Por Fred Figueiroa*
Em toda a sua a história, o Sport Club do Recife disputou apenas três competições internacionais. Duas Libertadores: Em 1988 e, 21 anos depois, em 2009. Momentos especiais, guardados na memória afetiva dos torcedores e tratados com orgulho pelo próprio clube. Agora em 2013, o Leão disputa a sua primeira Sul-Americana e, nesta quarta – em sua estreia como mandante na Arena Pernambuco – terá a chance de se classificar às quartas de final do torneio. Se conseguir, será a melhor campanha internacional da história do clube. A classificação é difícil, claro.
A derrota por 2 a 0 para o Libertad em Assunção deixa o oscilante time rubro-negro com a missão de repetir o placar para ir aos pênaltis ou vencer por três gols de diferença. Porém, uma das certezas do primeiro jogo foi a limitação técnica do adversário. O placar foi construído em dois escanteios e ambos gerados por erros individuais dos laterais. Em uma noite inspirada – e o Sport já viveu algumas este ano – a reversão do quadro seria plenamente possível.
Porém, a decisão da comissão técnica foi poupar quase todo o time titular para a partida, esvaziando a motivação para a Sul-Americana, contrariando a linha da comunicação do clube, golpeando moralmente a torcida e – consequentemente – aumentando a pressão em cima do elenco para a reta final da Série B. O acesso é tratado internamente como prioridade e existe um diagnóstico do alto desgaste físico de grande parte dos jogadores. Natural. E, a partir desta visão – que não é unânime – até seria aceitável que Geninho poupasse alguns atletas em uma condição de maior risco. Mas oito (talvez nove!)? E até o goleiro?
Fica claro que uma escolha está sendo feita. E o que talvez seja ainda mais frustrante é que sequer há um discurso prometendo dedicação total dos que forem a campo. Pelo contrário. O tom é sempre de esvaziar qualquer expectativa. Contraditório às ações de comunicação e marketing. As redes sociais do clube há dias vêm promovendo e instigando os torcedores para a partida na Arena, enquanto o marketing usou a partida de ida para o lançamento da revista oficial do clube, com 50% do conteúdo em espanhol. E, de repente, a Sul-Americana não vale o sacrifício dos jogadores ou sequer um discurso motivacional para manter ao menos a chama acesa entre os torcedores?
Ao adotar esta postura, Geninho e a diretoria de futebol devem ter a consciência que a escolha traz com ela um altíssimo risco moral. Qualquer resultado que não seja uma vitória sobre o fraquíssimo ASA no sábado resultará em uma crise impossível de contornar. Os próprios jogadores poupados terão sobre eles uma pressão imensa.
É importante ressaltar que esta decisão de ir com 90% do time reserva contra o Libertad é uma consequência do fracasso no planejamento e no desempenho desta Série B. Com o investimento que fez, o Sport tinha a obrigação de estar, no mínimo, com a pontuação da Chapecoense. Se a condição fosse essa certamente veríamos uma equipe jogando 100% na Sul-Americana.
* Fred é o colunista de esportes do Diario de Pernambuco