Para a decisão do Campeonato Pernambucano de 2016 a polícia militar destacou mais de 1.000 homens para cada partida, número bem acima da média nos clássicos recifenses. Para reforçar a campanha pela segurança, tema importantíssimo acerca do confronto, a PM convidou quatro jogadores de Santa Cruz e Sport para a produção de um vídeo promocional. Grafite, Tiago Cardoso, Magrão e Everton Felipe gravaram depoimentos para as respectivas torcidas, devidamente fardados de oficiais. Assista.
Grafite: “Alô torcida coral, conto com a sua ajuda para fazer do futebol uma ferramenta de paz em Pernambuco. Juntos seremos todos campeões.”
Tiago Cardoso: “Torcedor tricolor, você é fundamental para o nosso futebol. Torça sem violência.”
Magrão: “Torcida rubro-negra, faça do futebol a sua maior alegria. Vamos juntos torcer em paz por Pernambuco.”
Everton Felipe: “Torcedor rubro-negro, precisamos de você para apoiar o nosso time e promover a paz nos estádios.”
A partir das notas oficiais de Náuticoe Santa Cruz após a confusão entre as torcidas organizadas nos Aflitos é possível entender um pouco a postura de cada clube com um problema histórico no futebol pernambucano.
Na nota alvirrubra, o “desconhecimento” por parte da direção de que a Terror Bicolor havia passado a tarde na sede, a convite dos integrantes da Fanáutico.
“A diretoria do clube fará uma rígida apuração interna dos fatos e tomará todas as providências para identificar os envolvidos e denunciar às autoridades competentes qualquer um que tenha tido participação no lamentável incidente.”
A nota tricolor soou ainda pior. O texto aponta o “extenso histórico de violência” da Terror Bicolor (facção do Paysandu), mas não diz uma linha sequer sobre o mesmo comportamento da Inferno Coral.
“Foi com surpresa que a diretoria do Santa Cruz tomou conhecimento de que a referida torcida (Terror), com um extenso histórico de violência, tinha sido acolhida na sede do Náutico durante a tarde de ontem.”
Segue com o seguinte trecho: “se faz necessário identificar os envolvidos, caracterizando individualmente a ação de cada um”. Claro que isso é importante, mas ao mesmo tempo passa a imagem que a “generalização” caracterizaria a culpabilidade da torcida organizada (visão que só se ‘aplica” à Terror Bicolor).
“Punições genéricas, por mais espetaculares que possam parecer aos olhos da opinião pública, apenas reforçam a sensação de impunidade individual.”
Pois é, o Náutico não sabia que a organizada do Papão estava em sua sede e o Santa não reconhece o histórico de violência da Inferno. Essa miopia beira a conivência. E o Sport neste contexto? Errou bastante, durante anos. Até o presidente do clube, João Humberto Martorelli, iniciar uma cruzada, só em 2015, para romper a relação, com a exclusão de sócios ligados à Torcida Jovem, a proibição do uso da marca, de espaços no clube e até ação na justiça.
Não há margem para clubismo na discussão, sobre um duradouro problema, que tem no estado a maior omissão, com o inoperante serviço de inteligência da secretaria de defesa social e a impunidade quase onipresente na justiça. Um cenário inseguro que vai minando a maioria (de bem) nos jogos de futebol…
Qual é a rivalidade entre Santa Cruz e Paysandu? À parte da disputa N/NE, só no campo. Como pode, após este jogo, no Arruda, ocorrer uma briga generalizada de torcidas dos dois clubes em frente à sede do Náutico (sim, nos Aflitos)? Por mais que as pontas sejam difíceis de atar, há uma explicação.
É o cerne do problema que terminou a com a morte de Paulo Ricardo, atingido por um vaso sanitário no Arruda após Santa x Paraná, em 2014. Ali, também não havia qualquer traço de rivalidade entre os times e suas torcidas. Entre as facções, havia. Inferno x Fúria Independente/Torcida Jovem.
Essa união interestadual é baseada no apoio logístico, como hospedagem, material e transporte nos jogos fora de casa. No início, talvez, uma boa ideia. Hoje, mais um canal para difundir a violência. Não por acaso, se passou um ano e surgiu outro episódio com uma coalização, a Terror Bicolor/Fanáutico.
A cena, registrada por inúmeros moradores do bairro, está longe de ser uma novidade para quem acompanha o futebol pernambucano mais de perto e só deixa a sensação de que qualquer partida é um evento de risco em potencial. Basta haver alguma torcida aliada em jogo. Acredite, sempre há.
E assim, a uniformizada alvirrubra recebe a do Ceará, a rubro-negra (amarela) ajuda a do Remo, a tricolor apoia a do Baêa, mesmo sem jogar, mas com o rival citadino envolvido. E por aí vai. Basta juntar as pontas…
A gratuidade para crianças em jogos de futebol é algo bem antigo no país. A variação neste benefício refere-se basicamente à idade máxima para o benefício. 7, 8, 10, 12 anos? Em cada estádio, uma norma distinta. Mas há a exceção. Na Allianz Parque, inaugurada em novembro de 2014, a diretriz inicial veta a gratuidade. Daí, a polêmica em torno da cobrança de ingresso a um bebê de seis meses. No estádio do Palmeiras, a frase dita pelos funcionários foi “entrou, paga”, pois trata-se de uma propriedade particular. A explicação poderia ser aplicada aos estádios de São Paulo (Morumbi) e Corinthians (Itaquerão), mas ambos liberam o acesso para crianças de até 7 e 11 anos.
Segundo o Procon, a cobrança está respaldada pelo Direito do Consumidor, pois não se estabelece uma idade mínima. Verdão à parte, vamos à situação em Pernambuco. Em qualquer jogo com mando de campo de Náutico, Santa ou Sport há a gratuidade para os torcedores mirins. O menor limite é o do Leão, com “7 anos e 364 dias”, vulgo “8 anos incompletos”. No Tricolor, pré-adolescentes de 12 anos ainda conseguem entrar sem pagar. Em todos os casos, naturalmente é preciso estar acompanhado de um adulto responsável.
As gratuidades nos estádios locais se estende às autoridades (com documentação), um privilégio garantido por lei há décadas, com policiais militares, delegados e juízes podendo assistir a qualquer partida como público geral. A regra também se aplica aos idosos? Não. Neste caso, há o direito à meia-entrada, previsto no Estatuto do Idoso, a partir dos 60 anos de idade. Na capital paulista, o Corinthians libera o acesso para idosos cadastrados.
Gratuidades no futebol pernambucano:
Arena Pernambuco (Náutico)
Crianças – até 8 anos*
Autoridades – policiais militares, delegados e juízes, atletas, ex-atletas, ex-árbitros.
Arruda (Santa Cruz)
Crianças – até 12 anos (incompletos)*
Autoridades – policiais militares, delegados e juízes.
Ilha do Retiro (Sport)
Crianças – até 8 anos (incompletos)*
Autoridades – policiais militares, delegados e juízes.
* A criança deve ser acompanhada de um adulto e ter documento com a idade.
No público detalhado no borderô oficial, entregue à FPF ou CBF, a soma dos “não pagantes” inclui ainda os jornalistas cadastrados para a cobertura. É preciso registrar todos os espectadores para o gasto do seguro obrigatório.
O esquema de segurança da polícia militar delimita um raio de 5 km no entorno do estádio nos clássicos na capital pernambucana. Na Ilha, no Clássico das Multidões que encerrou o hexagonal do título de 2015, o efetivo total foi de 485 policiais, dos quais 344 fora do estádio. A partir desse dado – que varia de jogo a jogo, dependendo da demanda analisada pela própria PM -, vamos aos vídeos abaixo, com um confronto generalizado entre supostos integrantes das duas maiores torcidas organizadas da capital (Jovem e Inferno Coral).
Sim, as uniformizadas locais estão proibidas pela justiça, mas estão “enganando” por aí, com a camisa da mesma cor e a palavra “paz” no peito. Na prática, é exatamente o oposto, com a violência sem limite – gerando excesso da própria polícia. No fim, as cenas de sempre, com pancadaria, vandalismo nas ruas e nos ônibus, corre-corre, tiroteio…
É preciso aumentar o raio de ação, a quantidade de policiais ou a estratégia? Talvez, todas as opções, além da execução da lei, com o veto real às TOs.
A reportagem da TV Clube fez uma varredura no Recife, no raio de ação dos 334 policiais militares destacados no domingo…
Vídeo registrado por um morador de um edifício próximo à Ilha, com a chegada da torcida organizada, com confusão apesar da escolta.
Os metroviários compraram a briga contra a violência no futebol pernambucano.
Sobretudo porque os funcionários vêm sofrendo, há tempos, com as ações dos vândalos nas estações de metrô que cortam a região metropolitana do Recife.
O estopim foi a chuva de pedras numa estação no sábado, 31 de janeiro de 2015, horas antes do Clássico das Multidões entre Santa e Sport, no Arruda.
O trem ficou parado, refém da violência entre supostos integrantes das torcidas organizadas, com vidros quebrados, agressão e ameaça de invasão. As cenas de terror, no Barro, foram registradas pelo próprio maquinista.
No dia seguinte, domingo, a categoria parou as ações na hora do confronto entre Náutico e Salgueiro, na Arena Pernambuco, pelo Estadual. Justamente num estádio construído para ter a rede de metrô como principal acesso.
A princípio, a ação parecia oportunista. Não foi… É, na verdade, um alerta.
Por mais que a paralisação atrapalhe a vida de 200 mil passageiros, por baixo, o ato visa chamar a atenção para algo sério, numa falha de segurança pública.
Veio o jogo seguinte, novamente entre Náutico e Salgueiro, desta vez pelo Nordestão, e nova paralisação dos metroviários. E o anúncio de outra parada já foi feito para o domingo, 8 de fevereiro, no Clássico dos Clássicos.
O estado pode até ignorar o caos, mas tem quem perca a paciência, com razão.
O “pau de selfie”, complemento utilizado em câmeras e celulares para fazer um autorretrato num ângulo mais aberto, transformou-se rapidamente numa mania. Adorado e detestado na mesma intensidade, o objeto levantou polêmicas acerca do comportamento em público. Inclusive no futebol.
Tudo porque torcedores começaram a levar o bastão para os estádios, atrapalhando a visão de muita gente durante os jogos. Os clubes ingleses agiram rapidamente. Em 8 de janeiro, o Tottenham foi o primeiro a proibir o uso em seu estádio. No caso, o White Hart Lane. Outros times seguiram pelo caminho.
A decisão chegou ao Brasil. Um dia após a proibição no Ceará, o veto também foi adotado no futebol pernambucano, a pedido do Batalhão de Choque, por questão de segurança. A administração da Arena Pernambuco já foi comunicada e a decisão se estende às demais praças, como Arruda, Ilha do Retiro, Lacerdão etc.
A decisão será formalizada pela Polícia Militar e pela FPF, aumentando a lista de ítens proibidos, como mastro de bandeira e até guarda-chuva.
Qual é a sua opinião sobre a proibição do “pau de selfie” nos estádios pernambucanos?
O retorno do goleiro Aranha ao estádio do Grêmio surpreendeu. Negativamente.
Após o jogo pela Copa do Brasil, Santos e Grêmio se enfrentaram pela Série A.
E a noite foi de muitas vaias a um jogador. Não, não vamos nem discutir a falácia hipócrita de que eram vaias a um adversário, algo comum no futebol.
O foco foi bem além, dirigido a Aranha e repleto de ironias, com gritos de “alemão”, “branca de neve”. Um racismo velado, difícil de compreender.
Ainda há um outro ponto nessa questão do goleiro, de uma lucidez incrível neste episódio, mais até do que Pelé, que deveria ser um ícone neste combate. Está havendo uma tentativa de a espetacularização do caso de racismo.
Atleta mediano, Aranha não vem conseguindo escapar dos microfones, num volume de perguntas que ignora há dias a questão esportiva.
São seguidas tentativas de reaproximar o goleiro de Patrícia Moreia, a única identificada no duelo anterior entre Grêmio e Santos. Sobre Patrícia, vale dizer que ela deu “azar”. Culpada, mas não era a única xingando na arena.
Como os demais presentes no jogo anterior, pensava estar protegida pelo escudo de um estádio de futebol, onde tudo seria válido pela pressão campal.
Infelizmente, o pensamente parece enraizado em tantos outros torcedores. A vaia da torcida gremista foi de reprovação à queixa de Aranha.
Um prato cheio para alimentar um caso… e somente este caso.
Eles simplesmente não aprendem, porque não é o objetivo…
Torcer de forma organizada, colorindo o estádio, apoiando o time e ditando o ritmo das arquibancadas. Um dia o cenário foi esse. Há tempos não é.
As torcidas organizadas, ou “torcidas uniformizadas”, hoje utilizam o futebol como escudo para disseminar a violência no futebol…
Para cada boa ação, numa tentativa de diminuir a imagem arranhada, inúmeros crimes são noticiados, sempre afastando o grande público.
Brigas, roubos, depredação e até assassinato.
As direções das organizadas – seja qual for a cor do time – alegam que os autores seriam gente infiltrada. Acabam é corroborando com a tese de que não há controle.
Com o tempo surgiram as ramificações das TOs, com “torcidas aliadas” de outros clubes e rivalidades com outras facções. O complexo sistema faz com que torcidas de um mesmo clube se tornem rivais…
Neste domingo, as imagens do canal Premiere captaram ao vivo uma briga entre integrantes da Torcida Jovem e Gang da Ilha, as duas principais organizadas do Leão. Lá em Florianópolis, sob as vaias da torcida do Figueirense.
Mais de 20 jovens trocando socos e ponta-pés – cinco acabaram fichados pela polícia. Tudo pelo comando das arquibancadas, pois não há espaço para divisão. Não para eles.
Dividir o “poder”, a “influência”? Comprometeria a aquisição de novos adeptos, influenciados desde cedo pela “beca”.
Ao clube, sempre com a mão branda, fica o ônus…
A ameaça de perda de mandos de campo na Série A..
E pensar que neste mesmo 2014 o Sport já foi punido pelo STJD (no Nordestão) por casa da mesma torcida… Eles não aprendem. Nem eles e nem o clube.
Pedras já foram arremessadas inúmeras vezes na Ilha do Retiro e no Arruda.
Em jogos de grande público, o perigo aumenta bastante…
Neste ano, ocorreu uma tragédia no José do Rego Maciel, com a morte de Paulo Ricardo, atingido na cabeça por um vaso sanitário, na rua, após a partida entre Santa e Paraná.
O crime aconteceu em 2 de maio. Menos de um mês depois, no dia 25, no Adelmar da Costa Carvalho, um marginal (disfarçado de torcedor?) voltou a atirar uma pedra.
Premeditado? Descontrole? Arruaça? Não importa. É uma dura rotina…
Desta vez, no jogo Sport x Corinthians, o tijolo também foi lançado na área externa do estádio. No caso, a pedra estilhaçou o vidro traseiro do carro do quarto árbitro, Sebastião Rufino Filho.
Felizmente, não havia ninguém dentro do veículo. O que só deixa claro que casos mais graves – ou extremos, como o de Paulo Ricardo – não ocorreram mais vezes, até hoje, quase que por “sorte”.
O criminoso segue sem identificação. À parte disso, o Sport foi citado na súmula do árbitro carioca Péricles Bassols.
Com a denúncia, o Leão deve ir a mais um julgamento neste ano no Superior Tribunal de Justiça Desportiva. O Tricolor já está cumprindo a segunda pena. Por mais emblemático que tenha sido, o assassinato segue indiferente aos marginais.
As pedras, vasos sanitários e reboco continuam sendo atirados da Ilha e do Arruda.
Os clubes continuam indo ao STJD.
E a maior parte dos marginais permanece frequentando os estádios recifenses…