No Maracanã a diferença técnica era abissal, inacreditável.
Espanha, campeã do mundo e bicampeã europeia. Número 1 no ranking mundial. Aula de futebol a cada apresentação.
Taiti, amadorismo num país minúsculo. Campeão da Oceania, mas em 138º no ranking. Ambos participantes da Copa das Confederações de 2013, no Brasil.
Nunca uma fase final de um torneio senior da Fifa havia colocado frente a frente em campo um contexto assim. A goleada no renovado Maracanã era absolutamente previsível. A dúvida era o resultado final. De quanto seria?
No bolão da redação do Diario de Pernambuco, por exemplo, o pitaco do blog foi um modesto “9 x 0”. Houve aposta com até doze gols espanhóis…
Mesmo atuando com o time reserva e sem pressa alguma para atacar, o time dirigido por Vicente Del Bosque goleou como se esperava, por 10 x 0.
Foi o maior placar já visto num torneio profissional de seleções da Fifa.
Superou o jogo Hungria 10 x 1 El Salvador, na Copa do Mundo de 1982.
Ordem dos tentos húngaros: 4, 11, 23, 50, 54, 69, 70, 72, 76 e 83.
Melhor arranque: 4 gols em 8 minutos.
Ordem dos tentos espanhóis: 5, 31, 33, 39, 49, 57, 64, 66, 78 e 89.
Melhor arranque: 3 gols em 9 minutos.
A diferença acabou sendo o gol salvadorenho anotado por Luis Ramirez…
“Copa do Mundo, não quero não! Quero dinheiro pra saúde e educação!”
Um grito onipresente nas manifestações Brasil afora.
Movimentos populares desde já históricos, com até 100 mil pessoas nas ruas. Iniciados para combater o preço das passagens de ônibus e a PEC 37.
Rapidamente, ganharam corpo e foram bem além, numa massiva ação contra a corrupção no país, contra a falência dos serviços públicos.
A Copa do Mundo, com o enorme gasto estipulado em R$ 30 bilhões, numa conta ainda não fechada e já superior ao dos últimos três Mundiais, somados, entrou na gama de reivindicações devido à infindável farra de dinheiro público.
Apoio a manifestação nacional, pois é mesmo necessário “acordar o gigante”. Não é nem preciso explicar o quanto poderia ser melhor o Brasil.
Sobre a Copa, contudo, discordo. O Mundial em si não me parece o problema.
A gestão dos recursos, sim. A economia brasileira é a sétima maior do mundo, com um PIB de US$ 2,396 trilhões. Há dinheiro para Copa, que é de fato uma conquista para o país e para a população, e sobretudo para saúde e educação.
Novas arenas foram erguidas, num ganho em estrutura. Os aditivos, escorrendo em quase todas as arquibancadas do Brasil, é que não estavam na conta – ainda mais com a promessa de mais capital privado. Somente os seis palcos da Copa das Confederações custaram 33,1% a mais que a previsão inicial.
Com ou sem Copa haveria recursos para saúde, educação, transporte, segurança etc. Infelizmente, existe numa escala maior a má administração pública da verba. O superfaturamento é visto há tempos em hospitais e escolas.
Portanto, me posiciono a favor da Copa do Mundo aqui, mas sem esquecer, por um segundo sequer, das verdadeiras necessidades de um país ainda em desenvolvimento. Daí, a corruptela do grito popular.
Se a manifestação visa o fim da corrupção enraizada, isso se estende à própria organização do Mundial, mas não ao torneio, confirmado desde 2007.
Relembrando uma certa frase de Nelson Rodrigues…
“Das coisas menos importantes, o futebol é a mais importante.”
Sobre o Recife, enfim a participação da capital pernambucana. É uma cidade gigante e que não poderia ficar ausente num momento tão especial da nação.
A Arena Fonte Nova recebe o seu primeiro jogo na Copa das Confederações nesta quinta. Uruguai e Nigéria duelam pelo grupo B, num jogo importante para as pretensões das duas seleções em passar para a fase seguinte.
Será a vez da capital baiana e do seu estádio, colocado a baixo e reconstruído para as Copas do Mundo e das Confederações, passarem pelas provas que outras cidades já passaram, como o Recife. Mobilidade, acesso do público ao estádio, sinalização, conforto. É, também, uma espécie de preparação para o grande jogo que ocorrerá na Arena Fonte Nova: Brasil x Itália, no sábado.
Graças à colocação de uma arquibancada móvel, a capacidade da Arena Fonte Nova passou de 50 mil para 55 mil torcedores. Nesta quinta o estádio deverá receber pouco mais de 15 mil pessoas. Para o sábado, a previsão ainda não é de lotação máxima. Na última parcial, haviam sido vendidos 40.719 ingressos.
Assim como os demais estádios que receberam o torneio, a arena passou a última semana acertando os últimos detalhes. Muita coisa acabou sendo deixada para última hora. Na quarta-feira, funcionários pintavam o piso de algumas áreas. No entorno, máquinas trabalhavam a todo vapor. Há muito entulho nas proximidades que, dificilmente, será retirado a tempo da estreia.
Fica a expectativa que tudo esteja pronto para a partida da Seleção no sábado.
* Alexandre Barbosa é o enviado especial do Diario a Salvador
As mudanças na organização foram pontuais, tanto na mobilidade do público quanto na operação da arena, mas necessárias para uma transformação.
O duelo entre italianos e japoneses foi superior não só no gramado como em todo o contexto de gestão em relação ao primeiro jogo no estado, entre espanhóis e uruguaios. Em campo nesta quarta, como se sabe, uma partida movimentadíssima do primeiro ao último instante, com sete gols e aplausos incessantes no fim.
Fora, a torcida também foi bem tratada, como deveria ser sempre, vale ressaltar, mas como todos esperavam que tivesse acontecido sobretudo no domingo, na primeira partida da Copa das Confederações por essas bandas.
Desta vez, o deslocamento do público teria a concorrência da rotina normal da cidade, no meio de semana. O ponto facultativo dos servidores não foi suficiente para esvaziar as ruas, como acontecera na primeira rodada.
Considerando isso e o fato de que o borderô foi quase o mesmo, com 40.489 pessoas, contra 41.705 de três dias atrás, como poderia melhorar?
Acredite, melhorou. A repercussão da estreia foi incrível. Incrivelmente negativa, diga-se. Só a postagem do blog foi compartilhada 1.400 vezes no facebook (veja aqui).
Mas os relatos dos torcedores mudaram. Fizeram questão de comentar nas redes sociais sobre o tempo gasto para ir e voltar. Vários com até uma hora a menos em cada trecho. Muitos com experiência nos dois jogos, no mesmo roteiro.
Nada de ideias geniais para mudar a execução do transporte. Na verdade, foram medidas óbvias, que muitos cansaram de citar, inclusivo o blog. Com atraso, mas antes tarde do que nunca, foram tomadas pelo governo do estado. Vale citar algumas, até para comprovar que eram ideias simples.
A mais importante delas foi gerar uma vazão maior na Estação Cosme e Damião, cuja escada da plataforma, minúscula, era inviável para o desembarque de 1.100 pessoas a cada trem.
Foram colocadas duas saídas provisórias na estação, evitando aglomeração. Evitou também o efeito cascata, pois os outros trens não precisaram ficar retidos nas estações até que a estação mais próxima à arena fosse liberada, como anteriormente. Também ajudou no sincronismo metrô/ônibus, uma falha irritante.
Na chegada ano complexo da arena, a revista de segurança na torcida foi bem maior. Um por um. Possivelmente porque havia mais tempo. Antes, com a fila abarrotada, ou liberava os torcedores ou eles não assistiriam à Fúria.
Dentro do estádio, aleluia, lixeiras foram colocadas no banheiros – tinha como ser mais óbvio?. Lixeiras também no entorno. O torcedor precisa ter um mínimo de educação, mas esse estímulo também precisa existir, como contrapartida. O foco foi maior na limpeza.
Nos bares, a venda de produtos foi descentralizada. Refrigerante, cerveja e pipoca puderam ser encontrados em quiosques nos corredores e com vendedores equipados com mochilas, desobstruindo as lanchonetes
Na saída do jogo, com a enorme massa humana mais uma vez no gradil até o ponto de ônibus expresso para a estação de metrô, mais policiais. Ou seja, mais organização e uma fila de fato.
Paralelamente a esse caminho via metrô foi criado um segundo estacionamento, somado ao Parqtel. Na verdade, foi utilizado o espaço da UFPE, com ônibus através da BR-408, uma estrada duplicada para a Copa e que parecia bastante subutilizada até então. A rodovia federal se mostrou essencial. Isso, claro desafogou o metrô.
Pois é. Nenhuma medida mirabolante foi tomada. Bastava ouvir o próprio público.
A nota 8 dada pela Secopa na estreia foi irreal. Desta vez sim, um legítimo 8.
A Itália de sempre. Uma equipe forte, que se renova com boas gerações, mas que não perde sob hipótese alguma o desejo por um bom drama. A história do futebol no País da Bota é temperada com heróis inesperados, viradas desconcertantes e muita categoria.
Na Arena Pernambuco, a Azzurra precisou superar a torcida local em peso a favor dos surpreendentes japoneses, numa excelente atuação, e venceu de virada por 4 x 3, na partida mais emocionante da Copa das Confederações até aqui.
Com pizza e sushi o banquete foi grande nesta noite, de futebol. Foram servidos gols de todos os tipos. Chute forte, cabeça, pênalti, gol contra e gol impedido, corretamente anulado. Pela ordem, Honda, Kagawa, De Rossi, Uchida (contra), Balotelli, Okazaki e Giovinco, no finzinho.
Para ser justo, o prato cheio não foi só pela quantidade de gols, mas pelas bolas na trave, pela entrega em campo, com dois times brigadores, que criaram inúmeras oportunidades em campo.
Em campo estavam de fato línguas bem distintas, mas unidas no objetivo de proporcionar um bom espetáculo ao estádio tomada por 40.489 torcedores. Um molho a mais num jogo especial. No fim, vimos novamente aquele esporte em que a Itália saboreia a vitória na base da superação.
Os produtos oferecidos na Arena Pernambuco estão realmente acima dos preços conhecidos nos estádios de futebol do país.
Um latão de cerveja Brahma por R$ 9… Um latão de Budweiser por R$ 12.
Mas as filas no primeiro jogo na Copa das Confederações mostraram que o público parece disposto a consumir mesmo assim. Tanto que antes do fim do primeiro tempo muitos produtos já haviam esgotado nas prateleiras.
Mas vamos a um outro ponto, a qualidade da comida oferecida. O registro acima é do cachorro-quente vendido na arena no jogo Itália x Japão.
Pão e salsicha, sem molho, por R$ 8. Nem tão Padrão Fifa assim…
Inferior a qualquer barraquinha no entorno do Arruda, Ilha do Retiro ou Aflitos.
A exibição da partida entre brasileiros e mexicanos num telão na Arena Pernambuco e os incessantes pedidos da organização para que o público chegasse cedo, evitando o tumulto do domingo, criou uma atmosfera diferente no estádio nesta quarta.
Assim como primeiro jogo em São Lourenço da Mata, muitos vestiram a camisa verde e amarela num dia sem o Brasil em campo, oficialmente. Contudo, com o gramado vazio, os olhos se voltaram para os dois telões de LED do moderno estádio, com 77,4 metros quadrados cada.
Olhos atentos e comportamento semelhante ao de um jogo “in loco”. Com aplausos, “uhhh” a cada bola raspando a trave e vibração no golaço de Neymar, lá no Castelão, em Fortaleza.
A transmissão da partida foi uma reprodução da Rede Globo, com narração de Galvão Bueno – num potente sistema de som da arena -, devido ao contrato de licenciamento da emissora. Mas como a Fifa também tem seus contratos, no intervalo do jogo o sinal foi cortado, voltando apenas após o reinício…
Tempo para a arquibancada da Arena apanhar ainda mais gente torcendo pelo Brasil, mesmo a 788 quilômetros de distância do verdadeiro campo de jogo…
No fim, um barulho daqueles na jogadaça de Neymar para o 2 x 0.
No enorme centro de imprensa da Arena Pernambuco chama a atenção os diferentes perfis dos jornalistas escalados para a Copa das Confederações.
Espanhóis, uruguaios, japoneses e italianos. Uma rápida circula e a diferença de comportamento e modo de trabalho impressionam.
A imprensa espanhola se notabilizou pelas perguntas mais técnicas acerca da Fúria, como o desfalque de Xabi Alonso e a consequência a médio prazo. Foram mais de 60 jornalistas acompanhando a seleção desde a chegada o avião da Ibéria no Aeroporto dos Guararapes.
Já a mídia uruguaia concentra-se em Montevidéu, a capital que engloba quase metade da população do país, de 3,3 milhões de habitantes. Talvez por isso as entrevistas tenham virado “conversas” com o maestro Oscar Tabárez, que parecia conhecer bem os seus interlocutores – 18 ao todo -, acostumados nas coberturas de Peñarol, Nacional e federação.
Apesar de nomes com Vicente Del Bosque, Xavi, Casillas e Tabárez, as coletivas do primeiro jogo no estado não foram tão concorridas. Não no Recife.
Não se comparadas às entrevistas dos italianos, com uma imprensa esportiva tradicionalíssima. Quente nas manchetes, passional como todo o país da bota. Um contraste enorme com os profissionais nipônicos, adversários na quarta-feira na mesma Arena Pernambuco.
Num auditório cheio, se ouvia bastante os eloquentes italianos e nem um pio dos japoneses, mantendo viva a imagem de disciplinados.
Sobre as perguntas, os italianos vão para o choque, com direito a introduções (“Sei que o assunto é delicado, mas não fique em cima do muro”).
Não se intimidam e insistem nas perguntas. Naturalmente, jogadores e técnicos também parecem acostumados ao contexto e não privam de declarações mais fortes. Pelo menos foi assim com Cesare Prandelli e Daniele de Rossi.
Quanto aos japoneses, com quase 300 credenciados no Brasil, um dinamismo nas matérias, mais observadores, talvez pela imposição da língua.
Não durou um dia o discurso de que o plano de mobilidade para a Copa das Confederações seria mantido no Recife.
A agenda negativa de domingo para segunda, com o esquema asfixiado no jogo entre espanhóis e uruguaios, e de segunda para terça, com a manutenção do projeto, acabou resultando numa operação a 200 km/h para um novo esquema.
No entanto, é curioso que esta ideia não tenha sido apresentada já na segunda, quando uma coletiva com diversos órgãos foi organizada no Centro de Convenções.
Na ocasião, o nome do governador do estado não foi nem citado.
A nota da funcionalidade do plano havia sido um “8”, surreal para enfrentou o metrô – e foram mais de 30 mil entre os 41 mil torcedores presentes.
Somente no dia seguinte Eduardo Campos se pronunciou, já anunciando um novo plano, após contato com o Comitê Organizador Local (COL) e com a Fifa.
Conforme sugerido inúmeras vezes – inclusive pelo blog, na própria coletiva – , haverá uma maior utilização da BR-408, que após a duplicação só havia ficado à disposição das comitivas oficiais da Fifa e do estacionamento Parqtel, com 2.100 vagas.
Agora, um “novo” estacionamento, na UFPE, agregando até 6 mil torcedores com 120 ônibus expressos ao estádio, por R$ 10. E o caminho citado por muitos…
Salvador da pátria agora? Talvez seja a imagem articulada nos meandros para o seu próprio campeonato, em 2014.