Os pedidos de paz de tricolores e rubro-negros

Mensagens de paz de Santa Cruz e Sport antes do primeiro Clássico das Multidões de 2015. Crédito: facebook/reprodução

Quis o destino – e a FPF – que a primeira rodada do hexagonal decisivo do Campeonato Pernambucano de 2015 tivesse de cara o clássico mais popular da cidade no maior estádio. Numa tentativa de começar o ano sem problemas, as duas diretorias investiram em campanhas de paz em suas páginas oficiais no facebook.

“Lembrando a todos que forem ao Arrudão, vá na paz, sem violência!”

“Rivalidade não é inimizade! A disputa de jogo é apenas entre as quatro linhas!”

Mensagens de tricolores e rubro-negros, respectivamente.

Ultimamente, os ânimos estão bem acirrados nos clássicos entre Santa Cruz e Sport, com muito trabalho para polícia, mesmo com a proibição das torcidas organizadas – que acabam driblando o veto e entrando do mesmo jeito.

Para o primeiro embate oficial do ano, a Secretaria de Defesa Social destacou 400 policiais. É o menor número nos últimos 26 clássicos no Recife, e a justificativa é a concorrência de outros polos de carnaval espalhados pela cidade.

Portanto, fica a torcida pela paz… até porque ainda estamos em janeiro.

Tem jogo demais pela frente.

Confira as duas imagens numa resolução maior aqui e aqui.

A palavra estava na garganta. Ao ser dita, que exista uma punição real ao racismo

A palavra é clara, a identificação é simples.

Separada por uma grade, a poucos metros do campo, uma torcedora gremista gritava “macaco” para o goleiro santista, Aranha.

O goleiro avisou, mas o árbitro fez vista grossa e até repreendeu o atleta. E os xingamentos continuaram na geral.

As câmeras de tevê captaram outros torcedores no mesmo setor imitando macacos.

E assim voltamos à estaca zero.

Relembrando alguns textos já publicado no blog sobre o assunto, já passamos das bananas arremessadas em campo, com uma senhora resposta do jogador brasileiro, ao racismo nas redes sociais e campanhas de conscientização.

A incrível resposta de Daniel Alves ao racismo

A necessidade de impor uma punição ao racismo no futebol brasileiro

Perdendo a compostura em castellano por causa de futebol 

Apesar disso tudo, o cenário não parece mudar, nem no exterior nem aqui, até porque já está bem enraizado em alguns…

A punição de mando de campo ao clube não basta, a proibição no estádio (bebidas e bandeiras) também não.

Pois, desta forma, as partidas vão se moldando à violência e seguimos empurrando o problema para debaixo do tapete.

A solução não é simples, mas é incrível que até hoje o infrator tenha penas tão brandas, como se o crime dentro de um estádio de futebol tivesse um peso menor do que nas ruas. Como se tivesse uma liberdade de 90 minutos para apresentar o pior de si.

É óbvio que não tem. Se não há controle, isso, sim, precisa ser melhorado. Investigação e punição, nas esferas cível e penal.

A palavra dita pela torcedora estava na garganta dela faz tempo… presa.

Afinal, esse processo é bem mais longo. É cultural, infelizmente.

Ao ser proferida a palavra, que aguente as consequências. Aliás, que as consequências existam.

Jovem (Sport) x Gang da Ilha (Sport), a inexplicável e corriqueira briga, até em Florianópolis

Briga entre integrantes de de torcidas uniformizadas do Sprot durante Figueirense x Sport, pela 13ª rodada da da Série A 2014. Foto: Luiz Henrique/Figueirense/Flockr

Eles simplesmente não aprendem, porque não é o objetivo…

Torcer de forma organizada, colorindo o estádio, apoiando o time e ditando o ritmo das arquibancadas. Um dia o cenário foi esse. Há tempos não é.

As torcidas organizadas, ou “torcidas uniformizadas”, hoje utilizam o futebol como escudo para disseminar a violência no futebol…

Para cada boa ação, numa tentativa de diminuir a imagem arranhada, inúmeros crimes são noticiados, sempre afastando o grande público.

Brigas, roubos, depredação e até assassinato.

As direções das organizadas – seja qual for a cor do time – alegam que os autores seriam gente infiltrada. Acabam é corroborando com a tese de que não há controle.

Com o tempo surgiram as ramificações das TOs, com “torcidas aliadas” de outros clubes e rivalidades com outras facções. O complexo sistema faz com que torcidas de um mesmo clube se tornem rivais…

Neste domingo, as imagens do canal Premiere captaram ao vivo uma briga entre integrantes da Torcida Jovem e Gang da Ilha, as duas principais organizadas do Leão. Lá em Florianópolis, sob as vaias da torcida do Figueirense.

Mais de 20 jovens trocando socos e ponta-pés – cinco acabaram fichados pela polícia. Tudo pelo comando das arquibancadas, pois não há espaço para divisão. Não para eles.

Dividir o “poder”, a “influência”? Comprometeria a aquisição de novos adeptos, influenciados desde cedo pela “beca”.

Ao clube, sempre com a mão branda, fica o ônus…

A ameaça de perda de mandos de campo na Série A..

E pensar que neste mesmo 2014 o Sport já foi punido pelo STJD (no Nordestão) por casa da mesma torcida… Eles não aprendem. Nem eles e nem o clube.

Os primeiros torcedores banidos do Recife

Torcedores banidos do Arruda. Crédito: Santa Cruz/assessoria

A morte do torcedor Paulo Ricardo Gomes foi esclarecida pela polícia civil, que prendeu os três suspeitas. Everton Filipe Santiago, Luiz Cabral de Araújo e Waldir Pessoa Firmo confessaram o crime ocorrido em 2 de maio, a saída do Arruda, quando jogaram um vaso sanitário na cabeça da vitíma.

Agora, duas semanas depois, o presidente coral, Antônio Luiz Neto, assinou uma nota oficial do Santa Cruz banindo os três das dependências do clube.

Everton, Luiz e Waldir já estão presos…

Portanto, o ofício parece mais uma resposta ao público. De qualquer forma, é um caso inédito na história do futebol local.

As ramificações das uniformizadas com a Jovem, Inferno Coral e Fanáutico

Torcidas organizadas no futebol brasileiro

A Jovem (Sport) é parceira da Camisa 12 (Inter), que é rival da Geral (Grêmio), que é aliada da Fanáutico (Náutico), que por sua vez alimenta uma rivalidade com a Inferno Coral (Santa), parceira da Galoucura (Atlético-MG), que é inimiga da Máfia Azul (Cruzeiro), facção ligada à Jovem (Sport)… Entendeu? Pois é.

A cena é comum no Recife, em Salvador, São Paulo, Porto Alegre ou qualquer outra grande capital. A torcida organizada visitante, de outro estado, recebe o apoio da uniformizada do rival local do adversário. Um complexo e perigoso trato baseado nas ramificações das “torcidas organizadas aliadas”.

Existem seis grandes grupos, que acirram ainda mais as rivalidades, até em clubes sem tradições do tipo. Como, por exemplo, Santa Cruz x Paraná, no Arruda. A Fúria do Paraná é parceira da Jovem do Sport, que integra também a “união do punho cruzado”. Por isso, recebeu o apoio logístico (hospedagem, material e transporte) da facção pernambucana, incluindo a presença de membros.

O fato acabou levando à presença de Paulo Ricardo na fatídica partida

Em quase todos os jogos o cenário se repete, com maior ou menor intensidade, dependendo do tamanho da “TO”. Abaixo, as ramificações dos maiores grupos do estado, em ação nos bastidores à parte da proibição da justiça nos estádios.

Torcida Jovem (Sport) – 90 mil membros
Principais aliadas: Máfia Azul (Cruzeiro), Independente (São Paulo), Jovem Fla (Flamengo) e Camisa 12 (Inter)

Torcidas uniformizadas aliadas da Torcida Jovem (Sport)

Inferno Coral (Santa Cruz) – 80 mil membros
Principais aliadas: Força Jovem (Vasco), Galoucura (Atlético-MG), Bamor (Bahia) e Mancha Azul (CSA).

Torcidas uniformizadas aliadas da Inferno Coral (Santa Cruz)

Fanáutico (Náutico) – 20 mil membros
Principais aliadas: TUP (Palmeiras), Geral (Grêmio), Jovem (Botafogo) e Cearamor (Ceará)

Torcidas uniformizadas aliadas da Fanáutico (Náutico)

Dilma Rousseff lamenta a morte de Paulo Ricardo e sugere delegacia que já existe

Tuitadas da presidente Dilma Rousseff sobre a morte de um torcedor no Arruda. Crédito: twitter/reprodução

A morte do torcedor Paulo Ricardo, atingido por um vaso sanitário, teve repercussão internacional, a menos de quarenta dias da Copa do Mundo.

Neste domingo, dois dias após o assassinato, ocorrido no fim de um jogo no Arruda, a presidente da república, Dilma Rousseff, se pronunciou.

Em cinco mensagens publicadas em sua conta no twitter, a presidente brasileira pediu paz e reforçou a criação das delegacias especializadas.

Ao que parece, a presidente se esqueceu que Pernambuco já conta com a delegacia de repressão à intolerância esportiva, criada em 21 de junho de 2013 (veja aqui).

Sobre a delegacia especial, o seu primeiro ponto:

a) prevenir e reprimir, com exclusividade no município do Recife e Região Metropolitana, as agressões à ordem pública oriundas de torcidas organizadas em grandes eventos esportivos.

Mesmo assim o caso segue sem solução…

As imagens da violência inacreditável no futebol

A descrição era inacreditável.

Torcedor morre atingido por um vaso sanitário.

No dia seguinte ao lamentável episódio na saída do Arruda, a Secretaria de Defesa Social (SDS) divulgou o vídeo com o momento exato do crime. Imagens captadas pelas câmeras do órgão, na Rua das Moças.

Mesmo vendo, segue difícil de acreditar que o futebol chegou a isso.

Que o futebol pernambucano chegou a isso…

Arruda interditado preventivamente. Julgamento deve piorar a situação

CBF interdita preventivamente o Arruda

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva deverá oferecer denúncia contra o Santa Cruz sobre a morte do torcedor após o jogo contra o Paraná.

Entretanto, de forma preventiva, a CBF já puniu o Tricolor…

O Arruda está interditado, através de decisão administrativa publica pela entidade.

Os corais deverão atuar na Arena Pernambuco, cujo acordo para uma partida, contra a Luverdense, já estava assinado.

Resta saber agora o tamanho da possível (provável) punição ao clube.

Em caso de jogos com portões fechados, como preza a nova diretriz do STJD – aplicada inclusive no Sport na Copa do Nordeste -, nem a Arena seria a solução…

Vítima fatal na violência sem controle do futebol pernambucano

Morte de torcedor no Arruda em 2 de maio de 2014. Foto: Yuri de Lira/DP/D.A Press

Um torcedor foi morto na rua ao ser atingido por um vaso sanitário arremessado do alto do estádio do Arruda.

A frase é surreal.

A partida entre Santa Cruz e Paraná teve um público baixíssimo, apesar dos 8.029 torcedores anunciados. Provavelmente contabilizando a troca do Todos com a Nota, mesmo com muitas pessoas desistindo de ir ao jogo por causa da forte chuva na cidade.

Mesmo assim, mesmo vazio, o estádio foi palco de cenas de violência, com brigas de supostos membros de torcidas organizadas.

Acredite, não foi a primeira vez que lançaram uma privada do anel superior do Arruda. Na Ilha do Retiro já fizeram algo parecido.

Desta vez, infelizmente, a tragédia anunciada há tempos aconteceu.

Uma vítima fatal, mais uma no futebol pernambucano, com uma indecente política pública de segurança. O primeiro homicídio com uma relação direta ao futebol local aconteceu em 18 de março de 2001, num confronto entre Jovem e Fanáutico. Desta vez, Inferno Coral versus a uniformizada visitante, com apoio de membros da Jovem, numa ramificação que se estende a quase todas facções do país.

Esse tema, com o uso do futebol como proliferação da violência por parte das organizadas, é recorrente. A segurança nos jogos, sobretudo na capital, precisam da mão firme do governo do estado, há tempos ignorando o cenário caótico.

O planejamento é baseado no aumento do efetivo, no choque. Investigação? É algo quase nulo. Prisão? Inexistente.

Assim, Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos, morador do Pina e torcedor do Sport, entra na estatística como mais uma vítima da violência no futebol.

Uma morte difícil de aceitar, mas cujos indícios eram evidentes…

Morte de torcedor no Arruda em 2 de maio de 2014. Foto: Yuri de Lira/DP/D.A Press

Ação policial contra cambista na Arena Pernambuco, nas câmeras de segurança

A ação ilegal de cambistas é algo bem antigo no futebol pernambucano.

E em qualquer estádio… Por mais que se tenha conhecimento da prática, o combate é quase sempre escasso. Na Arena Pernambuco, os cambistas já começaram a aparecer. Porém, há um trabalho bem definido para esse crime.

O Centro de Controle Operacional (CCO) da arena dispõe de um sistema de segurança para a identificação de cambistas. Tudo a partir das 260 câmeras instaladas no complexo e do trabalho em conjunto com representantes da polícia militar, guarda municipal, bombeiros e polícia rodoviária federal. O monitoramento vale também na área interna, contra o vandalismo.

O blog obteve o passo a passo de uma ação contra cambistas. Confira.

Ato 1: Na entrada principal do estádio, na ala sul, os operadores identificam um suspeito através da câmera com visão panorâmica.

Ato 1 no combate aos cambistas na Arena Pernambuco, com a identificação

Ato 2: O policial militar mais próximo é comunicado, se aproximando do cambista, sem despertar atenção, do infrator ou do público.

Ato 2 no combate aos cambistas na Arena Pernambuco, com a aproximação da Polícia Militar

Ato 3: Ao confirmar a ação do suspeito, o policial chama outros PMs via rádio, com o objetivo de fechar o perímetro. Neste momento, a câmera aumenta o zoom, focando só a ação.

Ato 3 no combate aos cambistas na Arena Pernambuco, com a comunicação do policial a outros oficiais da PM

Ato 4: Com o reforço na área, enfim acontece a abordagem ao suspeito.

Ato 4 no combate aos cambistas na Arena Pernambuco, com a abordagem policial

Ato 5: O cambista é encaminhado imediatamente ao Juizado Especial do Torcedor, o Jetep, na própria Arena Pernambucano, sendo autuado em flagrante.

Ato 5 no combate aos cambistas na Arena Pernambuco, com o suspeito detido e encaminhado ao Juizado do Torcedor