O Santa não viu a cor da bola no Sertão. O atual campeão estadual foi goleado pelo Carcará, que vai mostrando as garras para fisgar a inédita taça. O domínio foi tamanho que a primeira finalização tricolor, sem perigo, só aconteceu aos 16 do segundo tempo. Àquela altura, com o sol ainda incomodando, o Salgueiro já vencia por 3 x 0, abusando das jogadas pela direita, com a velocidade de Tamandaré, na beira dos 35 anos. O fato de Martelotte ter poupado alguns jogadores nem serve como desculpa, pois Sérgio China fez o mesmo.
O primeiro gol foi a única polêmica da tarde. Aos 30, o árbitro José Woshington, o mesmo do último clássico, marcou mão na bola do zagueiro Leonardo, que estava de costas, com a bola indo em direção oposta ao gol. Até então, a impressão era de que a “recomendação da CBF” não estava valendo no Estadual, mas a falta de critério deixa jogadores, torcedores e jornalistas sem saber ao certo o que vale. Sobre a cobrança, o meia Rodolfo Potiguar, que faz mais uma bom ano no Cornélio, mandou uma bomba no meio e abriu o placar.
Melhor em campo, o mandante ampliou no último lance antes do intervalo. Desta vez, a queixa da torcida coral foi sobre a postura do time, completamente envolvido. Tamandaré avançou na lateral – foram cinco vezes somente no primeiro tempo – e tabelou com Cássio, que bateu firme. Recomeçou o jogo e o Carcará seguiu usando os lados. Por lá, chegou ao terceiro gol, com uma jogada de linha de fundo para Jhon, embaixo da barra, empurrar para as redes. O centroavante assumiu a artilharia, com quatro tentos. Vai longe esse Carcará?
O Santa Cruz bem que tentou se complicar, cedendo o empate ao time reserva do já eliminado Confiança, aos oito minutos do segundo tempo, mas os gols de Keno (outra vez decisivo) e Bruno Moraes redefiniram a superioridade técnica e garantiram a vitória por 3 x 1 no Arruda. Com o resultado, os corais chegaram a dez pontos, alcançando uma margem segura para obter a vaga às quartas de final da Lampions como um dos melhores segundos colocados.
Possivelmente, sequer precisará pontuar na última rodada, em Salvador, diante do Bahia, já desfalcado de Hernane Brocador, o artilheiro do regional,com cinco gols. Caso precise, um empate deve bastar, o que tranquiliza o ambiente para a fase decisiva da competição. O curioso é que esta análise também vale para o torneio local, onde o Tricolor aparece até numa classificação pior, mas encaminhado ao mata-mata – também por demérito de Central e América.
No jogo contra os sergipanos, o técnico Martelotte deu sequência às mudanças na equipe, por questão física e, também, por opção tática. Voltou a recuar João Paulo, testou uma nova dupla de ataque e bancou Tiago Costa na esquerda, após fadiga de Allan Vieira. Tudo em busca de uma formação mais competitiva (e interessada) para o período do calendário sem direito a erros: a partir de 30 de março, nas quartas do Nordestão, e 20 de abril na semifinal do Estadual.
Diante de uma adversário quase sem aspirações, com cinco derrotas seguidas, o Santa fez um primeiro tempo fraquíssimo no Arruda. Na verdade, o tricolores vinham de duas vitórias seguidas sem um futebol convincente. Essa desorganização tática, somada a uma certa apatia, acabou equilibrando um jogo sem perigo algum. Pior. Em alguns momentos a defesa coral se viu pressionada pelo trio de atacantes do Central, com mais de 100 anos somados. Após 45 minutos em branco, uma merecida vaia dos nove mil torcedores presentes.
O jogo, sofrível até então, melhorou um pouquinho na volta, mas os corais continuaram errando bastante. Um passo a mais, uma canelada, um posicionamento distante. Na beira do campo, a voz de Martelotte se perdia diante de tanta irritação na arquibancada. Ainda que o time tenha criado duas chances, ambas com Grafite, com uma boa defesa do goleiro e uma cabeçada na trave, nos descontos a espinha gelou, com o camisa 9 do patativa recebendo um ótimo passe de Araújo. Lourival ficou livre para marcar, mas furou.
Com o 0 x 0 mantido, mais vaias. Ok, foi o terceiro jogo seguido sem sofrer gols, mas a competitividade passa pelo balanço, com a criação agora opaca. Essa regularidade será necessária já na terça, pelo Nordestão, contra o Confiança.
Foi uma vitória magrinha em Senhor do Bonfim, por 1 x 0, mas essencial para manter a busca pela classificação no Nordestão. Com o Bahia goleando o Confiança em Aracaju, os corais começavam a se preocupar não só em ficar em segundo lugar, mas com a pontuação geral, uma vez que apenas três vice-líderes disputarão as quartas. Daí, a cara de decisão num campo tomado por insetos, contra o Juazeirense que há uma semana segurou o Santa no Arruda.
No primeiro tempo, o time de Martelotte até entrou com a vontade esperada pela torcida. Marcando forte e tentando ter a posse de bola para criar jogadas para Bruno Moraes (no lugar de Grafite), diante de um rival com sérias limitações técnicas. Porém, o jogo travou pela quantidade de passes errados. Após 45 minutos em branco, com apenas uma chance clara pra cada lado, o Tricolor definiu a noite logo na retomada. Lelê foi lançado na direita, dominou e cruzou para Keno finalizar. Novamente, pois havia marcado contra o Central, domingo.
Apesar da vantagem, o futebol coral piorou, com a bola perto da meta de Tiago Cardoso na maior parte do tempo. Os baianos bem que tentaram, sobretudo em cruzamentos, mas a bola queimava nos pés dos jogadores. Via contragolpes, o visitante teve uma chance, com a falha resultando numa pressão desnecessária no fim. O resultado acabou mantido, para a festa dos tricolores espalhados entre os 1.150 espectadores no estádio Pedro Amorim, a 125 quilômetros de Juazeiro, a verdadeira casa do adversário. E a luta pelas quartas segue, no limite.
Em termos de classificação no Nordestão, vencer o Juazeirense no Arruda era uma obrigação semelhante a uma conta de luz, sem possibilidade de atraso. Tudo para não correr riscos caso fique em segundo lugar no grupo C. Apesar da importância técnica da partida, o contexto coral conspirou ao contrário. Fora de campo, apenas 3.115 torcedores, num público que não condiz com o torneio, muito menos com o histórico de presença tricolor. Em campo, um time com três zagueiros, num fato inédito no ano e sem necessidade, e pregado no meio.
O jogo começou amarrado, e olhe que o time baiano, que já não é um primor, estava bem desfalcado. Ainda assim, as oportunidades surgiram ao favor do Santa. Num lance de bola parada, aos 23, o time perdeu a confiança. Após cobrança de falta na ponta de direita, Alemão pulou a altura de uma gilete e Ricardo Braz marcou de cabeça para o Juazeirense. Desestabilizado – segundo os próprios jogadores no intervalo -, alguns lances foram incompreensíveis, como Wallyson buscando Renatinho em cruzamentos na área. Nos descontos, o Juazeirense ainda teve tudo para ampliar.
Não marcou e sofreu o empate aos 18 minutos, num pênalti em Keno. Grafite chamou a responsabilidade, 1 x 1. Poderia ter virado, mas o árbitro assinalou impedimento num lance legal. Com o visitante travando o jogo – o empate já era ótimo -, a torcida foi perdendo a paciência, focando em Martelotte. Um reflexo do desempenho em jogos oficiais em 2016: 2 vitórias em 7 jogos. A irritação é justa.
Um podcast inteiramente dedicado ao primeiro Clássico das Multidões da temporada, realizado na Ilha. No 45 minutos, analisamos a vitória do Sport sobre o Santa por 2 x 1, esmiuçando os setores dos times e os acertos e erros de Falcão e Martelotte. Além disso, projetamos as consequências do resultado para os dois clubes, finalizando com dados sobre histórico do confronto.
Se contra o Bahia a bola teimou em não entrar, em Aracaju o Santa conseguiu definir uma partida em que novamente teve mais volume. Ainda é preciso balancear as investidas no ataque com uma solidez defensiva – que enfim passou em branco -, mas diante do Confiança o time pernambucano precisou ter apenas um pouco de paciência para conquistar a primeira vitória na Copa do Nordeste, trazendo os primeiros pontos para o Arruda. No Batistão, Martelotte repetiu a formação que iniciou a peleja contra o Baêa, com dois volantes pegadores (Wellington Cézar e Dedé) e três atacantes, centralizando Grafite.
O camisa 23, aliás, era o pilar no domingo até sofrer um corte na cabeça. Recuperado, chamou bastante a marcação adversária. Abrindo espaço aos companheiros, o próprio atacante acabou beneficiado. Aos 8 da segunda etapa, Lelê driblou bem pela esquerda, a jogada seguiu com o improvável Dedé e o goleiro Rafael Sandes deu rebote numa bobeira. Na frente de quem não devia, Grafite. A vantagem foi ampliada logo depois, numa cabeçada de Alemão. Após duas bolas na trave na rodada passada, o zagueiro lavou a alma. Com o 2 x 0 consolidado, o restante da noite foi na base dos contragolpes, sem aperreio.
De lambuja, a vitória acabou rendendo mais uma taça neste início de temporada. Após o Troféu Chico Science, foi a vez da Taça Henágio, em homenagem ao meia sergipano que brilhou no próprio Santa nos anos 1980. O ex-jogador, revelado pelo rival do Confiança, o Sergipe, faleceu em outubro passado, aos 53 anos. Oferecido pela federação local, o troféu completou a bagagem coral.
Ao fim de qualquer campeonato de futebol, seja lá onde for, é uma tradição a eleição do melhor jogador. Seja por critérios técnicos, subjetivos etc. Dos torneios em divisões menores à Copa do Mundo. Mas há também a abrangência anual, com federações e confederações definindo o craque da temporada, tendo como auge, sem dúvida, a Bola de Ouro da Fifa, em vigor desde 1991. Indo além, existe até uma escolha interna dos próprios clubes. Isso mesmo. Na Inglaterra, o Player of the Year é uma tradição de longa data. O Chelsea, por exemplo, elege o seu melhor jogador no ano independentemente do desempenho do time (pode ser campeão europeu ou rebaixado) desde 1967.
Acima, os eleitos de Chelsea (Hazard), Manchester United (De Gea) e Liverpool (Philippe Coutinho) em 2015. Nota-se o alto nível da festa, com troféus especiais, transmissões exclusivas e engajamento da torcida, com a escolha baseada na opinião dos torcedores (e/ou sócios) e da comissão técnica. As festas também contam com outros prêmios, como a revelação da temporada, o gol mais bonito e os novos integrantes para o hall da fama particular.
No Recife não há nada do tipo, mas vale ao menos estudar a ideia, que poderia encorpar as ações de marketing. A partir da ideia inglesa, o blog escolheu os principais nomes alvirrubros, tricolores e rubro-negros na década vigente. Uma artilharia, um acesso, uma atuação inesquecível numa final, um ano regular ou o fato de ter sido a exceção num mau momento. Tem de tudo. No twitter, analisei alguns jogadores com torcedores, acatando algumas sugestões, outras não. Obviamente, as três listas estão abertas a críticas e dicas de novos nomes…
Náutico 2011 – Kieza (atacante), goleador da Série B (21 gols), com acesso à elite 2012 – Kieza (atacante), 13 gols na Série A, levando o time à Sul-Americana 2013 – Maikon Leite (atacante), destaque solitário num ano horrível (8 gols na A) 2014 – Vinícius (meia), titular o ano inteiro, decisivo para o vice estadual 2015 – João Ananias (volante), pilar defensivo na boa campanha na Série B
Santa Cruz 2011 – Tiago Cardoso (goleiro), craque do Estadual e decisivo no acesso à C 2012 – Dênis Marques (atacante), artilheiro do PE (15 gols) e da Série C (11) 2013 – Tiago Cardoso (goleiro), destaque no tri estadual e no acesso à Série B 2014 – Léo Gamalho (atacante), 32 gols na temporada 2015 – João Paulo (meia), destaque no título estadual e no acesso à Série A
Sport 2011 – Marcelinho Paraíba (meia), melhor jogador na campanha do acesso 2012 – Hugo (meia), apesar do descenso, até recuperou o time (8 gols na A) 2013 – Marcos Aurélio (meia), 32 gols e destaque no acesso à Série A 2014 – Neto Baiano (atacante), destaque nos títulos do Nordestão e do Estadual 2015 – Diego Souza (meia), 9 gols e 10 assistências no 6º lugar na Série A
Como curiosidade em relação ao “Jogador do ano”, eis os nomes escolhidos pelos supracitados clubes ingleses no mesmo período. No caso do United, o troféu faz uma homenagem a um famoso ex-treinador, Matt Busby, que treinou o time de 1945 a 1969 e em 1971, conquistando cinco títulos ingleses e a primeira Champions League do clube, em 1968. Por sinal, caso algum time pernambucano adotasse a ideia, qual seria o nome do troféu?
Chelsea (Player of the Year), desde 1967 2011 – Petr Cech (goleiro), República Tcheca 2012 – Juan Mata (meia), Espanha 2013 – Juan Mata (meia), Espanha 2014 – Hazard (atacante), Bélgica 2015 – Hazard (atacante), Bélgica
Manchester United (Sir Matt Busby Player of the Year), desde 1988 2011 – Javier Hernández (atacante), México 2012 – Antonio Valencia (meia), Equador 2013 – Van Persie (atacante), Holanda 2014 – De Gea (goleiro), Espanha 2015 – De Gea (goleiro), Espanha
Liverpool (Player of the Season), desde 2002 2011 – Lucas Leiva (volante), Brasil 2012 – Skrtel (zagueiro), Eslováquia 2013 – Luis Suárez (atacante), Uruguai 2014 – Luis Suárez (atacante), Uruguai 2015 – Philippe Coutinho (meia), Brasil
Num formato experimental, mais curto, mas com atualização quase diária, o 45 minutos gravou a edição 196 em pouco mais de meia hora. Na pauta, mais dinâmica, avaliamos os primeiros movimentos da nova gestão do Náutico após a eleição vencida por Marcos Freitas (Dal Pozzo não fica). No Santa, a importância da negociação com o goleiro Tiago Cardoso (técnica, gratidão, investimento). No Sport, o caminho para a remontagem após as prováveis saídas de Diego Souza, Marlone, Élber e André (este já confirmado).
Nesta edição, estive ao lado de Celso Ishigami, Fred Figueiroa e João de Andrade Neto. Ouça agora ou quando quiser!
A triunfal chegada do Santa Cruz no Recife. Do desembarque no Aeroporto Internacional dos Guararapes, o time seguiu numa carreata até o Arruda, com buzinaço, festa, fogos e uma alegria sem igual. Confira um álbum com 25 fotos, produzidas pela assessoria coral e pelo Superesportes.