Cancelada, a Primeira Liga deve voltar reformulada em 2019. Escopo semelhante ao torneio paralelo articulado no Nordeste

Primeira Liga

Através de um comunicado oficial, em 27/03, a direção da Primeira Liga confirmou o cancelamento da edição de 2018, por falta de datas – chegou-se a cogitar a disputa durante o Mundial. Teria sido a terceira edição, após 2016 (Fluminense) e 2017 (Londrina). A nota traz a possibilidade de volta em 2019. Segue a íntegra e, em seguida, o viés regional sobre a notícia…

“A Diretoria da Copa da Primeira Liga comunica que, em comum acordo com todas as partes interessadas, a competição não será realizada em 2018. No entanto, o trabalho continua sendo desenvolvido para viabilizar um torneio forte e estruturado a partir de 2019. Na última semana, reuniões com a Confederação Brasileira de Futebol e com a Rede Globo deixaram adiantadas as tratativas para um torneio no início da temporada 2019, com quatro a sete datas, com término até março. A cúpula da Primeira Liga seguirá em contato constante com os dirigentes dos clubes, a CBF e a Rede Globo a fim de unificar os interesses e promover um torneio de alto nível, valorizando e fortalecendo o Fórum de Clubes.”

A reformulação do torneio da Primeira Liga – uma associação formada por 19 clubes, incluindo um nordestino, o Ceará – passa pelo número de datas (sete) e pelo período (até março). Os jogos seriam exibidos pela Globo, detentora dos direitos da competição – à parte da permanente discussão sobre a oficialização por parte da CBF. Curiosamente, a movimentação nos bastidores do Nordeste sobre a organização de um torneio regional paralelo à Copa do Nordeste projeta uma estrutura bem semelhante a esta acima.

O Sport, através do presidente Arnaldo Barros, tentou encampar a ideia em 2018, mas acabou isolado – inclusive na desistência da Lampions. Para 2019, porém, a disputa por cotas maiores ganhou outra voz de peso, a do presidente do Bahia, Guilherme Bellintani – ainda que efetivamente não fale em saída, mas de mudanças internas. E sobre o tal torneio (sem nome revelado), seria uma disputa enxuta, com as mesmas sete datas, no mesmo período e no mesmo canal. Lembrando que a Globo não entrou em acordo com o Esporte Interativo, o detentor dos direitos do Nordestão, para a exibição em 2018.

Hoje, a Copa do Nordeste paga de R$ 1 milhão (grupos) a R$ 3,5 milhões (campeão), considerando os times com as cotas mais altas. Estima-se um pedido de R$ 5 milhões livres no torneio paralelo – indiretamente, é o mesmo pedido para que esses clubes sigam no Nordestao. Lembra a “Copa União”?

O paralelo traçado pelo blog pode ser uma coincidência.
Ou, neste caso, uma grande coincidência.

Presidente da Primeira Liga revela reuniões com Náutico, Santa e Sport. Convite para uma cota com subdivisões…

Castas da Primeira Liga. Arte: Cassio Zirpoli/DP

“(… ) os clubes do Nordeste são doidos para disputar a Primeira Liga.”

“As reuniões nossas têm presença de Sport, Santa Cruz, Náutico, dos clubes da Bahia. Fizemos uma reunião em São Paulo, uma assembleia geral, que parecia uma reunião dos grandes clubes brasileiro.”

Em entrevista ao jornal mineiro O Tempo, o presidente da Primeira Liga, Gilvan Cunha, citou nominalmente os três grandes clubes pernambucanos como figuras presentes em debates da agremiação fundada há pouco mais de um ano, em 10 de setembro de 2015. Com a segunda edição do torneio agendada para 2017, com 16 times jogando em nove datas espremidas entre 25 de janeiro e 8 de outubro, o dirigente já vislumbra a terceira edição, numa concorrência velada (mas cada vez mais escancarada) com a Copa do Nordeste.

Para 2017, o torneio já terá um nordestino, o Ceará, convidado depois que os paranaenses (e fundadores) Atlético e Coritiba saíram, reclamando do formato das cotas. Por sinal, eis um ponto a ser observado desde já. Embora esteja engatinhando historicamente, a Primeira Liga já conta com quatro subgrupos de cotas de participação – na Série A, também questionável, existem sete níveis. Clube mais popular do país, o Flamengo figura sozinho no grupo 1 (no Brasileirão divide o posto com o Corinthians, ainda ausente na liga), com R$ 2 milhões/ano. No segundo escalão, com times do porte de Cruzeiro e Grêmio, R$ 1,5 milhão. Eis a composição atual, com receitas em caso de participação, claro:

Divisão de cotas da Primeira Liga

Grupo 1 – Flamengo
Grupo 2 – Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Internacional e Fluminense
Grupo 3 – Atlético-PR* e Coritiba*
Grupo 4 – América-MG, Avaí, Chapecoense, Criciúma, Figueirense, Joinville, Paraná, Brasil de Pelotas, Londrina, Tupi, Luverdense, Atlético-GO e Ceará
* Os clubes se desligaram da liga em 22/11/2016 por “discordâncias internas”

No Nordestão, para onde mira esta abordagem, a premiação é fixa, fase por fase, independentemente do clube – exceção feita a maranhenses e piauienses, em análise para ingresso definitivo na Liga do Nordeste. Bahia ou Juazeirense, Sport ou Salgueiro, a cota é a mesma. Nesta sedução da Primeira Liga, com um valor de televisão já alto, passando de R$ 5 mi para R$ 23 milhões por temporada, via Globo, contra R$ 18,5 milhões da Copa do Nordeste, é preciso estar atento. Pois as castas devem ser mantidas no triênio 2017-2019, com a falsa sensação de ganho. No cenário regional, o contrato está assinado até 2022, com evolução paulatina da premiação e calendário mais abrangente.

Evolução da cota total da Copa do Nordeste

2014: 78,5% (+ R$ 4,4 milhões)
2015: 11,4% (+ R$ 1,1 milhão)
2016: 33,0% (+ R$ 3,6 milhões)
2017: 24,9% (+ R$ 3,7 milhões)

Após o anúncio da inclusão do Ceará, numa reunião em Brasília, em setembro, o blog comentou algumas dúvidas sobre esta movimentação. Na sequência, questionou os presidentes do Trio de Ferro, e o Sport revelou o convite feito pela Primeira Liga. De lá para cá, Náutico e Santa também entraram na pauta.

Enquanto a segue a articulação sobre a formatação do novo Nordestão, com séries A e B, através do G7, a classificação segue via estaduais. Hoje, não há espaço, no calendário de um time, para Primeira Liga e Nordestão paralelos. E que não haja dúvida nesta escolha… entre o ensaio de uma liga já estruturada numa pirâmide ou na valorização de uma marca regional, acessível ao mercado.

A repercussão no Trio de Ferro sobre a entrada do Ceará na Primeira Liga

Os presidentes de Náutico (Ivan Brondi), Santa (Alírio Moraes) e Sport (Martorelli) em 2016. Fotos: Náutico/site oficial e arquivo/DP

Após o anúncio da entrada do Ceará na Primeira Liga, a organização formada inicialmente por clubes da região Sul e do estado do Rio de Janeiro, o blog repercutiu a notícia junto aos dirigentes do Trio de Ferro, com a colaboração dos repórteres Daniel Leal, Yuri de Lira e João de Andrade Neto. A filiação do alvinegro cearense poderia ser repetida por alvirrubros, tricolores ou rubro-negros? Foram feitos os seguintes questionamentos a cada presidente local…

1) Como o seu clube enxerga essa decisão do Ceará em relação à Liga do Nordeste? O seu clube foi consultado?

2) Se o seu clube fosse convidado para a Primeira Liga, qual seria a posição da instituição? Sobretudo se tiver que escolher qual torneio jogar.

De cara, a revelação de que o Sport também foi convidado para a Primeira Liga, além da percepção de que uma possível não classificação no Nordestão poderia resultar numa consideração sobre o torneio concorrente.

Ivan Brondi, presidente em exercício do Náutico

1) “Não sabemos muitos detalhes sobre a entrada do Ceará. Pelo Náutico, eu não soube (antes do anúncio). Acho que não atrapalha (a entrada do Ceará na Primeira Liga), mas é algo que precisa ser discutido com a direção, sobre situação da competição (Nordestão).”

2) “Precisaríamos saber detalhes do que a Primeira Liga ofereceu ao Ceará, para ver o motivo do caminho tomado. É algo que precisa ser estudado, mas o acho que o trabalho (dos clubes) deveria ser em conjunto.”

Alírio Moraes, presidente do Santa Cruz

1) “Em relação à entrada do Ceará na Primeira Liga não temos nada a acrescentar, porque a tal decisão se insere dentro da competência de cada clube de avaliar tal adesão. Penso que o fator determinante no caso dele foi a não classificação para o campeonato da Liga do Nordeste em 2017.”

2) “Com relação ao Santa, estando o Mais Querido classificado para o torneio do próximo ano, não aceitaríamos o convite, se formulado fosse. Até porque o calendário do próximo ano já será bem exaustivo e é preciso pensar também na qualidade do espetáculo e na saúde dos atletas.”

João Humberto Martorelli, presidente do Sport

1) “O Ceará se filiou à Primeira Liga porque está fora (do Nordestão) em 2017, mas estamos conversando muito entre nós (clubes). Se alguns clubes saírem (da Liga NE), pode ser que atrapalhe, sim. Porém, isso só ocorrerá se não houver um entendimento entre os clubes pelo formato da Copa do Nordeste. Sport e Bahia entendem que o formato não deva privilegiar os estaduais, e que deveria haver duas divisões (no Nordestão). Isso robusteceria o torneio, ficando altamente rentável.”

2) “O Sport também foi convidado (para a Primeira Liga) e ainda não respondemos porque estamos discutindo o formato da Copa do Nordeste (de 2018). Se (o Nordestão) ficar do jeito que achamos necessário, não precisaríamos de outra liga. Queremos privilegiar a Copa do Nordeste, colocando em segundo plano os estaduais, mas está havendo uma pressão grande das federações (por datas). Esse calendário atual prejudica a disputa de outros campeonatos (como o Brasileiro). Prejudicando o Sport, aí iremos para a Primeira Liga, Segunda Liga, Terceira Liga, o que for. Estamos refletindo.”

Ceará entra na Primeira Liga e levanta dúvidas sobre a Liga do Nordeste

Reunião da Primeira Liga em 13/09/2016, em Brasília. Foto: Primeira Liga/facebook

Em 10 de setembro de 2015, após discussão acerca da legalidade, o estatuto da Primeira Liga foi publicado. Dizia o seguinte: “(…) composta exclusivamente por entidades de prática desportiva da modalidade futebol, que disputem competições na categoria profissional sediadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com patrimônio e autonomia administrativa, financeira e jurídica própria, distinta de seus filiados”.

Fundadores
América-MG, Atlético-MG, Atlético-PR, Avaí, Chapecoense, Coritiba, Criciúma, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Inter, Joinville e Paraná

Um ano depois, no balanço da agremiação, houve uma reunião em Brasília, definindo o modelo comercial de venda de direitos de transmissão da televisão, naming rights e patrocínios, além da inclusão de novos membros. Na primeira ampliação, seguindo o estatuto, entraram Brasil de Pelotas, Londrina e Tupi, reforçando o interior gaúcho, paranaense e mineiro. Porém, o encontro acabou abrindo espaço para Mato Grosso (Luverdense), Goiás (Atlético-GO) e, o mais surpreendente, Ceará. Sim, o Ceará Sporting, campeão nordestino em 2015, aderiu à liga, que, na prática, concorre justamente com a Lampions League, organizada pela Liga do Nordeste, na qual o clube alencarino é um dos 16 membros fundadores (em 2001). Segundo a resolução na capital federal, os seis novos membros não vão participar da Primeira Liga em 2017, deixando em aberto a possibilidade a partir de 2018, data-chave no Nordeste.

Entre os sete principais clubes da região (três do Recife, dois de Salvador e dois de Fortaleza), o Vozão é, curiosamente, a única ausência do torneio de 2017. Perdeu a vaga no campo, ao ficar de fora da decisão estadual. Difícil desvincular essa ausência da entrada na outra liga, até porque financeiramente o Ceará vem ganhando bastante dinheiro na Copa do Nordeste – cuja movimentação financeira nesta temporada foi de R$ 26 milhões. Em 2015, quando o clube conquistou o inédito título, faturou R$ 5.895.664 entre cotas e bilheteria. Por outro lado, num olhar inicial, a articulação pode ser uma pressão indireta sobre a definição do futuro do Nordestão, com o supracitado G7 do Nordeste discutindo a formação de duas divisões a partir de 2018, cada uma com doze clubes, o que, a médio prazo, garantiria a participação à parte dos certames locais.

As primeiras dúvidas do blog e alguns pitacos:

A presença do Ceará na Primeira Liga pode ser vista como uma ameaça à Liga do Nordeste?
Em relação à imagem da liga nordestina, sim. E também na composição do Nordestão, pois os torneios ocorrem em datas semelhantes.

Algum clube pernambucano faria o mesmo caso não se classificasse à Copa do Nordeste?
Nos bastidores, convites já foram feitos, também em caso de ausência…

Tecnicamente, seria mais vantajoso disputar qual torneio?
Pelo calendário da CBF, o Nordestão deve ter 12 datas, contra apenas 7 da Primeira Liga, além de oferecer uma vaga na Sul-Americana. Para o próximo triênio, já em negociação na Primeira Liga, a questão financeira pode pesar.

Com o Ceará na Primeira Liga, abre a possibilidade de a Liga do Nordeste também aceitar clubes de outras regiões?
Com a Copa Verde em vigor, todas as regiões estão contempladas. Ou seja, neste momento parece surgir uma disputa de “mercado”. Cabe à Liga NE se proteger. Em 2014, na condição de única liga do país, vetou o Flamengo.

Essa interseção pode ser o embrião de uma fusão para a liga nacional?
Num viés positivista, sim. Porém, com a leitura anterior… dificilmente.

Outras dúvidas? Outros pontos de vista? Está aberto o necessário debate.

No papel, junto à CBF e à tevê, a Copa do Nordeste está garantida até 2022. É um sucesso, entre vários motivos, também pela presença do próprio Ceará.

Torneio entre os campeões do Nordestão, Copa Verde e Primeira Liga em 2017? Um resquício de Copa dos Campeões

Troféu da Copa dos Campeões de 2000. Foto: Palmeiras

O calendário do futebol brasileiro vem num contínuo processo de revisão. Quase sem datas e com pouca gente disposta a ceder, entre CBF, federações estaduais, clubes e ligas. Ainda assim, surgem ideias. Uma delas, uma velha ideia, com a reedição da Copa dos Campeões. Entre 2000 e 2002, a CBF organizou o torneio nacional de tiro curto envolvendo os vencedores das copas regionais e os campeões paulista e carioca, com sedes fixas. Valia vaga na Liberta! A primeira edição, em Alagoas e na Paraíba, foi um sucesso, com premiação de R$ 1,4 milhão ao campeão e média de público de 20 mil pessoas.

Palmeiras, Flamengo e Paysandu ergueram as taças antes da descontinuação em 2003 por causa do fim (forçado) dos regionais e a implantação dos pontos corridos na Série A, com 24 clubes e 46 longas rodadas. Hoje, são 20 equipes e 38 rodadas, o suficiente para mais um torneio? As poucos, os regionais estão voltando. O Nordestão em 2013, a Copa Verde (no lugar da Copa Norte) em 2014 e a Primeira Liga (Copa Sul-Minas-Rio) em 2016. O presidente da nova entidade, Gilvan Tavares, com apoio de Fla, Flu, Inter, Grêmio, Cruzeiro e Atlético, já sinalizou um torneio envolvendo os três campeões a partir de 2017.

“Temos que pensar em muitas coisas. Nem todos os grandes clubes brasileiros conseguem classificação à Libertadores. É o sonho de todo o clube. Quem sabe a gente não consiga para o futuro uma coisa diferente? Não tem o torneio do Nordeste? A liga Verde, a Sul-Minas Rio? Quem sabe a gente não consegue fazer o torneio com os campeões de cada uma dessas competições, com uma vaga na Libertadores. A CBF não tinha pensado nisso. Hoje surgiu essa ideia.” 

Embrionária, a ideia enfrenta várias barreiras. Calendário, formato, participantes e um plano de marketing, com emissoras interessadas. Na visão do blog, o torneio teria vida útil independentemente de uma vaga à Libertadores.

O que você acha da possibilidade de uma reedição da Copa dos Campeões?

2000
Palmeiras 2 x 1 Sport (Maceió)

Palmeiras campeão da Copa dos Campeões de 2000

2001
Flamengo 5 x 3 São Paulo (João Pessoa)
Flamengo 2 x 3 São Paulo (Maceió)

Flamengo campeão da Copa dos Campeões de 2001

2002
Paysandu 1 x 2 Cruzeiro (Belém)
Paysandu 4 x 3 Cruzeiro, 3 x 0 nos pênaltis (Fortaleza)

Paysandu campeão da Copa dos Campeões de 2002