Ao simplesmente tocar na bola, o volante Tinga, do Cruzeiro, escutava das arquibancadas a mudança no comportamento da torcida.
Em vez de gritos de incentivo e músicas sobre o clube local, escutava-se um som emulando um macaco.
Sem a bola dominada por Tinga, negro e campeoníssimo no futebol, os gritos mudavam rapidamente, voltando ao “alento” tradicional.
Isso ocorreu no Peru, pela Taça Libertadores da América.
Infelizmente, não é um caso isolado. A cena racista – um caso de polícia – já foi repetida inclusive em estádios no Brasil.
No dia seguinte ao episódio, a CBF lançou a campanha “Somos Iguais”. Semelhante ao Respect, adotado pela Uefa.
Somos iguais sim, desde sempre, por mais que a história tenha trilhado um caminho perverso até um século atrás.
No futebol, no entanto, ainda falta algo mais prático para dar fim a isso.
Os episódios se repetem, a indignação toma conta, levanta o debate mais uma vez e, quase sempre, fica por isso mesmo.
Como na sociedade, falta a punição ao racismo. Perda de mando de campo? Perda de pontos na classificação? Suspensão? Multa? Quem sabe até, todas as respostas anteriores.
E pensar que o futebol deveria ter o fair play como ponto de partida…
O Náutico disputou a Série A do futebol brasileiro em 2012 e 2013. No primeiro ano, uma boa campanha, com o 12º lugar e a vaga na Copa Sul-Americana. Na segunda temporada, a última colocação, com o rebaixamento.
No biênio, contudo, o clube teve a maior receita de sua história. Com dados fechados, o orçamento de 2012 foi de R$ 41 milhões, mais que o dobro do ano anterior, quando o Timbu disputou a segundona, com R$ 19,2 milhões.
Mesmo com esse cenário, o clube terminou bem no vermelho…
A gestão de Paulo Wanderley foi encerrada, entrando no lugar Glauber Vasconcelos, eleito representando o Movimento de Transparência Alvirrubra.
Fazendo justiça ao nome, o MTA apresentou um balancete dos últimos dois anos. A prestação final deve ser publicada até março no Diário Oficial do Estado.
Nos dois anos mais robustos do Alvirrubro, um incrível déficit de R$ 14.774.879.
Pendências no futebol profissional, no departamento administrativo, em acordos judiciais e extrajudiciais, luvas de atletas, comissionamentos, parcelamentos fiscais e obrigações fiscais. Para se ter ideia, só com os atletas a dívida é de R$ 4,8 milhões. Bronca é dever R$ 378 mil a empresários de jogadores…
Alguns pontos surpreendem nesse anúncio. Primeiramente, o fato de o déficit oficial de 2012 ter sido de R$ 392.993, o que leva a uma conclusão (rasa?) de que somente em 2013 o rombo foi de R$ 14.381.886!
Ampliando o caos, lembremos dos aportes da Arena Pernambuco, em seu primeiro ano de contrato, e da venda do lateral-esquerdo Douglas Santos, que rendeu cerca de 4 milhões de reais, na maior negociação da história do clube.
Voltando ao presente, em 2014, o Náutico terá uma Série B pela frente, com uma sensível redução nas receitas, sobretudo nas cotas de televisão.
Nota-se que a situação financeira não é das melhores…
Saiba mais sobre os balanços de Náutico, Santa e Sport em 2011 e 2012 aqui.
Santa Cruz e Náutico voltam a disputar a Série B juntos depois de nove anos. A última edição com os integrantes do Clássico das Emoções foi em 2005.
Portanto, esta será a primeira vez na era dos pontos corridos, com 38 rodadas, ofertando quatro vagas à elite. Agora, já com os caminhos definidos através da tabela divulgada pela CBF, incluindo entre os vinte participantes a Portuguesa, rebaixada após decisão do STJD.
As estreias pernambucanas serão em 19 de abril, um sábado, com Bragantino x Náutico e Santa x ABC. Já a última rodada, em 29 de novembro, outro um sábado, terá Náutico x Ponte Preta e Atlético-GO x Santa. Os clássicos locais acontecerão na 15ª rodada, no Arruda, e na 34ª rodada, na Arena Pernambuco.
O Tricolor já conseguiu três acessos à elite nacional, em 1992, 1999 e 2005. Esta será a sua 16ª participação na competição.
O Alvirrubro também conquistou o acesso ao Brasileirão em três oportunidades, em 1988, 2006 e 2011. Agora, disputará a segundona pela 15ª vez.
Os três grandes clubes pernambucanos estrearam oficialmente na temporada em dias distintos. Ou seja, foi possível assistir ao vivo a todos os jogos, válidos pelo Nordestão. Na largada de 2014, a situação de praxe, com equipes em processo de formação, técnica e física, com várias estreias. Novas caras, tanto nas contratações quanto da base.
No caso de tricolores, alvirrubros e rubro-negros, vale o registro do primeiro time titular de cada um. Até como um comparativo com a equipe no fim do ano, pois os três terão uma jornada cheia, com pelo menos 56 jogos, incluindo Copa do Nordeste (6), Pernambucano (10), Copa do Brasil (2) e Brasileiro (38).
Em caso de boas campanhas em todos torneios, o número pode chegar a 78 partidas, contando regional (12), estadual (14), Copa do Brasil (14) e nacional (38). Ainda há a Sul-Americana, ao alcance de qualquer um, de 2 a 10 jogos.
Os elencos iniciais devem ser abastecidos para aguentar tamanha maratona. Quantos nomes do seu time devem terminar o ano na titularidade?
Santa Cruz 3 x 2 Vitória da Conquista-BA (18/01, Estádio Lacerdão, Caruaru)
Equipe (4-4-2): Tiago Cardoso; Oziel, Everton Sena, Renan Fonseca e Tiago Costa; Sandro Manoel, Luciano Sorriso, Natan e Raul; Renatinho e Flávio Caça-Rato. Técnico: Vica
Formação: Luciano Sorriso, Sandro Manoel, Everton Sena, Flávio Caça-Rato, Renan Fonseca e Tiago Cardoso (em pé); Agachados: Raul, Tiago Costa, Natan, Renatinho e Oziel (agachados)
Botafogo-PB 1 x 1 Sport (19/01, Estádio Almeidão, João Pessoa)
Equipe (4-4-2): Magrão; Patric, Oswaldo, Ferron e Marcelo Cordeiro; Rodrigo Mancha, Rithely, Naldinho e Ailton; Sandrinho e Felipe Azevedo. Técnico: Geninho
Formação: Magrão, Naldinho, Ferron, Rodrigo Mancha, Oswaldo e Marcelo Cordeiro (em pé); Rithely, Felipe Azevedo, Ailton, Patric e Sandrinho (agachados)
Náutico 1 x 1 Guarany-CE (20/01, Arena Pernambuco, São Lourenço)
Equipe: (4-5-1): Gideão; João Ananias, William Alves, Romário e Gerley; Elicarlos, Rodrigo Possebon, Dê, Túlio e Zé Mári; Renato. Técnico: Lisca
Formação: Túlio, Romário, Rodrigo Possebon, William Alves, Gerley e Gideão (em pé); Dê, Elicarlos, Zé Mário, Renato e João Ananias (agachados)
Uma grave denúncia para sacudir de vez o Campeonato Brasileiro.
Ainda estamos na edição de 2013, interminável ao que parece.
A reportagem do canal ESPN Brasil teve acesso a um documento que teria sido enviado pela CBF à diretoria da Portuguesa. Uma proposta, na verdade.
A Confederação Brasileira de Futebol teria oferecido um adiantamento de R$ 4 milhões ao clube paulista. Para isso, a Lusa teria que renunciar de forma “irrevogável e irretratável” ao direito de disputar a Série A em 2014 e a qualquer decisão favorável no poder judiciário, caso lhe seja concedido.
Na elite, o clube ganharia (ganhará) uma cota de transmissão na televisão de R$ 21 milhões. Na segundona, o montante cairia (ou cairá) para R$ 3 milhões.
Pelo tamanho da preocupação da CBF no texto, nota-se que foi um tanto frágil a decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), retirando os pontos da Lusa e rebaixando a equipe em vez do Fluminense, ao ignorar a redação da lei federal.
A tal proposta indecente ainda tinha uma cláusula de confidencialidade. Porém, o escândalo já parece consumado.
Enquanto isso, o número de participantes no Brasileirão segue um mistério. Maior até que a proposta encaminhada…
O movimento criado pelos jogadores de futebol, à parte do apagado sindicato da categoria, vai ganhando força. O Bom Senso FC, cérebro dos surpreendentes protestos dos atletas no Brasileirão, criou um site oficial.
No canal é possível encontrar a petição do movimento e o material de divulgação, com os dados sobre a situação dos jogadores profissionais no país. Segundo o levantamento, o Brasil conta com 20 mil atletas profissionais.
Apesar dos salários milionários de algumas estrelas na Série A, a verdade é que a imensa maioria ganha cifras bem modestas. Isso ocorre porque nada menos que 85% dos 684 clubes brasileiros não têm um calendário anual. A maioria dos times joga em média 17 partidas por temporada. Há quem jogue 70, 80 vezes.
Considerando o contracheque médio, com a projeção abaixo de dois salários mínimos – e apenas um real a menos na soma de dois salários mínimos, ou R$ 1.447 – e um semestre de contrato, o ganho anual dessa seria de R$ 8.682 em 2014. Apenas 3% dos jogadores ganha acima de R$ 1.448 por mês.
Fora os 3 mil desempregados no mercado da bola… A causa realmente é geral.
A temporada 2013 de Náutico, Santa Cruz e Sport teve 95 partidas, considerando apenas os jogos oficiais com o mando de campo do trio recifense, em duelos nos Aflitos, Ilha do Retiro, Arena Pernambuco e Arruda. O blog analisou todos os borderôs disponíveis nos sites da federações responsáveis e apresenta com exclusividade o levantamento com a participação do público local e a arrecadação só com a bilheteria.
Em termos absolutos, nada mal, apesar deste ano não ter sido o de maior média dos clubes locais, nem no Estadual nem no Brasileiro. A renda bruta foi de R$ 23,8 milhões, para um público presente nas arquibancadas de 1.522.559 pessoas. Para se ter ideia do que essa torcida significa, basta lembrar que a população da capital, segundo os dados mais recentes do IBGE, é de 1.537.704. Ou seja, a diferença entre habitantes e torcedores foi de apenas 15 mil pessoas.
Ao dividir os números, o Santa Cruz mostrou força. O Tricolor avançou nos campeonatos e ganhou os títulos do Estadual e da Terceirona. Nem por isso deixou de ser o que teve menos jogos oficiais em casa, com 27 partidas, contra 33 do Timbu e 35 do Leão. Mesmo assim, os corais levaram 645 mil pessoas ao Mundão, com uma média geral, considerando as quatro competições disputadas pelo clube, de 23.912. O Rubro-negro atuou em cinco competições – incluiu a Sul-Americana -, com 552 mil torcedores na Ilha e na Arena, onde atuou duas vezes. Na média, 15.783. O Náutico, cujo rendimento em campo foi péssimo, registrou um índice de 9.833.
Em relação à renda, os números seguiram a ordem da torcida presente, com o Santa alcançando R$ 9,4 milhões – certamente, tomará a maior parte do balanço do clube em todo o ano. Já o rival leonino teve um faturamento com ingressos de R$ 7,9 milhões – curiosamente, só 1/3 do que recebe da cota de transmissão da Segundona.
Já o Náutico, apesar da presença mais baixa, arrecadou R$ 6,5 milhões, dos quais 5,2 milhões de reais no Brasileirão. A conta é explicada pelo valor pago pelo governo do estado aos bilhetes promocionais do Todos com a Nota na Arena, com R$ 25 por ingresso, bem acima dos valores pagos aos rivais nos outros estádios.
Foram consideradas somente as competições sob as chancelas da FPF, CBF e Conmebol. Nesta conta, então, não entraram os amistosos. Em um deles, na inauguração da arena, Náutico 1 x 1 Sporting proporcionou uma enorme renda de R$ 1.040.104, com 26.803 pessoas.
Santa Cruz
27 jogos (27 no Arruda)
645.637 torcedores
Público médio de 23.912
39,82% de ocupação
R$ 9.425.366
Renda média de R$ 349.087
Estadual – 8 jogos – 165.761 pessoas (20.720) – R$ 2.412.656 (R$ 301.582)
Nordestão – 4 jogos – 91.758 pessoas (22.939) – R$ 1.134.515 (R$ 283.628)
Copa do Brasil – 2 jogos – 22.159 pessoas (11.079) – R$ 264.575 (R$ 132.287)
Série C – 13 jogos – 365.959 pessoas (28.150) – R$ 5.613.620 (R$ 431.816)
Sport
35 jogos (33 na Ilha e 2 na Arena)
552.427 torcedores
Público médio de 15.783
46,78% de ocupação
R$ 7.931.743
Renda média de R$ 226.621
Estadual – 8 jogos – 103.913 pessoas (12.989) – R$ 1.357.077 (R$ 169.634)
Nordestão – 4 jogos – 71.800 pessoas (17.950) – R$ 791.025 (R$ 197.756)
Copa do Brasil – 2 jogos – 11.038 pessoas (5.519) – R$ 96.460 (R$ 48.230)
Série B – 19 jogos – 331.976 pessoas (17.472) – R$ 4.963.331 (R$ 261.227)
Sul-Americana – 2 jogos – 33.700 pessoas (16.850) – R$ 723.850 (R$ 361.925)
Náutico
33 jogos (18 na Arena 15 nos Aflitos)
324.495 torcedores
Público médio de 9.833
27,62% de ocupação
R$ 6.506.982
Renda média de R$ 197.181
Estadual – 12 jogos – 98.425 pessoas (8.202) – R$ 1.042.945 (R$ 86.912)
Copa do Brasil – 1 jogo – 3.026 pessoas – R$ 27.830
Série A – 19 jogos – 214.724 pessoas (11.301) – R$ 5.219.012 (R$ 274.684)
Sul-Americana – 1 jogo – 8.320 pessoas – R$ 217.195
Total
95 jogos (33 na Ilha, 27 no Arruda, 20 na Arena e 15 nos Aflitos)
1.522.559 torcedores
Público médio de 16.026
38,28% de ocupação
R$ 23.864.091
Renda média de R$ 251.200
Competições: Estadual, Nordestão, Copa do Brasil, Sul-Americana e Séries A, B e C
O Cruzeiro anunciou uma medida drástica na relação com as torcidas organizadas do clube. A direção mineira proibiu o uso da marca do clube nos materiais produzidos pelas uniformizadas.
O presidente do campeão brasileiro de 2013, Gilvan Tavares, alegou prejuízo financeiro, ao deixar de arrecadar através dos royalties, via licença da marca – ou seja, perdendo para a pirataria -, e também na própria imagem do clube, com as constantes brigas envolvendo supostos integrantes das organizadas, resultando inclusive na perda de mandos de campo.
O clube deve ir à justiça para garantir o direito. A atitude do Cruzeiro, claro, levantou o debate no país sobre a relação clube/organizada, nos termos segurança e receitas.
No Recife, nota-se que as três maiores facções presentes (Inferno Coral/Santa Cruz, Torcida Jovem/Sport e Fanáutico/Náutico) usam os escudos dos times nas camisas à venda nas lojas na cidade e também na internet.
A quebra de patrocínios por causa de confusões nas arquibancadas brasileiras, como no distrato entre Vasco e Nissan, e o possível aumento nas punições nos campeonatos, como a perda de pontos, mostra que a fissura entre o Cruzeiro e a Máfia Azul pode ser mesmo o início de outras rachaduras nessas relações…