Aflitos, Arruda e Ilha Retiro no mapa de 1875, antes do futebol no Recife

Planta do Recife em 1875. Crédito: Biblioteca Nacional

Em 2015, a população do Recife chegou a 1,6 milhão de habitantes, segundo o IBGE. Há 140 anos, a população da capital pernambucana era de 116 mil pessoas. Era o primeiro dado demográfico da história do país, através do censo da Diretoria Geral de Estatística (DGE), ainda na época imperial. A partir deste Recife, então, imagine como seria a cidade naquele tempo. Há registros cartográficos, naturalmente. Na Biblioteca Nacional é possível ver a íntegra da Planta da cidade do Recife e seus arrabaldes. A última palavra, pouco usada hoje em dia, tem como sinônimos arredores ou cercanias. Ou seja, um esboço do que nós conhecemos atualmente como “Grande Recife”.

Em março de 1875, a Repartição de Obras Públicas elaborou um novo mapa cartográfico para a capital, pois a planta de 1855 estava ‘esgotada’. Foi um pedido do então presidente da província, o desembargador Henrique Pereira de Lucena. Ao blog, a indicação coube a João Guilherme da Silva, estudante de geografia na UFPE, justamente pelas localizações dos Aflitos, Arruda e Ilha do Retiro, ainda sem aterros, com veias abertas nos rios, ruas (“estradas”) com outros nomes, poucas pontes e quase nenhuma edificação, até porque a concentração urbana era no Bairro do Recife e na Boa Vista. Poucos pontos se mantêm, como o Hospital Português e a Igreja Nossa Senhora dos Aflitos.

O football só chegaria ao estado no século seguinte. E os próprios grandes clubes surgiram em outros lugares, perambulando até fincar raízes nos bairros tradicionais, em 1918 (Náutico), 1936 (Sport) e 1943 (Santa Cruz). O intenso crescimento urbano pode ser medido numa comparação com os mapas atuais, totalmente digitalizados, através do Google Maps: Aflitos, Arruda e Ilha do Retiro.

Aflitos (O terreno ficava no limite da estrada no bairro que sequer tinha nome)

Planta do Recife em 1875 (Aflitos). Crédito: Biblioteca Nacional

Arruda (Os dois canais próximos ao estádio, hoje, eram córregos do rio)

Planta do Recife em 1875 (Arruda). Crédito: Biblioteca Nacional

Ilha do Retiro (Era uma ilha de fato, que passaria por seguidos aterros)

Planta do Recife em 1875 (Ilha do Retico). Crédito: Biblioteca Nacional

Em busca do gramado perfeito, com direito a “selo de qualidade” da CBF

Representantes de Náutico, Santa e Sport no seminário da CBF sobre gramados. Foto: FPF/divulgação

A CBF já articula uniformizar as dimensões dos gramados das duas principais séries do Campeonato Brasileiro. A partir do pedido do técnico Levir Culpi, que contou com a aprovação da categoria, seria estabelecido o mesmo padrão das arenas da Copa do Mundo, 105m x 68m. Além do tamanho, há outro fator importante neste tema: a qualidade do piso. Daí, participação maciça dos pernambucanos no Seminário de Preparação de Gramados, no Maracanã, ministrado pela engenheira agrônoma Maristela Kuhn, que trabalhou durante toda a preparação do Mundial 2014, nos estádios e centros de treinamento.

No embalo do curso, a CBF lançou o “ranking nacional de gramados”, com uma qualificação oficial – futuramente, pode se tornar até uma exigência para algum jogo de maior peso. Ideia já repassada aos administradores dos estádios de Sport, Santa, Náutico e Vitória, convidados entre os clubes das Séries A e B e os dez primeiros do ranking feminino – hexa estadual, o Vitória é o vice-líder.

Há muito a se fazer nessas bandas. São várias nuances, como tipo de grama (bermuda celebration), corte (de 18 a 25 milímetros), irrigação (automatizada) e drenagem (a vácuo). Somado a tudo isso, claro, o tamanho do campo de jogo. Entre os palcos presentes, somente a Arena Pernambuco está de acordo.

8.250 m² (110m x 75m) – Ilha do Retiro
8.190 m² (105m x 78m) – Arruda
7.665 m² (105m x 73m) – Aflitos
7.350 m² (105m x 70m) – Carneirão
7.140 m² (105m x 68m) – Arena Pernambuco

Qual clube tem mais chance de obter o “selo de qualidade” em 2016?

Seminário sobre gramados na CBF em 2015. Foto: Fernando Torres / CBF

Estádios do Grande Recife no Google Maps, versão 2015

Na sequência da postagem sobre as metrópoles com mais estádios no mundo, uma vista dos principais palcos do Grande Recife, a partir do Google Maps. Para comparar cada estrutura de maneira mais justa, a aproximação foi a mesma (com a relação de 50m), assim como o ângulo e o corte das imagens via satélite, em 3D, atualizadas em 2015. Até porque a cada ano surgem edificações próximas, assim como as novas pinturas das arquibancadas.

Apesar da capacidade inferior em relação ao Mundão (de 13.830 lugares), a arena da Copa ocupa uma área maior, explicada pelo estacionamento interno, pelas áreas livres para bares e ações pontuais, e, sobretudo, pela fachada de almofadas de etileno tetrafluoretileno, que ocupa 25 mil metros quadrados.

Dos seis estádios presentes, apenas o Grito da República, em Olinda não tem gramado. Também pudera, a inauguração está atrasada há dois anos, apesar da arquibancada já erguida. Confira também as imagens do Google Street View passando nas sedes dos três grandes clubes da capital pernambucana.

Arruda (60.044) – Recife

Arruda no Google Maps em agosto de 2015. Crédito: Google/reprodução

Arena Pernambuco (46.214) – São Lourenço

Arena Pernambuco no Google Maps em agosto de 2015. Crédito: Google/reprodução

Ilha do Retiro (32.923) – Recife

Ilha do Retiro no no Google Maps em agosto de 2015. Crédito: Google/reprodução

Aflitos (22.856) – Recife

Aflitos no Google Maps em agosto de 2015. Crédito: Google/reprodução

Grito da República (15.000) – Olinda

Grito da República no Google Maps em agosto de 2015. Crédito: Google/reprodução

Ademir Cunha (12.000) – Paulista

Ademir Cunha no Google Maps em agosto de 2015. Crédito: Google/reprodução

Grande Recife na 5ª colocação entre as metrópoles com mais estádios no mundo

Estádio do Arruda, Arena Pernambuco, Ilha do Retiro, Aflitos, Grito da República e Ademir Cunha. Fotos: DP/D.A Press

Buenos Aires, la ciudad con más campos de fútbol del mundo

Este foi título da reportagem produzida pelo jornal El País, que numa tradução simples estabelece a capital argentina como a região metropolitana com mais estádios a partir de dez mil lugares. Numa paixão futebolística nítida em cada esquina da cidade de 13 milhões de habitantes, existem 36 palcos, do imponente Monumental de Nuñez (do River Plate, com 61.688 lugares) ao acanhado Malvinas (do San Miguel, com 10.000). Para se ter uma ideia, a quantidade é superior ao dobro do segundo colocado. O ranking publicado pelo periódico, aliás, apresenta cidades com muita tradição no futebol.

1º) Buenos Aires (36)
2º) São Paulo (15)
3º) Londres (12)
4º) Rio de Janeiro (9)
5º) Madri (5)

O blog analisou o mais recente cadastro nacional de estádios brasileiros, produzido pela CBF e cuja 5ª versão inscreveu 782 praças esportivas, elaborando uma lista nacional. Com este levantamento, o Grande Recife ficou numa posição surpreendente, superior a Madri, diga-se. Adicionado o estádio Grito da República, em Olinda, previsto (enfim) para dezembro de 2015 e com gasto acima do previsto, seriam seis palcos acima da capacidade estipulada.

Nesta apuração, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro aparecem com números inferiores em relação ao do ranking mundial, mas há uma justificativa plausível. No caso paulistano, a popular Rua Javari, do Juventus, teve a sua capacidade oficial reduzida para apenas 4.004 espectadores, apesar do recorde de 15 mil pessoas apinhadas. O mesmo ocorreu em dois locais tradicionais na Cidade Maravilhosa, o Moça Bonita (Bangu) e o Luso Brasileiro (Portuguesa).

Abaixo, as onze metrópoles brasileiras com mais estádios.

Caso alguém atualize a lista mundial, a RMR ficaria em 5º lugar…

1º) São Paulo (14) – 20,93 milhões de habitantes e 7,94 mil km²
66.795 – Morumbi (São Paulo)
45.000 – Arena Corinthians (São Paulo)
45.000 – Allianz Parque (São Paulo)
37.730 – Pacaembu (São Paulo)
31.452 – Arena Barueri (Barueri)
21.004 – Canindé (São Paulo)
16.744 – Anacleto Campanella (São Caetano)
14.384 – Francisco Ribeiro (Mogi das Cruzes)
14.185 – Bruno Daniel (Santo André)
13.440 – 1º de Maio (São Bernardo)
13.400 – Ícaro de Castro (São Paulo)
12.430 – José Liberatti (Osasco)
12.000 – Parque São Jorge (São Paulo)
10.117 – Nicolau Alayon (São Paulo)
Total de lugares: 353.681
Média por estádio: 25.262
Um estádio a cada 1,49 milhão de pessoas
Um estádio a cada 567 km²

2º) Rio de Janeiro (7) – 12,11 milhões de habitantes e 8,14 mil km²
78.838 – Maracanã (Rio de Janeiro)
44.661 – Engenhão (Rio de Janeiro)
24.584 – São Januário (Rio de Janeiro)
18.000 – Ítalo Del Cima (Rio de Janeiro)
15.000 – Campo dos Cordeiros (São Gonçalo)
13.544 – Edson Passos (Mesquita)
12.000 – Caio Martins (Niterói)
Total de lugares: 206.627
Média por estádio: 29.518
Um estádio a cada 1,73 milhão de pessoas
Um estádio a cada 1,16 mil km²

3º) Recife (6) – 3,88 milhões de habitantes e 2,77 mil km²
60.044 – Arruda (Recife)
46.214 – Arena Pernambuco (São Lourenço)
32.923 – Ilha do Retiro (Recife)
22.856 – Aflitos (Recife)
15.000 – Grito da República (Olinda)
12.000 – Ademir Cunha (Paulista)
Total de lugares: 189.037
Média por estádio: 31.506
Um estádio a cada 646 mil pessoas
Um estádio a cada 461 km²

4º) Curitiba (5) – 3,46 milhões de habitantes e 16,58 mil km²
42.372 – Arena da Baixada (Curitiba)
35.000 – Pinheirão (Curitiba)
34.872 – Couto Pereira (Curitiba)
17.200 – Durival de Brito (Curitiba)
10.000 – Vila Olímpica (Curitiba)
Total de lugares: 139.444
Média por estádio: 27.888
Um estádio a cada 692 mil pessoas
Um estádio a cada 3,31 mil km²

4º) Porto Alegre (5) – 4,18 milhões de habitantes e 10,34 mil km²
56.500 – Arena Grêmio (Porto Alegre)
56.000 – Beira-Rio (Porto Alegre)
45.000 – Olímpico (Porto Alegre)
10.000 – Complexo Esportivo (Canoas)
10.000 – Cristão Rei (São Leopoldo)
Total de lugares: 177.500
Média por estádio: 35.500
Um estádio a cada 836 mil pessoas
Um estádio a cada 2,06 mil km²

4º) Brasília (4) – 2,85 milhões de habitantes e 5,80 mil km²
72.788 – Mané Garrincha (Brasília)
27.000 – Boca do Jacaré (Taguatinga)
20.310 – Bezerrão (Gama)
10.000 – Augustinho Lima (Sobradinho)
Total de lugares: 130.098
Média por estádio: 32.524
Um estádio a cada 712 mil pessoas
Um estádio a cada 1,45 mil km²

7º) Belém (3) – 2,38 milhões de habitantes e 3,56 mil km²
45.007 – Mangueirão (Belém)
16.200 – Curuzu (Belém)
12.000 – Baenão (Belém)
Total de lugares: 73.207
Média por estádio: 24.402
Um estádio a cada 793 mil pessoas
Um estádio a cada 1,18 mil km²

7º) Belo Horizonte (3) – 5,76 milhões de habitantes e 9,46 mil km²
61.846 – Mineirão (Belo Horizonte)
23.018 – Independência (Belo Horizonte)
22.000 – Arena do Jacaré (Sete Lagoas)
Total de lugares: 106.864
Média por estádio: 35.621
Um estádio a cada 1,92 milhão de pessoas
Um estádio a cada 3,15 mil km²

7º) Fortaleza (3) – 3,81 milhões de habitantes e 6,96 mil km²
63.903 – Castelão (Fortaleza)
20.262 – Presidente Vargas (Fortaleza)
10.500 – Domingão (Horizonte)
Total de lugares: 94.665
Média por estádio: 31.555
Um estádio a cada 1,30 milhão de pessoas
Um estádio a cada 2,32 mil km²

7º) Natal (3) – 1,50 milhão de habitantes e 3,25 mil km²
32.050 – Arena das Dunas (Natal)
15.082 – Frasqueirão (Natal)
10.068 – Barretão (Ceará-Mirim)
Total de lugares: 57.200
Média por estádio: 19.066
Um estádio a cada 500 mil pessoas
Um estádio a cada 1,08 mil km²

7º) Salvador (3) – 3,91 milhões de habitantes e 4,37 mil km²
50.025 – Fonte Nova (Salvador
35.000 – Barradão (Salvador)
32.157 – Pituaçu (Salvador)
Total de lugares: 117.182
Média por estádio: 39.060
Um estádio a cada 1,30 milhão de pessoas
Um estádio a cada 1,45 mil km²

As arquibancadas especiais para os cadeirantes nos estádios do Recife

Torcedores com necessidades especiais nos Aflitos (Náutico), Arruda (Santa Cruz) e Arena Pernambuco (Sport). Fotos: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press (Aflitos e Arruda) e Thiago Vasconcelos/Divulgação

O acesso dos torcedores com deficiência física aos estádios do Recife sempre foi complicado. Aos usuários de cadeiras de rodas, o perrengue para assistir ao futebol local já começa na compra de ingressos em bilheterias arcaicas, segue no caminho até a catraca, com pisos desnivelados, e termina nos setores reservados, quase sempre à beira do campo, num espaço descoberto. Exceção feita à Arena Pernambuco, de acordo com o caderno de encargos mais recente da Fifa, ainda falta bastante, ainda que algumas reformas sejam recentes. Confira os setores de cada estádio e as respectivas restrições de confronto.

Aflitos
O estádio do Náutico têm três áreas para pessoas com necessidades especiais, duas dos gols e uma na arquibancada frontal. Apesar do espaço amplo, não há cadeiras para os acompanhantes. Apesar de o estádio timbu ter ficado praticamente em desuso desde 2013, os setores se mantêm para jogos menores (América, Sub 20, feminino etc).

Setor para cadeirantes nos Aflitos. Foto: alambrado.net/reprodução

Arena Pernambuco
Sem surpresa, o palco em São Lourenço é o de melhor estrutura neste contexto, com seis espaços reservados no estádio, todos cobertos, com ótima visão (no último degrau da arquibancada inferior) e assentos para os acompanhantes. Além disso, os banheiros também são adaptados, além do acesso no estádio, com corrimão e rampas especiais.

Setor para cadeirantes na Arena Pernambuco. Foto: http://acessibilidadeabsoluta.blogspot.com.br

Arruda
O estádio do Santa Cruz foi o último a construir um espaço especial para os deficientes físicos. Até julho de 2014, esses torcedores ficavam no primeiro degrau das sociais, de forma improvisada. Foi então que a comissão patrimonial do Tricolor construiu uma plataforma com 22 metros de comprimento, coberta, entre as sociais e o fosso. Mais. O sócio com deficiência física tem acesso gratuito aos jogos, além da garantia da meia entrada ao acompanhante, numa grata medida do clube.

Setor para cadeirantes no Arruda. Foto: Brenno Costa/DP D.A Press

Ilha do Retiro
No Adelmar da Costa Carvalho, durante anos funcionou apenas um espaço para cadeirantes, no primeiro degrau da arquibancada frontal, um setor liberado apenas para a torcida mandante – e que, de maneira irresponsável, também costuma ser ocupado por torcedores sem necessidades especiais. Em agosto de 2015, o Sport reformou as sociais, no lado oposto do estádio, trocando o velho alambrado de ferro por um de vidro e construindo um setor para sócios cadeirantes.

Setor para cadeirantes na Ilha do Retiro. Foto: Rafael Reis (twitter.com/rm_reis)

Arruda, Aflitos e Ilha do Retiro inundados na cheia de 1975, no susto de Tapacurá

Arruda inundado em 1975. Foto: Arquivo/DP

Em 21 de julho de 1975, há 40 anos, o Recife viveu um dia de pânico, com o boato de que a barragem de Tapacurá havia estourado. Piorou o já dramático cenário, com a cidade sob intensa chuva há seis dias, com 107 mortos, muitos em deslizamentos nos morros, no maior aguaceiro já visto nessas bandas.

Na Avenida Caxangá, por exemplo, a água subiu quatro metros. Pois aí surgiu o nocivo boato de que a maior barragem da região metropolina havia rompido, elevando ainda mais o nível da enchente, tomando centenas de ruas. Houve correria, gente saindo de suas casas, pessoas liberadas de seus empregos. O boato tomou conta de norte a sul, com o susto matando três pessoas de infarto.

Aflitos inundado em 1975. Foto: Arquivo/DP

Com o Recife debaixo d’água, o campeonato estadual foi paralisado. Aliás, nem que a FPF quisesse teria sido diferente. Basta conferir a situação dos três estádios, em registros aéreos durante a cobertura do Diario de Pernambuco.

O canal do Arruda subiu até o gramado, a Ilha virou uma ilha de fato e os Aflitos ficou impraticável. A competição ficou suspensa por oito dias, com a final ocorrendo apenas em 10 de agosto. A bola voltou a rolar em campos precários, pois a recuperação levou semanas. Desde então, outros boatos surgiram, o último deles em 2011. E até hoje, ainda bem, Tapacurá se mantém firme.

Confira as fotos em uma resolição maior: Arruda, Aflitos e Ilha do Retiro.

Ilha do Retiro inundada em 1975. Foto: Arquivo/DP

Os recordes de público no Arruda, na Ilha, nos Aflitos e na Arena Pernambuco

Arruda, Ilha do Retiro, Aflitos e Arena Pernambuco. Fotos: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press (Arruda, Ilha e Aflitos) e Arena Pernambuco/divulgação

O único recorde de público em um grande estádio da Região Metropolitana do Recife que não deve ultrapassar o número de assentos à disposição é o da Arena Pernambuco, cuja partida entre Sport e São Paulo, pela Série A de 2015, superou Alemanha x Estados Unidos, na Copa do Mundo. O borderô de 41.876 pessoas, numa chuvosa manhã com vitória germânica, agora é passado, com os 41.994 espectadores estabelecendo a maior marca em São Lourenço.

Ainda assim, trata-se de um dado menor em relação à capacidade máxima, devido à limitação de ingressos à venda – 40 mil, com as cadeiras restantes reservadas às gratuidades e à separação das torcidas. Tanto que a nova marca chegou a 90% de ocupação. Nos outros três tradicionais palcos do Recife, entretanto, todos os recordes vão bem além das capacidades atuais, estipuladas pela Fifa com 50 centímetros por assento (mesmo no cimento), em vez dos 30 cm do passado. Nos quatro estádios, considerando os dados oficiais nos jogos entre clubes, o Sport se faz presente.

Em relação ao maior público já visto em uma partida de futebol no estado, no Mundão, o número jamais será batido. Não nas atuais estruturas de concreto.

Confira os recordes de público na capital pernambucana…

Arruda
Recorde: 96.990 pessoas, em 29/08/1993. Brasil 6 x 0 Bolívia*
Capacidade atual: 60.044
% do recorde sobre a capacidade: 161%
* Considerando uma partida entre clubes, a marca é de 80.203 pessoas, no jogo Náutico 0 x 2 Sport, em 15/03/1998

Arena Pernambuco
Recorde: 41.994 pessoas, em 19/07/2015. Sport 2 x 0 São Paulo
Capacidade atual: 46.214
% do recorde sobre a capacidade: 90%

Ilha do Retiro
Recorde: 56.875 pessoas, em 07/06/1998. Sport 2 x 0 Porto
Capacidade atual: 32.983
% do recorde sobre a capacidade: 172%

Aflitos
Recorde: 31.061 pessoas, em 21/07/1968. Náutico 1 x 0 Sport
Capacidade atual: 22.856
% do recorde sobre a capacidade: 135%

Sobre a polêmica em relação a outros recordes de público do Arruda, com invasões e borderôs não contabilizados, clique aqui.

Ilha do Retiro com alambrado de vidro a la Bombonera

Alambrado da La Bombonera. Foto: lugaresinesqueciveis.wordpress.com

O Sport irá trocar o alambrado da Ilha do Retiro por um modelo de vidro laminado e temperado, já utilizado em outros estádios do país, como Curuzu, PV, São Januário, Ressacada, Vila Belmiro e Arena Barueri. O modelo é mais conhecido por causa da La Bombonera (acima), a cancha do Boca Juniors. Se seguir a tendência dos demais palcos brasileiros, o vidro deverá ter entre 10 e 12,5 milímetros de espessura, com a proteção especial de uma película.

O projeto é o estágio avançado de uma ação leonina em relação à divisa entre campo e arquibancada. O primeiro passo, paliativo, foi dado com a diminuição do alambrado nas sociais (abaixo). Um trecho já passou pela reforma. O objetivo é reduzir todo o alambrado da área, com 3.500 assentos, ainda em 2015.

O fato é que a grade da Ilha, presente desde a reforma para a Copa do Mundo de 1950, é um empecilho na visibilidade dos jogos, com inúmeros pontos-cegos. Daí, a necessidade de uma troca geral no segundo estágio do planejamento, colocando as placas de vidro através da parceria firmada com a empresa Toyolex Toyota, de acordo com o próprio clube.

Ao mesmo tempo em que o Sport vai modernizando aos poucos o seu estádio, também cabe a interpretação de que o projeto da arena vem esfriando. Ao menos o clube não está parado nesta indefinição sobre o futuro da Ilha.

Novo almbrado da Ilha do Retiro, em 2015. Foto: Sport/site oficial

A gratuidade para crianças nos estádios, um benefício com várias versões

Torcedores mirins de Náutico, Santa Cruz e Sport. Fotos: NauticoNet, Torcedor Coral e Site Oficial do Sport

A gratuidade para crianças em jogos de futebol é algo bem antigo no país. A variação neste benefício refere-se basicamente à idade máxima para o benefício. 7, 8, 10, 12 anos? Em cada estádio, uma norma distinta. Mas há a exceção. Na Allianz Parque, inaugurada em novembro de 2014, a diretriz inicial veta a gratuidade. Daí, a polêmica em torno da cobrança de ingresso a um bebê de seis meses. No estádio do Palmeiras, a frase dita pelos funcionários foi “entrou, paga”, pois trata-se de uma propriedade particular. A explicação poderia ser aplicada aos estádios de São Paulo (Morumbi) e Corinthians (Itaquerão), mas ambos liberam o acesso para crianças de até 7 e 11 anos.

Segundo o Procon, a cobrança está respaldada pelo Direito do Consumidor, pois não se estabelece uma idade mínima. Verdão à parte, vamos à situação em Pernambuco. Em qualquer jogo com mando de campo de Náutico, Santa ou Sport há a gratuidade para os torcedores mirins. O menor limite é o do Leão, com “7 anos e 364 dias”, vulgo “8 anos incompletos”. No Tricolor, pré-adolescentes de 12 anos ainda conseguem entrar sem pagar. Em todos os casos, naturalmente é preciso estar acompanhado de um adulto responsável.

As gratuidades nos estádios locais se estende às autoridades (com documentação), um privilégio garantido por lei há décadas, com policiais militares, delegados e juízes podendo assistir a qualquer partida como público geral. A regra também se aplica aos idosos? Não. Neste caso, há o direito à meia-entrada, previsto no Estatuto do Idoso, a partir dos 60 anos de idade. Na capital paulista, o Corinthians libera o acesso para idosos cadastrados.

Gratuidades no futebol pernambucano:

Arena Pernambuco (Náutico)
Crianças – até 8 anos*
Autoridades – policiais militares, delegados e juízes, atletas, ex-atletas, ex-árbitros.

Arruda (Santa Cruz)
Crianças – até 12 anos (incompletos)*
Autoridades – policiais militares, delegados e juízes.

Ilha do Retiro (Sport)
Crianças – até 8 anos (incompletos)*
Autoridades – policiais militares, delegados e juízes.

* A criança deve ser acompanhada de um adulto e ter documento com a idade.

No público detalhado no borderô oficial, entregue à FPF ou CBF, a soma dos “não pagantes” inclui ainda os jornalistas cadastrados para a cobertura. É preciso registrar todos os espectadores para o gasto do seguro obrigatório.

As medidas dos campos do Brasileirão, com ou sem Padrão Fifa

Dimensões oficiais do futebol, segundo a Fifa

Os treinadores dos clubes presentes no Brasileirão de 2015 se reuniram na sede da CBF no dia 27 de abril. Entre os temas discutidos, a uniformidade dos campos dos estádios utilizados na competição. O pleito é antigo.

Dos 19 estádios indicados pelos times (Fla e Flu dividem o Maraca), dez já foram adaptados às dimensões do “Padrão Fifa”, com 105 metros de comprimento e 68 metros de largura – conforme a 5ª versão do relatório “Estádios de futebol – Recomendações técnicas e os requisitos”, de abril de 2011. Curiosamente, os não adaptados têm medidas maiores. Ilha do Retiro, São Januário e Serra Dourada estão no topo, com uma área de jogo de 8,25 mil metros quadrados, ou 1.110 m² a mais que o tamanho estipulado pela Fifa.

O estádio vascaíno chegou a ter as “medidas modernas” durante a fase como centro de treinamento de seleções no Mundial de 2014. Contudo, este ano o presidente do clube, Eurico Miranda, retomou às medidas tradicionais, a pedido dos jogadores, uma vez que seria prejudicial ao rendimento da equipe, com a facilidade de retrancas adversárias (!). Já no caso do Sport, o campo principal do CT de Paratibe tem o mesmo tamanho do Adelmar da Costa Carvalho.

Há mais de 150 anos se busca uma padronização. Oficialmente, as medidas permitidas pela entidade que rege o football são de 90 a 120 metros de comprimento e de 45 a 90 metros de largura, resultando em um formato retangular, obviamente. Para partidas internacionais, a recomendação é mais específica, entre 100 e 110 metros de comprimento e 64 e 75 metros de largura.

Há quase uma década houve uma princípio de unificação no país. Em 2006, o Inmetro fez um levantamento em nove campos da Série A. Após o resultado, a CBF anunciou um estudo em âmbito nacional, consultando a Fifa, para saber sobre a possibilidade de serem definidas faixas de variações para as medidas. Parou ali, mas a queixa dos profissionais (técnicos e jogadores) se manteve.

Quem levantou a bandeira novamente – revelando a pauta dos técnicos na reunião no Rio, em 2015 – foi Levir Culpi, do Galo, que manda seus jogos em campos com o novo parâmetro. O discurso “padronizado” já é um começo…

8.250 m² (110m x 75m) – Ilha do Retiro (Sport)
8.250 m² (110m x 75m) – São Januário (Vasco)
8.250 m² (110m x 75m) – Serra Dourada (Goiás)
7.869,7 m² (108,25 x 72,7m) – Morumbi (São Paulo)
7.848 m² (109m x 72m) – Couto Pereira (Coritiba)
7.665 m² (105m x 73m) – Ressacada (Avaí)
7.437,7 m² (105,8m x 70,3m) – Vila Belmiro (Santos)
7.350 m² (105m x 70m) – Arena Joinville (Joinville)
7.350 m² (105m x 70m) – Orlando Scarpelli (Figueirense)
7.140 m² (105m x 68m) – Itaquerão (Corinthians)
7.140 m² (105m x 68m) – Allianz Parque (Palmeiras)
7.140 m² (105m x 68m) – Moisés Lucarelli (Ponte Preta)
7.140 m² (105m x 68m) – Arena Condá (Chapecoense)
7.140 m² (105m x 68m) – Maracanã (Flamengo e Fluminense)
7.140 m² (105m x 68m) – Arena Grêmio (Grêmio)
7.140 m² (105m x 68m) – Beira-Rio (Internacional)
7.140 m² (105m x 68m) – Mineirão (Cruzeiro)
7.140 m² (105m x 68m) – Independência (Atlético-MG)
7.140 m² (105m x 68m) – Arena da Baixada (Atlético-PR)

Os demais estádios da Copa do Mundo de 2014 que ocasionalmente recebem jogos do Campeonato Brasileiro (incluindo a Arena Pernambuco, com seis partidas do Leão agendadas) também têm dimensões 105m x 68m.