Arruda e Ilha do Retiro confirmados para a 68ª final do Campeonato Pernambucano

Ilha do Retiro em janeiro de 2016. Foto: Paulo Paiva/DP

O regulamento do Campeonato Pernambucano de 2016 dava à FPF o direito de escolha dos estádios das finais, num poder semelhante ao adotado pela federação paulista. Durante um dia, foi especulada a possibilidade de levar os dois jogos entre Santa e Sport para a Arena Pernambuco, devido à “proposta vantajosa” articulada pelo secretário estadual de esporte, Felipe Carreras. Na prática, tricolores e rubro-negros não chegaram nem perto de ceder à ideia, optando por mandarem seus jogos no Arruda e na Ilha do Retiro.

O próprio mandatário da federação lavou as mãos sobre a decisão, até porque, por mais que esteja na regra, neste caso é justo que a vontade dos clubes também seja respeitada. Com os locais já confirmados pela entidade através de ofício, voltou o cenário óbvio, com a ida no Arruda, em 4 de maio (21h45), e a volta na Ilha, no dia 8 (16h). Por sinal, a casa leonina receberá a grande decisão do campeonato estadual pela 28ª vez. É um recorde absoluto no futebol local, que neste ano chega à 68ª final, contabilizando sete palcos no Recife.

A estatística é específica, levando em conta os estádios onde as taças foram erguidas, após finais em ida e volta, melhor-de-três ou extra. A observação se faz necessária pois ao longo de um século várias edições tiveram campeões de forma direta. O próprio estádio Adelmar da Costa Carvalho já teve outras nove voltas olímpicas (seis do Sport e três do Náutico), mas sem precisar de uma final. Curiosamente, lá os corais têm vantagem contra os leoninos, 8 x 6.

Eis os palcos de todas as finais do Pernambucano de 1915 a 2015:

Ilha do Retiro (27)
Sport (15, com 55%) – 1948, 1961, 1962, 1981, 1988, 1991, 1992, 1994, 1996, 1998, 1999, 2000, 2003, 2006 e 2010
Santa Cruz (9, com 33%) – 1940, 1946, 1957, 1971, 1973, 1986, 1987, 2012 e 2013
Náutico (2, com 7%) – 1954 e 1965
América (1, com 3%) – 1944

Arruda (16)
Santa Cruz (8, com 50%) – 1970, 1976, 1983, 1990, 1993, 1995, 2011 e 2015
Náutico (6, com 37%) – 1984, 1985, 1989, 2001, 2002 e 2004
Sport (2, com 12%) – 1977 e 1980

Aflitos (15)
Náutico (7, com 46%) -1950, 1951, 1960, 1963, 1966, 1968 e 1974
Sport (5, com 33%) – 1917, 1949, 1953, 1955 e 1975
Santa Cruz (3, com 20%) – 1947, 1959, 1969

Avenida Malaquias (3)
América (1, com 33%) – 1921
Santa Cruz (1, com 33%) – 1932
Náutico (1, com 33%) – 1934

Jaqueira (3)
Santa Cruz (2, com 66%) – 1933 e 1935
Sport (1, com 33%) – 1920

British Club (2)
Flamengo (1, com 50%) – 1915
Sport (1, com 50%) – 1916

Arena Pernambuco (1)
Sport (1, com 100%) – 2014 

Arruda, em janeiro de 2016. Foto: Peu Ricardo/Esp. DP

A diferença de Arruda e Ilha através dos laudos de engenharia e dos bombeiros

Arruda e Ilha do Retiro via Google Maps

Em 25 de setembro de 2015, o Corpo de Bombeiro emitiu dois atestados de regularidade, um sobre o Arruda e outro sobre a Ilha do Retiro. Em ambos, reduziu a capacidade de público dos estádios. Não por questão de espaço físico para o público, mas pela estrutura oferecida para a evacuação da torcida, apontando escadas, portas e corredores afunilados. Com um ano de validade, os documentos seguem em vigor. A diminuição (55 para 50 mil no José do Rego Maciel e 32 para 27 mil no Adelmar da Costa Carvalho) foi aceita pelos clubes, sob protesto. Sete meses depois, ocorreu na sede da FPF uma “reunião de adequação dos estádios pernambucanos”.

Na prática, foi um debate apenas sobre os palcos de Santa Cruz e Sport, com representantes dos clubes, claro, do Ministério Público de Pernambuco, que em novembro passado recomendou a redução dos estádios, dos bombeiros, órgão responsável pela elaboração do documento, e da Vigilância Sanitária. Ajustes já pedidos no laudo em vigor para esta temporada foram reforçados – solução prática: mais saídas para o público, sobretudo nos setores populares. O atual redimensionamento tem validade até 25 de setembro de 2016. No Arruda, cujo alvará indicava 16 de abril, o status reduzido foi mantido.

Sobre a capacidade de público, há um impasse. A atual portaria do Ministério do Esporte, de nº 290, de 27 de outubro de 2015, consolidou os requisitos mínimos para serem contemplados nos laudos técnicos previstos. Resumindo, dá ao laudo de engenharia a voz oficial sobre a capacidade. Não por acaso, ao blog uma fonte informa que as cargas de 55 mil (Arruda) e 32 mil (Ilha) seguem à disposição dos clubes, que vêm evitando os montantes para se resguardarem sobre qualquer imprevisto legal, devido ao parecer dos bombeiros.

Laudo dos Bombeiros sobre o Arruda, com validade em 2016.

Laudo do Corpo de Bombeiros, de 2016, sobre o Arruda. Crédito: FPF/reprodução

Laudo dos Bombeiros sobre a Ilha do Retiro, com validade em 2016.

Laudo do Corpo de Bombeiros, de 2016, sobre a Ilha do Retiro. Crédito: FPF/reprodução

A capacidade oficial de público em cada setor do Arruda, Arena e Ilha do Retiro

Arruda, Arena Pernambuco e Ilha do Retiro via Google Maps

A capacidade de público de um estádio é ratificada a cada ano ano, através dos laudos de engenharia, segurança e bombeiros. Nem sempre os números batem com a capacidade máxima, geralmente reduzindo a limitação. São fatores como evacuação, pontos cegos, restrição de assentos etc. Isso acontece nos três maiores estádios do Grande Recife, segundo os laudos de 2016. Sobre a estimativa de assistência, geralmente os sites das federações estaduais apresentam apenas a capacidade geral, sem detalhamento de setores.

Por isso, a curiosidade sobre o relatório de 69 páginas da Arena Pernambuco, no qual o consórcio apresenta o número de cadeiras vermelhas em cada área. Por outro motivo foi possível ter acesso ao mesmo levantamento nos estádios particulares. Santa Cruz e Sport, a pedido do Ministério Público, em novembro de 2015, tiveram que limitar a carga de ingressos. Na sequência, publicaram a setorização completa, com arquibancada, anel superior, sociais, geral etc.

No Mundão, o anel superior foi liberado para apenas 15 mil. Na inauguração da ampliação, em 1982, eram vendidos mais de 50 mil ingressos! Na Ilha, a geral do placar, reservada à torcida visitante, foi reduzida para a colocação de cavaletes de isolamento. Portanto, eis as capacidades destrinchadas…

Arruda (50.582 assentos)
Anel superior – 15.000
Anel inferior – 21.400
Sociais – 6.100
Sociais ampliação – 1.200
Cadeiras – 5.950
Camarotes/conselho – 932
Redução sobre o limite máximo em 2013: 9.462

Arena Pernambuco (45.845 assentos)
Anel superior (público geral) – 21.739
Anel inferior (público geral) – 16.113
Anel inferior (premium) – 2.718
Camarote/VIP (nível 1) – 1.726
Camarote (nível 2) – 1.893
Mídia – 1.656
Redução sobre o limite máximo em 2013: 369

Ilha do Retiro (27.435 assentos)
Arquibancada frontal – 6.529
Arquibancada sede – 4.952
Sociais – 3.500
Cadeira central – 5.181
Cadeira ampliação – 2.050
Assento especial – 2.076
Camarotes/conselho – 812
Arquibancada do placar (visitante) – 2.335
Redução sobre o limite máximo em 2013: 5.548

O treinamento do Uruguai na Ilha do Retiro, no ritmo do Maracanazo

Uruguai treinando na Ilha do Retiro antes do jogo contra o Brasil pelas Eliminatórias da Copa 2018. Crédito: AUF/divulgação

A seleção uruguaia escolheu a Ilha do Retiro como local de treinamento antes do jogo contra o Brasil, pelas Eliminatórias da Copa 2018. A AUF abriu mão, inclusive, do protocolar reconhecimento da Arena Pernambuco, até porque já jogou duas vezes lá, na Copa das Confederações. A movimentação no campo do Sport foi fechada para a imprensa, que acabou se deslocando aos apartamentos nos prédios vizinhos para obter imagens e informações.

Lá embaixo, apenas assessoria da associação uruguaia, que registrou o treino do time do maestro Tabárez, com foco nos atacantes Luis Suárez e Cavani, treinando cobranças de fata. Depois, divulgaram um vídeo sobre a movimentação, com uma trilha sonora inspirada, relembrando o Maracanazo e a busca por novas copas…

As estreias de Sport e Santa Cruz no Brasileirão, de 1971 a 2015

Série A 1971: Sport 1 x 0 Flamengo. Foto: Arquivo/DP

A estreia do futebol pernambucano na primeira divisão do Campeonato Brasileiro passa diretamente pelo caminho dos dois times mais populares do país, Flamengo e Corinthians. Unificação dos títulos nacionais à parte, a edição de 1971 contou com Santa e Sport, campeão e vice do estado naquela temporada. Na composição da tabela, por parte da CBD, ambos largariam no Recife.

O primeiro a entrar em campo foi o Santa, que fez, na verdade, a segunda partida da história da competição, em 7 de agosto. Poucas horas depois do jogo de abertura, entre São Paulo e Grêmio, com Scotta marcando o pioneiro gol, no 3 x 0 a favor dos gaúchos. À noite, o Tricolor recebeu o Timão na Ilha, pois o Arruda estava em obras. Mesmo com uma equipe técnica, com Luciano Veloso, Givanildo e Fernando Santana, o time foi atropelado pelo Corinthians de Rivelino, com três gols no primeiro tempo. No fim, 4 x 1 diante de 17.597 pagantes.

No dia seguinte foi a vez da estreia do outro representante local no “Campeonato Nacional”, novamente na Ilha do Retiro. Com 15.061 torcedores empurrando o time, o Sport venceu o Flamengo de Zico por 1 x 0, gol anotado por César, tocando na saída do goleiro aos 16 minuto da etapa complementar.

Edições do Diario de Pernambuco nas estreias em 71: Santa e Sport.

O Clássico das Multidões já marcou a estreia em 1988, no Arruda, com 18.014 espectadores. O Sport venceu por 1 x 0. No box de comentários você pode conferir a lista completa de jogos dos dois times na primeira rodada.

Sport (34 estreias)
13 vitórias (38,2%) – 1971, 1975, 1976, 1978, 1980, 1982, 1985, 1986, 1988, 1998, 2000, 2007 e 2015

12 empates (35,2%) – 1973, 1981, 1983, 1987, 1992, 1994, 1995, 1999, 2001, 2009, 2012 e 2014

9 derrotas (26,4%) – 1974, 1977, 1979, 1989, 1991, 1993, 1996, 1997 e 2008

Últimas 5 estreias rubro-negras
2008 – Botafogo 2 x 0 Sport
2009 – Sport 1 x 1 Barueri
2012 – Sport 1 x 1 Flamengo
2014 – Santos 1 x 1 Sport
2015 – Sport 4 x 1 Figueirense

Santa Cruz (20 estreias)
3 vitórias (15%) – 1978, 1980, 1981

9 empates (45%) – 1972, 1976, 1977, 1984, 1985, 1986, 2000, 2001 e 2006

8 derrotas (40%) – 1971, 1973, 1974, 1975, 1979, 1987, 1988 e 1993

Últimas 5 estreias tricolores
1988 – Santa Cruz 0 x 1 Sport
1993 – Náutico 2 x 1 Santa Cruz
2000 – Guarani 0 x 0 Santa Cruz
2001 – Santos 1 x 1 Santa Cruz
2006 – Santa Cruz 0 x 0 Figueirense

Série A 1971: Santa Cruz 1 x 4 Corinthians. Foto: Aquivo/DP

O novo recorde de público da Arena Pernambuco: 44.739 espectadores

Arena Pernambuco. Foto: Odebrecht/divulgação

O novo recorde de público da Arena Pernambuco foi garantido antes de a bola rolar. Em apenas quatro dias de venda pela internet foi esgotada a carga de 44.739 bilhetes para o duelo entre os craques Neymar e Luis Suárez, já somando as entradas promocionais da confederação brasileira de futebol, distribuídas junto aos parceiros comerciais. Foram 38 mil ingressos para o público geral, todos com uma inesperada “taxa de conveniência” de 15% devido à venda online. A título de curiosidade, considerando a entrada mais barata (R$ 57,50), a arrecadação bruta será de pelo menos R$ 2,18 milhões.

Inicialmente, por questão de segurança, seriam no máximo 43 mil espectadores no jogo válido pelas Eliminatórias da Copa, mas o número acabou sendo ampliado. Agora, para a ocupação total das cadeiras vermelhas, restam 1.475 assentos. Com o público recorde já garantido na projeção, o borderô irá superar a marca estabelecida na Série A de 2015, na vitória leonina sobre os são paulinos, com quase 42 mil torcedores presentes. Como o jogo da Seleção ainda não ocorreu, obviamente, a entidade pode receber pedidos de cancelamentos. Mas, de toda forma, os ingressos devolvidos seriam revendidos.

A evolução dos recordes da Arena
26.803 – Náutico 1 x 1 Sporting-POR (22/05/2013)
41.705 – Espanha 2 x 1 Uruguai (16/06/2013)
41.876 – Alemanha 1 x 0 Estados Unidos (26/06/2014)
41.994 – Sport 2 x 0 São Paulo (19/07/2015)
44.739 – Brasil x Uruguai (25/03/2016)

Abaixo, os recordes dos principais estádios do Grande Recife:

Arruda
96.990, o recorde de público (Brasil 6 x 0 Bolívia, 29/08/1993)
60.044, a capacidade atual
161%, a taxa de ocupação do recorde
80.203, o recorde entre clubes (Náutico 0 x 2 Sport, 15/03/1998)

Arena Pernambuco
44.739, o recorde de público (Brasil x Uruguai, 25/03/2016)
46.214, a capacidade atual
96%, a taxa de ocupação do recorde
41.994, o recorde entre clubes (Sport 2 x 0 São Paulo, 19/07/2015)

Ilha do Retiro
56.875, o recorde de público (Sport 2 x 0 Porto, 07/06/1998)
32.983, a capacidade atual
172%, a taxa de ocupação do recorde 

Aflitos
31.061, o recorde de público (Náutico 1 x 0 Sport, 21/07/1968)
22.856, a capacidade atual
135%, a taxa de ocupação do recorde 

Sobre o Arruda, com invasões e borderôs não contabilizados, clique aqui.

Quando surgiram os nomes dos grandes clássicos no Diario de Pernambuco

As edições do Diario de Pernambuco com as primeiras citações do Clássico das Multidões (04/07/1943), Clássico dos Clássicos (12/10/1945) e Clássico das Emoções (01/11/1953)

Os três grandes confrontos do pernambucanos já passaram de 500 jogos, cada. Ao longo de cem anos, matchs, prélios, pelejas… clássicos. Hoje, cada partida tem uma denominação específica, tradicional. Você sabe quando surgiu cada uma? Há mais de seis décadas, por baixo. Não é tão fácil precisar as datas, mas eis as primeiras citações no Diario de Pernambuco, quando os jogos do Estadual deixaram de lado alcunhas como “clássicos citadinos” e versões de outras praças, como “Fla-Flu do Nordeste” para Náutico x Sport.

Clássico das Multidões
O Sport já era o maior campeão, com onze títulos, e o Santa era apontado como o mais popular no subúrbio, sempre com bons públicos. O primeiro registro encontrado pelo blog, em 4 de julho de 1943, deixa claro que os dois times proporcionavam os maiores públicos na Ilha, o maior estádio na época.

“Mesmo que a disputa de hoje não tivesse as características de uma decisão importante, estaríamos certos do seu êxito, pois o clássico Santa Cruz x Esporte tem o seu prestígio e o seu numeroso público. Foi este encontro que, em todos os tempos, assinalou os maiores records de bilheterias que temos registrado. Ainda este ano, proporcionando um encontro emocionante, o clássico das multidões rendeu a importância de vinte e um mil cruzeiros, renda esta que, desde 1940, não registrávamos.”

Resultado: Sport 3 x 0 Santa Cruz, na Ilha do Retiro

Clássico dos Clássicos
Em 12 de outubro de 1945, o jornal trazia informações sobre o jogo entre Náutico e Sport, uma partida seria disputada dois dias depois. Neste caso específico, vale registrar que o extinto Jornal Pequeno também escreveu “clássico dos clássicos” dois meses antes, em 18 de agosto.

“A grande atração da tarde de domingo, porém, será a disputa do clássico dos clássicos do futebol pernambucano. Na peleja mais sensaconal dos últimos tempos, Náutico x Esporte estarão envolvidos no estádio dos Aflitos, ansiosos por uma melhor colocação na tabela, onde aparecem com dois pontos de diferença para o líder.”

Resultado: Náutico 2 x 1 Sport, nos Aflitos

Clássico das Emoções
É o único clássico com uma assinatura. À parte do texto principal sobre o jogo, foi publicado, em 1º de novembro de 1953, um comentário de Alves da Mota, tendo como título justamente “Clássico das Emoções”. Mais direto, impossível.

“Teremos hoje, à tarde, no estádio ‘Eládio Barros Carvalho’, um ‘match’ que pela excelente forma e posição em que se encontram ambos os preliantes no presente campeonato, está fadado não só a um legítimo record de bilheteria, mas a um desfecho sensacional, numa luta cheia de lances emocionantes que tanto pode fazer vibrar a grande torcida do “clube das multidões”, para cujo lado está mais pendida a preferência do público, como resultar numa espetacular vitória dos alvirrubros.”

Resultado: Náutico 4 x 2 Santa Cruz, nos Aflitos

Confira as páginas do jornal numa resolução maior: 1943, 1945 e 1953.

A construção da Arena do Sport só deve começar em 2026. Até lá, reformas na Ilha

Projeto da Arena do Sport. Crédito: Sport/divulgação

A Arena do Sport foi lançada em março de 2011, com prazo de conclusão previsto para o fim de 2015. Obviamente, já passamos da data e não há nem a assinatura do contrato, que esfriou após a dificuldade para encontrar um investidor no lugar da Engevix, investigada na Lava-Jato. E a tendência, por mais que as licenças de demolição e construção estejam ok, é que demore bastante.

O presidente do clube, João Humberto Martorelli, admitiu que o novo estádio poderá começar a ser construído entre 2021 e 2026. Isso mesmo, até dez anos de espera. Após a falta de parceiros no país, o clube passou buscar investidores no exterior. Quem chegou mais próximo foi o grupo Vinci, da França, que já ergueu cinco estádios na França e outros três na China, África do Sul e Arábia Saudita. O aporte necessário para a construção do complexo da Ilha do Retiro seria de R$ 750 milhões. Contando o gasto para colocar todos os empreendimentos comerciais em ação – já com a contrapartida para o investidor -, a movimentação financeira poderia chegar a R$ 2 bilhões.

A quantia é impraticável, ainda mais para a desconfiança internacional sobre o cenário econômico brasileiro. Não por acaso a direção de engenharia do Leão já elabora um plano de reforma da Ilha, tentando adaptar o palco o máximo possível às novas exigências, como a colocação de cadeiras em todos os setores, acessos mais amplos, banheiros, bares, iluminação mais potente etc. Com mais conforto já seria possível aumentar a atual limitação de 27 mil lugares para a capacidade oficial, de 32 mil. Eis a possível realidade na próxima década.

Ilha do Retiro via Google Maps

Com mais posse de bola, o Sport joga melhor e vence o Santa Cruz de virada

Pernambucano 2016, 4ª rodada: Sport 2x1 Santa Cruz. Foto: Peu Ricardo/DP

No primeiro Clássico das Multidões no ano do centenário do confronto, o Sport teve a posse de bola durante toda a partida e venceu de virada, 2 x 1. O jogo, cercado de expectativa pela presença dos rivais na elite nacional, foi bem disputado, numa Ilha do Retiro aparentando bem mais que 14 mil torcedores. Assim que Grafite rolou a bola, o cenário foi um só até os 20 minutos, com o Tricolor apertando a saída e ligando rapidamente os contragolpes, sobretudo com Wallyson na esquerda. Marcou logo aos dez. O camisa 23, que havia definido a vitória coral em seu último clássico na Ilha, em 2001, mostrou presença de área após uma sucessão de erros dos rubro-negros – a torcida da casa não perdoou Matheus Ferraz, que somou mais um vacilo no ano.

Em vantagem, o atual campeão estadual continuou com a marcação adiantada, enxergando o opaco meio-campo adversário. Até teve a chance de ampliar, com Danilo Fernandes salvando. Após essa pressão, Falcão inverteu as posições de Lenis e do estreante Gabriel Xaiver, para a esquerda e direita, respectivamente. O colombiano melhorou e o Leão passou a jogar ali, tabelando com Renê. O Sport cresceu e passou a dominar o jogo, com 67% de posse. Chegou e finalizou bastante, e não só na bola aérea. Mas aí havia uma conhecida barreira para evitar o empate, Tiago Cardoso, um monstro na Ilha. O ídolo coral fez cinco defesas excepcionais no primeiro tempo, garantindo a vantagem no intervalo. 

Pernambucano 2016, 4ª rodada: Sport 2x1 Santa Cruz. Foto: Peu Ricardo/DP

O jogo recomeçou na mesma intensidade. O Santa parecia oferecer o campo ao Sport, esperando o erro do adversário. Se essa era a tática, foi desfeita aos 6 minutos, numa boa jogada de Gabriel Xavier, enfiando para Lenis, que cruzou rasteiro para Luis Antônio encher o pé. O lance acordou um pouco o time de Martelotte, que passou a ter vida. Na sequência, o Grafa teve tudo para desempatar, mas, cara a cara, tocou pra fora. O Santa equilibrou as ações com João Paulo aparecendo mais, mas faltou um bom desempenho nas pontas. Raniel entrou com vontade, mas só ciscou.

Na reta final, o jogo ficou aberto, mas com poucas chances efetivas. O Leão já começava a centralizar as jogadas, com Gabriel Xaiver enfim na armação, na sua terceira posição na partida. Num desses lances, Everton Felipe abriu pela direita e cruzou para Túlio de Melo concluir. Até então apagado, o centroavante repetiu a dobradinha do gol anotado contra o Fortaleza, no Nordestão. Foi o seu quarto gol com a camisa rubro-negra, definindo as últimas quatro vitórias do time. E fim de papo do primeiro capítulo do Clássico das Multidões, com o Sport saindo na frente do Troféu Givanildo Oliveira. Tem muito jogo ainda.

Pernambucano 2016, 4ª rodada: Sport 2x1 Santa Cruz. Foto: Peu Ricardo/DP

Aos 80 anos, o grito de Cazá Cazá segue vivo no Sport como expressão popular

Registro do lema do Sport em 1936, "Pelo Sport Tudo"

O lema “Pelo Sport Tudo” surgiu em 1936, na campanha para a construção da Ilha do Retiro, cujo terreno numa área “distante” do Recife foi comprado naquele ano, tendo apenas um casarão para a sede. No mesmo ano, Sebastião Lopes escreveu a letra de um frevo-canção, com um arranjo do maestro Nelson Ferreira. Também conhecida como “Moreninha”, a música, que por anos teve status de hino rubro-negro, entoava pela primeira vez o “cazá cazá” no Sport.

Moreninha que estas dominando
Desacatando agora pelo entrudo (2x)
Chegou a hora de gritares loucamente
Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo!
Vejo no batom dos teus lábios
E no teu cabelo ondulado
As cores que dominam altaneira por morena
Do meu glorioso estado
Moreninha que estas dominando
desacatando agora pelo entrudo (2x)
Chegou a hora de gritares loucamente
Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo!
Ter passado o carnaval
Pra que não te falte a boa sorte
Tira da minha vida e te manter eternamente
Tudo, tudo pelo Sport
Cazá, cazá, cazá, cazá, cazá
A turma é mesmo boa… É mesmo da fuzarca!
Sport! Sport! Sport!

A Ilha seria inaugurada logo depois, e em 1938, após dez anos, o clube voltaria a ser campeão estadual, com o primeiro grito de guerra bradado por um solista. É difícil precisar quando a torcida passou a gritar de forma uniforme, mas é seguro afirmar que há décadas o tempo verbal sobre a atitude do clube é “então como é, como vai ser e como sempre será”, com algumas versões “e para sempre será”. Inclusive está gravado no site oficial (veja aqui).

Crítico de música do Jornal do Commercio, José Teles esmiuçou em pesquisas um outro registro sobre a origem, mas focando no “cazá cazá” – Sport, Vasco, Portugal?. Seja já lá qual for a gênese, o caminho da expressão à Ilha teria passado pelo carnaval recifense, nos desfiles da Turma Boa, bloco em 1930, com a expressão “é mesmo de amargar” em vez de “é mesmo da fuzarca”.

O grito de guerra do Sport, cazá cazá. Fonte: Site oficial do Sport

Em 2016 o famoso grito de guerra do Leão completa 80 anos, considerando o primeiro registro conhecido. E a data acaba marcada por uma tentativa de mudança por parte da direção. A pedido do presidente leonino, João Humberto Martorelli, o tempo verbal do solista passa a ser “como foi, como é e para sempre será”, em qualquer canal do clube, partindo da Rádio Ilha. Na estreia, no jogo contra o Fortaleza, no Nordestão, já causou estranheza a nova versão. Assim, um mísero detalhe tornou-se uma polêmica junto à torcida, com o dirigente justificando a releitura através de sua assessoria.

“Seguindo uma orientação do autor do hino do Sport, Eunitônio Pereira, que também pediu a composição do cazá cazá, o presidente solicitou que se resgatasse e preservasse o grito da forma tradicional, o que não significa que a torcida não possa cantar como quiser. É a expressão popular.”

De fato, Eunitônio pediu a Nelson Ferreira, um famoso compositor tricolor, a criação de um frevo-de-rua inspirado no grito. Em 1955, no cinquentenário do Sport. Daí surgiu a música Cazá Cazá, ainda tocada nas rádios. Sem letra, só no ritmo dos metais, a simulação do cazá cazá é sempre puxada pela orquestra Treme Terra. E é bem provável que nem mesmo Martorelli tenha escutado outra forma a não ser “como é, como vai ser e para sempre será”…

Pelo Sport Tudo / Moreninha (1936, Nelson Ferreira e Sebastião Lopes)

Cazá Cazá (1955, Nelson Ferreira)