Rio de Janeiro – Esta será a vista do blog nas duas próximas semanas. Acredite, a surpresa foi grande ao chegar na varanda e me dar conta da proximidade do Maraca. Por sinal, jamais havia visto o estádio… É deslumbrante. Exala futebol.
O tamanho da felicidade é proporcional ao da responsabilidade.
Portanto, esse é o início do trabalho definitivo no Mundial após o período de oito dias na fria Granja Comary, em Teresópolis, no início da preparação da Seleção.
Sou o quarto enviado especial do Diario de Pernambuco para a cobertura desta Coa do Mundo de 2014. Já haviam embarcado do Aeroporto dos Guararapes os repórteres João de Andrade Neto (São Paulo), Brenno Costa (Salvador) e Celso Ishigami (Fortaleza).
No Recife seguem os outros dois credenciados do jornal, Alexandre Barbosa e Daniel Leal, além de toda a equipe do portal Superesportes, num trabalho intenso com informações, imagens e novidades. Por sinal, o material produzido pelo blog deve ser focado no site.
Na minha agenda inicial, cinco partidas no renovado (e bilionário) estádio Mário Filho, incluindo quatro na fase de grupos e um nas oitavas de final.
Final da Copa do Mundo? Mais à frente. Por enquanto, vamos, sobretudo, com Argentina, Espanha e França…
Certeza mesmo, só a da bela vista até o dia 29 de junho.
A menos de 300 metros da casa do futebol.
Atualizando o primeira dia na cidade, à noite vista foi esta…
A expectativa da Fifa apontava plena ocupação dos estádios brasileiros nos 64 jogos da Copa do Mundo de 2014, com 3.334.524 pessoas presentes, o que proporcionaria numa média de 52.101 espectadores.
Nesta conta estão treze categorias de público, incluindo torcida geral, cortesias, os caríssimos pacotes de hospitalidade, jornalistas credenciados etc. Numa balanço nos dois primeiros dias do Mundial, os espaços vagos estão visíveis nas transmissões na televisão…
É curioso constatar isso levando em conta os ingressos esgotados para os respectivos jogos. Há de se considerar a capacidade reduzida pela Fifa nas doze arenas por questão de segurança (veja aqui).
Ainda assim, números curiosos. Dos quatro jogos analisados, dois passaram da ocupação máxima projetada, mesmo com os clarões na arquibancada.
Públicos oficiais dissociados do visual… Esse modus operandi não é novo.
Brasil 3 x 1 Croácia – Itaquerão (62.103 pessoas)
Capacidade máxima: 67.349
Capacidade na Copa: 59.955
Ocupação na estreia: 103,58%
México 1 x 0 Camarões – Arena das Dunas (39.216 pessoas)
Capacidade máxima: 44.070
Capacidade na Copa: 39.305
Ocupação na estreia: 99,77%
Espanha 1 x 5 Holanda – Fonte Nova (48.173 pessoas)
Capacidade máxima: 54.907
Capacidade na Copa: 49.280
Ocupação na estreia: 97,75%
Chile 3 x 1 Austrália – Arena Pantanal (40.275 pessoas)
Capacidade máxima: 44.335
Capacidade na Copa: 39.553
Ocupação na estreia: 101,82%
Os 62.103 torcedores cantando em voz alta o hino nacional com os jogadores visivelmente emocionados já foi de arrepiar. A atmosfera estava pronta.
Era o início da festa no Itaquerão. Outra vibração assim em São Paulo, só aos 45 minutos do segundo tempo, em um jogo tenso e bem disputado. Brasil 3 x 1.
Após a festa de abertura sem sal, o começo da partida não foi dos melhores. A responsabilidade de atuar em casa realmente é grande, pesa.
A cobertura dos laterais brasileiros foi falha durante boa parte do jogo. E o bem armado time da Croácia aproveitou cedo. E ainda contou com a ajuda…
A meta de Júlio César foi vazada aos 11 minutos, após bola cruzada pelo lado esquerdo, passando em sequência por Thiago Silva, Luiz Gustavo e David Luiz.
A Brazuca acabou nos pés de Marcelo, de uma infelicidade tremenda. Marcou o primeiro gol contra da Seleção em toda a história dos Mundiais.
O empate veio num chute quase despretensioso de Neymar, ainda na primeira etapa. Lance para acalmar a Canarinha, para trazer de volta a torcida. O time canarinho queria jogo, não se absteve do ataque.
A primeira mudança de Felipão aconteceu aos 20 do segundo tempo. Paulinho, ainda em recuperação, deu lugar ao pernambucano Hernanes. O Profeta é o reserva mais acionado nesta Era Scolari. Nesta tarde, limitou-se à marcação.
A virada minutos depois, mas numa penalidade mandrake marcada pelo árbitro japonês Yuichi Nishimura, bem confuso nos seus critérios.
Fred caiu na área, sem sofrer qualquer contato. Na cobrança, Neymar mandou para as redes e já largou na artilharia – algo simbólico, uma vez que o camisa 10 é a maior aposta do país na Copa do Mundo de 2014.
No finzinho, o lance mais bonito. Num contragolpe rapidíssimo, Oscar – muito bem – tocou de biquinho, de fora da área. Acertou o cantinho do goleiro croata.
Do banco, para onde havia ido há pouco descansar, Neymar abriu o sorriso de vez. E ainda seria eleito pela Fifa, justamente, o craque do dia.
Acredito que todo mundo, quando criança sobretudo, já teve conversas com amigos imaginando o futuro, mas daqueles bem utópicos.
“Já pensasse… Uma Copa do Mundo aqui no Brasil?”
“Peraê, né véi… Já teve aquela de 1950. Duvido que a Fifa faça outra aqui.”
“Danosse.”
“Mas e se fizesse? Será que colocariam o Recife de novo? E seria muito maior, com 24 países. Seria arretado, vá por mim.”
“Seria, né velho. Mas tás viajando na maionese. A gente teria que construir um bocado de estádio. O Brasil tá liso.”
“Era só reformar o Arruda. Ano passado deu quase 100 mil lá com a Seleção. Como é que tu vai dizer que não serve? Ainda tem o Maracanã, o Morumbi, a Fonte Nova, o Serra Dourada…”
“Bote fé, po. Mas a turma ia roubar tão pouquinho mesmo…”
“Vixe, nem fale. Mas daqui a 20 anos a gente vê então.”
Não exatamente com essas palavras, mas algo bem próximo disso aconteceu em 1994, na época do tetra, em Rio Doce, Olinda. Na rodinha de conversa furada, eu e meus amigos, entre 11 e 12 anos de idade.
Após um tempão com cada um querendo falar mais alto que o outro, o consenso foi de que, se tivéssemos uma chance, seria com no mínimo vinte anos.
Com boa vontade e ainda achando impossível. A arenga logo tomou outro rumo, sobre sobre quem seria o Romário do futuro…
Quanto à Copa do Mundo, o maior evento com o esporte mais popular que existe, era algo realmente distante da gente, sempre alvo de admiração.
Tinha sido assim em 1990, na Itália. Foi, e como, em 1994, nos Estados Unidos. Dos 24 países imaginados, a competição evoluiu para 32. Cada vez mais agigantada.
Veio a beleza da França em 1998, a tecnologia de japoneses e sul-coreanos em 2002 e a plena organização germânica em 2006. Aquela mesma emoção guardada a cada quatro anos sempre voltava bem viva durante o Mundial.
Até que em 30 de outubro de 2007, direto da sede da Fifa, em Zurique, Joseph Blatter tirou de um envelope um papel branco com o seguinte texto na cor azul:
2014 Fifa World Cup Brazil
Era fato. O país seria novamente a sede de uma Copa do Mundo. O momento econômico em expansão, os índices sociais enfim melhorando.
A história havia, sim, virado a nosso favor.
Na ocasião, a escolha veio com a seguinte mensagem. Curta e direta.
“O Comitê Executivo decidiu, unanimamente, dar a responsabilidade, não apenas o direito, mas a responsabilidade de organizar a Copa de 2014 ao Brasil.”
Teríamos sete anos para nos prepararmos. Nunca um país havia tido tanto tempo para fomentar a infraestrutura e logística necessária.
Estádios, aeroportos, mobilidade urbana, telecomunicações, serviços etc. Bilhões seriam investidos. E foram, na verdade… Mais de R$ 25 bi.
A aplicação desses recursos e a forma é que corroboraram com as indagações dos meninos de duas décadas atrás.
A incompetência na gestão pública em todas as esferas – municipal, estadual e federal – acabou deixando o sonho parcialmente embaçado.
É da índole do brasileiro se contagiar com a Copa, quanto mais com uma Copa aqui. Ao mesmo tempo, soa errado – para alguns – aproveitar o momento sabendo a forma na qual ela foi executada.
Daí, uma mistura histórica de entusiasmo e protesto.
A contagem regressiva acabou. Infelizmente, antes de parte das obras.
A Copa do Mundo começa neste 12 de junho de 2014.
Não foi como eu imaginei há 20 anos – e muito menos esperava participar da cobertura como jornalista, pois eu queria ser piloto de avião. Ainda assim, me sinto prestigiado de ver o sonho se tornando real.
A responsabilidade de organizar uma Copa nos foi dada pela segunda vez, com a expectativa de três milhões de pessoas assistindo aos 64 jogos nos estádios e três bilhões acompanhando na televisão.
Em junho de 2014, de minha parte, em campo, irei curtir bastante o Mundial.
Em outubro de 2014, de minha parte, nas urnas, cobrarei tudo o que não foi cumprido nesse sonho tão antigo… desde menino.
A transmissão na televisão dos 64 jogos da Copa do Mundo será universal.
Os rostos dos caras dos craques serão amplamento divulgados de forma oficial no torneio de 2014, tudo previamente definido.
Toda a produção está a cargo da Fifa, monitorada no Centro Internacional de Transmissão (IBC, na sigla em inglês) e distribuída para dezenas de emissoras mundo afora.
O material, atrelado ao site oficial da entidade, traz imagens de todos os 736 jogadores. Com inúmeras mudanças nos últimos dias, a Fifa vem correndo para captar imagens de todos os atletas – fotos diferentes daquelas presentes no álbum do torneio.
Aqui, as versões parte dos convocados brasileiros e a produção de uruguaios e franceses.
O Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, é a principal porta de entrada de turistas no país. Seja no desembarque imediato ou no enorme fluxo de conexões, o movimento é intenso.
Em 2013 foram 36,6 milhões de passageiros nos check-ins, dos quais 12,4 milhões em voos internacionais. Decolagens e pousos num ritmo frenético.
Na Copa do Mundo de 2014 espera-se um recorde – teme-se até um colapso.
Mais de 600 mil estrangeiros devem viajar ao Brasil. Era essa a meta inicial, já batida segundo o balanço de ingressos da Fifa.
As torcidas dos países participantes do Mundial já começaram a desembarcar, a esperar as malas na esteira e a cumprir o lento processo de imigração e alfândega. Contudo, esse público também já começou a curtir o país…
Nesse processo de desembarque, a rivalidade tão cantada nas arquibancadas fica de lado, como no registro do repórter João de Andrade, correspondente do Diario de Pernambuco na capital paulista.
Inlgeses com uniformes das seleções de Brasil, Argentina e Uruguai reunidos numa mesa com o carteado rolando solto após a viagem. E espanhóis observando de longe. Vai ter jogo.
O Brasil foi confirmado como país-sede da Copa do Mundo de 2014 há sete anos. Desde o princípio, a Fifa alertou sobre dois pilares na infraestrututra do torneio: estádios e aeroportos.
Já estamos em junho, mês do Mundial. Alguns estádios ainda na reta final das obras. No caso dos aeroportos, a maioria ainda corre contra o tempo, com ajustes para a enorme demanda de voos durante a competição. Seleções, delegações da competição e torcedores, muitos torcedores.
Na rota Rio de Janeiro (Galeão) / Recife (Guararapes), após a cobertura dos treinos da Seleção em Teresópolis, pude ver um pouquinho desta correria.
No Rio, a colocação de banners e adesivos relacionados à Copa ocorre paralelamente ao trabalho de acabamento nos corredores.
Placas de linha preferência para a Copa do Mundo já estão montadas.
“Isso é para melhorar a condução dos torcedores aos voos, para evitar atrasos nos jogos?”
A pergunta foi feita a duas pessoas, que disseram basicamente o mesmo. Eis a resposta:
“Que placa? Não sei direito. Ah, aquela na entrada? É para o pessoal da Fifa.”
Pois é. Os milhares de torcedores que irão atravessar o país pelos céus deverão mesmo ter um pouco de paciência.
Passando pelo check-in, despacho de bagagem e embarque, surge uma pequena mensagem subliminar do Mundial…
Chegando no Recife, visivelmente mais estrutura, mas também com uma decoração tímida, há banners indicando pontos específicos para o embarque de táxis e vans específicas para os torcedores da Copa…
Resta agora colocar em prática. E aí o número será algo jamais visto no Brasil…
A verba liberada para a construção do moderno estádio em São Lourenço da Mata se aproximou de um bilhão de reais. Não é exagero. Entre financiamentos do estado para pagar o custo da construtora, que por sua vez também adquiriu um empréstimo, o estádio da Copa do Mundo de 2014 teve uma verba na ordem de R$ 890 milhões, segundo o Portal da Transparência.
Inicialmente, com base de cálculo maio de 2009, o orçamento, entre projeto, construção e início da operação, era de R$ 532.615.000. Tal valor estava sob contrato, para entregar o estádio no máximo em dezembro de 2013, segundo a parceria público-privada entre governo do estado e Odebrecht. Como se sabe, o empreendimento foi antecipado em oito meses para que o estado fosse subsede da Copa das Confederações de 2013, o que encareceu a obra substancialmente.
Era um tanto óbvio que a despesa extra seria grande. Do pico de trabalhadores imaginado, com 1.800 homens, o número saltou para 5.000 operários dia e noite no canteiro. O estádio foi erguido à tempo do evento-teste da Fifa. Contudo, o custo final nunca foi revelado. Nem pelo governo do estado e nem pelo consórcio. E não foram poucos os questionamentos para obter o dado…
Agora, o Portal da Transparência traz um número impressionante. Num valor repassado através de três financiamentos – para o contrato original -, sendo dois pelo BNDES e um pelo BNB, o montante foi de R$ 890.835.424,65, ou um acréscimo de 67,25%. De forma bruta, foram injetados mais R$ 358.220.424,65 na engenharia financeira – com empréstimo pagando empréstimo entre estado e concessionária. Todas as verbas foram liberadas em 2013, a última delas em 23 de dezembro. E não necessariamente foram utilizadas para a conclusão do estádio.
Um último detalhe. Nota-se que pela verba cedida poderia ter sido de 930 milhões…
Atualização (1): a Odebrecht entrou em contato com o blog e enviou uma nota explicando o modelo financeiro. Segundo a construtora, o texto do Portal da Transparência foi redigido de forma confusa – e ainda segue assim.
“A construção e a operação da Itaipava Arena Pernambuco seguem o modelo de Parceria Público Privada (PPP) com o Estado de Pernambuco. Para executar a obra, a concessionária Arena Pernambuco Negócios e Investimentos S.A. (Itaipava Arena Pernambuco) contratou financiamentos do BNB (R$ 250 milhões), do BNDES (R$ 280 milhões) e de um banco privado (R$ 70 milhões), além de investimentos próprios. Após a conclusão da arena e do início das operações, o Estado de Pernambuco pagou à Arena Pernambuco parte deste investimento.
A linha de financiamento da Arena Pernambuco com o BNDES (ProCopa Arenas) foi a mesma que aprovou o financiamento de R$ 400 milhões ao Estado de Pernambuco, recurso que assumiu um papel de garantia de pagamento ao BNDES. Assim, os dois financiamentos obtidos no BNDES (do Estado e da Arena Pernambuco) não devem ser somados para obtenção do custo da obra do estádio ou dos financiamentos. A concessionária quitou sua dívida com o BNDES no momento em que recebeu o recurso do Estado de Pernambuco.”
Atualização (2): em entrevista ao repórter João de Andrade Neto, do Superesportes, o secretário de planejamento do estado, Fred Amâncio, diz que o custo final, ainda em análise, não ultrapassará R$ 630,5 milhões. Em 2013, o secretário extraordinário da Copa, Ricardo Leitão, havia estimado em R$ 650 milhões.
Entre projeções e explicações, há o fato: com um ano de operação, a Arena Pernambuco ainda não teve o seu custo oficialmente divulgado. Aí não há desculpa.
Teresópolis – O Brasil sequer estreou na Copa do Mundo, então falar de uma disputa de pênaltis a partir das oitavas de final talvez seja bastante cedo. Ou não. Copeiro em sua essência futebolística, o técnico Felipão vai estimulando ao fim de cada coletivo na Granja Comary uma série de cobranças de pênalti.
Há duas formas de observar esse treinamento. Ou no viés dos atacantes, que não vêm rendendo bem, ou dos goleiros, em excelente forma caso necessário o dramático desempate. Júlio César, Victor e Jefferson vêm defendendo várias cobranças nos treinos. Aqui, um registro do blog com o goleiro do Botafogo, com duas defesas em quatro cobranças.
Todos os cobradores, Neymar, Fred, Marcelo, David Luiz e Willian, são os já indicados por Felipão caso necessária uma situação do tipo. A ordem possivelmente seria esta.
Até hoje, a Seleção Brasileira já passou por três disputas assim, todas dramáticas. em 1986, quando Zico perdeu uma cobrança ainda no tempo normal, o país acabou eliminado pela França de Platini (3 x 4). Em uma das cobranças, a bola bateu nas costas do goleiro Carlos entrou. Era o início do fantasma dos Bleus.
Nas outras duas, apesar da elevada carga emocional imposta, os resultados foram festejados. Em 1994, na primeira final da história decidida nos tiros livres, com Baggio chutando por cima a última bola da Azzurra (3 x 2), e em 1998, numa semifinal antológica contra a Holanda (4 x 2), com Taffarel brilhando com duas defesas nos pênaltis – e já havia defendido o chute de Massaro quatro anos antes.
Na última disputa de pênaltis da Seleção, na Copa América de 2011, o país foi eliminado pelo Paraguai desperdiçando quatro cobranças. Portanto, é bom que os atacantes melhorem também…