) e FPF (Recife)

Há tempos o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, evita viagens para o exterior, com a Seleção Brasileira atuando sem o seu representante máximo presente. Um vexame internacional ao qual o dirigente se submete para não sofrer sanções enérgicas do FBI, que em 2015 deflagrou uma investigação internacional sobre corrupção na cúpula da Fifa, num esquema de lavagem de dinheiro que funcionava há pelo menos 24 anos – não por acaso, o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, segue preso em Nova York. Demorou, mas a Fifa resolveu punir o atual mandatário da confederação.

Começou com a abertura de um processo administrativo na Fifa, com o resultado saindo agora. São 90 dias de suspensão de todas as atividades no futebol. O cartola está obrigado a deixar a presidência da CBF. E o ato logo repercutiu no cenário local, ainda que de maneira constrangedora. Pouco depois do comunicado divulgado no site da fifa, direto de Zurique, a Federação Pernambucana de Futebol emitiu uma nota oficial de apoio ao dirigente. A seguir, trechos entre aspas e observações do blog.

1) “A Federação Pernambucana de Futebol (FPF) recebeu com muita surpresa a notícia da suspensão do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, por 90 dias. Período esse em que o mandatário ficará impedido de realizar qualquer atividade ligada ao futebol”

Surpresa? Mesmo após dois anos da operação do FBI e do indiciamento do dirigente por corrupção sob benefício de US$ 6,5 milhões em propina?

2) “O presidente da FPF, Evandro Carvalho, manifesta solidariedade a (…) Del Nero e informa que nenhum movimento contrário ao presidente da CBF deve ser realizado, já que essa decisão é injustificável e trata-se de uma manobra política da Fifa com o intuito de interferir no processo eleitoral da CBF” 

Como sempre, federações estaduais operam em conchavo, à parte da razão. Se a manobra da Fifa é política, o que dizer desta?

3) “‘Pernambuco mantém um alinhamento e sua integral participação junto ao presidente Marco Polo Del Nero’, disse Evandro Carvalho”

Alinhamento e integral participação, sem surpresa. Afinal, as federações conseguem ser superavitárias mesmo com campeonatos deficitários e filiados capengando, tendo sempre o apoio da CBF para a manutenção dos calendários locais. Foi assim com a FPF, que, segundo o último balanço, teve a sua maior receita, mesmo com o Estadual tendo o pior público em 13 anos.

Del Nero garante continuidade do Nordestão após fim do acordo judicial

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, no sorteio do Nordestão de 2016, em Natal.

Natal – Com o turbulento cenário político na CBF, com a troca de presidente e polêmicas, é difícil imaginar quem será o mandatário da entidade em 2023. Neste ano, já não haverá o acordo judicial que obriga a confederação a reservar parte do calendário do futebol nacional à Copa do Nordeste. Ainda falta bastante para o cumprimento da decisão, com dez edições seguidas, mas o futuro aberto abre o questionamento sobre a continuidade, sobretudo pelo passado, quando a CBF riscou a competição do mapa, em 2003 – não por acaso, o imbróglio acabou na justiça. Após o sorteio da Lampions League de 2016, o atual presidente da confederação, Marco Polo Del Nero, conversou com jornalistas no saguão do evento. Lá, o blog tocou no assunto numa rápida entrevista.

O contrato da Copa do Nordeste vai até 2022, que foi a medida de um acordo judicial. A partir de 2023 a Copa do Nordeste corre risco de sair do calendário?

“Não. Foram tempos diferentes. Foram outros tempos. Hoje, nós estamos aqui, presentes, constantemente. A federação está presente. A federação organiza essa competição. Toda essa parte de logística da competição é da CBF. Ela quer fazer, ela quer continuar fazendo, mas quem determina o que fazer não é a Confederação Brasileira de Futebol. São as federações, são os clubes. Os clubes pedem às federações, as federações pedem à CBF e a CBF concorda, mas precisa haver unidade e respeito à administração do futebol brasileiro. Por isso, vai longe. E a Copa do Nordeste não vai parar aí não. Ela vai ser centenária logo, logo. Nós vamos chegar lá.”

Na sequência, o dirigente justificou a tese com a Copa Verde, que reúne equipes do Norte e Centro-Oeste. Espécie de “derivado” do Nordestão, a outra copa regional só entrou no calendário por causa do interesse da televisão.

“A Copa Verde foi criada à mercê de um trabalho muito forte da Confederação Brasileira de Futebol junto às televisões, porque alguém tem que pagar essa conta. Nessa oportunidade, o Esporte Interativo aceitou pagar a conta. Está fazendo a competição e já já começa a dar lucro.” 

Como curiosidade, o fato de que o mandato de Del Nero, de quatro anos, vai até 2019, podendo se estender, no máximo, até 2023, com uma reeleição. Logo, as suas palavras podem ter peso até lá. Se ele continuar, é claro.

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, no sorteio do Nordestão de 2016, em Natal. Foto: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

Com Marco Polo Del Nero no limite do Brasil, a Lampions 2016 se torna realidade

Marco Polo Del Nero no Sorteio da Copa do Nordeste de 2016, Foto: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

Natal – Nos últimos meses, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, tem evitado deixar o país. Suspeita-se da investigação do FBI, que poderia detê-lo no exterior, como ocorreu com antecessor, José Maria Marin, na Suíça. Em Natal, no limite do nordeste brasileiro, o dirigente, aparentando tranquilidade, discursou no sorteio do Nordestão de 2016. Curiosamente, observou a distância alcançada pela competição, que na última edição movimentou R$ 29 milhões. “A palavra que define a copa é ‘unidade’. A Copa do Nordeste atravessou fronteiras.” Ironia à parte, as bolinhas trouxeram adversários tradicionais para Santa Cruz e Sport.

De volta ao regional após um ano ausente, o atual campeão pernambucano enfrentará o Bahia. Na última campanha, também teve pela frente o Tricolor da Boa Terra. Já o Sport terá de cara o Fortaleza, duríssimo adversário nas quartas de final deste ano, que só terminou na decisão por pênaltis, com Magrão classificando o Rubro-negro. O terceiro representante local, o Salgueiro, pegou a chave apontada pela imprensa como a mais fraca na primeira fase. O principal time do grupo A é o ABC, que capenga para permanecer na Série B.

O sorteio foi acompanhado pela cúpula do futebol nordestino. Representando o Santa, o vice-presidente Constantino Júnior considerou o seu grupo, o C, nivelado. “Só o primeiro tem vaga, mas a gente vai batalhar para buscar a primeira colocação”, disse. De fato, com a ampliação para 20 times, em 2015, agora avançam às quartas os cinco líderes e os três melhores segundos. Pelo Sport, o superintendente de futebol, Nei Pandolfo, gostou da logística na primeira fase. “Jogaremos em capitais (Fortaleza, João Pessoa e Teresina), com viagens diretas. E esse desgaste menor ajuda muito no início de temporada.”

Já Clebel Cordeiro, presidente do Carcará, não economizou na felicidade: “Foi o melhor sorteio dos últimos anos, ainda mais porque a Copa do Nordeste é a escapatória para um clube do interior sobreviver no resto do ano”. Ao todo, serão 74 jogos, de 14 de fevereiro a 1º de maio, com a tabela divulgada até novembro. Já as premiações devem ser definidas no encontro da liga em Salvador, em 1º de outubro. Este ano, a cota foi de R$ 11 milhões. Em tempo: o sorteio da Lampions League de 2017 será em Maceió, ainda ao alcance de Del Nero.

Grupo A – ABC-RN, Salgueiro, Campinense-PB e Imperatriz-MA
Grupo B – América-RN, CRB, Coruripe-AL e Estaciano-SE
Grupo C – Bahia, Santa Cruz, Confiança-SE e Juazeirense-BA
Grupo D – Sport, Fortaleza-CE, Botafogo-PB e River-PI
Grupo E – Ceará, Sampaio Corrêa-MA, Vitória da Conquista-BA e Flamengo-PI

Sorteio da Copa do Nordeste de 2016, Foto: Cassio Zirpoli/DP/D.A

Zico consegue o primeiro abraço rumo à Fifa. E começou logo com Del Nero…

Zico e Marco Polo del Nero, na CBF. Foto: Rafael Ribeiro/CBF

A administração da CBF está em xeque desde as investigações do FBI, em maio de 2015, com a prisão de oito dirigentes da Fifa, incluindo o ex-presidente da confederação brasileira de futebol, José Maria Marin. A partir daí, o presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, se afastou das convenções internacionais, como a Copa América, no Chile, e o comitê executivo da Fifa, na Suíça. O temor seria a continuidade da ação da Federal Bureau of Investigation, por mais que o brasileiro desconverse, alegando a “preocupação com a CPI do futebol”.

Politicamente em baixa, Del Nero chegou ao ponto de oferecer mais autonomia aos clubes nos arbitrais das próximas edições da Série A, em troca de apoio. Por tudo isso, atrelar uma imagem a esta CBF, neste momento, talvez não seja a melhor das ideias. Daí, a incredulidade sobre a atitude de Zico, em busca de respaldo para a sua candidatura à presidência da Fifa. Ignorou por completo o cenário e abraçou Del Nero para conseguir ao menos uma das cinco assinaturas de federações nacionais, o mínimo para oficializar o seu pleito.

Naturalmente, Del Nero aceitou de bom grado a visita (sobretudo politicamente).

“Zico tem o nosso apoio para viabilizar a candidatura. Se ele conseguir as outras quatro assinaturas, a CBF vai endossar o seu pleito. Falei com o Napout (presidente da Conmebol) que temos um brasileiro ilustre com a intenção de concorrer ao cargo de presidente da Fifa. Em condições regulares para entrar na eleição, Zico terá o endosso da CBF”.

Com a garantia da assinatura, Zico saiu satisfeito da sede da CBF, no Rio.

“Fiquei feliz com a resposta. Isso é importante porque eu só daria o meu pontapé inicial depois de receber o sinal positivo da CBF”.

As declarações saíram no site da entidade, com o seguinte destaque: “CBF, Zico e Fifa”, deixando claro que a imagem do Galinho foi um bônus inesperado. Jogador brilhante, com mais de 500 gols pelo Flamengo, Zico começa a caminhada da pior forma possível, por mais que o apoio seja “necessário”.

Em mais de um século de história, a Fifa teve apenas oito presidentes. Só um brasileiro, João Havelange, de 1974 a 1998. Ainda assim, este renunciou até ao status de presidente de honra para evitar punições sobre acusações de suborno milionário. Um linha de poder ainda presente, lá e cá. Antes da eleição, em 26 de fevereiro de 2016, será preciso chancelar as candidaturas até 26 de outubro. Até lá, Zico precisará abraçar mais quatro presidentes. Que o ex-craque, já aos 62 anos, não continue ignorando o contexto de cada um em busca do poder.