Incendiando o ataque, Patric marca três vezes contra o Santos

Série A 2014, 20ª rodada: Sport x Santos. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

Eduardo Batista surpreendeu ao colocar Neto Baiano no banco. Manteve Felipe Azevedo e Érico Júnior no ataque, numa dupla improvável, e que não surpreenderia ninguém na noite. Não eles, mas um certo lateral sim.

O primeiro tempo do Sport foi muito ruim, com o time completamente envolvido pelo Santos. O Peixe abriu o placar aos 24 minutos, com Thiago Ribeiro, e só não ampliou por causa da morosidade nas conclusões e por causa de uma defesaça de Magrão.

Sobre o gol paulista, é válido relatar a falta claríssima sofrida por Ibson no início do lance. O árbitro deixou o jogo correr o tempo todo, irritando bastante os jogadores dos dois times, diga-se.

No finzinho da primeira etapa, num lance isolado, Danilo cruzou e Patric apareceu de surpresa, cabeceando para empatar. O gol, claro, acordou a torcida, que já vinha numa pressão danada em alguns altlas, sobretudo Érico e Ferron.

A chuva apertou no segundo tempo. Com estrutura, o campo da Arena Pernambuco continuou em bom estado. Vitor voltou no lugar de Érico para dar mais agilidade ao lado direito, dando total liberdade ao camisa 2.

Ali, eram quatro laterais e apenas um atacante em campo. Contudo, isso vale apenas na nomenclatura, pois Patric jogou demais. Como atacante…

O Santos até voltou melhor, mas o Sport reagiu rapidamente. Num longo lançamento, o ala virou o jogo, pegando de primeira. Eram sete minutos, com a chuva cada vez mais forte. Na conta, dois gols do centroavante na noite. E ainda havia tempo…

A partida ficaria complicada depois disso, com o alvinegro buscou demais o empate, com o Sport bem retraído. O visitante ainda teria um gol mal anulado aos 36 minutos, pois não havia impedimento na jogada.

Aos 45, em outro lançamento, desta vez Patric dominou, ganhou do zagueiro na corrida e bateu cruzado, 3 x 1. Outro gol de quem deveria vestir a 9!

Com cinco gols, Patric é o artilheiro do Sport no Brasileirão. Diz muito.

Série A 2014, 20ª rodada: Sport 3x1 Santos. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

A palavra estava na garganta. Ao ser dita, que exista uma punição real ao racismo

A palavra é clara, a identificação é simples.

Separada por uma grade, a poucos metros do campo, uma torcedora gremista gritava “macaco” para o goleiro santista, Aranha.

O goleiro avisou, mas o árbitro fez vista grossa e até repreendeu o atleta. E os xingamentos continuaram na geral.

As câmeras de tevê captaram outros torcedores no mesmo setor imitando macacos.

E assim voltamos à estaca zero.

Relembrando alguns textos já publicado no blog sobre o assunto, já passamos das bananas arremessadas em campo, com uma senhora resposta do jogador brasileiro, ao racismo nas redes sociais e campanhas de conscientização.

A incrível resposta de Daniel Alves ao racismo

A necessidade de impor uma punição ao racismo no futebol brasileiro

Perdendo a compostura em castellano por causa de futebol 

Apesar disso tudo, o cenário não parece mudar, nem no exterior nem aqui, até porque já está bem enraizado em alguns…

A punição de mando de campo ao clube não basta, a proibição no estádio (bebidas e bandeiras) também não.

Pois, desta forma, as partidas vão se moldando à violência e seguimos empurrando o problema para debaixo do tapete.

A solução não é simples, mas é incrível que até hoje o infrator tenha penas tão brandas, como se o crime dentro de um estádio de futebol tivesse um peso menor do que nas ruas. Como se tivesse uma liberdade de 90 minutos para apresentar o pior de si.

É óbvio que não tem. Se não há controle, isso, sim, precisa ser melhorado. Investigação e punição, nas esferas cível e penal.

A palavra dita pela torcedora estava na garganta dela faz tempo… presa.

Afinal, esse processo é bem mais longo. É cultural, infelizmente.

Ao ser proferida a palavra, que aguente as consequências. Aliás, que as consequências existam.

Do Santa Rita ao Cruzeiro, as forças restantes na Copa do Brasil

Oitavas de final da Copa do Brasil de 2014

O caminho até o título da 26ª edição da Copa do Brasil está traçado.

A tabela a partir das oitavas da final foi definida em um sorteio na sede CBF, no Rio

Sete ex-campeões do torneio detêm 18 dos 25 títulos desde 1989, o que corresponde a 72% de todas as taças já erguidas.

Eis as melhores campanhas de cada time ainda na briga em 2014…

Do Cruzeiro, atual campeão brasileiro e líder novamente, ao Santa Rita, única equipe sem divisão na temporada. Mais democrático, impossível.

Campeões: Grêmio (4), Cruzeiro (4), Corinthians (3), Flamengo (3), Palmeiras (2), Santos (1) e Vasco (1)

Vices: Coritiba (2), Ceará (1), Botafogo (1) e Atlético-PR (1)

Semifinal: Atlético-MG (2)

Oitavas de final: ABC (2), Américan-RN (2), Santa Rita (1) e Bragantino (1)

Pitacos para as quartas de final:

Grêmio x Ceará, Cruzeiro x Vasco, Flamengo x Atlético-PR, Atlético-MG x Corinthians…

Concorda? Opine.

San Lorenzo amplia a galeria argentina de títulos internacionais, com 64 das 168 taças

Final da Libertadores de 2014: San Lorenzo (Argentina) 1x0 Nacional (Paraguai). Crédito: Conmebol/site oficial

A inédita conquista do San Lorenzo na Taça Libertadores da América de 2014, fazendo abrir mais um sorriso no carismático Papa Francisco, ampliou a liderança argentina no número de taças internacionais oficiais erguidas pelos clubes ligados à Conmebol.

Foi o 64º título do país vizinho, com 12 clubes campeões, numa conta antiga e complicada. Soma agora seis a mais que o Brasil, com 11 times distintos.

A lista de competições organizadas pela Conmebol e pela Fifa é bem extensa, entre títulos mundiais, intercontinentais e continentais, dos mais variados pesos. Ao todo são 17 torneios diferentes espalhados em 168 edições!

Alguns só foram reconhecidos décadas depois, como o primeiro de todos, o Torneio dos Campeões de 1948, vencido pelo Vasco e com o mesmo status da Libertadores. Recentemente foi adicionada à lista a Copa Rio de 1951, conquistada pelo Palmeiras e considerada pela Fifa oficial, de “abrangência mundial”, mas não como título mundial.

Abaixo, a lista completa, já considerando a Recopa do Galo nesta temporada e também um título mexicano, uma vez que o Pachuca, mesmo da Concacaf, venceu um torneio sob a chancela da Conmebol.

Saiba mais detalhes sobre o ranking de títulos internacionais aqui.

Atualização até 14 de agosto de 2014, após a Libertadores, Recopa e Suruga.

Argentina – 64 títulos, com 12 clubes
18 – Boca Juniors, 16 – Independiente, 6 – Estudiantes de La Plata, 5 – River Plate e Vélez Sarfield, 3 – Racing Club e San Lorenzo, 2 – Argentinos Juniors, Arsenal e Lanús, 1 – Rosário Central e Talleres

Brasil – 58 títulos, com 11 clubes
12 – São Paulo, 9 – Santos, 7 – Cruzeiro e Internacional, 4 – Grêmio, Flamengo, Corinthians e Atlético Mineiro, 3 – Vasco e Palmeiras, 1 – Botafogo

Uruguai – 18 títulos, com 2 clubes
9 – Peñarol e Nacional

Paraguai  – 8 títulos, com 1 clube
8 – Olimpia

Colômbia – 8 títulos, com 4 clubes
5 – Nacional, 1 – Once Caldas, America de Cali e Millonarios

Equador – 4 títulos, com 1 clube
4 – LDU

Chile – 4 títulos, com 2 clubes
3 – Colo Colo, 1 – Universidad de Chile

Peru – 2 títulos, com 1 clube
2 – Cienciano

Bolívia – 1 título
1 – Mariscal

México – 1 título
1 – Pachuca

Recopa 2014: Atlético-MG 4x3 Lanús-ARG. Foto: Bruno Cantini/Atlético-MG/Flickr

Brasileirão cai para a 10ª colocação entre as ligas nacionais mais valorizadas

Valor de mercado dos principais campeonatos nacionais em 2014. Crédito: Pluri Consultoria/divulgação

Os elencos dos vinte clubes do Brasileirão de 2014 estão avaliados em R$ 2 bilhões. Achou muito? Pois o valor é apenas o 10º entre as ligas nacionais de futebol mais valorizadas da atualidade.

Em 2012, o Campeonato Brasileiro foi o sexto mais valorizado. Após duas quedas no mercado, a Série A inicia a temporada atrás das ligas de Portugal e Ucrânia. Os elencos brasileiros, com média de 28 jogadores por clube, correspondem a 672 milhões de euros, ou 18% da Premier League, da Inglaterra, a mais valiosa do planeta há três anos seguidos.

No Brasil, pesou contra, sem dúvida, a saída de Neymar, do Santos para o Barcelona. A queda geral foi 28%, a maior entre os 25 campeonatos nacionais mais valorizados no futebol. A própria Série B é um reflexo disso. No ano passado, a Segundona ficou no Top 25. Nesta nova lista, chegou nem perto.

Ao todo, a lista projeta 22,5 bilhões de euros em direitos econômicos de 466 clubes, ou R$ 70 bilhões. Os dados, surpreendentes, são da Pluri Consultoria, através de um software para medir o potencial de mercado de cada jogador, com 77 critérios específicos.

Classificação da Série A 2014 – 1ª rodada

Classificação da Série A 2014, na 1ª rodada. Crédito: Superesportes

Apesar do “rebaixamento” na última rodada de 2013, o Fluminense se manteve na elite nacional. E já largou na liderança do Brasileirão de 2014, ao lado do São Paulo, ambos com vitórias por 3 x 0 na rodada de abertura.

Com o empate em 1 x 1 na Vila Belmiro, o Sport aparece na primeira classificação da temporada em 7º lugar, somando seu primeiro ponto longe da Ilha.

A 2ª rodada do representante pernambucano
27/04 – Sport x Chapecoense (18h30)

Será o primeiro confronto pela elite.

Leão joga só no segundo tempo e consegue o empate na Vila Belmiro

Série A 2014, 1ª rodada: Santos 1x1 Sport. Foto: RICARDO SAIBUN/AGIF/Estadão/Conteúdo

A atuação do Sport no primeiro tempo na Vila Belmiro foi constrangedora. Se limitou a marcar, mas mesmo assim foi bastante pressionado pelo Santos.

Ainda sentindo as dores da derrota para o Ituano, no Paulistão, o Peixe tentou acalmar logo a torcida. Acertou a trave duas vezes em quinze minutos. A saída de bola do time de Eduardo Batista era quase inexistente, tamanha a quantidade de erros. No finzinho, Magrão ainda fez uma defesaça numa cobrança de falta.

Àquela altura, o gol santista parecia questão de tempo nos 45 minutos finais, com Cicinho, Thiago Ribeiro e Leandro Damião forçando.

No entanto, o Sport, em sua estreia na Série A, voltou com outra postura. A equipe enfim enfim se arriscou, fechando os espaços, mas sem abrir mão do futebol. Uma evolução tática no intervalo, sobretudo com a entrada de Rithely.

Os passes ficaram mais verticalizados, apesar da visível necessidade de um meia. As chances foram escassas, mas apareceram. Após as tentativas de Renê e Patric – mal em campo, apesar do chute -, saiu o gol. Neto Baiano escorou cruzamento rasteiro de Felipe Azevedo aos 27 minutos.

O resultado positivo fora de casa, que seria o primeiro da história do Rubro-negro na Baixada Santista, ficou pertinho neste domingo.

De tanto insistir, o alvinegro chegou ao empate, aos 34, através de Gabriel, de cabeça e em posição duvidosa. Confira o tira-teima do canal Premiere aqui.

O empate em 1 x 1 foi o primeiro tropeço do Santos em sua casa no ano, após doze partidas. Ao Leão, um bom resultado na longa caminhada pela frente…

Série A 2014, 1ª rodada: Santos 1x1 Sport. Foto: Ivan Storti/SantosFC

Retorno rubro-negro à elite com estreia da Adidas e uniforme verde limão

Camisa alternativa do Sport na estreia do Brasileiro 2014. Crédito: Sport/instagram

O Sport usará uniformes especiais na Série A homenageando as seleções do Japão, Alemanha e México, que vão jogar na Arena Pernambuco na Copa do Mundo, numa ação de marketing.

Na estreia da competição, contra o Santos, o padrão escolhido foi o reserva do Japão, na cor verde limão e também fabricado pela Adidas. Por sinal, esta é a primeira partida do clube vestindo a nova marca.

Torcedor rubro-negro, o que você achou da camisa alternativa?

E se Pelé tivesse sido contratado pelo Sport?

E se Pelé tivesse sido contratado pelo Sport: Arte: Greg/DP/D.A Press

A temporada recifense do menino Pelé

O telegrama enviado por José Rozenblit foi entregue na Vila Belmiro, no serviço executado pela Western Telegraph, em 1957. Eram apenas duas frases. Modesto Roma, inteirado sobre o assunto, foi até o campo de grama alta e assobiou em direção a um franzino rapaz de 17 anos. “Pelé, chega mais”. Suado, já com a camisa na mão, Edson se aproximou, desconfiado como bom mineiro. Nem falou. Só ouviu. “Prepara a tua mala que você irá passar um tempo no Recife”. O juvenil arregalou os olhos. Antes de imaginar qual seria o seu novo clube ou a distância da cidade em relação à Baixada, já bateu a saudade de Seu Dondinho, seu pai e grande incentivador.

Pelé, o curioso apelido ganho ainda quando criança, era uma grande promessa do Santos. Faltava cancha para disputar o campeonato paulista, acreditavam os dirigentes do clube. A amizade entre o rubro-negro Rozenblit e o santista Roma viabilizou a solução, com um tempo em Pernambuco, no disputado campeonato citadino, com clássicos cada vez mais populares. Inicialmente, seriam apenas quatro meses. O tal telegrama era bem claro. “Queremos o garoto Pelé. Quatro meses de contrato e negociação para a renovação de mais oito meses, grato.”

O jogador chegou no Recife sem alarde e logo foi inscrito no Estadual. Na reta final, sem espaço, viu o Sport ser derrotado pelo Santa Cruz. Valeu a experiência de ter sentado no banco de reservas. Acreditava estar preparado para voltar a São Paulo. Conforme a negociação previa, não retornou. Com o certame terminando somente no ano seguinte, sem muito tempo de preparação, Dante Bianchi, o severo técnico do Leão, tentou implementar o ousado plano de jogo da Seleção Brasileira. Em vez de quatro jogadores na linha ofensiva, uma linha de ataque com três nomes. Ponta direita, ponta esquerda e o centroavante. Na Ilha do Retiro, já brilhavam Pacoty e Traçaia. A vaga estava aberta há tempos.

Técnico além da conta, de atrair torcedores para os treinos, o atacante logo ganhou a sua vaga. A vida, contudo, seguia simples, alojamento/campo, campo/alojamento. Certo dia, Pelé foi até o terraço da sede. Era 4 de maio de 1958 e outros jovens atletas e sócios leoninos acompanhavam via rádio o primeiro jogo da Seleção Brasileira no ano da Copa do Mundo. Que apresentação! No Maracanã, 5 a 1 sobre os paraguaios, com show do palmeirense Mazzola , autor de três gols. “Joga muito esse aí. É outro nível, entende?” A timidez deu lugar ao sorriso fácil, às cantorias com violão antes dos jogos. O menino foi ganhando personalidade.

Quatro semanas depois, após muito tempo de espera, surgiu a primeira chance como titular. O estádio apanhou um bom público. Os jornais locais já noticiavam os feitos do “menino de Santos” – mas natural, na verdade, de Três Corações. Contra o Íbis, o Leão arrancou de forma impiedosa, 5 a 0. Acredite, Pelé marcou cinco gols. Pé direito, pé esquerdo, cabeça, rebote e driblando toda a zaga do pássaro preto do subúrbio. O abraço de Pacoty, o apoio de Traçaia e o público de pé, aplaudindo. Tardes assim seriam uma rotina. Enquanto os dirigentes paulistas – cientes do talento extraordinário – tentavam antecipar a volta da revelação, o presidente do Sport, Adelmar da Costa Carvalho, assegurava o cumprimento do documento registrado na FPF.

Em 29 de junho, o Brasil enfim conquistaria o sonhado título mundial, numa apertada e inesquecível vitória sobre a Suécia em Estocolmo, 2 a 1. A primeira escala no país, curiosamente, seria no Recife, três dias depois. Festa nas ruas da capital, com a delegação no aeroporto. Único santista no elenco campeão, Zito enviou uma mensagem ali mesmo. “Pelé, eu sabia de toda a tua dedicação em Santos. Esse título mundial também é para você. Jogaremos juntos em breve”. Mensagem recebida, quase um presente. Após ser campeão pernambucano de 1958 com 41 gols marcados, à frente de Pacoty (36) e Traçaia (11), num  recorde ainda em vigor, Pelé deixou a torcida rubro-negra órfã. No ano de ouro do futebol brasileiro, se dizia que jamais haveria um ataque como Garrincha, Vavá e Mazzola. E nem como Pacoty, Traçaia e Pelé.

História real
O telegrama do Santos oferecendo Pelé ao Sport de fato existiu, datado em 05/11/1957, mas Rozenblit agradeceu a oferta e recusou o “jovem desconhecido”. Pelé explodiu no futebol em 1958, marcando 58 gols no campeonato paulista e seis no Mundial. No Recife, o Leão foi campeão pernambucano, com Pacoty como artilheiro, com 36 gols. O recorde de um goleador local segue com 40 gols (Baiano, em 1982 e 1983, e Luís Carlos, em 1984).

O texto da série “E se…” faz parte do especial do Diario de Pernambuco com a história de todos os Mundiais. Confira o hotsite aqui.

Eis os textos de escritores famosos sobre o tema, publicados no Diario de Pernambuco em 23 de janeiro de 2000, quando o telegrama foi revelado.

Luís Fernando VeríssimoPelé seria ainda mais Pelé!
Luiz Fernando Veríssimo

Combinado que em qualquer outro lugar o Pelé ainda seria Pelé, o que mudaria mesmo seria a história do Sport. O Santos, claro, não era só Pelé, mas foi ele o responsável pela projeção mundial do clube. O Sport teria tido a mesma projeção com Pelé no time? Naquela época havia pouco intercâmbio entre os times do Brasil, era raro times de fora de São Paulo e Rio serem notados, ou terem jogadores convocados para a Seleção. Se jogasse no Sport, Pelé não teria sido convocado para a Seleção de 58. Pelé teria que jogar mais do que jogou no Santos para ser notado. Conclusão: se Pelé tivesse ido para o Sport, seria obrigado a ser melhor do que foi. Pelé seria ainda mais Pelé!

Xico SáSorte do goleiro do Íbis
Xico Sá

Existem dois tipos de traição que não prescrevem nunca – a da mulher da sua vida e a do time do seu coração. Para evitar maiores constrangimentos durante o cozido dominical, tratemos apenas do segundo crime. E que traição dos velhos cartolas, senhores. Chifre é pouco. Último a saber, sonhei as últimas noites com as manchetes épicas que teriam sido possíveis. Leão conquista a América. Rei da Ilha humilha a Europa. Sport para a guerra em excursão à África. Pernambuco é bi do mundo…

Mas também fiquei pensando nas desgraças que isso poderia representar. Sonhei com um texto, no melhor futebolês: “Em tarde infeliz, o camisa 10 do Leão da Praça da Bandeira balançou apenas 15 vezes as redes do Íbis…”

Perdemos Pelé, numa bobeada imperdoável da cartolagem. Por ironia, os deuses do futebol ainda nos presentearam, tempos depois, com outro rei, Dadá Beija-Flor. Não conquistamos a América, não humilhamos a Europa, mas os goleiros do Santo Amaro e do pobre Íbis… sofreram como o diabo.

Minha sorte, nessa história toda, é que, graças a tios nordestinos que migraram para São Paulo nos anos 60, tive a felicidade de ganhar uma camisa do Peixe ainda menino, o que permitiu usufruir de todas as glórias da era Pelé. Naquele tempo já era Sport, por causa do Guarani de Juazeiro, que tinha as mesmas cores, o meu escudo, a mesma torcida cri-cri e o apelido de “O Leão do Mercado”, em virtude da paixão dos feirantes pelo time.

Raimundo CarreroPromessa de amor do Rei
Raimundo Carrero

Foi uma jura de amor. O raquítico Dico, ainda não transformado em Pelé, coberto apenas por um calção de veludo vermelho, bordado em lantejoulas, e exibindo sandálias imperiais de pom-pom, basta cabeleiras escaracolada, perdeu-se de paixão por uma garotinha que, recém-nascida, passeava nos braços da mãe na sede do glorioso Sport Club do Recife. Ele havia chegado ao Recife a bordo de um teco-teco, especialmente contratado para trazê-lo aos gramados pernambucanos, terror do tricolor Adelmar e do alvirrubro Caiçara.

Naquele instante, no solo sagrado do Leão e sob o testemunho do incandescente sol nordestino, Pelé vislumbrou a glória que haveria de se abir aos seus pés, e num gesto cavalheiresco, ajoelhou-se perante a garotinha, gritando: “Serei rei, ó bela dos meus olhos. Retornarei ao Recife para desposá-la, ó sonho dos meus sonhos, linda dama dos cabelos dourados”.

Naquele instante, num fenômeno da natureza, apareceu no céu a estrela Assíria. Anos depois, coroado rei nos estádios do mundo, Pelé voltou ao Recife, depois de enfrentar deuses e monstros, mouco ao cântico das sereias, e ainda no Aeroporto dos Guararapes, gritou apaixonado: “Voltei, minha princesa”. Casou-se com Assíria Seixas na Igreja Episcopal. E foram felizes para sempre.

Túlio, o terceiro brasileiro eternizado com 1.000 gols. Fora a conta de Friedenreich

Comemoração do milésimo gol... Túlio(2014), Pelé (1969) e Romário (2007)

Uma verdadeira saga em quase de três décadas. O que parecia objetivo tornou-se puro folclore. Três vezes artilheiro do Campeonato Brasileiro, o atacante Túlio Maravilha chegou ao auge em 1995, vestindo a camisa do Botafogo. Então com 26 anos, o centroavante foi artilheiro e campeão nacional pelo Fogão.

A partir disso, estipulou o gol 1.000 como o oásis. Ao perambular em todos os cantos do país para repetir os feitos de Pelé (1969) e Romário (2007), o jogador caiu em descrédito, inclusive a sua conta. Assim, considerando seus dados em mais de trinta equipes, Túlio chegou ao 1.000º gol de sua carreira, neste sábado.

O Rei chegou ao milésimo aos 29 anos, enquanto o Baixinho marcou, contra o Sport de Magrão, aos 41. Ambos de pênalti. Túlio esperou até os 44 anos. Curiosamente, na estreia pelo Araxá, na segunda divisão mineira, ele também balançou as redes em uma penalidade. E repetiu o famoso gesto do Pacaembu.

“A saga do milésimo termina aqui. Missão cumprida no futebol.”

Antes dos três, houve um outro certo gol 1.000. O atacante paulistano Arthur Friedenreich chegou a ter 1.329 tentos reconhecidos pela Fifa, entre 1909 e 1935, dos 17 aos 43 anos. Uma estatística acima até mesmo de Pelé. Contudo, uma recontagem nos jornais O Estado de S. Paulo e Correio Paulistano, através do escritor Alexandre da Costa, reconduziu o número para 554.

Será que uma recontagem também atingiria as estatísticas de Romário e Túlio?

Independentemente desta polêmica, relembre os gols históricos…

08/02/2014 – Araxá 2 x 1 Mamoré (Túlio)

20/05/2007 – Vasco 3 x 1 Sport (Romário)

19/11/1969 – Vasco 1 x 2 Santos (Pelé)