O Cruzeiro anunciou uma medida drástica na relação com as torcidas organizadas do clube. A direção mineira proibiu o uso da marca do clube nos materiais produzidos pelas uniformizadas.
O presidente do campeão brasileiro de 2013, Gilvan Tavares, alegou prejuízo financeiro, ao deixar de arrecadar através dos royalties, via licença da marca – ou seja, perdendo para a pirataria -, e também na própria imagem do clube, com as constantes brigas envolvendo supostos integrantes das organizadas, resultando inclusive na perda de mandos de campo.
O clube deve ir à justiça para garantir o direito. A atitude do Cruzeiro, claro, levantou o debate no país sobre a relação clube/organizada, nos termos segurança e receitas.
No Recife, nota-se que as três maiores facções presentes (Inferno Coral/Santa Cruz, Torcida Jovem/Sport e Fanáutico/Náutico) usam os escudos dos times nas camisas à venda nas lojas na cidade e também na internet.
A quebra de patrocínios por causa de confusões nas arquibancadas brasileiras, como no distrato entre Vasco e Nissan, e o possível aumento nas punições nos campeonatos, como a perda de pontos, mostra que a fissura entre o Cruzeiro e a Máfia Azul pode ser mesmo o início de outras rachaduras nessas relações…
A discussão sobre as torcidas organizadas toma bastante tempo no Recife, com seguidos casos de violência envolvendo as três maiores facções.
Nos principais centros do país o panorama não é muito diferente.
Em alguns casos é até pior…
Como já foi dito outras vezes, a relação das diretorias com as uniformizadas é bem estreita. Não oficial, mas quase nítida. No Paraná Clube, um novo passo.
A Torcida Fúria Independente, a maior do clube, completará vinte anos nesta temporada. Aproveitando a data e o caixa positivo, a torcida será a nova patrocinadora master do Paraná. Isso mesmo.
O grupo assinou por duas partidas, incluindo o duelo contra o Sport, na Vila Capanema. Por cada jogo, R$ 25 mil. O clube justificou a decisão.
“Entendemos o momento como muito propício para esta quebra de paradigmas, pois esta parceria sintetiza a união ora fortalecida entre torcida, diretoria, sócios, conselheiros, funcionários, comissão técnica e atletas, num esforço ímpar para o fortalecimento do Paraná Clube. Assim, seguimos com força na busca pelo acesso à primeira divisão, conquistando nosso espaço no futebol brasileiro.”
Já pensou se a moda pega aqui?! Fanáutico, Inferno Coral e Torcida Jovem na parte frontal dos uniformes oficiais de Náutico, Santa Cruz e Sport.
Em tese, as três poderiam bancar patrocínios. Todas são empresas com cadastro nacional da pessoa jurídica (CNPJ) e contam com lojas e quiosques abastecidos com produtos oficiais de suas próprias marcas, à parte dos clubes.
O que você achou da ideia implantada pelo Paraná? Há espaço no Recife?
As autoridades conseguiram a proeza de não revelar o esquema de segurança no metrô na disputa de um clássico local na Arena, a dez dias da partida.
Náutico e Sport vão se enfrentar em São Lourenço no dia 28 de agosto. A preocupação é bem antiga e já foi alertada inúmeras vezes (veja aqui).
A impressão é que estão tentando articular até agora um plano. Enquanto isso, nas estações de metrô as confusões começam a aumentar, a assustar…
Assista ao vídeo abaixo, registrado por um torcedor, com uma briga envolvendo supostos integrantes da mesma torcida uniformizada do Náutico, mas de bairros diferentes, no percurso da partida contra o Fluminense.
Se entre torcedores com a “mesma” camisa já é assim, imagine com os rivais.
Quais seriam as opções sobre a mobilidade? Vagões exclusivos? Torcida visitante, em menor número, transportada via ônibus? Comente.
A relação das torcidas organizadas com as direções dos clubes de futebol é quase umbilical. As primeiras aglomerações organizadas de torcedores surgiram em Pernambuco na década de 1970, num cenário completamente diferente, inclusive pela estrutura de comunicação da época.
Acredite, as torcidas dividiam o mesmo espaço nas arquibancadas. O objetivo era cantar mais alto, levar mais sacos de papel picado e bandeiras.
É difícil precisar o momento exato em que essas torcidas ganharam um poder além da conta, mas foi nos anos 1990. Um fenômeno de norte a sul. Ganharam espaços nos estádios, salas nas sedes dos clubes, caminho livre.
Foram ganhando dinheiro com produtos de suas próprias marcas, elevando o status entre os torcedores, sobretudo os mais jovens, em busca de uma identidade. E os gritos do clube foram abafados pela autoexaltação.
Aos poucos, 50 viraram 500, que viraram 5 mil e hoje são 50 mil.
No Recife não foi diferente. Disputas internas acabaram os grupos menores, incorporados à Fanáutico (20 mil), Inferno Coral (80 mil) e Torcida Jovem (90 mil). Uma massa humana assim, num processo democrático, pode ser utilizada de inúmeras formas. Nos jogos, determina a pressão ou apoio a um jogador ou dirigente na arquibancada. Nas eleições, uma conta exata de votos.
Conscientes disso, os diretores locais abraçaram as organizadas, alheios aos problemas causados pelas mesmas, responsáveis por 800 crimes em cinco anos, segundo o Ministério Público. Brigas, roubos, depredação etc.
Tudo via uma contrapartida extraoficial, de apoio financeiro por apoio maciço nas urnas, com mensalidades quitadas faltando poucos dias para o pleito.
Contudo, no palanque o tom até de presidentes é de apoio à presença das uniformizadas nas partidas, dentro e fora de casa. Tratam casos de violência como pontuais, por mais que a sensação seja onipresente em relação aos episódios envolvendo os supostos integrantes dessas facções.
Vestir uma camisa ou colocar um boné de uma organizada pode até gerar o apoio segmentado de parte da torcida a um dirigente.
Na maioria do público, o ato não parece ser encarado da melhor forma.
Os dirigentes também sabem disso. Mas enquanto isso não influenciar nas urnas, dentro e fora dos clubes, não deverá fazer muita diferença…
A situação das torcidas uniformizadas pernambucanas não tem sido fácil de controlar. Em 2013, o cenário parece ter piorado fora do estado.
Até aqui, supostos integrantes da maior organizada do Santa Cruz, a Inferno Coral, já arrumaram confusão nos estádios Rei Pelé (Maceió), Castelão (São Luís) e Boca do Jacaré (Brasília).
Em alguns casos, torcedores dos clubes rivais do adversário coral nas respectivas partidas também aumentaram a quantidade de vândalos presentes, como nesta quarta, com torcedores do Gama, rival do Brasiliense.
A explicação vem das alianças das torcidas organizadas em todo o país, com facções de times de fora aliadas de clubes do estado, até mesmo vestindo as becas das torcidas. Ou seja, o aliado de um rival local também é um rival.
Mas exportar a violência é demais.
Em janeiro, um integrante da Torcida Jovem foi detido na reabertura do Castelão, sob a acusação de ter quebrado uma cadeira, a primeira nas arenas da Copa. A Fanáutico, em viagens pelo país, é sempre abordada nas estradas.
Vale destacar ainda o apoio financeiro, não oficial, dos clubes às principais organizadas. Ajuda no Arruda, na Ilha do Retiro, nos Aflitos…
As torcidas organizadas estão de volta aos jogos de futebol na capital. Em uma audiência no Juizado Especial do Torcedor, Torcida Jovem, Inferno Coral e Fanáutico, acompanhadas de seus advogados, conseguiram nesta segunda um termo de conciliação. Para isso, “ajudou” o fato de a FPF não ter enviado um representante para a audiência. A proibição vigorava desde 20 de fevereiro.
Camisas, bandeiras e baterias foram liberadas para a festa. Que o ônus não seja o de sempre nessas decisões, com o aumento da violência.
A notícia da liberação foi logo repercutida nas páginas das três organizadas no facebook. Impressiona a quantidade de seguidores de cada uma. São 7.475 alvirrubros, 30.378 tricolores e 62.731 rubro-negros. Mais de 100 mil pessoas…
Na prática, vários integrantes das três maiores organizadas do estado continuavam presentes nas partidas no Recife, com os gritos de guerra e aglomerações em setores característicos dos estádios, como a geral da Ilha, no lado esquerdo das cabines, e atrás das barras no Arruda e nos Aflitos, no lado direito. Inclusive com escolta policial, fato comum nas uniformizadas
Nos últimos dez anos foram inúmeras proibições após brigas dentro e fora dos estádios, tiros e confusões em ônibus. As determinações da justiça sempre foram de curto prazo, como agora. Qual é a sua opinião o termo de conciliação?
Os primeiros jogos no Arruda, Aflitos e Ilha do Retiro no segundo turno do Estadual foram realizados sem a presença das torcidas organizadas, barradas de forma preventiva por pelo menos sessenta dias. Na semana em que os estádios não viram as camisas e faixas das respectivas uniformizadas, o poder público se mexeu com a Operação Jogo da Paz, cumprindo mandados de busca e apreensão nas sedes das três facções.
Enquanto o cerco se fecha, reforçando a necessidade de executar o cadastramento dos milhares de integrantes da Inferno Coral, Torcida Jovem e Fanáutico, o público segue a favor da proibição. Pelo menos é o que atesta a enquete no blog, com a participação de 1.190. No geral, o apoio de 68,5%.
Você concorda com a proibição das principais torcidas organizadas nos jogos de Náutico, Santa e Sport?
Sport – 585 votos
Sim – 72,64%, 425 votos
Não – 27,35%, 160 votos
Santa Cruz – 312 votos
Sim – 61,85%, 193 votos
Não – 38,14%, 119 votos
A proibição das torcidas uniformizadas nos estádios pernambucanos nesta temporada foi bem específica. Não foi algo generalizado, mas focado em três facções, a Inferno Coral, a Torcida Jovem e a Fanáutico.
Somadas, as três teriam aproximadamente 190 mil membros. Agora, nada de camisa, faixas, aglomerações ou até mesmo gritos de guerra.
No Arruda, Ilha do Retiro e Aflitos, no entanto, outras torcidas organizadas ainda terão acesso aos jogos com os respectivos padrões.
Sobre a proibição, que deverá ganhar os tribunais, uma vez que as diretorias das três principais uniformizadas irão contestar a decisão, temos a nova enquete do blog, para mensurar a opinião geral sobre o ato.
Em duas oportunidades, em 2011 e 2012, o blog realizou enquetes sobre a presença das organizadas nos estádios locais. Confira os resultados aqui.
Você concorda com a proibição das principais torcidas organizadas nos jogos de Náutico, Santa e Sport?
A primeira vez em que o futebol pernambucano viveu isso foi em 18 de março de 2001, num confronto entre integrantes da Torcida Jovem e da Fanáutico.
Numa briga generalizada no Túnel Chico Science, próximo à Ilha do Retiro, Daniel Ramos da Silva, de 17 anos, levou um tiro no peito e outro na cabeça. O rapaz, com a camisa da Jovem, foi socorrido no Hospital da Restauração, mas não resistiu. Foram inúmeras versões sobre o autor do disparo, sem prisão.
Aquela foi a primeira morte atrelada de forma direta à violência no futebol pernambucano. Doze anos depois, mais um duro episódio, trazendo à tona pela enésima vez a cruel realidade da insegurança dos jogos no estado.
Antes e depois das partidas, nas imediações. Parece não haver mais tolerância alguma pelo fato de outro cidadão estar vestido com a camisa de um clube diferente. Desta vez, papéis invertidos na vítima.
Lucas de Freitas Lyra, 19 anos, membro da Fanáutico, levou um tiro na nuca em um confronto envolvendo as mesmas uniformizadas de doze anos atrás. Na confusão, um segurança armado em um coletivo disparou à revelia no jovem. A vítima foi socorrida em estado grave ao mesmo hospital (veja aqui).
Nesse tempo todo, a formação da tabela local mudou bastante. Acredite, era comum jogos no mesmo horário nos três principais estádios do Recife, Arruda, Ilha e Aflitos. Na saída, no máximo a provocação. Difícil imaginar isso hoje, né?
Com o aumento exponencial da violência, das brigas, assaltos e pedradas, passou a ser liberado apenas dois jogos no mesmo horário. Pouco depois, nem isso. No máximo, dois jogos na capital, desde que fossem realizados em horários diferentes, tudo para evitar o choque das principais uniformizadas.
Essa foi a agenda desse já fatídico 16 de fevereiro de 2013.
Sport x Campinense às 16h e Náutico x Central às 19h.
Entre o fim do jogo na Ilha e o apito inicial nos Aflitos, uma hora de intervalo. Foi o suficiente para o estrago. Na dispersão da maior organizada rubro-negra, o simples trajeto de um ônibus pela Avenida Rosa e Silva foi suficiente para provocações, agressões e o tiro.
De Daniel Ramos a Lucas Lyra, o futebol pernambucano ruiu em uma década, com uma violência sem limite, diante de uma passividade organizacional.
Fim das organizadas? Mais policiamento? Mais investigação? Ações no Ministério Público? Sempre na mesma e improdutiva tecla. Relembre aqui.
Chegou a hora da voz da principal autoridade do estado entender que essa situação há muito foge do campo esportivo e se pronunciar.
É questão de segurança pública, governador. De todos.
Atualmente, as três maiores torcidas uniformizadas do Recife têm 190 mil membros.
A Fanáutico, fundada nos Aflitos por cinco jovens alvirrubros em 5 de fevereiro de 1984, tem 20 mil torcedores cadastrados.
A Inferno Coral, formada em 25 de abril de 1992 a partir da união de três torcidas, a Santamante, a Força Jovem e Os Cobrões, conta com 80 mil torcedores associados.
Já a Torcida Jovem surgiu em 29 de Outubro de 1995 numa dissidência de outra torcida organizada rubro-negra. Atualmente, conta com 90 mil membros.
Agora, esqueça o futebol, pois os atores desta história sem fim não dão a mínima…
Nos estádios a arruaça é temida pela grande maioria dos torcedores e visada há tempos pela polícia. Longe dos jogos só faz crescer o número de episódios do mesmo naipe.
Usando como escudo a camisa de torcidas uniformizadas dos três grandes clubes do estado, ou “beca”, como chamam, alguns marginais vão pilhando a situação.
Em 19 de novembro de 2012, a sede da Fanáutico na Boa Vista foi invadida por supostos membros da Torcida Jovem (relembre aqui).
No mesmo dia, após mensagens nas redes sociais, supostos membros da Fanáutico resolveram vingar a organizada e tentaram invadir a sede da maior uniformizada do Leão.
Um confronto no meio da rua, com quarenta integrantes de cada lado. Tiros para o alto, pedaços de madeira e ferro arremessados de um canto para o outro e mais ameaças.
No réveillon, um galpão no estádio da Ilha do Retiro onde a Jovem guarda parte de seus materiais para as partidas – bandeiras e baterias – foi incendiado. Veja a imagem.
A invasão ao clube teria sido provocada por supostos membros da Inferno Coral.
Em 2 de janeiro de 2013, supostos membros da mesma uniformizada tricolor divulgaram um vídeo portando uma arma de fogo com ameaças a outras facções. Assista aqui.
E assim segue a rotina para quem o futebol está longe de ser o “esporte” preferido.
No post, todos os “membros” foram precedidos da palavra “supostos”, uma vez que não há provas por parte da polícia sobre a autoria desses crimes. Nem se os mesmos fazem parte dos quatros oficiais das organizadas ou apenas se usam a beca como disfarce.
Isso mostra a passividade do poder público diante de um cenário em expansão, da pior forma possível, caótica e sem localização definida.
Levar 500 policiais a um jogo já não é mais suficiente para conter os vândalos, que não cansam de manchar os nomes das próprias torcidas e daqueles que realmente torcem.
As brigas seguem no entorno, a quilômetros de distância. E cada vez mais em dias comuns, sem um joguinho sequer na cidade. É questão de segurança pública, urgente.
O cadastramento do governo do estado para os torcedores efetivos das organizadas nos jogos já deveria ter saído do papel. Segue afogado na burocracia.
Sobre o contexto, vale lembrar o número de crimes levantados pelo Ministério Público de Pernambuco envolvendo, mais uma vez, supostos integrantes das organizadas locais.
Foram 800 crimes listados em 5 anos na região metropolitana.
Pois é. Negligenciar uma investigação nas entranhas das uniformizadas é miopia pura.