O lapso do secretário-geral da CBF sobre as ligas. Sim, elas estão previstas na lei

Walter Feldman, secretário-geral da CBF a partir de 2015. Foto: PSDB/divulgação

O mandato de quatro anos do novo presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, começa em 16 de abril de 2015. No comando, uma figura terá bastante peso, o secretário-geral Walter Feldman, de 61 anos. Médico por formação e político por vocação, na descrição da própria entidade, ele concedeu entrevista ao Estado de S. Paulo, publicada na íntegra no site oficial da confederação. Chama a atenção a visão do dirigente sobre as ligas. Abaixo, as citações.

“(sobre a liga) Não tem nenhum sentido, na lei brasileira, entrar na organização independente e autônoma da sociedade civil. Em alguns pontos a MP ultrapassa a fronteira e em outros vai muito além da fronteira. É assustador, porque chegou a esse ponto que a Casa Civil fez: vamos colocar tudo o que a gente quer no novo futebol. Quem sabe passa?”

“O Bom Senso quer coisas muito boas para o futebol, mas tem exageros também. Trabalha com a ideia de liga e com a ideia de participação de jogadores e sistemas decisórios que são muito complicados porque não estão enquadrados nos modelos de organização da sociedade brasileira”.

Não nenhum sentido na lei brasileira?
A criação de ligas esportivas no Brasil está prevista na lei federal de nº 9.615, desde 1998. Mais conhecida como Lei Pelé, a norma já teve diversas revisões, entre 1999 e 2013, mas sem nunca riscar do papel o artigo 20, que autoriza a criação das ligas autônomas em relação às confederações: “As entidades de prática desportiva participantes de competições do Sistema Nacional do Desporto poderão organizar ligas regionais ou nacionais”.

Não está enquadrado nos modelos de organização da sociedade?
Em mais um lapso de Feldman, pois a Lei Pelé rege o desporto nacional como um todo, outras modalidades à parte do futebol já contam com ligas, como o basquete (NBB e LBF) e o vôlei (Superliga). Apesar de hoje estar subordinada à CBF, vale destacar a própria Liga do Nordeste, com mais de 15 anos de história. Não por acaso, quando a confederação acabou com o Nordestão em 2003, a liga levou o caso à justiça, ganhando uma ação superior a R$ 30 milhões – o resultado disso foi o acordo para a volta do torneio, em 2013.

Literatura de Eduardo Galeano do futebol ao sol, no barro e com o Santa Cruz

Livro "Futebol ao Sol e à Sombra", do uruguaio Eduardo Galeano, nas versões em português e espanhol

Eduardo Galeano é um dos mais renomados escritores da América Latina.

O escritor uruguaio faleceu aos 74 anos, em sua casa em Montevidéu. Deixou uma obra com mais de 40 livros em inúmeros gêneros, como ficção, jornalismo, análise e, sobretudo, esportes, uma de suas paixões…

Em 1995, ele escreveu o livro “Futebol ao Sol e à Sombra”, indispensável no jornalismo esportivo, com os momentos de esplendor e desgraça do futebol, entre a performance teatral e a guerra movendo as massas, pontuados por grandes nomes da pelota mundial, como Pelé, Di Stéfano, Maradona e Obdúlio Varella, campeão com a Celeste no Maracanazo de 1950.

Sucesso editorial, o livro ganhou várias versões, inclusive em português.

Na Espanha, a grande surpresa, com uma capa à parte. Apaixonado pelo Brasil, Galeano já esteve inclusive em Pernambuco. Da cultura caruaruense saiu a sua ideia para a capa ibérica, com um time de barro.

Com o time do Santa Cruz.

Podcast 45 (119º) – Revés e sequelas no Leão e a crescente imagem do Nordestão

O 45 minutos fez um raio x da movimentada semifinal nordestina entre Bahia e Sport, finalizada com a classificação dos baianos. Qual é o “tamanho” da culpa de Elber pelo gol perdido na Fonte Nova? E de Eduardo? Analisamos a necessidade de reforços para a Série A. Por fim, também entrou na pauta a crescente imagem da Copa do Nordeste, consolidada como principal torneio da região, apesar de ainda ignorada por parte da imprensa do Sul-Sudeste.

Nesta 119ª edição, com 1h26min, gravada logo após a partida, estou ao lado de Celso Ishigami, Fred Figueiroa, João de Andrade Neto e Rafael Brasileiro.

Ouça agora ou quando quiser!

Ceará x Bahia, uma final inédita e de invictos no Nordestão de 2015

A final da Copa do Nordeste 2015: Ceará x Bahia. Arte: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

A final da 12ª edição da Copa do Nordeste será entre Ceará e Bahia.

A finalíssima, inédita, reúne os últimos invictos da Lampions League.

Os times estabeleceram campanhas praticamente iguais, restando apenas o saldo de gols para definir o mando de campo no jogo de volta. No caso, as partidas serão nos dias 22 (Fonte Nova) e 29 de abril (Castelão). Promessa de 100 mil torcedores em campo no confronto.

Teremos uma final de grande porte, com o Vozão na briga pelo segundo ano seguido. A taça dourada segue como o maior sonho do clube alvinegro.

Enquanto isso, o Baêa, sob nova gestão, quer voltar a comemorar uma grande conquista depois de 13 anos, desde o bicampeonato nordestino.

Ao campeão desta temporada, a vaga na Copa Sul-Americana e uma premiação absoluta de R$ 2,74 milhões. O vice ficará com R$ 1,24 milhão.

Ceará (11ª participação, vice em 2014)
5 vitórias, 5 empates, nenhuma derrota, 13 gols marcados, 7 gols sofridos

Bahia (11ª participação, campeão em 2001 e 2002)
5 vitórias, 5 empates, nenhuma derrota, 13 gols marcados, 9 sofridos

Quem será o campeão da Copa do Nordeste de 2015?

  • Bahia (55%, 1.206 Votes)
  • Ceará (45%, 980 Votes)

Total Voters: 2.185

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Souza marca três vezes na Fonte Nova e o Bahia elimina o Sport mais uma vez

Copa do Nordeste 2015, semifinal: Bahia 3x2 Sport. Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/divulgação

O Bahia manteve a escrita em mata-matas contra o Sport, ampliando o histórico para 6 x 1. Numa Fonte Nova tomada por 40 mil torcedores, neste domingo, o meia Souza, ex-Náutico, marcou três vezes e comandou a virada do tricolor de aço sobre o atual campeão nordestino. Com direito a um segundo tempo movimentadíssimo no placar, Bâea 3 x 2, avançando à grande final.

A eliminação do Rubro-negro, que chegou a ficar pertinho da vaga em Salvador, tem inúmeras explicações, sem nem precisar voltar ao jogo de ida, na Ilha. Analisando apenas o jogo de volta, alguns pontos foram fundamentais.

1) A chance desperdiçada por Elber, aos 30 minutos, deixaria 2 x 0 favor do Leão, que já vencia após cabeçada certeira de Diego Souza. Seria uma vantagem muito difícil de reverter no formato com gol qualificado fora de casa, ainda mais com o mandante tão mal em campo até então.

2) A mudança de Neto Moura por Danilo. A escalação do jovem meia foi surpreendente, mas Neto fez valer a confiança do técnico, com um ótimo primeiro tempo, protegendo a intermediária. Já a entrada do lateral/volante/meia/etc, no intervalo, tirou a estabilidade tática do time – Neto saíra por opção técnica. Fora o fato de que Danilo entrou nervoso além da conta.

Copa do Nordeste 2015, semifinal: Bahia 3x2 Sport. Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/divulgação

3) Dois gols sofridos em dez minutos. Em um chute de fora da área (falha de Magrão) e um pênalti polêmico (bem marcado, apesar de inúmeros outros lances parecidos serem ignorados – foto acima), o versátil Souza virou o jogo. Era visível no rosto dos leoninos a incredulidade pelo resultado.

4) Nem mesmo após o novo empate (2 x 2), com Renê cobrando falta e Douglas Pires falhando bisonhamente, o time colocou a bola no chão. O segundo tempo do Sport foi praticamente nulo na criação de jogadas. Mas o terceiro gol baiano também teve uma cota de azar, com Vitor desviando para a própria meta. Magrão ainda salvou, mas o dia era mesmo Showza.

5) A pontaria de Felipe Azevedo. As duas últimas grandes oportunidades caíram nos pés do atacante, que voltou após duas semanas de molho. Apesar da força imposta nas finalizações, ele sequer acertou a barra.

6) Eduardo Batista. O técnico conseguiu a proeza de desconstruir a sua própria proposta de jogo, que estava funcionando. Após a saída de Neto, a entrada de Régis no lugar de Mancha (e não de Danilo, perdido em campo) só completou o serviço. Eduardo tem crédito, mas o erro foi fatal.

Copa do Nordeste 2015, semifinal: Bahia 3x2 Sport. Foto: MARLON COSTA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Podcast 45 (118º) – Empate entre Sport e Bahia e expectativa para Salvador

A edição que marcou o primeiro aniversário do 45 minutos analisou ponto a ponto a semifinal da Copa do Nordeste entre Sport e Bahia – curiosamente, a estreia do podcast foi no dia da finalíssima do regional de 2014. O empate sem gols deixou a disputa aberta, apesar da pressão esperada na Fonte Nova. É possível, ao Sport, buscar a classificação em Salvador? Seria inédito.

Nesta 118ª edição, com 1h28min, gravada logo após a partida, estou ao lado de Celso Ishigami, Fred Figueiroa, João de Andrade Neto e Rafael Brasileiro.

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Sport passa em branco contra o Bahia e, pela final, terá que suportar a Fonte Nova

Copa do Nordeste 2015, semifinal: Sport x Bahia. Foto: Paulo paiva/DP/D.A Press

A vitória não veio na Ilha do Retiro e o Sport terá que se desdobrar na Fonte Nova, onde não vence há onze jogos, desde 18 de outubro de 1989, quando fez 2 x 1 no Brasileirão. Na abertura da semifinal da Copa do Nordeste, o Leão atuou bem e teve duas grandes chances, ambas com o atacante Samuel, cara a cara. Na primeira, chutou por cima da barra. Na segunda, acertou a coxa do goleiro tricolor, 0 x 0, mesmo placar da outra disputa, entre Ceará e Vitória.

No Recife, o duelo teve dois tempos distintos. O primeiro correu num ritmo muito veloz, num jogo eletrizante, mesmo em branco. O Sport começou com mais intensidade, surpreendendo pelo lado direito, com Vitor (geralmente cansado). Em um lance que deixou a defesa baiana desmontada, Samuel ficou livre, mas aí já viu. A partir dos 25 minutos o Bahia, com um time consistente, posicionou a sua marcação à frente, pressionando demais a saída de bola pernambucana, com Kieza pela esquerda e Gamalho na direita. No meio, o argentino Biancucchi driblou meio time na meia lua e chutou forte, com Magrão salvando.

Copa do Nordeste 2015, semifinal: Sport x Bahia. Foto: Paulo paiva/DP/D.A Press

Na volta do intervalo, já com Ronaldo (dinâmico) no lugar de Wendel (amarelado, suspenso) e Joelinton (disperso) no lugar de Mike (frágil diante dos armários), o ritmo diminuiu, nos dois times. A própria equipe de Sérgio Soares – técnico vice em 2014, quando perdeu o título no jogo de ida, na Ilha – passou a cadenciar a suas ações, com a formação tática mais recuada. Mas nem por isso os dois rivais pararam de buscar o gol – com muita luta do mandante. Já nos descontos, Kieza usou o último fôlego e arrancou, sendo desarmado por Durval na hora H. Aos 50 minutos – acréscimo justo diante da cera visitante -, o Leão ainda teve uma chance para levantar a Ilha, com a bola teimando em não entrar.

De uma forma ou de outra, o Leão terá que marcar gols em Salvador para ir à final. Um novo empate sem gols leva a decisão para os pênaltis. Em caso de empate com gols, o Leão passa, assim como uma possível vitória, algo bem distante contra o Baêa fora de casa. O tabu está aí à disposição do Sport…

Copa do Nordeste 2015, semifinal: Sport x Bahia. Foto: Paulo paiva/DP/D.A Press

Bola personalizada na semifinal do Nordestão, na sequência do marketing

Bola da semifinal da Copa do Nordeste 2015, Sport 0x0 Bahia. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

Nas quartas de final da Copa do Nordeste, todos os times entraram em campo com um patch no uniforme, a marca oficial do torneio estampada. Na semifinal, mais uma ação de marketing, com bolas personalizadas.

Na Ilha do Retiro, para Sport e Bahia.
No Castelão, para Ceará e Vitória.

Em cada estádio a Asa Branca II, produzida pela Penalty, ganhou uma versão com os escudos dos semifinalistas, o nome do estádio e a data (veja aqui).

Antes da disputa, a bola ficou exposta em um púlpito na beira do gramado. Em cada palco, um ídolo local foi chamado para dar o ponta-pé inicial.

Leonardo no Leão e Sérgio Alves no Vozão. Nos confrontos de volta, ambos em Salvador, a ação deve se repetir, assim como na decisão.

O trabalho de marketing no Nordestão de 2015 tem sido recorrente. Válido.

Bola da semifinal da Copa do Nordeste 2015, Ceará 0x0 Vitória. Foto: Esporte Interativo/cortesia

Paulo Câmara cogita fim do Todos com a Nota, uma decisão numericamente improvável

Paulo Câmara, governador de Pernambuco em 2015. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press

Ao ganhar a eleição para governador, a figura de Paulo Câmara garantiu a manutenção do Todos com a Nota. Afinal, seria a continuidade da gestão sob a sigla do PSB, a mesma de Miguel Arraes e Eduardo Campos, criadores do subsídio estatal ao futebol pernambucano. No quarto mês de seu mandato, contudo, o político sinalizou indiretamente a possibilidade de acabar o programa, caso seja a solução para combater a violência.

Eis a declaração dada por Paulo Câmara à Rádio Jornal.
“Solicitei aos secretários de Defesa Social e da Casa Civil que iniciassem um processo de discussão imediata com os clubes de Pernambuco e com a FPF  para analisar os cuidados que se tem que ter com esse grupo de torcedores que continuam a fazer baderna. Pernambuco, como grande incentivador do esporte, a partir do programa todos com a nota, tem uma preocupação muito grande para isso. E se isso (a revisão ou a extinção) for uma solução a gente não vai se omitir de tomar as decisões necessárias, o que não vamos permitir é que se repitam cenas como a do último domingo passado”.

Na prática, considero inviável a curto prazo uma solução tão drástica.

Abaixo, alguns pontos que transformam a ideia em uma cortina de fumaça.

1) Simplesmente atrelar a violência ao TCN é preconceito, rasteiro. Os delitos (agressões, furtos, roubos etc) não estão inseridos na camada mais pobre da sociedade – a que mais consome o programa -, mas na impunidade, na falta de segurança, estrutura, transporte e educação, num contexto bem mais amplo da crescente cultura de violência em nossa sociedade.

2) O estado vem aumentando sistematicamente a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que representa 60% da receita. Desde 2007, a partir da gestão de Eduardo Campos, o crescimento foi de 150%. Como se sabe, a geração de notas fiscas é a base do Todos com a Nota. Considerando os dados do TCN de 2007 a 2011, os únicos divulgados, e projetando-os até 2014, a conta bruta apontaria 120 milhões de notas fiscais trocadas (R$ 2,08 bilhões). Os clubes receberam um repasse absoluto de R$ 36 milhões no Pernambucano. Ao estado, o programa rende.

3) Atualmente, são 420 mil usuários cadastrados no Grande Recife, onde é obrigatório o uso de cartões magnéticos no Todos com a Nota. Isso corresponde a 10,7% de toda a população na região metropolitana. Política, como se sabe, é voto. Não parece ser a melhor ideia do mundo privar tanta gente do benefício, institucionalizado há quase uma década. Dos 414 mil torcedores presentes nos 113 jogos do Estadual de 2015, 311 mil (75%) entraram via TCN.

4) A Arena Pernambuco, gerida em uma parceria público-privada, depende do Todos com a Nota. Não por acaso, a lei estadual do programa foi modificada, obrigando Náutico, Santa Cruz e Sport a atuar a algumas partidas por lá. Para completar, o ingresso pago pelo governo na arena é de R$ 25, o maior nos estádios locais, justamente para gerar mais receita ao empreendimento, que nos dois primeiros anos de operação registrou um prejuízo de R$ 54 milhões.

O disfarce das organizadas através da Paz

Camisas de "PAZ" da Inferno Coral e Torida Jovem. Crédito: Facebook/reprodução

Proibidas desde 20 de fevereiro de 2013 de frequentar os estádios em Pernambuco, as maiores torcidas organizadas da capital arrumaram um jeito de driblar a decisão do Juizado Especial do Torcedor. A Inferno Coral (Santa Cruz) e a Torcida Jovem (Sport) tiraram os escudos da facções e estamparam a palavra “PAZ” no peito, validando o retorno. O que torna o veto em algo superficial é a manutenção da escolta policial nos clássicos, tanto no Arruda quanto na Ilha.

Caso alguém ainda duvide sobre a relação das camisas com as uniformizadas, os modelos estão à venda nas páginas: Inferno Coral e Torcida Jovem.

As próprias páginas das uniformizadas no facebook admitem que a camisa é a única autorizada pelos “órgãos públicos”. As duas versões custam R$ 20.

No Clássico das Multidões na Ilha do Retiro, pelo hexagonal estadual de 2015, foi maciça a presença dos membros das duas organizadas, e não parece ter sido coincidência a baderna antes e depois do empate. Pior. O time do Santa usou a camisa no gramado. Se o objetivo era divulgar a palavra “Paz”, acabou revivendo uma ligação perigosa – que causou estrago em 2014.

É a propagação da violência sob o nome da paz. Culpados? Os infiltrados.

Em tempo: são 56 mil membros na TOIC e 132 mil a TJS…